UNIDADE DE INFORMAÇÃO PÚBLICA Sobre a ONG Rede Borboletas, vencedora do Prêmio Nansen de Refugiados 2014 O vencedor do Prêmio Nansen de Refugiados 2014, concedido pelo Alto Comissariado da ONU para Refugiados (ACNUR), é a ONG colombiana Rede Borboletas (ou Borboletas com Novas Asas, Construindo um Futuro). A ONG defende os direitos das mulheres vítimas do conflito colombiano e atua na região de Buenaventura, uma das mais conflituosas da Colômbia. A Rede Borboletas é formada por um grupo de mulheres corajosas que arriscam sua própria segurança para ajudar outras mulheres sobreviventes dos deslocamentos forçados e do abuso sexual relacionados ao conflito na Colômbia. Estima-se que cerca de 1.000 mulheres e suas famílias já foram ajudadas pela ONG até agora. Na disputa por território, os grupos armados irregulares de Buenaventura destroem a estrutura social das comunidades. Eles atacam os mais vulneráveis com atos de violência sexual, sequestro e assassinato. Para algumas das vítimas, fugir da brutalidade é a única saída. Mas outras têm sua dignidade resgatada pelas asas da Rede Borboletas, que ajuda os que sofreram abusos a recuperar suas vidas e fazer valer seus direitos. A situação em Buenaventura ilustra o impacto devastador do conflito colombiano nas famílias e como o trabalho da Rede Borboletas é essencial, salientando o fato de que a violência destrói famílias. Informação Básica Quem é o ganhador do Prêmio Nansen de Refugiados do ACNUR de 2014? O vencedor do Prêmio Nansen de Refugiados 2014, do ACNUR, é a Rede Borboletas, um grupo de mulheres corajosas que arriscam suas vidas para ajudar as mulheres sobreviventes do deslocamento forçado e da violência sexual relacionada ao conflito na Colômbia, ajudando-as a recuperar suas vidas em Buenaventura, uma região remota e dominada pela violência. Porque a Rede Borboletas foi escolhida neste ano para receber o Prêmio Nansen de Refugiados do ACNUR? A Rede Borboletas será homenageada na próxima cerimônia Prêmio Nansen de Refugiados em reconhecimento por seu trabalho de proteger e salvar a vida de mulheres vítimas de conflitos armados. Desde 2010, as voluntárias da Rede Borboletas transformaram a vida de mais de 1.000 sobreviventes do deslocamento forçado e do abuso sexual em Buenaventura, na Colômbia. Como a Rede Borboletas salva vidas? As voluntárias da Rede Borboletas já ajudaram cerca de 1.000 mulheres e suas famílias, vítimas de violência e do deslocamento forçado, muitas vezes com grande risco pessoal. 1
As Borboletas vão às comunidades e aconselham as vítimas de abuso e pessoas em risco, ajudando-as a se apresentar para a polícia e receber cuidados médicos. Também realizam oficinas de treinamento para proporcionar às mulheres os direitos humanos e habilidades para geração de renda. Para fazer mudanças duradouras, elas também defendem junto às autoridades de Buenaventura uma melhor proteção das mulheres, com base nas leis em vigor na Colômbia. A pé ou de ônibus, as voluntárias da Rede Borboletas percorrem com cautela os bairros mais perigosos de Buenaventura para ajudar as mulheres e oferecer cuidados médicos e psicológicos necessários, acompanhando-as na denúncia dos crimes. Por meio de oficinas de treinamento regulares, também às ensinam praticas que permitem ganhar a vida e conhecer os seus direitos. As Borboletas tornaram-se uma força motriz na conscientização sobre os altos índices de violência contra mulheres. Apesar de atrair a atenção de grupos armados irregulares, elas não se intimidam e organizam protestos, marchando pelas ruas de Buenaventura clamando Pelo Fim da Violência Contra as Mulheres, com determinação para derrubar os muros de medo e silêncio. Porque o trabalho da Rede Borboletas é importante? A Colômbia tem cerca de cinco milhões de pessoas deslocadas internamente pelo seu conflito interno. A cidade de Buenaventura tem uma das maiores taxas de conflito e de deslocamento interno no país. A crescente violência e rivalidade entre grupos armados ilegais é a principal razão por trás dos altos níveis de deslocamento. Em sua luta para ganhar territórios, estes grupos frequentemente têm mulheres como alvo. A violência sexual é parte desta estratégia. Violando as mulheres, eles atingem e humilham as gangues rivais. Os grupos armados ilegais sujeitam as mulheres a uma variedade de abusos selvagens, incluindo tortura, estupro, escravidão sexual ou humilhação pública. Na primeira metade deste ano, em Buenaventura, 11 mulheres foram assassinadas e brutalmente desmembradas. Esse número já ultrapassa o número de mulheres que denunciaram assassinatos em 2013. Quem irá receber o prêmio em nome das Borboletas? Gloria Amparo Arboleda Murillo, Maritza Yaneth Asprilla Cruz e Mery Medina vão representar a Rede Borboletas na cerimônia do Prêmio Nansen de Refugiados do ACNUR. Como as Borboletas salvam vidas Alguns exemplos de mulheres que as Borboletas ajudam Luz Luz foi forçada a fugir de Punt Ardita, uma pequena vila na costa pacífica da Colômbia, devido aos combates de 1995. Posteriormente, ela se estabeleceu em Buenaventura e tornou-se uma líder da comunidade. Grupos armados ilegais que atuam no local não gostaram de sua atuação e decidiram intimidá-la, ameaçando estuprar sua filha de 10 anos de idade. Quando ela entrou em cena para proteger sua filha, os homens a estupraram em seu lugar. Anos mais tarde Luz ainda está traumatizada com a violência Mesmo sendo uma pessoa deslocada, você pode de alguma forma reconstruir sua vida. Mas você nunca esquece aquele momento, o estupro, e o que aconteceu. Lembra-se dele para sempre. Eu também perdi meu marido depois do estupro. Ele foi embora. Eu nunca mais senti o mesmo. Meu grande sorriso se foi, conta Luz. Desde que se juntou às Borboletas e atendeu aos treinamentos sobre os direitos das mulheres, Luz encontrou a coragem para quebrar seu silêncio que durava anos e denunciar seu estupro às autoridades. 2
"Por meio da rede, eu tenho crescido mais forte. Deu-me a coragem de me pronunciar. Eu percebi que não poderia manter o segredo dentro de mim. Quando eu denunciei o crime, foi como tirar um câncer que havia me consumido por anos", afirma. Como parte de seu trabalho com as Borboletas, Luz agora passa seus conselhos para outras mulheres que foram abusadas e deslocadas. Maria Depois que os membros de um grupo armado mataram seu marido há cerca de 15 anos, Maria fugiu de Triana, uma localidade perto de Buenaventura. Mesmo assim, Maria retornou para Triana, onde ela continua se tornou uma integrante da Rede Borboletas. Sendo parte das Borboletas, eu posso compartilhar minha dor com outras que também sofreram por conta do conflito e passaram pelo mesmo que eu. Fez-me lidar melhor com minha dor. Para aliviar o sofrimento aprendi que é importante compartilhar. Eu me sinto menos solitária, afirma Maria. Ela também organiza e conduz reuniões e oficinas de treinamento, onde as mulheres aprendem sobre as leis que protegem as mulheres e como enfrentar e denunciar a violência domestica. Elas também trabalham em conselhos práticos sobre dicas de economia e como iniciar um pequeno negócio. Deslocamento na Colômbia Como é a situação de deslocamento na Colômbia? A Colômbia tem a segunda maior população em termos de deslocados internos, ficando atrás apenas da Síria. A Colômbia é também o oitavo maior país de origem dos refugiados no mundo. De acordo com dados oficiais do governo 5,7 milhões de pessoas foram forçadas a fugir de suas casas (desde 1997). REFUGIADOS COLÔMBIANOS NO MUNDO Refugiados reconhecidos 108.035 Pessoas em situação de refúgio 288.600 Total 396.635 Solicitantes de asilo (casos pendentes) 16.734 Localização dos refugiados colombianos registrados nos países da chamada Situação Colômbia Equador 59.000 Costa Rica 6.962 Venezuela 4.259 Outros: Panamá (1.962) Situação nas Américas (todas as nacionalidades) Refugiados e pessoas em situação de refúgio 805.960 Solicitantes de refúgio 130.299 Deslocados colombianos 5,7 milhões Apátridas 210.032 TOTAL DE PESSOAS DE INTERESSE 6.846.291 3
Para onde as pessoas fogem? Metade do total dos deslocados internos na Colômbia foge para as maiores 27 cidades do país. A maioria dessas cidades não possui uma forte governança, o que significa uma alta presença de grupos armados e falta de acesso a serviços básicos e desenvolvimento integral. Uma resposta abrangente é necessária para o país, que inclui não só a atenção à população deslocada, mas também medidas para evitar deslocamento. Porque as pessoas fogem? Em casos como Buenaventura, na costa do Oceano Pacífico, a crescente violência entre grupos rivais armados é a principal causa do aumento de pessoas deslocadas. Um elevado número da população está em risco. Há um medo generalizado, violência armada e tudo que vem com isso: recrutamento de crianças, violência sexual, assassinato, tortura, desaparecimentos. Em muitos casos, fugir é a única escolha. Muitas pessoas deslocadas por essa violência vivem em áreas pobres das cidades onde faltam os serviços básicos. Violência Sexual e de Gênero 80% das pessoas deslocadas são mulheres, e pelo menos 50% sofreram violência sexual. A chamada violência de gênero é, ao mesmo tempo, uma causa direta de deslocamento e uma tática usada por grupos armados para impor controle sobre as comunidades. Sobre Prêmio Nansen de Refugiados do ACNUR O que é o Prêmio Nansen para Refugiados do ACNUR e quando foi instituído? Poucas honras humanitárias possuem o rico legado do Prêmio Nansen de Refugiados do ACNUR. Estabelecido em 1954, o prêmio reconhece o trabalho humanitário que se demonstra extraordinário em favor dos refugiados, deslocados ou povos apátridas. O prêmio consiste em uma medalha comemorativa e um valor em dinheiro de US$100 mil. Em cooperação com o ACNUR, o vencedor do prêmio usa o recurso para financiar um projeto que complementa o trabalho já existente com pessoas deslocadas ou apátridas. Quem foi Fridtjof Nansen? O Prêmio Nansen é uma homenagem a Fridtjof Nansen, o explorador polar norueguês e trabalhador humanitário que, na década de 1920, atuou como o primeiro Alto Comissário para Refugiados da Liga das Nações a entidade que precedeu a Organização das Nações Unidas. Nansen foi agraciado com o Prêmio Nobel da Paz em 1922, em reconhecimento ao seu trabalho corajoso e inabalável em favor dos refugiados da Primeira Guerra Mundial. O Prêmio Nansen de Refugiados, por meio dos seus ganhadores, tem o objetivo de mostrar os valores de perseverança e convicção de Fridtjof Nansen diante da adversidade. O vencedor de 2014 é um exemplo notável desses atributos. Quem são os ganhadores anteriores do Prêmio Nansen de Refugiados? O Prêmio de Refugiados Nansen possui uma longa lista de ganhadores, incluindo Eleanor Roosevelt, o brasileiro Dom Paulo Evaristo Arns, Graça Machel, a ONG Médicos sem Fronteiras, a irmã Angelique Mamaika e outros heróis menos conhecidos, que trabalharam em ambientes perigosos para salvar vidas e proteger em nome dos deslocados. Apesar de diversas origens, eles compartilham uma qualidade em comum: um compromisso excepcional e dedicação a causa dos refugiados. Em que consiste o Prêmio? Cada ganhador do Prêmio Nansen de Refugiados do ACNUR recebe uma medalha comemorativa e um valor de US$100 mil em dinheiro. Esses recursos devem ser utilizados para financiar, em colaboração com o ACNUR, um projeto escolhido pelo vencedor. A vencedora de 2013, a freira Angelique Mamaika, decidiu contribuir com os fundos para projetos que beneficiam refugiadas mulheres e meninas deslocadas. 4
Sobre as indicações ao Prêmio Quem pode ser indicado para o prêmio? Qualquer indivíduo, grupo de pessoas ou organização que tenha um trabalho humanitário extraordinário em favor dos refugiados, deslocados ou apátridas. Antigos e atuais funcionários do ACNUR, incluindo voluntários das Nações Unidas (UNVs) que trabalham para o ACNUR, são inelegíveis. Auto-indicações são altamente desencorajadas. Quais critérios são considerados para seleção do vencedor? Seja qual for sua religião, cor, idade ou profissão, todos os vencedores do Prêmio Nansen para Refugiados gastam uma quantidade enorme de tempo e esforço para ajudar os que são forçados a se deslocar. O Comitê do Prêmio Nansen, de maneira independente, seleciona cada vencedor de acordo com os seguintes critérios: O trabalho do candidato vai além das suas funções e das suas atividades normais; O trabalho do candidato demonstra coragem o candidato pode ter enfrentado riscos para seu trabalho; O trabalho do candidato deve ter um impacto direto e positivo sobre a vida das pessoas refugiadas ou apátridas. Quem seleciona o vencedor? O comitê independente de seleção do Premio Nansen para Refugiados compreende atualmente seis membros votantes, incluindo um membro rotativo convidado. Os membros do comitê incluem representantes das seguintes entidades ou organizações: Governo da Noruega Governo da Suíça Conselho da Europa Conselho Internacional de Agências de Voluntariado (ICVA) Presidente do Comité Executivo do ACNUR Um membro rotativo convidado 5