Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas 10 de Junho de 2010

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1 INTERVENÇÃO DO SENHOR PRESIDENTE DA CÂMARA MUNICIPAL DE OEIRAS Dr. Isaltino Afonso Morais Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas 10 de Junho de 2010 LOCAL: Figueirinha, Oeiras REALIZADO A: 10 de Junho de 2010 PELAS 10,00 horas 1

2 Minhas Senhoras e Meus Senhores, Somos cidadãos de um País idiossincrático. Uma Pátria que escolhe reservar para seu dia no calendário, o dia do maior dos seus poetas é, necessariamente, um País muito especial. Um País que, nas comemorações do seu dia, junta também a comemoração da sua diáspora é, objectivamente, uma realidade cuja razão de ser deriva também do seu destino universalista. Portugal goza os prazeres e carrega o fardo do seu excesso de história. Somos o País que somos e o Povo que somos em resultado desta nossa vocação universal! Nascemos na miscigenação cultural do ocidente europeu, fruto do casamento de romanos, bárbaros, judeus, cristãos e mouros Nascemos mestiços; mestiços nos fizemos País; mestiços nos fizemos Nação; mestiços nos fizemos Império; e na nossa mestiçagem mudámos o Mundo. Hoje não o recordamos tantas vezes quantas devemos: o modo de ser português mudou o MUNDO! Porém, ainda que os Portugueses de 500 que partiram para terras de além-mar estivessem distantes de imaginar que começavam uma das mais transformadoras jornadas da 2

3 História de Humanidade; hoje, as marcas da viagem histórica de Portugal são universalmente reconhecíveis, quer no património edificado, quer nos laços culturais que soubemos desenvolver e os quais ainda hoje se mantêm um pouco por todo o mundo. Hoje, dia 10 de Junho, honramos a nossa Pátria; hoje, recordamos a nossa história; hoje, reconhecemos aqueles que por Portugal tombaram. Minhas Senhoras e Meus Senhores, O monumento que hoje vemos e no qual simbolicamente homenageamos os portugueses caídos na Guerra do Ultramar, nunca teve como objectivo a sua circunscrição a um apenas um conflito militar. Neste caso concreto, a Guerra do Ultramar constituiu o móbil da homenagem do Município de Oeiras aos seus filhos que pela Pátria deram o mais precioso bem que um Homem pode ter, a sua própria vida. Hoje, 36 anos passados desde a gloriosa alvorada do 25 de Abril de 1974, homenagear os soldados portugueses que no Ultramar tombaram parece um lugar comum; contudo, quando este monumento foi inaugurado, no dia 21 de 3

4 Junho de 1997, a sociedade portuguesa vivia uma estranha esquizofrenia pós-traumática do período pós-revolucionário. Nesse tempo, os militares portugueses, mais do que receberem os louvores e as honrarias de deles ter partido a iniciativa de derrubar a ditadura do Estado-Novo, e assim criarem as condições para a edificação de um regime democrático em Portugal, eram olhados como os últimos representantes da reacção do antigo regime. Sobre estes homens caía o injusto anátema de serem um reservatório de todos os males de que padecia o Estado- Novo; logo eles, cujo maior pecado foi terem sido instrumentais na lógica da continuação da política por outros meios. Aqui homenageamos aqueles que, por decisão do poder político, defenderam o que acreditavam ser território português. Porque em Oeiras percebemos o tanto que tantos devemos a tão poucos, decidimos neste local erguer o 1º monumento aos militares portugueses em período democrático. 4

5 Fizemo-lo porque entendemos que a Pátria deve saber honrar todos os seus filhos, dedicando especial cuidado para aqueles que em seu nome se sacrificaram, independentemente do tempo, circunstâncias ou os motivos. A honra de quem tombou na defesa da Pátria é um bem precioso, que não pode ser alvo de juízos de valor que apenas servem para arma de arremesso no jogo da pequena política. Este monumento foi um sinal de pacificação que quisemos dar à sociedade e aos espíritos dos portugueses; este monumento servia também como um instrumento para sarar feridas; este monumento era e é uma homenagem à PAZ! Não por acaso, no programa que encomendamos à escultora Maria Morais, para além da reprodução dos instrumentos da guerra foi também pedido que nele ficassem patentes os gestos humanitários que em todas as guerras existem. Eu próprio, na qualidade de ex-combatente em Angola, testemunhei o sacrifício porque passavam a generalidade dos combatentes. Mas não vi apenas dificuldades e sacrifícios, assisti ao melhor do Homem e vi a generosidade surgir nos momentos mais imprevisíveis. Não tendo as 5

6 melhores recordações da guerra, posso afirmar que tenho as melhores recordações de Angola. Minhas Senhoras e Meus Senhores, Muito se diz e muito se escreve sobre a guerra e a sua natureza, mas acreditem-me que ninguém detesta mais a guerra do que os homens e as mulheres que as têm de combater. Assim, surgiu como natural que tenham sido os militares portugueses quem primeiro afirmou das injustiças da situação colonial portuguesa e das guerras que combatiam. Naturalmente, foram também os militares que em primeiro lugar procurama saídas políticas para conflitos cujo conhecimento da História ensinava estarem perdidos à partida Ainda que tivessem sido os militares portugueses quem primeiro reconheceu a injustiça da situação, foram eles os mais injustiçados; foram eles que tombaram; foram eles quem enfrentou a sua missão e cumpriu o seu dever. Se aos militares portugueses se deve a libertação do povo português, também a eles se ficou a dever um importante 6

7 quinhão da libertação da África Lusófona. Não quero, com esta minha afirmação, ofender ou criar um qualquer incidente com os movimentos de libertação nacional daqueles Países, que muito respeito e por quem nutro grande estima e amizade. Aliás, quero aproveitar para hoje homenagear também os nossos irmãos africanos que tombaram neste conflito. Contudo, a grande década das independências africanas foi a década de 60, e nesse tempo foi impossível vergar um regime que continha no seu código genético a sua vocação imperial. Apenas com o golpe do 25 de Abril de 1974, e o consequente derrube do Estado Novo, foram criadas as condições para serem encontradas soluções políticas para os conflitos na África lusófona. Não por acaso, é público o respeito e a fama de que gozam as elites militares portuguesas junto dos países irmãos africanos sentimento que, saliente-se, é mútuo. A cooperação militar entre Portugal e as forças armadas dos países africanos de língua oficial portuguesa não é mais do que o reflexo de uma História secular comum, de uma proximidade cultural sentida de forma recíproca e de um respeito que só os homens de armas sabem conquistar. 7

8 É nosso orgulho afirmar que, no período pós-colonial, Portugal soube passar de potência imperial a País irmão e semelhante; tendo participado activamente em diversas missões de paz nos países da África lusófona. Fomos e somos parte da paz que aqueles países souberam construir e na qual felizmente todos vivem. Mas não só na África lusófona os militares portugueses têm sido actores parte da solução. Do Bósnia-Herzegovina ao Iraque, do Líbano ao Congo, por todo o mundo os militares portugueses têm defendido a fronteira da Pátria e o bemestar dos Portugueses. Hoje, como no passado, as forças armadas Portuguesas sabem ser a Nata da Nação! Minhas Senhoras e Meus Senhores, A missão militar é uma missão nobre, feita de códigos de honra e de dever; palavras próprias de um tempo antigo, mas também palavras intemporais no sentimento de dignidade do Homem. As forças armadas são e, julgo que o poderei afirmar, serão também, no futuro, uma escola de virtudes única; na qual se aprendem os mais elevados padrões de decência no relacionamento com o próximo. 8

9 Lamentavelmente, a democracia portuguesa não tem sabido respeitar aqueles que decidem dar a sua vida à defesa da Pátria. Ainda assim, os homens e as mulheres das forças armadas portuguesas têm conseguido, salvo raras excepções, sofrer em silêncio as desconsiderações de uma democracia que tanto lhes deve. Creio que nós, na Câmara Municipal de Oeiras, temos sabido honrar a memória passada e a importância contemporânea e futura dos militares. Fazemo-lo exactamente porque somos o órgão de poder mais próximo do sentimento dos cidadãos. Sabemos que a generalidade dos portugueses reconhecem, sem necessidade de recurso a explicações filosóficas, o significado da palavra Pátria; pelo que reconhecem a quem devem a sua defesa e a sua manutenção. Hoje é um dia importante para a consciência histórica portuguesa. Hoje dobram os sinos por todos aqueles que pela Pátria tombaram; que por todos nós um dia tombaram. Muito obrigado. 9