3. Sustentabilidade e Responsabilidade Social Empresarial GESTOR SOCIAL EMPRESARIAL OU GESTOR EMPRESARIAL SOCIAL? É notório, no cenário mundial, o crescente número de empresas de diversas naturezas e portes que desejam assumir ou estão assumindo, na lógica da Administração Organizacional, a sua Responsabilidade Social com os mais variados propósitos finalísticos, quer seja pela preocupação com a sustentabilidade financeira ou, de acordo com o conceito ampliado de Desenvolvimento Sustentável, pela intenção de influir na sustentabilidade ambiental e social do local ou contexto onde estão inseridas. Para tanto, a fim de dar conta deste desafio, as empresas começam a desenhar uma nova função que pode se configurar no seu quadro de pessoal com a denominação de gerente, coordenador, gestor de Sustentabilidade ou de Responsabilidade Social ou ainda de Responsabilidade Socioambiental. Esse profissional tem, entre outras tarefas, a responsabilidade de tratar do aspecto social da sustentabilidade e o seu perfil pode ser uma tendência que a área de carreira e remuneração deve se deparar, principalmente nas empresas de grande porte. Esta afirmação pode ser reforçada pelos dados de recente pesquisa sobre Responsabilidade Social Empresarial (RSE) realizada pela FIEB 3 com 200 empresas industriais do Estado da Bahia, no período compreendido entre final de 2010 e início de 2011. Em comparação com pesquisa similar realizada em 2005, também pela FIEB, pôde-se notar que as empresas estão de fato ampliando a estrutura de gestão deste processo. Quando perguntado sobre quais os mecanismos de gestão que as empresas dispõem para tratar desta questão, observou-se que 20% das empresas já dispõem de uma política ou estratégia de Responsabilidade Social explicitada ou documentada e que 3 Federação das Indústrias do Estado da Bahia. 9
15,5% delas possui uma diretoria, gerência, núcleo ou profissional responsável designado para atuar nesta área. Visualizando o resultado apresentado segmentado por porte de empresas (através gráfico abaixo), comparado com o resultado de 2005, percebemos a evolução dos mecanismos de gestão que apontam esta tendência crescente. 4 Para definir o porte, foi utilizada a classificação de acordo com o número de funcionários próprios, a saber: de 20 a 99 considera-se pequena empresa; de 100 a 499 funcionários, médias empresas; e acima de 500 funcionários para as grandes empresas. Evidencia-se um crescimento no índice de indústrias que possuem políticas e/ou estratégias de Responsabilidade Social documentadas especialmente entre as grandes e, notoriamente, nas pequenas empresas. Este fato é positivo porque demostra que as indústrias baianas estão fazendo esforços no sentido de formalizar suas práticas de RSE, o que favorece a gestão dos processos desta área, o envolvimento das partes interessadas e a mensuração de resultados. 4 RS: Responsabilidade Social. 10
O gráfico a seguir demostra o percentual de empresas que responderam possuir uma Diretoria, Gerência, Núcleo ou Profissional responsável designado para atuar com questões relacionadas à Responsabilidade Social, considerado também um mecanismo de gestão empresarial e que reforça este novo papel dentro das empresas. Verificou-se também de que forma estas empresas estruturam a sua atuação em Responsabilidade Social. No âmbito geral, observa-se no próximo gráfico, que a maior parte das empresas (53%) desenvolve apenas Ações pontuais de Responsabilidade Social, sendo este índice predominante nas categorias Média (52,9%) e Pequena Empresa (54,7%). Na categoria Grande Empresa observa-se que o item com maior percentual de prática é a realização de Programas que consideram as partes interessadas, resultado adequado ao perfil das indústrias participantes da pesquisa. Considerando-se o total de empresas da amostra (200), o resultado geral que chama a atenção é o percentual grande de empresas que investem em Programas voltados para a qualidade de vida e desenvolvimento dos empregados (43%), o que demonstra uma preocupação prioritária das empresas com o seu público interno em detrimento ao público externo, visualizado pela baixa incidência de realização de Programas 11
estruturados de ações sociais voltados para a comunidade (18%), principalmente, nas médias e pequenas empresas do Estado da Bahia. Diante destas tendências, algumas questões se apresentam: quem é gestor capaz de assumir estas tarefas? Será um Gestor Empresarial Social ou um Gestor Social Empresarial? O contexto em que este gestor está inserido e a cultura da organização influenciam a sua atuação? Será que esta política favorece o papel construtivo da Sustentabilidade Social? O grande desafio visualizado neste momento é de como situar este gestor que deve considerar as condições racionais da Administração Empresarial e as perspectivas dos beneficiários da ação social - que têm necessidades sociais e conflitos - e estão, em muitas situações, externos à empresa, bem como, ser necessário levar em consideração a cultura organizacional. 12
O Gestor Social é parte integrante e engrenagem vital do processo de modelagem cultural da organização em busca de resultados, portanto suas decisões e comportamentos deverão traduzir a busca por competitividade e efetividade nos negócios, gerando engajamento. Da mesma forma, o Gestor Social deve enxergar os conflitos sociais existentes além das fronteiras imediatistas dos resultados e ser capaz de traduzir o valor agregado a longo prazo de uma política de Sustentabilidade e Responsabilidade Social Empresarial, extrapolando as tradicionais fronteiras de valorização de colaboradores internos e qualidade de vida, para uma visão mais completa e multifacetada do verdadeiro papel social das organizações. A indagação central para os gestores sociais é como traduzir questões sociais absolutamente relevantes, que tratam inclusive da sobrevivência de mercados e organizações para um ambiente negocial de competição extrema, onde a subsistência empresarial é conseguida também através de resultados de curtíssimo prazo. A resposta parece estar num movimento que engloba a sustentabilidade e durabilidade dos resultados organizacionais (em contraposição a bolhas de resultados extraordinários embora imediatistas e oportunistas), a evolução da consciência planetária em busca de equilíbrio e sustentabilidade e a reforma moral e espiritual de toda humanidade. Desta maneira, o Gestor Social precisa praticar uma revolução silenciosa nas organizações, transformando-se num agente de mudança cultural, influenciando gradativamente a busca pela sustentabilidade em longo prazo dos resultados empresariais e tornando-se modelo de conduta ética a ser seguido e mimetizado pelos colaboradores, buscando para tanto uma reforma moral íntima de suas atitudes e pensamentos. 13
Os interesses, necessidades, conflitos dos beneficiários sociais, com os quais o Gestor Social está relacionado, determinarão o comportamento deste gestor e a sua política de gestão, portanto o seu estilo de liderança deve ser situacional, respeitando fatores internos e externos do público e do momento histórico e cultural em que está situado. A Responsabilidade Social das empresas, portanto, pode ser percebida como um sistema político, o qual exerce poder e influência sobre as organizações, modelando comportamentos, atitudes e decisões. Diante do cenário apresentado, podemos presumir que esta nova carreira empresarial tem muitos desafios pela frente e que, além das competências técnicas e administrativas do seu cargo, cabe o papel de: Entender as relações de poder e os conflitos que cercam a vida humana e a gestão das empresas; Ver as pessoas de forma individual com seus conflitos, além enxergar o coletivo; Perceber o ambiente organizacional como um lugar que tem identidade e que está inserido num contexto sócioeconômico e num tempo histórico; Ressignificar o conceito de Racionalidade Organizacional que é pertinente à gestão empresarial como também à social; Ser ator político e atuar de forma ética, crítica, dialética para a transformação do coletivo. Enfim, independentemente do estilo, uma administração de sucesso depende da habilidade de ler as situações cotidianas. Todo gestor deve ser capaz de analisar interesses, compreender conflitos e explorar relações de poder, de tal forma que as situações possam ser controladas. Para isto, são necessárias perspicácia e habilidade de conhecer as áreas propensas ao conflito, entender as tendências e pressões latentes por dentro das questões manifestas da vida organizacional e dar início a 14
repostas apropriadas. Em geral, o gestor, independente da área de atuação ou do grau de liderança, pode e deve interferir para modificar percepções, comportamentos e estruturas de maneira a ajudar a redefinir os redirecionar as questões para servir a fins construtivos. Concluímos que, ao novo Gestor Social Empresarial, declaradamente, deve-se este ofício. RENAN BODRA MACHADO Administrador e Diretor de Recursos Humanos. 15