UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ THAIS HOKOÇ MOURA DE MELO



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Transcrição:

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ THAIS HOKOÇ MOURA DE MELO COMPOSIÇÃO DE GRUPO E USO DO HABITAT DA BALEIA JUBARTE (Megaptera novaeangliae BOROWSKI, 1871) EM SUA ÁREA DE REPRODUÇÃO NA COSTA DE PORTO SEGURO, BAHIA, BRASIL ILHÉUS BAHIA 2012

THAIS HOKOÇ MOURA DE MELO COMPOSIÇÃO DE GRUPO E USO DO HABITAT DA BALEIA JUBARTE (Megaptera novaeangliae BOROWSKI, 1871) EM SUA ÁREA DE REPRODUÇÃO NA COSTA DE PORTO SEGURO, BAHIA, BRASIL Dissertação apresentada ao Programa de Pós- Graduação em Sistemas Aquáticos Tropicais da Universidade Estadual de Santa Cruz, para a obtenção do título de Mestre em Ecologia. Área de concentração: Sistemas Aquáticos Tropicais Orientador: Prof. Dr. Alexandre Schiavetti Co-orientador: Prof. Dr. Niel Nascimento Teixeira ILHÉUS BAHIA 2012 iii

M528 Melo, Thais Hokoç Moura de. Composição de grupo e uso do habitat da baleia jubarte (Megaptera novaeangliae Borowski, 1871) em sua área de reprodução na costa de Porto Seguro, Bahia, Brasil / Thais Hokoç Moura de Melo. Ilhéus, BA : UESC, 2012. 50 f. : il. ; anexo. Orientador: Alexandre Schiavetti. Co-orientador: Niel Nascimento Teixeira. Dissertação (mestrado) Universidade Estadual Santa Cruz UESC. Programa de Pós-Graduação em Sistemas Aquáticos Tropicais. Inclui referências. 1. Baleia-jubarte. 2. Cetáceo. 3. Baleia-jubarte Comportamento. 4. Reprodução animal. 4. Baleiajubarte Porto Seguro (BA) Habitat. I.Título. CDD 599.5 iv

THAIS HOKOÇ MOURA DE MELO COMPOSIÇÃO DE GRUPO E USO DO HABITAT DA BALEIA JUBARTE (Megaptera novaeangliae BOROWSKI, 1871) EM SUA ÁREA DE REPRODUÇÃO NA COSTA DE PORTO SEGURO, BAHIA, BRASIL Ilhéus, 22 de novembro de 2012 Banca Examinadora Prof. Dr. Alexandre Schiavetti (Orientador) Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC) - BA Dr. Paulo André de Carvalho Flores Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) Dr. Yvonnick Le Pendu Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC) - BA v

AGRADECIMENTOS Agradecer é demonstrar gratidão, gratidão é reconhecimento, ou seja, devo citar aqui todos que reconheço que tiveram participação nesta etapa da minha vida, uns de forma mais direta e outros nem tanto. Mas, como tudo na vida, o todo é formado por partes, cada qual com sua contribuição e todas essenciais. Confesso ter sido um grande desafio voltar a estudar depois dos dez anos que se passaram após minha graduação. Por outro lado sei que minha maturidade adquirida nestes dez anos contribuiu para o meu desempenho neste curso. Só sei que valeu a pena e por isso devo agradecer. Primeiramente à minha família por valorizar sempre os estudos e assim sempre me estimular à continuação dos mesmos e ao mesmo tempo apoiar meu estilo de vida, minhas escolhas, mesmo estas tendo me afastado dos estudos formais. Minha querida mãe exemplo de profissional, pesquisadora e de ser humano. Meu pai, que conseguiu tudo na vida através dos estudos, o admiro muito por isso. Meus irmãos que, apesar de distantes e diferentes acompanham minha trajetória e certamente torcem por mim. Minhas filhas Janaína e Marina que me ensinam a cada dia, como ser uma pessoa melhor, que acompanham todas as minhas batalhas, que foram para Ilhéus comigo para eu poder estudar e encararam tudo numa boa, numa ótima. A Railda que me ajuda nesta difícil missão de cuidar dos filhos e ao mesmo tempo trabalhar e estudar. Agradeço ao meu orientador Alexandre Schiavetti que aceitou me orientar e apoiou meu projeto de mestrado e de vida. Obrigada por abrir diversas portas para que eu crescesse profissionalmente durante o período do mestrado. A vontade era poder estar mais tempo ao seu lado. Ao Dr. Niel Teixeira pela ajuda com os mapas e pela atenção, ao Dr. Daniel Danilewicz pela participação nas bancas e aos importantes comentários sobre o meu trabalho, ao Dr. Yvonnick Le Pendu pela participação nas bancas e pelas contribuições dadas ao trabalho. Ao Alexandre Capelloza pela ajuda na parte estatística deste trabalho e por toda paciência. À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) pela bolsa concedida para o desenvolvimento desta pesquisa. À UESC por ter me recebido vi

como aluna, aos Programas de Pós Graduação em Sistemas Aquáticos Tropicais (SAT), Zoologia e Ecologia da Conservação, onde cumpri meus créditos. À todos que fazem parte desta estrutura, docentes e discentes com os quais muito aprendi neste período. À ONG Idea Wild pelo fornecimento de um GPS para o desenvolvimento do trabalho de campo. A uma pessoa muito especial Daniela Alarcon por todo apoio que sempre me deu, você é uma pessoa especial, é muito prestativa e sempre ajuda a todos com muito carinho e atenção. Sua amizade foi fundamental para o sucesso da minha estadia em Ilhéus. À Paula Adriana, proprietária da Cia do Mar e toda sua equipe, pela parceria maravilhosa sem a qual este trabalho não seria possível. Obrigada por acreditar no meu projeto e por ter abraçado a ideia de corpo e alma. Sem esta parceria eu não estaria fazendo aquilo que eu mais gosto de fazer nesta vida, navegar em busca de estudar e observar as baleias e passar conhecimentos aqueles que nos acompanham em nossas aventuras diárias. Ao Paulo Flores (ICMBio), por ter me recebido tão bem em Imbituba durante um estágio com as baleias-francas e por ter aceitado fazer parte da minha banca. À Karina Groch (Projeto Baleia Franca), por ter me recebido para um estágio de apenas uma semana, mas que aprendi muito. Ao José Martins e sua equipe (Projeto Golfinhos Rotadores/CMA), pela oportunidade de estágio que enriqueceu minha vinha vida profissional e pessoal. À Cristiane Martins e Marcos Rossi-Santos pelos comentários e sugestões neste trabalho, nada melhor que ouvir de quem tem experiência com estes bichos. Obrigada pelo incentivo! Por fim agradeço à mãe natureza que faz com que minha vida seja mais bela, mais mágica, mais prazerosa, a ela que tanto nos desperta curiosidade e vontade de conhecer, de descobrir de pesquisar. Espero que eu esteja conseguindo ajudar sua conservação nesta passagem por esta vida! vii

APRESENTAÇÃO A baleia jubarte (Megaptera novaeangliae BOROWSKI, 1871) é um dos grandes cetaceos misticetos que utiliza a costa brasileira como área de reprodução. Todos os anos migram de sua área de alimentação até o litoral do Brasil sendo a Costa da Bahia o local de maior concentração dessa espécie. Há mais de vinte anos estudos utilizando diversas metodologias vêm sendo realizados principalmente na região de Abrolhos. Os dados desta pesquisa foram obtidos através de uma plataforma de oportunidade em saídas de barco dedicadas ao turismo de observação de baleias jubartes realizadas entre 2008 e 2011 partindo de Porto Seguro, litoral Sul da Bahia. Complementando o estudo da baleia jubarte na Costa da Bahia e contribuindo para o conhecimento da dinâmica populacional da espécie, essa dissertação apresenta um capítulo de introdução à espécie e seu conhecimento na área de estudo, sendo os resultados apresentados em forma de artigo científico intitulado Composição, tamanho de grupo e uso do habitat da baleia jubarte (Megaptera novaeangliae Borowski, 1871) em sua área de reprodução na costa de Porto Seguro, Bahia, Brasil, que será submetido ao periódico Northwestern Journal of Zoology. Este artigo aborda a distribuição relativa de diferentes composições de grupo da baleia jubarte relacionada à profundidade e a distância da costa, analisando se estes fatores ambientais influenciam a distribuição dos diferentes grupos de baleias ao longo dos meses de uma temporada e durante os anos. viii

LISTA DE FIGURAS Figura 1: Mapa da área de estudo, na costa de Porto Seguro, Bahia, Brasil, com as linhas isobatimetricas de 10, 20, 30 e 100 metros...38 Figura 2: Mapa da área de estudo com pontos de observação dos grupos de baleias registrados, triângulos vermelhos representando grupos com filhote e círculos pretos grupos sem filhotes, na costa de Porto Seguro, Bahia, Brasil, entre 2008 e 2011...39 Figura 3: Frequência das composições de grupo (Dupla dois adultos, Fefi fêmea com filhote, Fefi+AC fêmea com filhote e acompanhante, Fefi+GC fêmea com filhote e grupo competitivo, GC grupo competitivo, Sol solitária e Trio três adultos) encontradas na costa de Porto Seguro entre os anos de 2008 e 2011...40 Figura 4: Distância da costa em milhas náuticas, dos registros de grupos de baleias ao longo dos anos...41 Figura 5: Distância da costa dos registros de grupos de baleias ao longo dos meses da temporada (julho 7, agosto 8, setembro 9 e outubro 10), dos quatro anos estudados...42 ix

LISTA DE TABELAS Tabela 1: Número de saídas, grupos avistados, número de baleias e filhotes, média da taxa de encontro e desvio padrão em cada ano no período entre 2008 e 2011...40 Tabela 2: Número de ocorrência das diferentes composições de grupo nas quatro faixas de profundidade estudadas e distância média da costa das diferentes categorias de grupos de baleias e desvio padrão. Solitária (Sol), dupla (Dupla), trio (Trio), grupo competitivo (GC), fêmea com filhote (Fefi), fêmea com filhote e acompanhante (Fefi+AC) e fêmea com filhote e grupo competitivo (Fefi+GC)...41 x

RESUMO A baleia jubarte (Megaptera novaeangliae BOROWSKI, 1871) é uma espécie migratória, alimentando-se no verão em altas latitudes e reproduzindo-se no inverno em baixas latitudes. No Brasil, a costa da Bahia é uma importante área de reprodução desta espécie, sobretudo o Banco de Abrolhos. O presente trabalho teve como objetivo caracterizar o tamanho e a composição de grupo, assim como avaliar o uso do habitat da baleia jubarte, em Porto Seguro, litoral sul da Bahia, região onde esta espécie é pouco estudada, analisando a presença de grupos de baleias, a composição destes grupos, a posição onde foram encontrados (profundidade e distância da costa) ao longo dos meses da temporada e dos quatro anos estudados. Os dados foram coletados em plataforma de oportunidade, a bordo de um barco de turismo, durante três vezes por semana durante os meses de julho a outubro, entre 2008 e 2011. No total foram feitas 95 saídas compreendendo 143,72 horas de esforço amostral e 1091,9 milhas náuticas (mn) percorridas, registrado-se 160 grupos com 361 baleias, sendo 57 filhotes. As baleias avistadas foram arbitrariamente classificadas em sete categorias de agrupamento: solitária; dupla; trio; grupo competitivo; fêmea com filhote; fêmea com filhote e acompanhante e fêmea com filhote e grupo competitivo. A taxa de encontro (número de grupos avistados/milhas náuticas navegadas) foi comparada entre os anos e os meses, assim como entre grupos com e sem filhote. As categorias de composições de grupo mais frequentes foram fêmea com filhote (N=45), dupla (N=40) e solitária (N=38), e as menos frequentes foram trio (N=4) e fêmea com filhote e grupo competitivo (N=1). A maior parte dos grupos foi encontrada em locais com 20 a 30m de profundidade (N=91), seguida da faixa entre 10 e 20m (N=62). O grupo fêmea com filhote predominou na faixa de profundidade entre 10 e 20 m enquanto que na faixa de 20 a 30m houve predominância de duplas. Houve uma diferença significativa (X 2 Pearson= 12,06, p<0.05) com relação a maior presença de filhotes até 20 m de profundidade. Em profundidades de até 10 metros e a partir de 30m poucas baleias foram avistadas. A preferência de fêmeas com filhotes por águas mais rasas, conforme descrita para diversas regiões. As baleias foram registradas entre 2,9 e 18,7 mn da costa (x=8,6 mn), uma distância estável que não variou ao longo dos anos nem entre os meses (p>0,05), mas teve diferença significativa com relação às composições de grupo (F=5,203, p<0,05), reforçando a preferência das fêmeas com filhotes por águas rasas. A taxa de encontro apresentou diferença significativa apenas na comparação entre os meses (H=14,59, d.f.=3, p>0,05), entre agosto e outubro (mood median test, p=0,002). Os resultados deste estudo demonstraram que o tamanho e a composição de grupo de baleias jubarte não variaram significativamente ao longo do tempo (entre meses e entre anos). Houve uma preferência de grupos com filhote por águas mais rasas, até 20 metros. A forma como os animais ocupam espacial e temporalmente seu ambiente tem implicação em ações de manejo e conservação. Palavras-chave: cetáceo, comportamento, sítio reprodutivo, distância da costa, profundidade. xi

ABSTRACT The humpback whale is a migratory species that feeds in summer at high latitudes, and reproduces in winter at low latitudes, in the tropical waters. In Brazil, the coast of Bahia is an important breeding area for this species, mainly the Abrolhos Bank. This study characterized the use of the humpback whale habitat in Porto Seguro, southern coast of Bahia, a region with few studies. Analyzing the presence of groups of whales, the composition of these groups, the position where they are found (depth and distance from shore) over the months of the season and the four years studied. Data were collected from a platform of opportunity aboard a tour boat, during cruises held three times a week between July to October over four years (2008 to 2011). In total 95 cruises were made comprising 143.72 hours of sampling effort and nautical miles 1091.9 traveled, resulting in 160 whale groups registered with 361 whales, from which 57 were calves. Seven categories of whale groups were arbitrary defined: solitary, double, trio, competitive group, female with calf, female with calf and escort and female with calf and competitive group. The encounter rate (number of groups sighted / nautical miles sailed) was calculated and compared between years and months as well as between groups with and without calves. The group compositions were more frequent with female and calf (N=45), double (N=40) and lonely (N=38), and the trio were less frequent (N=4) and female with calf and competitive group (N=1). Most groups were found in depths ranging between 20 and 30 meters (N = 91) as well as 10 and 20 meters (N=62). The group female and calf predominated in depth between 10 and 20m whereas doubles predominated in depths of 20 to 30m. A significant difference (X 2 Pearson = 12.06, p <0.05) was found with the greater presence of claves up to 20 m deep. Few whales were sighted in depths shallower than 10m and deeper than 30m. The preference of females with calves for shallower waters has been described for various regions. The average distance of sighted whales from the coast was 8.6 mn, ranging between 2.9 nm and 18.7 nm. The distance from the coast where the groups were not recorded did not vary significantly between years or among months (p> 0.05), but had significant difference with respect to group composition (F = 5.203, p <0.05), reinforcing the preference of females with calves for protected waters. The encounter rate was only significantly different when comparing months (H = 14.59, df = 3, p> 0.05) between August and October (mood median test, p = 0.002). The results of this study demonstrated that group size and composition of humpback whales did not change significantly over time (between months and among years). There was a preference for groups with calves for shallower water, up to 20 meters. The way these animals occupy space and temporally their environment has implications for management actions and conservation. Keywords: cetacean, behavior, reproductive site, distance from shore, depth. xii

SUMÁRIO AGRADECIMENTOS...iv APRESENTAÇÃO...vi LISTA DE FIGURAS...vii LISTA DE TABELAS...viii RESUMO...ix ABSTRACT...x 1. INTRODUÇÃO GERAL...13 2. OBJETIVOS...17 3. RESULTADOS...18 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...18 CAPÍTULO I: Caracterização do uso do habitat da baleia jubarte (Megaptera novaeangliae Borowski, 1871) em sua área de reprodução na costa de Porto Seguro, Bahia, Brasil...22 Resumo...23 Abstract...24 INTRODUÇÃO...26 MATERIAL E MÉTODOS...28 RESULTADOS...30 DISCUSSÃO...31 TABELAS E FIGURAS...37 REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS...42 ANEXO...46 xiii

Haikai de Guilherme Mansur, do livro Bahia Baleia, 2009 xiv

1. INTRODUÇÃO GERAL A ordem Cetacea inclui os animais conhecidos como baleias, botos e golfinhos. É dividida em duas Sub-Ordens, Mysticeti (baleias com barbatanas) e Odontoceti (cetáceos com dentes). A Sub-Ordem Mysticeti é exclusivamente marinha; das sete espécies que migram seis ocorrem no Brasil apenas no inverno e na primavera, período em que se deslocam da região Antártica, sua área de alimentação, para as águas tropicais brasileiras (Bastida et al, 2007, ICMBio, 2011). Trinta e uma espécies de Odontoceti ocorrem no Brasil sendo que apenas duas são exclusivamente fluviais, o boto-cor-de-rosa (Inia geoffrensis) e o boto-cinza (Sotalia fluviatilis). Algumas vivem tanto no mar quanto em estuários e outras são exclusivamente marinhas (ICMBio, 2011). A baleia jubarte (Megaptera novaeangliae) pertence à Sub-Ordem Mysticeti, é a única espécie de seu gênero, pertence à família Balaenopteridae, caracterizada pela presença de pregas ventrais (Dawbin, 1966, Chittleborough, 1965, Clapham e Mead, 1999). A baleia jubarte é uma espécie cosmopolita e migratória (Dawbin, 1966). Suas áreas de alimentação localizam-se em altas latitudes onde permanece durante os meses quentes de verão e suas áreas de reprodução estão nas baixas latitudes, para onde migra no inverno tanto para ter seus filhotes como para copular (Dawbin, 1965; Chittleborough, 1966; Clapham e Mead, 1999). O motivo da realização de grandes migrações, tanto da baleia jubarte como de outras grandes baleias é um assunto discutido entre os especialistas. As hipóteses variam em função da espécie. Para a baleia jubarte bem como para outros misticetos, acredita-se que a migração para a área de alimentação no verão é realizada com o objetivo de explorar os pulsos de produtividade de krill e, no inverno com o objetivo de conservar energia em águas mornas (Brodie, 1975). A menor abundância de predadores em áreas de reprodução também é considerada para explicar a migração (Payne, 1995; Corkeron e Connor, 1999). Assim, com a migração das fêmeas, como consequência há a migração dos machos em busca de seus pares para reproduzir (Corkeron e Connor, 1999). Apesar do padrão de migração e distribuição espaço-temporal dessa espécie, há exceções, como baleias observadas em comportamento reprodutivo em área de alimentação (Weinrich, 1995) e baleias em comportamento de alimentação dentro das 15

áreas de reprodução (Danilewicz et al, 2009). Uma população de baleias jubarte não realiza migração, no Mar da Arábia, nas proximidades de Oman, Paquistão e Índia (Mikhalev, 1997). Em certas localidades como no leste da Austrália e nas ilhas do Hawai, áreas de reprodução da espécie; já foi observado que alguns animais não realizam a migração todos os anos, permanecendo o período de inverno na área de alimentação (Craig e Herman, 1997; Clapham e Mead, 1999). Estas informações contribuem para um entendimento sobre a dinâmica de populações de baleias jubartes no mundo e mostra que ainda há muito para ser conhecido e pesquisado com relação a esses animais. A Comissão Internacional da Baleia (International Whaling Comission - IWC) reconhece sete estoques ou populações reprodutivas no hemisfério sul (IWC, 1998). As baleias que se reproduzem na costa da Bahia fazem parte do estoque reprodutivo A, e é um dos estoques menos conhecidos e estudados (Zerbini et al, 2004). No Brasil a principal área utilizada por esta espécie como sítio reprodutivo o banco de Abrolhos, situado entre o extremo sul da Bahia e o estado do Espírito Santo (Andriolo et al, 2006; Wedekin et al, 2010). Segundo pesquisa realizada com monitoramento por satélites, estas baleias têm como destino de suas rotas de migração as proximidades das Ilhas Georgia do Sul e Sandwich do Sul, na região Antártica (Zerbini et al, 2006). A baleia jubarte foi intensamente caçada no mundo todo entre os séculos XVI e XX (Ellis, 1969). Registros da época da caça confirmam que esta espécie ocupava toda costa brasileira, sendo que a caça, aqui no Brasil começou através dos biscaios no Recôncavo Baiano, depois se expandindo para outros Estados (Ellis, 1969). Estimativas recentes indicam que a população de baleia jubarte foi reduzida, em 1950, para 5% da população original pela pressão da caça no Brasil (Zerbini et al, 2006). No mundo esta estimativa também é de menos de 10% da população original (Clapham et al, 1999). Devido a essa grande redução dos estoques populacionais, a espécie foi classificada como ameaçada de extinção pela União Internacional de Conservação da Natureza (UICN) até 2007/08, quando, com o aumento das populações, passou a compor a lista de espécies vulneráveis. Desde 2008 seu status foi alterado para baixo risco (IUCN, 2009) devido aos crescimentos populacionais observados. Estimativas populacionais mostram um crescimento do estoque reprodutivo A de 7,3% a 8,6% por ano até 2008 (Zerbini et al, 2010). Mesmo assim, a população de baleia jubarte que compõe o estoque reprodutivo A ainda não atingiu o tamanho populacional previamente estimado. Apesar de estar livre da pressão da caça, a baleia jubarte, ainda sofre grandes ameaças 16

tanto no Brasil como no mundo (Bastida et al, 2007; Andriolo et al, 2006; Andriolo et al, 2010; Wedekin, 2011). Outras ameaças, no entanto surgiram e ainda surgem com o desenvolvimento e ocupação do litoral. Alguns exemplos são: aumento do tráfego de embarcações, aumento do número de embarcações e redes de pesca, poluição, atividades off shore como exploração de petróleo e atividades sísmicas, entre outros (por ex: Bastida et al, 2007; Zambonim et al, 2009). Estudos demonstram que a exploração direta e a captura acidental em atividades de pesca são responsáveis pela atual condição de ameaça às populações de algumas espécies de cetáceos (Di Beneditto et al, 2001; Alarcon et al, 2009). Apesar de grandes esforços de grupos de pesquisa e conservação da baleia jubarte em todo o mundo, essa espécie ainda encontra-se ameaçada devido ao tamanho de sua população, e ainda existe a possibilidade do retorno a caça comercial como pela interferência humana, seja direta ou indireta nos ecossistemas aquáticos (por ex: Andriolo et al, 2006, ICMBio, 2011). Na década de 80, vários estudos apontaram o Banco de Abrolhos (localizado ao norte do ES e sul da BA) como principal área de concentração dessa espécie (por ex: Engel, 1996; Siciliano, 1997; Martins et al, 2001), embora nenhum estudo sistemático houvesse sido realizado com esse objetivo. Sua distribuição, entretanto, é registrada até Fernando de Noronha (Lodi, 1994), e ainda há registro de animais desta espécie encalhados mais ao Norte, no Piauí e no Maranhão (Siciliano et al, 2008). Além de ser uma área com alta concentração de baleias jubarte, o arquipélago de Abrolhos também é uma região onde são encontrados muitos filhotes, reforçando sua importância para a reprodução e conservação dessa população. No entanto com o com a ampliação da área de estudo e o crescimento da população aumentam os registros desses animais no litoral norte da Bahia (Rossi-Santos et al, 2008) e em outras áreas do nordeste do Brasil (Zerbini et al, 2004), corroborando a hipótese de reocupação de áreas usadas antes da sua caça (Andriolo et al., 2006; Rossi-Santos et al, 2008). Estudos sobre a distribuição da baleia jubarte na costa do Brasil realizados através de sobrevoos demonstram que esta espécie não está distribuída igualmente ao longo dos 10º de latitude em que ocorre (Andriolo et al., 2006). Através de foto identificação verificou-se que, na costa da Bahia, as baleias jubarte têm certo grau de fidelidade à subregiões de sua área de reprodução, comparando regiões distantes 600 km uma da outra (Praia do Forte e Abrolhos) (Wedekin et al, 2010). Os estudos para fidelidade de área no nordeste da Bahia demonstraram 1% de fidelidade de área e um 17

tempo de ocupação de área de 1 a 21 dias (Baracho et al, 2012), o que pode indicar troca de áreas de ocupação dentro da área de reprodução ou a não migração de alguns indivíduos(craig & Hermann, 1997). Em uma escala mais ampla podemos afirmar que a baleia jubarte escolhe sua área de reprodução com base na temperatura da água (Rasmussen et al, 2007). Wedekin (2011) considera que outros fatores podem determinar a distribuição desta espécie como profundidade, distancia da costa (e efeitos associados a este como turbidez da água), relevo do fundo. Alguns estudos em escalas menores que os realizados por sobrevoo, por exemplo, demonstraram diferenças quanto a presença de grupos com e sem filhote ao longo da temporada mas não entre os anos estudados (Morete et al, 2007), no Banco de Abrolhos. No Norte da Bahia não foi observado regularidade com relação a picos de avistagens de fêmeas com filhotes entre os anos analisados (Rossi-Santos, 2008). Isso sugere diferenças na forma como estas áreas estão sendo utilizadas pelas baleias jubarte. Para esta área apenas foram coletados dados através de sobrevoos, em datas específicas (Zerbini et al, 2004, Wedekin et al, 2010) e alguns cruzeiros esporádicos partindo de Caravelas (Wedekin et al, 2010). Objetivando a análise do tamanho e composição de grupo e uso do habitat pela baleia jubarte no litoral Sul da Bahia, a presente pesquisa foi realizada na costa de Porto Seguro, BA, entre as duas áreas de maiores estudos de baleia jubarte, a 450 km ao sul da Praia do Forte e 145 km ao norte de Caravelas. A hipótese da presente pesquisa é que a baleia jubarte apresenta tamanho, composição de grupo e uso do habita homogêneos espaço e temporalmente na região de Porto Seguro, Bahia, Brasil. Área de Estudo O município de Porto Seguro está localizado no litoral sul da Bahia (16º 26 S e 39º 05 W), com 85 km de costa. Possui área aproximada de 2.408 km 2 e estabelece fronteira com os municípios de Prado, Itamarajú, Santa Cruz Cabrália, Eunápolis e Itabela. O município faz parte da Costa do Descobrimento, uma subdivisão de zonas turísticas criada pelo PRODETUR/BA, um programa de desenvolvimento do turismo no Estado. A Costa do Descobrimento foi recentemente considerada pela UNESCO como 18

um Patrimônio Natural da Humanidade e representa uma das principais zonas turísticas do Estado da Bahia (Silva et al, 2001). Esse trecho costeiro apresenta peculiaridades que o destacam do restante da região costeira do Estado da Bahia. A maior parte deste tem exibido uma tendência de longo prazo para a erosão ou não acumulação de sedimentos na linha de costa (Bittencourt et al, 2000). Os tabuleiros da Formação Barreiras constituem falésias vivas ao longo da maior parte do litoral, com alturas, em média, de 15 a 30 metros, com diversos vales suspensos. (Silva, 2008) Essa região caracteriza-se por uma plataforma continental larga e com baixos gradientes de batimetria. Está situada exatamente entre os Bancos de Abrolhos e o Banco Royal Charlote. Esses bancos são alargamentos da plataforma continental sendo que o primeiro pode atingir a distancia de 200 km da costa e o segundo 100 km (Silva, et al, 2001, Bittencourt et al, 2000). Porto Seguro está em frente do início deste alargamento que forma o Banco Royal Charlote, ou seja, a queda da plataforma continental está a 45 km desta costa. A temperatura média da água do mar varia nessa região entre 25 e 27º no verão e 22 e 24º no inverno (Castro e Miranda, 1998). Esta região está sob regime de chuvas no verão e de seca no inverno. Entretanto durante o inverno e no outono, ocorrem precipitações associadas à Frente Polar Atlântica que nestes períodos do ano, frequentemente alcançam a região. Segundo Martin et al (1998), o clima desta região pode ser classificado como pseudo-equatorial sem estação seca, com chuvas bem distribuídas durante todo ano (Silva et al, 2001). 2. OBJETIVO GERAL Avaliar a composição e o tamanho de grupo e investigar o uso do habitat da baleia jubarte (Megaptera novaeangliae) em uma área pouco estudada de seu sítio reprodutivo na Costa da Bahia, verificando se há relações entre a distribuição das diferentes composições de grupo com profundidade e distancia da costa ao longo da temporada e entre os anos estudados. Objetivos específicos: a. Determinar a distribuição geo espacial da baleia jubarte; 19

b. Determinar a organização social básica com tamanho e composição dos avistamentos; c. Verificar a profundidade e distância da costa dos avistamentos registrados. d. Verificar se há diferença no padrão de uso do habitat de acordo com a composição do grupo, profundidade e distância da costa em Porto Seguro; e. Comparar os dados ao longo dos meses da temporada (julho, agosto, setembro e outubro) e entre os anos estudados (2008 a 2011); f. Analisar as taxa de encontro de baleias jubarte e das diferentes composições de grupos, entre os meses e os anos estudados. 3. RESULTADOS: Capítulo I: Composição de grupo e uso do habitat da baleia jubarte (Megaptera novaeangliae Borowski, 1871) em sua área de reprodução na costa de Porto Seguro, Bahia, Brasil. REFERÊNCIAS: ALARCON, D.T., COSTA, R.C.S., SCHIAVETTI, A. Abordagem etnoecológica da pesca e captura de espécies não-alvo em Itacaré, Bahia (Brasil) B. Inst. Pesca, São Paulo, 35(4): 675-686, 2009. ANDRIOLO, A., MARTINS, C.C.A., ENGEL, M.H., PIZZORNO, J.L., MÁS-ROSA, S., FREITAS, A.C., MORETE, M.E. AND KINAS, P.G. The first aerial survey to estimate abundance of humpback whales (Megaptera novaeangliae) in the breeding ground off Brazil (Breeding Stock A). J. Cetacean Res. Manage. 8(3):307-311, 2006 ANDRIOLO, A., KINAS, P. G., ENGEL, M. H., MARTINS, C. C. A. e Rufino, A. M., Humpback whales within the Brazilian breeding ground: distribution and population size estimate. Endangered species research, vol.11: 233-243, 2010. BARACHO-NETO, C.G., NETO, E.S., ROSSI-SANTOS, M.R., ET AL. Site fidelity and residence times of humpback whales (Megaptera novaeangliae) n the Brazilian coast. Journal of the Marine Biological Association of the United Kingdom, page 1 of 9. 2012 20

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CAPÍTULO I * Composição de grupo e uso do habitat da baleia jubarte (Megaptera novaeangliae Borowski, 1871) em sua área de reprodução na costa de Porto Seguro, Bahia, Brasil *Este capítulo será submetido ao periódico North-Western Journal of Zoology (North-West J. Zool) e está elaborado seguindo as normas de publicação conforme sua página na Internet em 20 de janeiro de 2013 (http://biozoojournals.3x.ro/nwjz/index.html) 24

Composição de grupo e uso do habitat da baleia jubarte (Megaptera novaeangliae Borowski, 1871) em uma área de reprodução, na costa da Bahia, Brasil. Thais Hokoç Moura de Melo 1, Niel Teixeira 2 e Alexandre Schiavetti 2 1 Programa de Pós Graduação em Sistemas Aquáticos Tropicais, Universidade Estadual de Santa Cruz, UESC. Rodovia Ilhéus Itabuna, km16, Salobrinho CEP 45.662-900 Ilhéus Bahia Brasil. 2 Departamento de Ciências Agrárias e Ambientais, Universidade Estadual de Santa Cruz, UESC. Rodovia Ilhéus Itabuna, km16, Salobrinho CEP 45.662-900 Ilhéus Bahia Brasil. e-mail para correspondência: thaisaquamar@gmail.com Resumo A baleia jubarte é uma espécie migratória, se alimenta em altas latitudes e se reproduz em águas tropicais. O presente trabalho teve como objetivo analisar o uso do habitat da baleia jubarte, em Porto Seguro, norte do Banco de Abrolhos através da caracterização da presença de grupos de diferentes tipos com relação à profundidade e distância da costa. Os dados foram coletados três vezes por semana, à bordo de um barco de turismo, entre os meses de julho a outubro, entre 2008 e 2011. Foram feitas 95 saídas totalizando 143,72 horas de esforço amostral, foram registrados 160 grupos com 361 baleias sendo que dessas 57 eram filhotes. As composições de grupo mais frequentes foram fêmea com filhote (N=45), dupla (N=40) e solitária (N=38), e a com menor frequência foram trios (N=4) e fêmea com filhote e grupo competitivo (N=1). A maior parte dos grupos foi encontrada na faixa entre 20 e 30 metros (N=91), seguida da faixa entre 10 e 20 metros (N=62). Os grupos compostos de uma fêmea com filhote predominaram na faixa de profundidade entre 10 e 20 m enquanto que na faixa de 20 a 30 m houve predominância de duplas de adultos. Em profundidades de até 10 metros e 30 m ou mais poucas baleias foram avistadas. A distância dos locais de encontro a costa média foi de 8,6 mn, variando entre 2,9 mn e 18,7 mn. Não houve diferença significativa na frequência dos grupos ao longo dos meses da temporada (P=24,895, p>0,05). Ao analisarmos a presença de filhotes considerando duas faixas de profundidade, até 20 metros (juntando a faixa até 10 m com a de 10 a 20 m) e acima de 20 metros (de 20 a 30 m e mais que 30 m), verificamos uma diferença significativa 25

(X 2 Pearson= 12,06, p<0.05) com relação a maior presença de filhotes na faixa de profundidade mais rasa. Não foram observadas diferenças significativas de profundidade e distancia da costa entre os anos estudados. A taxa de encontro apresentou diferença significativa entre os meses da temporada (H=14,59, d.f.=3, p<0,05), já entre os anos e entre grupos com e sem filhotes não houve diferença significativa. Os resultados deste estudo demonstraram que o tamanho e a composição de grupo de baleias jubarte não variaram significativamente ao longo do tempo (entre meses e entre anos). Houve uma preferência de grupos com filhote por águas mais rasas, até 20 metros. A forma como os animais ocupam espaço e temporalmente seu ambiente tem implicação em possíveis ações de manejo e conservação. Palavras-chave: cetáceo, composição de grupo, sitio reprodutivo Abstract The humpback whale is a migratory species, at high latitudes feeds and reproduces in tropical waters. This study aimed to examine the habitat use of humpback whales in Porto Seguro, north of the Abrolhos Bank through the characterization of the presence of different types of groups with respect to depth and distance from shore. Data were collected three times a week, on board a tour boat, between the months of July to October, between 2008 and 2011. 95 outs were made totaling 143.72 hours of sampling effort, 160 groups were registered with 361 whales being that these 57 were claves. The group compositions were more frequent with female and calf (N=45), double (N=40) and solitary (N=38), and less frequently were trios (N=4) and female with calf and competitive group (N=1). Most groups found in the range between 20 and 30 meters (N= 91), then the range between 10 and 20 meters (N = 62). The groups of compounds with a female and calf dominated the depth range between 10 and 20 m whereas in the range of 20 to 30 m predominated pairs of adults. At depths less than 10 meters and more than 30 meters fewer whales were sighted. The distance from the shore venues average was 8.6 min, ranging between 2.9 nm and 18.7 nm. There was no significant difference in the frequency of groups over the months of the season (P = 24.895, p> 0.05). By analyzing the presence of calves considering two depth ranges up to 20 meters (joining the band up to 10 m with 10-20 m) and above 20 meters (20 to 30 m more than 30 m), we found a difference significant (X 2 Pearson = 12.06, p <0.05) compared with 26

the greater presence of pups at shallower depth range. There were no significant differences of depth and distance from the coast between the years studied. The encounter rate showed a significant difference between the months of the season (H = 14.59, d.f. = 3, p <0.05), as between years and between groups with and without calves no difference. The results of this study demonstrated that the size and composition of humpbacks group did not change significantly over time (between months and among years). There was a preference for groups with calves for shallower water, up to 20 meters. The way animals occupy space and temporally their environment has implications for possible management actions and conservation. Keywords: whale, group composition, reproductive site 27

Introdução A baleia jubarte (Megaptera novaeangliae) é uma espécie que pertence à ordem Cetacea, subordem Misticeti (baleias com barbatanas), família Balaenopteridae (ou rorquais), sendo uma das quatro famílias desta subordem. O gênero Megaptera é monoespecífico. É uma espécie cosmopolita e migratória (Dawbin 1966, Chittleborough 1965, Claphan & Mead 1999), cuja migração é realizada entre as áreas de alimentação, em altas latitudes durante o verão, e as áreas de reprodução, em baixas latitudes durante o inverno (Dawbin 1966, Claphan & Mead 1999). A Comissão Internacional Baleeira (International Whaling Comission - IWC) reconhece sete populações reprodutivas no hemisfério sul (IWC 1998). As baleias jubarte que se reproduzem na costa do Brasil fazem parte do estoque reprodutivo A, ainda pouco conhecido ou estudado (Zerbini et al. 2004). Estas baleias se alimentam nas proximidades das Ilhas Georgia do Sul e Sandwich do Sul, na região Antártica, segundo pesquisa realizada com monitoramento por satélites (Zerbini et al. 2006). Na costa do Brasil, a faixa de ocorrência dessa espécie se estende desde o Rio Grande do Sul até o Pará (Siciliano et al., 2008, Pretto et al., 2009, Andriollo et al., 2010). Entretanto a região de maior concentração de baleias jubarte é a costa da Bahia, mais precisamente o Banco de Abrolhos que vem sendo estudada desde a década de 80 (por ex.: Engel 1996, Martins et al. 2001, Morete et al. 2003, Andriolo et al. 2006, Morete et al. 2007; Zerbini et al. 2006). A baleia jubarte foi intensamente caçada e sobre-explotada entre os séculos XVI e XX em todo mundo, inclusive no Brasil (Ellis 1969), tendo reduzidas suas populações ameaçando-as de extinção (IUCN 2009). Com o fim oficial da caça em 1966 pela IWC, assim como em 1986 no Brasil Lei Federal, algumas populações de baleia jubarte apresentam recuperação populacional e reocupação da área de distribuição (ver Clapham et al. 1999), incluindo no Brasil (Zerbini et al. 2006, Andriolo et al. 2006, Ward 2006, Rossi-Santos et al. 2008, Wedekin et al. 2010). A distribuição espaço-temporal das espécies está relacionada ao seu habitat, cuja preferência é definida por uma complexa interação entre padrões comportamentais, necessidades biológicas e condições ambientais (Clapham & Mead 1999, Corkeron & Connor 1999, Ersts & Rosembaun 2003). Para animais migratórios torna-se mais difícil 28

determinar essas preferências (Corkeron & Connor 1999), pois diferem entre as áreas de reprodução e alimentação. No caso dos misticetos, inclusive a baleia jubarte, acredita-se que a migração para áreas de altas latitudes seja explicada pelo objetivo de explorar os pulsos de produtividade de krill, seu principal recurso alimentar e, no inverno com o objetivo de conservar energia em águas mornas (Brodie 1975). A ausência de predadores em áreas de reprodução também é considerada (Payne 1995, Corkeron & Connor 1999). Assim, a migração das fêmeas desencadeia a migração dos machos em busca de seus pares para reproduzir (Corkeron & Connor 1999). O levantamento da distribuição das baleias e de suas composições de grupo em relação à profundidade e à distância da costa podem esclarecer questões com relação à preferência de habitat. A composição dos grupos pode variar ao longo da temporada devido ao padrão de migração (Dawbin 1966), movimentações locais e mudanças no comportamento social. O estudo do uso do habitat de acordo com a característica e a composição dos grupos de baleias jubarte pode ser utilizado para avaliar a importância de determinadas regiões para classes distintas de grupos de baleias (Franklin et al. 2011). Além disso, este tipo de estudo pode subsidiar ações de manejo de turismo e outras atividades na região de ocorrência desta espécie (Hoyt 2005, Corkeron et al. 2011).Essas informações também podem ser úteis na definição de áreas prioritárias à conservação. Outros fatores ambientais também podem vir a interferir na distribuição espacial dessa espécie como, por exemplo, a salinidade e turbidez da água e as características físicas da área como a composição do fundo (Ersts & Rosembaum 2003, Wedekin 2011). A taxa de encontro (grupos de baleias/quilômetros navegados) é um indicativo do número de baleias na região (por ex. Rossi-Santos et al. 2008). Quanto mais baleias, maior a taxa de encontro, pois menos milhas devem ser navegadas para encontrá-las. Compara a taxa de encontro entre os anos estudados e entre os meses da temporada nos trará informações sobre a variação da quantidade de baleias nesta região ao longo do tempo. Já a comparação da taxa de encontro entre grupos com ou sem filhote pode indicar alguma característica de distribuição dos mesmos. Com uma área de reprodução extensa no Brasil e em recuperação populacional, é provável que haja diferenças nas formas de ocupação das baleias jubarte e dessa população ao longo da costa, diferenças essas influenciadas tanto pelas características ambientais como pela proximidade com a área de maior concentração. O levantamento 29

e a análise dos dados na região de Porto Seguro contribuirão para um maior entendimento da dinâmica populacional e uso de área dessa espécie na região. Contribuirá também para uma maior compreensão sobre o possível processo de reocupação de áreas antes ocupadas por esta espécie, e do próprio processo de recuperação de populações. Área de estudo O litoral de Porto Seguro, Bahia, caracteriza-se por uma plataforma continental larga e com baixos gradientes de batimetria (Fig. 1). Está situada entre os Bancos de Abrolhos (localizado entre as latitudes 16º 40 S a 19º 30 S) e o Banco Royal Charlote (15º 50,4 S a 16º 19,8 S), onde há um estreitamento da plataforma continental entre Porto Seguro e Alcobaça em um trecho de aproximadamente 45 km. Esses bancos são alargamentos da plataforma continental sendo que o primeiro atinge a distancia de 260 km e o segundo 110 km da costa (Castro & Miranda 1998, Silva et al. 2001, Bittencourt et al. 2000). Porto Seguro está em frente do início deste alargamento que forma Banco Royal Charlote, a queda da plataforma continental está a 45 km desta costa. Nesse trecho da costa encontram-se um dos mais importantes sistemas coralíneos do Atlântico Sul Ocidental (Leão 1982). A temperatura média da água do mar varia nessa região entre 25 e 27º no verão e 22 e 24º no inverno (Castro & Miranda 1998). Esta região está sob influencia da Corrente do Brasil caracterizada por ser um corrente quente (28º C), salina (36,5) e fraca (Telles 1998). Os principais estuários localizados nesta costa são o Buranhém, dos Frades e, mais ao sul, Caraíva, o primeiro dominado por regime de correntes de vazante e os outros dois de enchente (Silva 2008). A corrente de vazante há exportação de material sedimentar do estuário do Buranhém para o oceano influenciando na turbidez da água, fator que pode influenciar a distribuição da baleia jubarte (Wedekin 2011). Os ventos predominantes na região são o leste (90 o ), nordeste (45 o ), sudeste (135 o ) e sul-sudeste (157º) (Martin et al. 1998), sendo que no outono e inverno predominam os ventos do quadrante sul e o leste é bem distribuído durante todo o ano (Silva 2008). 30

Material e Métodos Os dados foram coletados utilizando uma plataforma de oportunidade em barco de turismo. A embarcação utilizada foi um trawler de fibra de 16 metros de comprimento, com propulsão de dois motores, e uma velocidade de cruzeiro de 10 nós. Cada saída teve uma duração média de 4 horas, partindo do Pier Municipal de Porto Seguro (16º 26 S e 39º 03 W). Dois observadores de bordo se posicionavam na parte mais alta do barco (cerca de 3 metros de altitude) e rastreavam o horizonte cobrindo um campo de 180º cada um, sem uso de binóculo. A busca se iniciava assim que o barco saía pela barra de Porto Seguro marcada pelo farol que marca a extremidade norte do recife que divide o rio Buranhém e o mar. A direção de navegação era escolhida aleatoriamente e os grupos de baleias a serem observados eram definidos de acordo com a disponibilidade, sem seleção. Buscava-se qualquer evidencia da presença das baleias como borrifos, dorso, cauda, ou comportamentos aéreos que geram movimentação e levanta espuma na superfície da água, derivada de comportamentos como saltos, batidas de nadadeiras peitoral e caudal, entre outros (Engel 1996). Após as baleias serem localizadas, era realizada a aproximação seguindo as normas de avistagem (Portaria IBAMA n o 117/1996). Os dados eram coletados e anotados em fichas de avistagem e a posição geográfica obtida com um GPS. Os dados coletados foram: data, tempo de navegação da saída do porto até a aproximação ao grupo, presença de filhote no grupo, número de baleias, composição de grupo e alguns comportamentos no momento do encontro. A distância da costa foi obtida plotando o ponto das coordenadas na carta náutica e medindo a distancia deste em linha reta até o ponto mais próximo no continente. As profundidades também foram adquiridas plotando os pontos de avistagem registrados na carta náutica. Elas foram categorizadas em quatro faixas de profundidade de acordo com as isóbatas: 0 a 10 m, 11 a 20 m, 21 a 30 m e mais que 31 m. Após a coleta de dados e a aproximação que durava de 30 a 60 minutos por grupo iniciava-se o retorno ao porto ou a navegação em busca de outro grupo. Não foram considerados ou incluídos nas análises os avistamentos no percurso de retorno. Em algumas saídas foram observados mais que um grupo, nessa situação é contado o tempo de navegação entre o fim de uma avistagem e o inicio da outra aproximação. As categorias de avistamentos e grupos de baleia jubartes foram arbitrariamente definidos, consideramos grupo um conjunto de indivíduos a uma distancia 31

interindividual menor que cem metros, navegando na mesma direção ou desenvolvendo comportamentos similares (Clapham et al. 1999) e filhotes indivíduos acompanhados de um adulto com tamanho menor que a metade do adulto. Em algumas situações pode se observar, durante o período de avistagem a união ou separação de indivíduos, entretanto foram consideradas as composições de grupos iniciais apenas. Os dados foram tabulados e analisados quanto à frequência das diferentes composições de grupo ao longo dos meses da mesma temporada, entre os mesmos meses de diferentes anos e entre anos diferentes. Para verificar a significância estatística das diferenças foi utilizado o método one way ANOVA para comparação entre composições de grupo e distancia da costa e o teste Qui-quadrado para comparar composição de grupos e profundidade (Gotelli & Elison 2011). Foi realizado um teste Qui-quadrado para verificar a diferença de profundidades de acordo com a composição dos grupos. Foi calculada a taxa de encontro (grupos de baleias avistados/milhas náuticas navegadas) e esta foi comparada entre os meses, os anos para grupos com e sem filhote. Para verificar se houve diferença significativa entre essas taxas foram utilizados os testes Kruskal-Wallis e Mood Median. Resultados Durante as quatro temporadas de coleta foram realizadas 95 saídas nas quais 160 grupos de baleias foram encontrados, contendo 361 baleias; destas 57 (15,79%) filhotes (Tabela 1 e Figura 2). Ao longo dos quatro anos de estudo foram observadas sete categorias de composição de grupo de baleia-jubarte: solitária (Sol), dupla (Dupla), trio (Trio), grupo competitivo (GC), fêmea com filhote (Fefi), fêmea com filhote e acompanhante (Fefi+AC) e fêmea com filhote e grupo competitivo (Fefi+GC). As composições de grupos observadas com maior frequência foram 45 Fefi, 40 Duplas e 38 Sol. As composições de grupo com menor frequência foram de Fefi+GC(1) e Trios (4) (Figura 3). Não houve diferença significativa na frequência dos grupos ao longo dos meses da temporada (P=24,895, p>0,05). Das três classes de grupo com Fefi, a mais frequente foi a sem a presença de acompanhantes. Nos meses de julho não foi observado nenhum grupo com filhote. O número de avistagens aumenta conforme aumenta a profundidade até os 30 metros, enquanto somente 3 grupos foram encontrados em profundidade maior que 30 32

metros. Em profundidades até 10 metros, apenas foram encontradas 2 fêmea com filhote, 1 dupla e 2 grupos competitivos enquanto que na faixa mais profunda, mais que 30 metros, foram encontradas 1 dupla, 1 fêmea com filhote e 1 grupo competitivo (Tabela 2). Ao analisarmos a presença de filhotes considerando duas faixas de profundidade, até 20 metros (juntando a faixa até 10 m com a de 10 a 20 m) e acima de 20 metros (de 20 a 30 m e mais que 30 m), verificamos uma diferença significativa (X 2 Pearson= 12,06, p<0.05) com relação a maior presença de filhotes na faixa de profundidade mais rasa. No teste Qui-quadrado usado para verificar a diferença da presença das composições dos grupos nas diferentes faixas de profundidades verificamos uma diferença significativa (X 2 Pearson=190,361, p<0.05) distinta entre os grupos. Entretanto, entre os meses da temporada a diferença de profundidade não foi significativa (X 2 Pearson=12,316, p>0,05). Com relação à diferença entre as profundidades ao longo dos anos estudados não foi observada diferença significativa. A distância da costa de onde os grupos foram observados variou de 2,9 MN a 18,7 MN (Figura 4). Não foi observada diferença significativa da distancia da costa onde os grupos foram encontrados entre os anos estudados. Também não foi observada diferença significativa entre os meses da temporada (ANOVA F=0,87, p>0,05) (Figura 5). Houve diferença significativa (ANOVA F=5,203, p<0,05) com relação às composições de grupo e distância da costa (Tabela 2). Os grupos com fêmeas e filhotes ocorrem em áreas mais próximas à costa do que os grupos sem filhotes. As taxas de encontro não foram diferentes significativamente entre os anos estudados nem entre grupos com e sem filhotes. Já entre os meses da temporada houve diferença significativa (H=14,59, d.f.=3, p<0,05), entre os meses de Agosto e Outubro (Mood median test, p=0,002) (Tabela 2). Discussão A utilização de cruzeiros de turismo pode ser uma ferramenta alternativa no estudo do comportamento de cetáceos e vem demonstrando resultados parecidos com dados coletados em cruzeiros de pesquisa como, por exemplo, no Brasil e no Equador (Simões et al. 2005, Felix & Haas 2005). A diferença entre estas duas formas de coleta 33

de dados é que a embarcação de turismo permanece a uma distância maior dos animais, seguindo a Portaria n o 117/1996 (Brasil 1996), o barco não pode aproximar a menos de 100 metros de distância das baleias. Além disso, normalmente no cruzeiro de turismo a aproximação é feita em apenas um grupo de baleias, depois se retorna para o porto, no científico as buscas continuam durante todo o dia. Entretanto outros procedimentos são bastante parecidos com as observações feitas especificamente na pesquisa. Os cruzeiros iniciaram quando já havia baleias na costa, sendo assim não podemos afirmar o período exato de chegada delas nessa região. Entretanto, podemos afirmar que o fim da temporada nessa área é próximo ao dia 15 de outubro já que nas saídas após essa data não foram observadas baleias ou foram observadas, com dificuldade (ex: 2010) apesar de boas condições do mar. O período da temporada de ocorrência ao longo da costa da Bahia varia, mais ao sul, na região de Abrolhos esta se inicia em junho, e se prolonga até novembro (Martins et al. 2001). Já ao norte, na Praia do Forte, ela ocorre de Julho a Outubro (Rossi-Santos et al. 2008). A presente pesquisa é realizada em uma área intermediária, distante cerca de 450 km da Praia do Forte (norte de Salvador) e 165 km ao norte de Abrolhos. Para esta área apenas foram coletados dados através de sobrevoos, em datas específicas (Zerbini et al. 2006, Wedekin 2011) e alguns cruzeiros esporádicos partindo de Caravelas (Wedekin 2011). Com relação à profundidade onde os animais ocorrem poucos são os registros para profundidade até 10 m (Figura 2 e Tabela 2), mesmo sendo uma área de busca intensa pelo fato das saídas serem realizadas a partir do Pier Municipal de Porto Seguro. O número pequeno de avistagens a partir da isobata de 30, em água mais profundas se deve a metodologia utilizada nesta pesquisa, ou seja, utilizando a embarcação de turismo como plataforma de oportunidade. Nesse caso a navegação é feita até encontrar um grupo de baleias e depois retorna, não há navegação em água mais profundas já que as baleias são encontradas, normalmente em águas mais rasas. A maior frequência de ocorrência entre as faixas de profundidade estudadas foi na de 20 a 30 metros. Duplas e baleias solitárias predominam de 20 a 30 m enquanto grupos de fêmeas com filhotes são os mais registrados de 10 a 20 m (Figura 2 e Tabela 2). Esse é um padrão observado para esta espécie nas suas áreas de reprodução em diversas localidades (por ex: Dawbin 1966, Smultea 1994, Clapham et al. 1999, Ersts & Rosenbaum 2003). Em frente a Porto seguro, na parte norte da região amostrada, as características do relevo do fundo são diferentes da região sul da área estudada (Figura 1). Por exemplo, a isóbata de 10 m, pelo fato de contornar o recife de fora que está a 4,2 mn 34

(borda externa), encontra-se mais afastada da costa, 6,2 mn. Já na região sul a isóbata de 10 metros é continua, paralela à costa a uma distancia de 1,5 mn. Da mesma forma, a isóbata de 20, ou seja, a faixa de 10 a 20 m de profundidade, por fora do recife de fora está a 8,8 mn da costa, já na área sul de 5 mn a 7.7 mn na direção de Trancoso. Já a isóbata de 30 é mais homogênea na região estudada, ou seja, mantém uma distancia da costa igual ao longo desse trecho da costa, que é de 14.7 mn. Isso acontece pela presença do Recife de Fora que é bordejado pelas isóbatas de 10 e 20 m, indo na direção sul, antes delas se transformarem em paralelas rentes a costa exista uma curva. Essa caracterização do perfil do fundo em uma escala menor da que é normalmente utilizada em pesquisas de sobrevoo nos permite analisar fatores que podem interferir no uso do habitat das baleias com um nível maior de detalhamento. A presença de recifes, por exemplo, como barreiras naturais podem estar criando áreas protegidas favoráveis a algumas classes de grupos de baleias (Wedekin 2011). Entretanto estudos mais aprofundados com relação às características ambientais em menores escalas devem ser realizados. A maior frequência encontrada foi a de grupos contendo filhote (Fefi, Fefi +AC e Fefi+GC), o que confirma a importância desta região como área reprodutiva. Além disso, os resultados encontrados nesta pesquisa reforçam a hipótese de que fêmeas com filhotes buscam águas mais rasas para cuidarem de seus filhotes (Smultea 1994, Martins et al. 2001, Ersts & Rosenbaum 2003). Maiores frequências de duplas, solitárias e fêmeas com filhotes encontradas nessa pesquisa seguem o padrão encontrado na região de Abrolhos (Martins et al. 2001), onde se registrou maior frequência de grupos com filhote. No entanto diferem com relação à Praia do Forte onde a frequência de fêmeas com filhotes é baixa (Rossi-Santos et al. 2008). A dinâmica associativa dos indivíduos é fluida, ou seja, elas se associam e se separam de acordo as necessidades dos indivíduos (Matilla et al. 1994, Clapham & Mead 1999, Bastida et al. 2007). A única exceção é a associação da mãe com o filhote que é estável, pelo menos nos primeiros meses de vida, quando podem ser observados sempre juntos. Alguns exemplos são: a formação de um grupo competitivo, a formação de grupos para migrar, grupos de jovens em processo de aprendizagem. Baleias solitárias podem estar assim temporariamente, até encontrar uma dupla ou um grupo. Outro aspecto a ser considerado é que com o aumento da população há também uma mudança na formação de grupos e até mesmo nos comportamentos sociais (Franklin et al. 2011). Estudos de longo prazo em regiões específicas poderão vir a 35

detectar estas possíveis mudanças. Braithwaite et al. 2012 avalia a capacidade de carga de cetáceos na costa da Austrália em uma área de repouso de baleia jubarte onde um aumento de no mínimo 10% ao ano da população vem sendo detectado e discute as implicações deste crescimento na definição de limites de áreas protegidas e na competição por espaço entre os indivíduos e as atividades embarcadas realizadas no local. Os estudos para fidelidade de área no nordeste da Bahia demonstraram 1% de fidelidade de área e um tempo de ocupação de área de 1 a 21 dias (Baracho et al. 2012), o que pode indicar troca de áreas de ocupação dentro da área de reprodução ou a não migração de alguns indivíduos(craig & Hermann 1997). A taxa de encontro pode ser um indicativo da abundância de baleias na região, o fato dela não ter sido diferente entre os anos poderia indicar que nesta área não está sendo observado o aumento da população que vem sendo registrado para a costa do Brasil (ex: Zerbini et al. 2004, Andriolo et al. 2006, Zerbini et al. 2006, Rossi-Santos et al. 2008, Andriolo et al. 2010). Isso poderia indicar que as baleias já se estabeleceram nesta região. A comparação entre taxas de encontro de grupos com e sem filhotes também não apresentou diferença significativa. Quando observamos o mapa com a distribuição dos grupos de baleias podemos perceber que quando a navegação é realizada para o sul do ponto de partida a distância percorrida é similar a de quando se navega para o Leste, sendo que no primeiro caso, por ser uma navegação costeira, com a mesma distância percorrida atingimos locais de profundidades mais rasa. Sendo assim o fato de termos encontrado mais grupos com filhotes em águas rasas não será refletido na comparação de taxas de encontro. Quando comparamos os meses estudados verificamos que a taxa de encontro aumenta até o meio da temporada e depois diminui como já foi registrado em outros locais, o pico de abundância de baleias no meio da temporada. A diferença significativa foi encontrada entre os meses de agosto e outubro, o que pode estar representando a alta abundância de baleias em agosto e baixa em outubro, quando elas já começam sua migração de volta para a área de alimentação. Ao analisarmos a presença, distribuição e uso do habitat da baleia jubarte na costa brasileira é interessante levar em consideração não só os fatores ambientais que podem afetar estes aspectos da ecologia desta espécie como também o processo de aumento de sua população e consequente reocupação de áreas provavelmente ocupadas no passado (Zerbini et al. 2006, Ward 2006, Andriolo et al. 2006, Wedekin et al. 2011). Ao sul da região estudada, em Abrolhos, o desenvolvimento do turismo previsto com foco na baleia ocorreu em municípios vizinhos como Prado, Porto Seguro (Morete 36

et al. 2003). Em Caravelas o turismo para observar as baleias jubarte mantém-se até os dias de hoje como sendo oportunístico, ou seja, a observação é realizada no trajeto até o Arquipélago de Abrolhos, além disso, sofreu uma queda de 14 mil turistas/ano em 1995 para aproximadamente 5 mil/ano atualmente (Morete et al. 2007). Mais ao norte no litoral baiano (~500 km) outro local vem sendo utilizado como ponto de partida para os passeios de observação de baleias jubarte, a Praia do Forte e, mais recentemente Morro de São Paulo e Itacaré (Rossi-Santos et al. 2008). Enquanto alguns locais já se consolidaram com relação a esse turismo em outros ele vem acontecendo esporadicamente, por exemplo, com saídas apenas no período de pico de abundância das baleias. É interessante notar que há uma diferença acentuada com relação ao relevo do fundo nessas duas regiões uma mais ao norte e outra mais ao sul da costa da Bahia. Enquanto que a região mais ao sul da costa da Bahia possui uma das mais extensas plataformas continentais, esta vai se estreitando na direção norte e a partir do litoral de Itacaré ela já é mais estreita (Silva et al. 2001). Sendo assim é provável que a ocupação das baleias e o uso do habitat sofram variações entre essas regiões já que a profundidade é um dos fatores que influenciam a distribuição dos grupos. Desde o fim da caça a população de baleia jubarte que frequenta a costa da Bahia tem aumentado e consequentemente expandido sua área de ocupação (Andriolo et al. 2006, Zerbini et al. 2006). Quando o Parque Nacional Marinho de Abrolhos foi criado em 1983 (FUNATURA/IBAMA 1991) esta área foi e é considerada até hoje local de maior concentração de baleias jubarte no Oeste do Atlântico Sul (Martins et al. 2001, Zerbini et al. 2006, Wedekin 2011). Com o passar dos anos o crescimento populacional vem sendo registrado e com ele novas áreas estão sendo ocupadas. Pesquisas com a baleia jubarte na costa brasileira vêm sendo realizadas desde a década de 90 e este estudo vem complementar este conhecimento bem como gerar subsídio para o manejo e a conservação da espécie em sua área de reprodução. Estudos como este, com uma frequência maior de levantamentos de dados, mesmo que em uma área restrita, fornecem informações mais detalhadas sobre o uso do habitat. Nesta pesquisa vimos que em Porto Seguro, assim como em outras localidades, há uma preferência das fêmeas com filhotes por águas mais rasas e próximas à costa. Verificou-se também que as baleias jubarte não estão apenas de passagem nessa região, estão utilizando a área para comportamentos reprodutivos, tanto de acasalamento como, principalmente, para ter e amamentar seus filhotes. Com relação a frequência alta de 37

grupos com filhotes e a procura por áreas abrigadas por estes grupos, a região estudada mostrou ter aspectos em comum com a região de Abrolhos. As características físicas da região estudada apresenta semelhanças e diferenças com relação a região de Abrolhos, ambas possuem uma plataforma continental rasa e larga mas por outro lado em Porto Seguro as baleias estão próximas à costa, e em Abrolhos não. Mesmo assim verificamos características similares nesta região, ou seja, uma alta frequência de fêmeas com filhotes e a presença destes em águas mais rasas. Vimos que a profundidade é um fator que tem maior influencia na distribuição deste grupo especifico se compararmos com a distância da costa. Informações sobre o uso do espaço destes animais, geradas por pesquisa realizada a bordo de embarcações de turismo podem contribuir para o manejo e a conservação da espécie. 38

TABELAS E FIGURAS Figura 1: Mapa da área de estudo, Porto Seguro, sul da Bahia, Brasil, com as linhas isobatimetricas de 10, 20, 30 e 100 metros. 39

Figura 2: Mapa com pontos de observação dos grupos de baleias registrados, triângulos vermelhos representando grupos com filhote e círculos pretos grupos sem filhotes, na costa de Porto Seguro, Bahia, Brasil, entre 2008 e 2011. 40

(%) Tabela 1: Número de saídas, grupos avistados, número de baleias e filhotes, média da taxa de encontro (numero de grupos/distancia navegada) e desvio padrão em cada ano no período entre 2008 e 2011. Ano Número de saídas Grupos avistados Número de baleias Número de filhotes Média da taxa de Encontro Desvio Padrão 2008 17 27 69 12 0,1970 0,1118 2009 22 40 82 12 0,2831 0,3386 2010 28 50 119 21 0,3490 0,5816 2011 28 43 91 12 0,2925 0,2925 Total 95 160 361 57 0,2804 0,3311 Figura 3: Frequência das composições de grupo (Dupla dois adultos, Fefi fêmea com filhote, Fefi+AC fêmea com filhote e acompanhante, Fefi+GC fêmea com filhote e grupo competitivo, GC grupo competitivo, Sol solitária e Trio três adultos) encontradas na costa de Porto Seguro entre os anos de 2008 e 2011. 41

(MN) Tabela 2: Número de ocorrência das diferentes composições de grupo nas quatro faixas de profundidade estudadas (m), distância média da costa (Mn) e desvio padrão dos avistamentos (Mn). Profundidade (m) Grupos 0 a 10 10 a 20 20 a 30 30 ou mais Distância da Costa (Mn) Total Média Desvio padrão Dupla 1 7 31 1 40 9,96 3,04 Fefi 2 26 16 1 45 7,19 2,18 Fefi+AC 0 4 7 0 11 8,21 1,63 Fefi+GC 0 1 0 0 1 7,90 GC 2 6 13 1 22 9,16 3,04 Sol 0 16 22 0 38 7,85 2,14 Trio 0 2 2 0 4 10,17 2,92 Total 5 62 91 3 165 8,45 2,72 Figura 4: Distância da costa em milhas náuticas dos registros de grupos de baleias ao longo dos anos. 42

(MN) Figura 5: Distância da costa dos registros de grupos de baleias ao longo dos meses da temporada (julho 7, agosto 8, setembro 9 e outubro 10), dos quatro anos estudados. 43