Oportunidades no Mercado de Biocombustíveis



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Transcrição:

4 e 5 de junho de 2007 World Trade Center São Paulo, Brasil SÃO PAULO ETHANOL SUMMIT Novas Fronteiras do Etanol: Desafios da Energia no Século 21 Oportunidades no Mercado de Biocombustíveis Arnaldo Walter (awalter@fem.unicamp.br) Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Brazil FEM & NIPE

Sumário da apresentação O atual mercado de biocombustíveis, e o papel do Brasil. Mercado de biocombustíveis: perspectivas. Vantagens da produção de etanol no Brasil: custos e emissões de GEE. Oportunidades para o Brasil e desafios. Considerações finais.

Limites desta apresentação Biocombustíveis: foco no mercado de combustíveis líquidos produzidos a partir de biomassa, apesar de haver oportunidades (principalmente para o Brasil) no mercado de biomassa sólida. Biocombustíveis: substitutos da gasolina (etanol, essencialmente) e do diesel (biodiesel e "diesel sintético"). Oportunidades no mercado: sobretudo para o Brasil, considerado o mercado internacional.

Por que biocombustíveis? As forças motoras que induzem o maior uso dos biocombustíveis variam de país para país. Entretanto, as razões principais são: (i) ambientais associadas à melhoria da qualidade do ar em centros urbanos e à necessária redução das emissões dos gases de efeito estufa; (ii) aumento da segurança do suprimento energético; (iii) sócioeconômicas, principalmente no que diz respeito à melhoria (manutenção) da qualidade de vida no meio rural, geração de empregos e dinamização da economia. Também, destaca-se a oportunidade de produção de biocombustíveis, em larga-escala, em países em desenvolvimento. Razões adicionais: (i) oportunidade de redução da dependência de petróleo importado e poupança de moeda forte; (ii) oportunidade de ativa participação no mercado internacional de biocombustíveis.

Aspectos importantes A médio-longo prazos, a importância dos biocombustíveis no mercado energético dependerá da sustentabilidade (econômica, social e ambiental) de sua produção e uso. Como uma das principais forças motoras é a mitigação das emissões de GEE, o balanço de emissões de GEE será aspecto fundamental. Independente da imposição de certificação da produção (que é uma tendência), a sustentabilidade social e ambiental será exigida pelos principais mercados consumidores (inclusive o nacional).

A atual mercado de etanol Em 2005 a produção mundial de etanol combustível foi estimada em 33 Gl, para uma produção total de 46 Gl. Em 2006 estima-se que a produção de etanol combustível tenha chegado a 39-40 Gl. EUA (47%) e Brasil (44%) concentram a produção mundial ( 70% no caso da produção total).

Comércio internacional de etanol As informações a respeito do comércio internacional de etanol são imprecisas. Estima-se que em 2005 o comércio total de etanol tenha sido da ordem de 6 Gl, sendo 3,8 Gl para fins combustíveis (aproximadamente 10% do mercado mundial naquele ano). Em 2006 o Brasil exportou 3,4 Gl (2,6 Gl em 2005), sendo 1,75 Gl para os EUA (diretamente), 580 Ml para a Europa e 230 Ml para o Japão.

O atual mercado de biodiesel A produção mundial de biodiesel é uma ordem de grandeza menor do que a produção de etanol combustível e o consumo ainda está fortemente concentrado na Europa. Em 2005 a produção mundial foi de 3,8 Gl, tendo representado menos de 0,5% do consumo de diesel (0,2% em 2003). A produção na UE correspondeu a 90% da produção mundial, sendo a Alemanha o maior produtor ( 50%). Na União Européia o consumo em 2006 foi de 4,3 Gl. Já nos EUA, em 2006 a produção de biodiesel foi de quase 950 Ml. A capacidade de produção na UE praticamente duplicou entre 2004 e 2005 (a produção aumentou 65%) e quase triplicou entre 2004 e 2006.

Perspectivas no mercado de etanol Mercado consumidor estimado em 190 Gl em 2020 (deslocaria 8,2% do consumo projetado de gasolina), sendo 70 Gl nos EUA, 19 Gl na UE, 9,3 Gl no Japão e 12,6 Gl na China. O mercado interno no Brasil em 2020 foi estimado em 36 Gl. No resto do Mundo, o mercado foi estimado em 43 Gl.

Perspectivas no mercado de biodiesel Estima-se (conservadoramente) que o mercado mundial de biodiesel cresça a taxas médias anuais de 30% entre 2005 e 2010 (cresceu 45,7% ao ano entre 1991 e 2005) e superaria 14 Gl em 2010. Na UE o consumo em 2011 deve chegar a 13 Gl (crescimento de quase 25% ao ano a partir de 2006). Nos EUA, a US Energy Information Administration (EIA) estima que o consumo de biodiesel em 2010 estará entre 1,8 Gl e 24,6 Gl.

Custos de produção de etanol Vantagem da produção de etanol a partir da cana de açúcar no Brasil os mais baixos custos de produção no presente e, muito provavelmente, no futuro. Apenas em condições excepcionais a produção de etanol a partir da celulose poderia, no futuro, ser competitiva com a produção brasileira. Entretanto, tal vantagem comparativa precisa ser preservada com desenvolvimento tecnológico e diversificação da produção.

Redução das emissões de GEE Entre os biocombustíveis atuais, o etanol de cana é que proporciona maiores reduções das emissões de GEE (ao menos 80% nas condições de produção no Brasil). Reduções de ao menos 30% podem ser exigidas pelo mercado consumidor. Entre os biocombustíveis, os menores custos de redução das emissões de GEE são obtidos com o etanol de cana. Mesmo em condições favoráveis, os custos de redução com os combustíveis de segunda geração deverão ser maiores.

Oportunidades para o Brasil etanol (I) Em função das condições extremamente favoráveis de produção de etanol no Brasil, o país pode ser o mais importante player no mercado internacional, ainda em desenvolvimento. Desafios: (i) desenvolver tecnologia para reduzir ainda mais os custos de produção; (ii) diversificar a produção para reduzir custos (eletricidade é a oportunidade na curto-médio prazos); (iii) melhorar a logística para superar obstáculos; (iv) planejar a expansão da produção em um contexto no qual o grande mercado estará no exterior; (iv) alcançar a efetiva sustentabilidade social e ambiental (também por exigência da sociedade brasileira).

Oportunidades para o Brasil etanol (II) Por mais competitiva que seja a produção de etanol no Brasil, não haverá mercado internacional com apenas um grande produtor (segurança de suprimento é uma das principais forças motoras). Outros países têm potencial para produzir etanol em larga-escala, principalmente a partir da cana de açúcar. O Brasil tem condições de ser um importante player no mercado de equipamentos agrícolas e industriais, no desenvolvimento de variedades de cana, na venda de serviços em diferentes áreas (e.g., engenharia, agronomia, genética, logística, comercialização).

Oportunidades para o Brasil biodiesel As mesmas condições favoráveis que o Brasil tem para a produção de etanol tem para a produção de biodiesel, mas ainda há um longo caminho a ser seguido. As lições aprendidas em 30 anos de produção de etanol em larga-escala podem (e devem) ser úteis para a minimização de problemas na produção de biodiesel, embora os modelos de produção possam ser muito distintos. A produção de biodiesel deve ser estruturada a partir do planejamento, o que inclui a escolha dos melhores insumos, a definição das áreas de produção, o uso das melhores tecnologias, a diversificação da produção e a busca da efetiva sustentabilidade (principalmente social e ambiental).

Considerações finais (I) O mercado de biocombustíveis crescerá significativamente nos próximos anos. Em 10-20 anos os biocombustíveis terão papel de destaque na matriz energética no setor de transportes. Entretanto, os biocombustíveis não serão panacéia. A médio-longo prazos só haverá espaço significativo no mercado internacional se a produção for sustentável. Os mercados compradores irão impor condições. Mais do que se queixar de adicionais barreiras de mercado, o Brasil deve se preparar para ter vantagens.

Considerações finais (II) Afinal, há poucos países no Mundo que podem produzir biocombustíveis em larga escala: (i) sem por em risco biomas frágeis e sem destruir florestas; (ii) produzir com alta produtividade sem ter de usar fertilizantes e agro-tóxicos em grande quantidade; (iii) produzir biocombustíveis em larga escala sem por em risco a produção de alimentos; (iv) produzir biomassa sem por em risco os recursos hídricos; (v) produzir diferentes culturas agrícolas, diversificando a produção de biocombustíveis. Não é uma meta exclusiva da produção de biocombustíveis, mas a redução da concentração de renda pode começar com sua produção.

Considerações finais (III) As vantagens comparativas do Brasil precisam ser preservadas (e ampliadas). Desenvolvimento tecnológico e planejamento são ações fundamentais. O Brasil deve investir em outras rotas de produção de biocombustíveis (e.g., hidrólise, gaseificação + FT). É também fundamental avançar em direção à diversificação da produção (biorefinarias). O Brasil deve colaborar para que o mercado internacional de biocombustíveis seja criado e consolidado. Não há espaço para um único grande produtor, embora deva haver forte concentração da produção em poucos países.

Obrigado pela atenção! awalter@fem.unicamp.br