A APRENDIZAGEM DA ESCRITA PELA CRIANÇA COM SÍNDROME DE DOWN INSERIDA EM UMA SALA DE AULA REGULAR



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Transcrição:

A APRENDIZAGEM DA ESCRITA PELA CRIANÇA COM SÍNDROME DE DOWN INSERIDA EM UMA SALA DE AULA REGULAR RESUMO Mda Maria Karolina de Macêdo Silva / UFRN Profª Drª Luzia Guacira dos Santos Silva / UFRN As escolas precisam se adaptar para todos, proporcionando a aprendizagem efetiva, inclusive daqueles que possuem alguma necessidade especial. Dos conhecimentos que a escola precisa oferecer, existe a escrita que é muito importante para a sociedade atual. Nossa investigação que deu início a este trabalho teve por objetivo verificar como a criança com síndrome de Down aprende a escrever, durante o processo de alfabetização, em uma escola regular da rede privada de ensino da cidade de Natal/RN. Para tanto, utilizamos a pesquisa bibliográfica, buscando o aprofundamento das informações, com base na literatura especializada sobre o tema. Também realizamos um Estudo de caso, envolvendo a observação livre na sala e entrevistas com as professoras e com os alunos, buscando verificar como ocorre esse processo de aquisição da escrita por crianças com síndrome de Down, na classe regular. As informações registradas demonstraram que a inclusão escolar, quando levada a sério, proporciona a aprendizagem da escrita dessas crianças, e, principalmente, que elas se desenvolvem nesse ambiente e são capazes de aprender a escrever, desde que respeitado o seu ritmo. Palavras chaves: inclusão escolar, escrita, síndrome de Down Introdução Esse artigo refere-se a um recorte da pesquisa realizada em 2008.2, para a escrita de uma dissertação de Mestrado em Educação que teve como principal objetivo de investigar como a criança com síndrome de Down aprende a escrever durante o processo de alfabetização, numa escola regular. Acreditamos que, a escola tem que se preparar para atender à diversidade e às necessidades dos alunos em geral, tanto no aspecto social, quanto no aspecto educacional, ou seja, tanto na integração com os demais alunos, como também na aprendizagem. Todas as pessoas têm o direito à educação e igualdade de oportunidades, garantido por lei, segundo a Constituição Federal. No artigo 205, preconiza, ainda, que esse direito deve visar o pleno desenvolvimento da pessoa, o seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho (Brasil, 2005). Diante disso, a inclusão escolar tem como princípio fundamental - o aprender juntos. A escola deve responder às inúmeras necessidades educacionais presentes na diversidade de seu corpo discente. Dessa forma, ela possibilitará uma aprendizagem coletiva e de qualidade para todos. O relatório da comissão internacional para o século XXI, para a UNESCO, demnostranos que, para atender as especificidades exigidas no mundo atual, a escola deve promover

2 quatro aprendizagens fundamentais, ou seja, os pilares do conhecimento: aprender a conhecer a aquisição dos instrumentos do conhecimento que possibilitem a compreensão e leitura de mundo; aprender a fazer a possibilidade do sujeito agir sobre o mundo que o rodeia, melhorando-o; aprender a viver junto a colaboração com os outros, já que estamos inseridos em uma sociedade e, por fim, aprender a ser integração das demais aprendizagens possibilitando a constituição do EU. (DELORS, 1999). Conhecendo essas aprendizagens necessárias para a atualidade, não podemos deixar de perceber que aquisição dessas aprendizagens torna-se mais consistentes, quando o sujeito aprende a escrever já que vivemos imersos em um mundo letrado, onde as pessoas só exercem a sua cidadania plena quando possuem as estratégias necessárias para interferir nesse modelo de sociedade. Desenvolvimento Para a realização dessa pesquisa utilizamos a abordagem qualitativa, que, como afirma Goldenberg (1998, p.14), caracteriza-se pelo fato do pesquisador estar centrado no [...] aprofundamento da compreensão de um grupo social, de uma organização [...], o que possibilita uma investigação do aspecto estudado abordando a sua complexidade. Nesse tipo de abordagem, existe uma maior apreensão dos fatos sociais, uma vez que permite uma aproximação entre o pesquisador e os sujeitos, durante todo o processo da investigação. A pesquisa se constituiu através de um caráter exploratório, com vistas a perceber como se processa a aquisição da escrita pela criança com síndrome de Down durante o processo de alfabetização, na sala de aula regular. Portanto, para alcançarmos esse objetivo, utilizamos o método de estudo de caso. O estudo de caso, de acordo com Gil (1991, p. 72), [...] é caracterizado pelo estudo profundo e exaustivo de um ou de poucos objetivos, de maneira a permitir o seu conhecimento amplo e detalhado [...]. Para desenvolvermos o estudo de caso, utilizamos dois procedimentos: a observação e a entrevista. Durante o período de 6 meses, buscamos observar de forma livre e registrar aspectos relevantes sobre como a criança com síndrome de Down desenvolvia as atividades de escrita, como ocorria a mediação das professoras e a ajuda dos colegas de sala. Para complementar essas dados entrevistamos as professoras e as crianças pois, segundo Gil (1991, p. 113), a entrevista é definida como a técnica em que o investigador se apresenta

3 frente ao investigado e lhe formula perguntas, com o objetivo de obtenção dos dados que interessam à investigação [...] Sendo, portanto, uma forma de interação social. Esse procedimento foi utilizado por apresentar certo grau de estruturação, já que nos guiamos por uma relação de pontos de interesse, que exploramos ao longo de seu desenvolvimento. As respostas coletadas, mediantes a utilização da entrevista associada às observações, ofereceu-nos dados valiosos para análise do tema estudado, uma vez que nos permitiu confrontar as respostas dos entrevistados com a prática empreendida no cotidiano escolar. Assim, no decorrer do aprofundamento de estudos que realizamos, em nível de Mestrado, optamos por investigar a aquisição da escrita da criança com síndrome de Down, durante o processo de alfabetização, em classe regular e para tanto levantamos as seguintes questões norteadoras: Como as crianças com síndrome de Down aprendem a escrever? Que estratégias de ensino e quais atividades são empreendidas pelas professoras para a aquisição da escrita pela criança com síndrome de Down? Segundo a visão das professoras, que aspectos da inclusão favorecem a aprendizagem da escrita pela criança com síndrome de Down? Como a convivência os colegas da sala de aula, podem facilitar a aprendizagem da escrita pela criança com síndrome de Down? Com essas questões norteadoras, os nossos objetivos centraram-se na investigação da aprendizagem da escrita pelas crianças com síndrome de Down, em classes regulares, numa escola particular, na cidade de Natal/RN. Então, buscamos: Investigar o nível de conceptualização da escrita da criança com síndrome de Down, inserida na sala regular, durante o processo de alfabetização; Refletir sobre as estratégias de ensino e as atividades utilizadas pelas professoras para que a criança com síndrome de Down aprendam a escrever.

4 Identificar a visão dos professores a respeito da aquisição da escrita da criança com síndrome de Down, na convivência com os colegas, em classe regular; Analisar como a convivência com os colegas, em classe regular, pode facilitar a aprendizagem da escrita pela criança com síndrome de Down. A escola pesquisada localiza-se na zona sul da cidade de Natal / RN e faz parte da rede privada de ensino. Funciona em três turnos (matutino, vespertino e norturno), trabalhando da Educação Infantil ao Ensino Superior. Além de receber alunos com necessidades educativas especiais há algum tempo, contratou uma professora auxiliar com síndrome de Down. A turma, alvo da nossa investigação era formada por 26 alunos com idades que variam entre 6 e 9 anos, dentre eles, um com síndrome de Down. A turma é caracterizada como 1º ano, correspondendo à alfabetização. A professora titular Sebastiana 1 atua como professora há 18 anos, na rede privada e na rede pública estadual. Sua formação foi em Letras, com Especialização em Psicopedagogia, pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Ela está na escola há 8 anos e desses 4 anos trabalhou com turmas inclusivas, com crianças com síndrome de Down. A Professora auxiliar Raimunda 2, possui 1 ano e 5 meses de experiência e na época em que foi empreendida a investigação estava cursando o 4 período, do curso de Pedagogia, em uma Faculdade Particular. Foi seu primeiro ano em que trabalhou com crianças com necessidades especiais, o que a fez adquirir experiências durante a atuação nessa sala inclusiva. O aluno que tomamos como referência para a realização desse estudo foi Felício 3, com 9 anos de idade e com síndrome de Down. No que diz respeito aos dados, durante as entrevistas as duas professoras relataram que acham importante a aprendizagem da escrita pela criança com síndrome de Down como direito a ser adquirido. Elas destacaram, ainda, a necessidade, não só de apropriação da escrita, mas do seu uso social. Sobre este aspecto Baquero (1998, p. 87), enfatiza que a escrita deve deixar de ser considerada como uma habilidade motora complexa a ser empreendida, em troca, como [...] modalidade de linguagem e [...] prática cultural especificas. Portanto, as professoras mostram-nos em suas falas e prática pedagógica, um conhecimento a respeito dessa importância de aquisição da escrita e do seu uso social para todas as crianças. Percebemos que essa consciência acaba estimulando um investimento, por 1 Nome fictício, para preservar a identidade da professora titular. 2 Nome fictício, para preservar a identidade da professora auxiliar. 3 Nome fictício para preservar a identidade da criança com síndrome de Donw.

5 parte das professoras, na aprendizagem da escrita, de forma significativa, para todos os educandos, inclusive aqueles com síndrome de Down. Nesse sentido, consideramos que a aquisição da escrita é igualmente mais consistente quando esses alunos com dificuldades de aprendizagem estão inseridos na sala de aula regular, sobre este aspecto as professoras enfatizam a inclusão como facilitadora da aquisição da escrita pelas crianças com síndrome de Down. Segundo Fontana e Cruz (1997), Vygotsky entendia o desenvolvimento como um processo de internalizarão de modos culturais de agir e de pensar, iniciando-se durante as relações sociais, nos quais aqueles mais experientes compartilham sistemas de pensamento e ação no fazer junto, por meio da linguagem, do jogo, entre outras formas de interação. A professora Sebastiana traz em sua fala uma importante consideração acerca do processo inclusivo: o envolvimento de toda a escola da família para que este processo se efetive de fato. No decorrer da entrevista, achamos importante que as professoras situassem os avanços que elas perceberam com relação ao processo da escrita da criança com síndrome de Down, que estão sob sua responsabilidade. A professora Sebastiana foi mais detalhista ao descrever os avanços durante o processo de aprendizagem da escrita, situando, inclusive que ele vivenciava a hipótese pré-silábica, enquanto que a professora Raimunda se deteve mais em falar sobre os avanços referentes às grafias reconhecimento das letras. Diante do que observamos, Felício, escrevia de forma mais significativa e vivenciava uma hipótese mais avançada (relacionando grafia e som) quando recebia a mediação das professoras, que ficavam problematizando a escrita das palavras, mesmo com dificuldades com relação à fonética, ele conseguia representar as letras, relacionando com o som das sílabas. Por outro lado, percebemos que, quando escrevia espontaneamente como sugere Emilia Ferreiro, sem a mediação (ou seja, sem a ajuda da professora), a escrita ficava com sílabas representadas apenas por letras, a maioria sem relação com a fonética da sílaba representada, deixando a leitura mais difícil. Em um desses momentos de escrita espontânea, Felício representou a palavra, através da hipótese pré-silábica, escrevendo no 1º Nível do processo de alfabetização: construção de formas de diferenciação intrafigural quantitativas e qualitativamente com a hipótese Présilábica, já preocupa-se com a quantidade mínima de caracteres para a completude de palavras, no entanto não escreveu com diferenciação interfigural, uma vez que muda as letras na mesma palavra, mas ainda não faz diferenciação quantitativa das letras entre as diferentes palavras. Já em outros momentos vivenciou a escrita pré-silábica com diferenciação intra e interfigural, demonstrando avanços já referentes ao 2ª nível.

6 Durante a observação, percebemos que as professoras procuravam fazer uma mediação construtiva, que levasse o aluno a refletir sobre o que estava escrevendo, o que o fazia escrever com a hipótese silábica (começa a fazer relação entre o som e a escrita). Esse momento em que a criança desenvolve a atividade com ajuda da professora é nomeada por Vygotsky de zona de desenvolvimento potencial : Isto significa que, com o auxílio deste método, podemos medir não só o processo de desenvolvimento até o presente momento e os processos de maturação que já se produziram, mas também os processos que ainda estão ocorrendo, que só agora estão amadurecendo e desenvolvendo-se (VYGOTSKY, LURIA, 1988, p. 112). Portanto, as crianças com síndrome de Down têm a capacidade de aprender se forem estimuladas adequadamente. Elas precisam de uma ajuda mais sistemática e, por um tempo maior, devido à dificuldade de aprendizagem inerente à necessidade especial. Ao serem entrevistadas a respeito das dificuldades das crianças percebemos que a professora (A), destaca o apoio pedagógico fora da sala de aula, que ele antes não tinha e depois passou ater e (S), faz referência dificuldade na fala, ele escrevia como falava. Sobre as dificuldades inerentes à síndrome de Down, Martins afirma, que: Em decorrência de suas limitações especificas a criança com síndrome de Down necessita ultrapassar uma série de obstáculos para atingir o desenvolvimento de determinadas habilidades, normalmente típicas nas demais crianças. [...]. (2002, p. 63): Nesse sentido, essa dificuldade de acompanhamento extra-escolar e fonaoudiológica precisa ser trabalhada para que não interfira no desenvolvimento de habilidades essenciais para a vida dessas crianças, sendo uma delas a aquisição da escrita correta das palavras. Mas mesmo com a dificuldade na fala, a aquisição da escrita pode acontecer, pois, com segundo Ferreiro (1995) a escrita não se resume a um código de transcrição gráfica das unidades sonoras, mas principalmente, indica a representação da linguagem. Sabemos, que a inclusão escolar tem como um dos princípios básicos o aprender junto, enriquecendo, assim, todos os alunos. Em uma sala inclusiva desenvolvem-se atitudes, habilidades e valores importantes, contribuindo como futuros cidadãos para que a sociedade possa ser menos preconceituosa. De uma maneira geral, a professora Sebastiana e Raimunda enfatizam que havia uma boa aceitação do colegas com síndrome de Down, existindo, inclusive responsabilidades em servir de bons exemplos para esses educandos, assim como estimuladores desse processo.

7 Percebemos, durante a observação, uma relação de amizade, companheirismo, e principalmente respeito, entre aqueles que faziam parte daquela turma. Observados, como as professoras destacam em suas falas, um apoio por parte dos colegas no que se refere ao comportamento desse aluno com necessidades especiais. Para as crianças que apresentam déficits mais acentuados, o que mais importa é a oportunidade de adquirir habilidades sociais através da inclusão, pois segundo Stainback e Stainback (1999, p. 23) embora uma criança com deficiência possa não ser capaz de absorver todo o currículo da educação regular, ela pode beneficiar-se das experiências não-acadêmicas no âmbito educacional. No entanto acreditamos que a ajuda precisa se aproximar da mediação da professora, ou seja, ensino através de questionamentos, sem que se baseie, apenas, em ditar as respostas. Diante disso, nem todos os alunos são indicados para esse trabalho cooperativo junto com esse aluno com necessidades educacionais especiais, o que não impede que esse tipo de cooperação seja trabalhado entre todos. Segundo Stainback e Stainback (1999), o desenvolvimento acadêmico dos alunos com e sem deficiência, requer oportunidades continuas de interações sociais, pois essas contribuem de maneira significativa. Além disso, não podemos deixar de levantar, também, considerações acerca da participação da família nesse processo inclusivo que não deve depender só da escola. Professores e pais necessitam manter uma ligação estreita entre o ambiente escolar e o ambiente familiar, buscando proporcionar segurança para que a criança possa crescer e aprender melhor. Na fala das professoras havia uma busca de parceria das professoras, no entanto não havia reciprocidade por parte da família. Elas mostram tentavam manter essa ligação, respeitando e reconhecendo os limites desses pais, no entanto, não tinha muito retorno, com relação a busca de acompanhamento profissional, assim como o acompanhamento em casa. forma a: Evidenciamos a necessidade dos professores alargarem os seus conhecimentos, de Poder compreender melhor e, até, saber avaliar, reconhecer e antecipar um conjunto de comportamentos característicos das famílias com filhos com necessidades educativas especiais. Só assim será capaz de compreender não só as frustrações e contratempos, mas também as alegrias e a esperança com que os pais se confrontam quando lhes nasce uma criança com necessidades educativas especiais. (CORREIA; SERRANO, 1999, p. 145) A participação dos pais no cotidiano escolar é de suma importância, tendo em vista que eles são os que mais conhecem as crianças, seus interesses, hábitos, situações e coisas que as desagradam. Trata-se de um conhecimento fundamental para que o professor possa motivar o aluno a atuar, da melhor forma, para atender às suas necessidades.

8 Por outro lado, as informações dos professores também são importantes, no sentido de estar passando para esses pais como vem ocorrendo o processo de ensino-aprendizagem de seus filhos e orientando-os sobre como podem, em casa, também mediar a sua aprendizagem, bem como na busca de outros profissionais com vistas a um acompanhamento complementar, necessário ao desenvolvimento e aprendizagem da criança, o que não acontecia na escola e na sala de aula pesquisada, devido à ausência dos pais na vida escolar de Felicio. Para finalizar as entrevistas sugerimos que as professores levantassem alguns aspectos que elas considerassem relevantes, mas que ainda não tinham sido mencionados. Tanto a professora Sebastiana, como a professora Raimunda, reforçam a importância do acompanhamento familiar, em casa, assim como a busca de profissionais. Elas falam que Felicio, precisa interagir mais com os pais, através de conversas, leituras e escritas, que fosse estimulado por eles a aprender e a se desenvolver. No que se refere ao acompanhe manto de profissionais a professora Sebastiana, acha importante um acompanhamento com uma psicomotricista, devido à hipotonia muscular 4, enquanto que a professora prioriza uma acompanhamento com uma fonoaudióloga, para trabalhar aspectos referentes à oralidade. Sabemos que acompanhamento de profissionais especializados, para trabalhar dificuldades motoras e fonaudiológicas, inerentes à síndrome de Down podem facilitar muito o processo de aquisição da escrita. Diante de uma avaliação das dificuldades enfrentas e dos avanços alcançados durante todo o ano letivo, Felício passou para o 2º ano, agora em 2009. Acreditamos que as potencialidades continuarão a serem desenvolvidas, assim como o investimento na aprendizagem da escrita, uma vez que ele ainda encontra-se no processo de alfabetização. Algumas Considerações Com essa experiência percebemos, que, mesmo com as limitações, tanto a aprendizagem da escrita, como o desenvolvimento das potencialidades do aluno com síndrome de Down ocorre de forma substancial. Portanto, mesmo aqueles que apresentam necessidades educativas podem avançar nos aspectos sociais e intelectuais. Então, a inclusão pode ser benéfica quando: propicia interações, ou seja, trocas significativas entre os alunos no ambiente escolar, e, principalmente, quando exerce o seu principal papel: proporcionar uma aprendizagem significativa para todos, a partir da adaptação às diferenças entre os educandos. 4 Tônus muscular diminuído.

9 Como existe, na escola, um trabalho de aceitação desses colegas com mais dificuldades de aprendizagem, percebemos que existia respeito às limitações inerentes à deficiência, mesmo por aqueles que não se dispunham a auxiliá-los nas atividades. Observamos, também, que o fato de existirem duas professoras e um número reduzido de alunos na sala de aula permitia, muitas vezes, um acompanhamento mais individualizado da criança. Para finalizar é importante situar que a realidade da escola pesquisada está longe da realidade das escolas públicas e até de outras escolar privadas - dado o seu corpo docente capacitado, o ambiente de ensino propício, o acompanhamento efetivado junto aos educandos, entre outros aspectos. Mas não deixa de ser real, não invalida a investigação realizada, pois evidencia que quando as condições são oferecidas a aprendizagem dessas crianças dentro do seu ritmo próprio se torna possível, principalmente quando aqueles que estão envolvidos nesse processo, acreditam que todos são capazes de aprender e de desenvolver as suas potencialidades. Referências BAQUERO. Ricardo. Vygotsky e a aprendizagem escolar. Porto Alegre: Artes Médicas, 1998. BRASIL. Coordenadoria Nacional para Integração da Pessoa Portadora de Deficiência. Acessibilidade. Brasília: Secretaria Municipal dos Direitos Humanos, 2005. CORREIA, Luiz de Miranda; SERRANO, Ana Maria. Envolvimento parental na educação do aluno com necessidades educativas especiais. In: CORREIA, Luiz de Miranda. Alunos com necessidades educativas especiais nas classes regulares. Portugal: Porto Editora, 1999. DELORS, Jacques. Educação: um tesouro a descobrir. São Paulo: Cortez, 1999. Relatório para a UNSCO da comissão internacional sobre Educação para o século XXI. FERREIRO. Reflexões sobre alfabetização. Tradução por Horácio Gonzáles ET AL. São Paulo: Cortez/ Autores Associados, 1985. Título original: Não encontrado. (Coleção Polêmicas do Nosso Tempo, 17) FONTANA, Roseli e CRUZ, Nazaré. Psicologia e trabalho pedagógico. São Paulo; Atual, 1997.

10 GIL, Antônio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. 3 ed. São Paulo: Atlas, 1991. GOLDENBERG, Mirian. A arte de pesquisar. Como fazer pesquisa qualitativa em ciências sociais. 2. ed. Rio de Janeiro: Record, 1998. MARTINS, Lúcia de Araújo R. A inclusão escolar do portador da síndrome de Down: o que pensam os educadores? Natal: EDFURN, 2002. STAINBACK, Susan, STAINBACK, William. Inclusão: um guia para educadores. Porto Alegre: Arte Médicas, 1999. VIGOTSKY, L. S.; LURIA A. R. Linguagem, desenvolvimento e aprendizagem. Ed Cone, 1988.