MONITORAMENTO E TRANSLOCAÇÃO DE NINHOS DE AVES NO ÂMBITO DE ATIVIDADES DE RESGATE DE FAUNA EM EMPREENDIMENTO HIDRELÉTRICO



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COMITÊ BRASILEIRO DE BARRAGENS XXX SEMINÁRIO NACIONAL DE GRANDES BARRAGENS FOZ DO IGUAÇU PR 11 A 13 DE MAIO DE 2015 MONITORAMENTO E TRANSLOCAÇÃO DE NINHOS DE AVES NO ÂMBITO DE ATIVIDADES DE RESGATE DE FAUNA EM EMPREENDIMENTO HIDRELÉTRICO Érika MACHADO Analista Ambiental ARCADIS logos S.A. Glauko CORREA Biólogo ARCADIS logos S.A. Camilla PAGOTTO Analista Ambiental ARCADIS logos S.A. Luciana LOBO Analista Ambiental ARCADIS logos S.A. RESUMO Dada a sua capacidade de voo, as aves, comparativamente a outros grupos de vertebrados terrestres, representam uma parcela pequena dos animais resgatados. Contudo, ninhos, ovos e ninhegos necessitam de atenção especial. Na área de influência da UHE Jirau foram encontrados 556 ninhos, 90 dos quais necessitaram de algum tipo de intervenção. Dentre estes, cerca de 40% obtiveram sucesso reprodutivo, ou seja, houve nascimento e sobrevivência do filhote. Por outro lado, para os 466 ninhos que não sofreram qualquer tipo de intervenção, o sucesso reprodutivo foi bem inferior, aproximando-se de 18%. Ninhos que não sofreram qualquer tipo de intervenção podem eventualmente serem mais expostos a alterações no ambiente ou serem predados mais facilmente por jacarés ou peixes, por exemplo. Recomenda-se aqui uma melhoria nas técnicas de manejo e manutenção de filhotes de aves nas bases de resgate. ABSTRACT Comparatively to other vertebrates, few birds are captured during rescue programs due their ability to fly. However, eggs and nestlings of different species need special attention and eventually should not be fully rescued during these programs. A total of 556 nests were found and closely monitored at the area of UHE Jirau, Rondônia, Brazil. From these, 90 passed through some management, and about 40% of them hatched successfully. On the other hand, nests with no human intervention (466) had a lower reproductive success (~18%). Apparently nests with no intervention may be more exposed to the subtle modifications in the environment and even to predators (such caimans and fishes) than the managed ones. An improvement of the techniques for maintaining young birds in captivity in rescue bases and zoos are recommended. 1

1. INTRODUÇÃO O Subprograma de Resgate de Fauna Silvestre (SRFS) desenvolvido no âmbito do licenciamento ambiental da UHE Jirau tem como objetivo resgatar os animais atingidos pelo enchimento do reservatório e com restrições de movimentação, realizando o manejo específico e posterior destinação adequada. Tradicionalmente, os indivíduos da classe Aves são pouco representativos nos quantitativos resgatados em atividades de resgate de fauna, pois são animais que apresentam, em geral, facilidade de se deslocarem naturalmente, sendo bem sucedidos na autorealocação. A avifauna brasileira é considerada uma das mais diversas do planeta. O UHE Jirau, empreendimento localizado no rio Madeira (Porto Velho RO), está inserido no domínio no bioma da Amazônia, considerado o bioma mais rico em espécies de aves do Brasil [3]. O trecho do médio rio Madeira, região onde está inserido o empreendimento em questão, representa hoje a localidade com a maior diversidade de aves conhecida em todo o Brasil, de acordo com os dados levantados durante o Programa de Conservação da Fauna Silvestre da UHE Jirau [1]. O conhecimento acerca da biologia reprodutiva das aves brasileiras e neotropicais ainda é muito limitado e a grande maioria das aves não possui sequer uma descrição de seus ninhos e ovos. Em contraste, o conhecimento adquirido ao longo do século XIX para os aspectos reprodutivos das aves da Europa e América do Norte é extenso, onde a diversidade de aves é bem menor, permitindo estudos mais aprofundados e direcionados [4]. Com o início da fase de enchimento de reservatórios, alguns ninhos de aves podem ficar submersos. Não há informações disponíveis na literatura e nem nos Programas Básicos Ambientais (PBAs) dos empreendimentos que considerem esta condição e que prevejam a translocação de ninhos inteiros. Existe um relato em que foi realizada a translocação de um filhote de Spizaetus ornatus [2], porém com a construção de uma nova estrutura de ninho. Devido à falta de conhecimento sobre a biologia reprodutiva das aves encontradas na região do empreendimento e como forma de evitar a necessidade de resgate de ovos, ninhegos e filhotes, foram enveredados esforços na localização, avaliação e monitoramento da condição dos ninhos presentes na área de influência da UHE Jirau. As atividades de monitoramento de ninhos de aves, realizadas no âmbito do Subprograma de Resgate de Fauna Silvestre da UHE Jirau, terão muito a contribuir no ponto de vista científico e ambiental, fornecendo informações para a tomada de decisões mais assertivas quanto às políticas relacionadas ao grupo das Aves no contexto de empreendimentos hidrelétricos. 2. METODOLOGIA UTILIZADA Os ninhos de aves localizados ao longo da área de influência do enchimento do reservatório da UHE Jirau tiveram sua situação avaliada, caso a caso e dia a dia conforme as características in loco, como: espécie e sua ecologia/história natural; 2

tipo de ninho; quantidade de ovos ou filhotes; altura da base do ninho em relação à superfície da água; necessidade de realização de algum tipo de intervenção. Os métodos utilizados para a realização das intervenções variaram conforme a situação em que cada ninho foi encontrado e não foi possível realizar uma padronização rigorosa de métodos de intervenção devido principalmente à agilidade necessária em atender o maior número possível de ninhos. Os ninhos, que sofreram ou não intervenções, foram monitorados diariamente de forma que pudesse ser avaliado o sucesso de sobrevivência e eventual taxa de predação e abandono. Como forma de padronizar alguns termos utilizados, destaca-se: - Realocação vertical: ninho removido e realocado em um novo substrato fixo (p.ex. árvore), ou seja, sempre no sentido vertical, de um estrato inferior para um estrato superior; - Realocação horizontal: ninho removido e realocado em um novo substrato flutuante "móvel" (balsas/plataformas), ou seja, sempre no sentido horizontal, podendo ser transportado para qualquer parte do rio através de um sistema de guincho; - Ninho artificial: caixa de madeira adaptada conforme a família de ave (Psittacidae, Ramphastidae, Picidae ou qualquer grupo que houver necessidade) para realocação vertical, fixada geralmente em substrato através do uso de cabos de aço; - Resgate: quando um ninho não apresenta condições de ser removido, sendo necessária a realização do resgate de seu conteúdo, seja ele representado por ovos e/ou indivíduos já nascidos; - Ativo: quando um ninho apresenta características que denotam atividade; - Desativado: quando um ninho apresenta características que denotam o processo de não utilização pelos adultos e principalmente por filhotes (quando existem). 3. RESULTADO E DISCUSSÃO A partir de 26 de dezembro de 2013, as coletas e dados sobre a situação de cada ninho começaram a ser feitas de forma sistematizada. Desta forma, os ninhos de aves localizados ao longo da área de influência do enchimento do reservatório estão sendo monitorados e é avaliada dia a dia a necessidade de realização de intervenções. Durante o período de 26/12/2013 a 31/12/2014 foi monitorado um total de 556 ninhos, sendo necessário haver intervenções sobre 90 deles. 3

Dos 90 ninhos que sofreram intervenções, 76 foram realocados verticalmente, 09 (nove) foram realocados horizontalmente, 04 (quatro) foram resgatados e 01 (um) sofreu intervenção de outro tipo. Dentre os ninhos que sofreram intervenção, foi observado sucesso reprodutivo em 35 (38,89%). Em 43 ninhos (47,78%), não foi observado sucesso reprodutivo por diferentes motivos: 19 ninhos foram abandonados; 15 ninhos foram predados; 08 (oito) ninhos foram destruídos por causas naturais; 01 (um) ninho cujo filhote sofreu morte natural. Ainda considerando os ninhos que sofreram intervenções, não foi possível verificar se houve sucesso reprodutivo em 01 (um) ninho devido à inacessibilidade em virtude de mudança de conformação do reservatório e isolamento do ninho pela formação de bancos de areia instransponíveis. Cabe ressaltar que 11 ninhos que sofreram intervenção permanecem em monitoramento. Dos 466 ninhos que não sofreram intervenções, foi observado sucesso reprodutivo em 85 (18,25%), o que não ocorreu em 262 ninhos (56,22%). O insucesso decorreu de abandono em 105 dos casos; predação em 140 ; destruição por causas naturais em 17 e ainda não foi possível verificar se houve sucesso reprodutivo em 29 deles em decorrência de mudança de conformação do reservatório e consequente isolamento dos ninhos pela formação de bancos de areia instransponíveis, tornando as áreas monitoradas inacessíveis. Cabe ressaltar que 90 ninhos que não sofreram intervenções permanecem em monitoramento. Durante as realocações primou-se rigorosamente pela manutenção da posição original do ninho, assim como seu substrato original. Os ovos/filhotes foram manipulados o mínimo possível e sempre houve o cuidado de manter a posição original dos ovos após a realocação. Como citado anteriormente, os métodos utilizados para a realização das intervenções variaram conforme a situação em que cada ninho foi encontrado, não sendo possível, portanto, padronizar com rigor os métodos de intervenção. As realocações horizontais foram realizadas com a utilização de balsas/plataformas flutuantes construídas com a utilização de bambu e garrafas PET, especificamente para a realocação. A sequência de fotos de 1 a 4 ilustra a realocação horizontal realizadas em um ninho da espécie Butorides striata, encontrado com 02 (dois) ovos. Para as realocações verticais, os ninhos originais foram mantidos, sendo o substrato de suporte cerrado (Figura 6) e reinstalado em local seguro. Em alguns casos houve a necessidade de utilização de ninhos artificiais. A sequência de fotos de 5 a 8 ilustra a realocação vertical realizada em um ninho da espécie Rostrhamus sociabilis, encontrado com 02 (dois) ovos. A sequência de fotos de 9 a 12 ilustra a realocação vertical com o uso de ninho artificial, realizada em um ninho da espécie Ara severus, encontrado com 01 (um) filhote. 4

Figura 1. Situação do ninho de Butorides striata em iminência de alagamento. Figura 2. Remoção do ninho original. Figura 3. Ninho instalado em balsa flutuante. Figura 4. Jovens independentes do ninho. Figura 5. Situação do ninho de Spizaetus ornatus em iminência de alagamento. Figura 6. Remoção do ninho original. 5

Figura 7. Ninho realocado com nova medida de altura e, relação ao rio. Figura 8. Jovens independentes do ninho. Figura 9. Situação do ninho de Ara severus em iminência de alagamento. Figura 10. Ninho realocado com nova medida de altura em relação ao rio. Figura 11. Interior do ninho artificial com o filhote. Figura 12. Adulto avistado na entrada do ninho artificial. 4. CONCLUSÃO Os esforços foram focados para o manejo e monitoramento de ninhos de aves de forma a aumentar o sucesso reprodutivo das espécies. Com os dados obtidos durante o monitoramento dos ninhos, é possível afirmar que 33,33% dos ninhos que sofreram intervenção do tipo realocação horizontal obtiveram sucesso reprodutivo, 38,15% dos ninhos que sofreram intervenção do tipo 6

realocação vertical obtiveram sucesso reprodutivo, ao passo que apenas 18,25% dos ninhos que não sofreram nenhum tipo de intervenção obtiveram sucesso reprodutivo. O sucesso reprodutivo obtido provavelmente seria mais baixo se os ovos e/ou filhotes fossem encaminhados até as Bases de Resgate, devido às dificuldades na alimentação de filhotes, além da manutenção de ovos/filhotes, visto que pouco se conhece sobre o manejo em cativeiro de muitas espécies locais. Ninhos que não sofreram qualquer tipo de intervenção podem, eventualmente, terem ficado mais expostos a alterações no ambiente ou mais susceptíveis à predação por jacarés ou peixes, por exemplo. Recomenda-se aqui uma melhoria nas técnicas de manejo e manutenção de filhotes de aves hoje comumente utilizada, se possível com o intercâmbio de informações com criadouros nacionais e internacionais. 5. AGRADECIMENTOS Agradecemos à Energia Sustentável do Brasil por proporcionar a realização deste estudo e à ARCADIS logos S. A. pelo apoio e pelo incentivo na publicação deste manuscrito. Aos biólogos, auxiliares de campo e barqueiros pelo auxílio. 6. PALAVRAS-CHAVE Resgate de fauna; Translocação; Realocação; Ninhos de aves. 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS [1] ARCADIS logos. (2014) Relatório Técnico do Programa de Conservação da Fauna Silvestre (PCFS) da UHE Jirau. [2] JOENK, C. M.; ZILIO, F. & MENDONÇA-LIMA, A. (2013) Successful translocation od a nestling Ornate Haek-Eagle (Spizaetus ornatus) in southern Brazil. Revista Brasileira de Ornitologia, 21 (2), 136-140. [3] MARINI, M. A. & GARCIA, F. I. (2005) Conservação de aves no Brasil. Megadiversidade, 1:95-102. [4] MARINI, M. A.; DUCA, C. & MANICA, L. T. (2010) Técnicas de pesquisa em biologia reprodutiva de aves. In: VON MATTER, S.; STRAUBE, F. C.; ACCORDI, I. A.; PIACENTINI, V. Q.; CÂNDIDO-JÚNIOR, J. F. (Org.). Ornitologia e Conservação: ciência aplicada, técnicas de pesquisa e levantamento.). 1. Ed. Rio de Janeiro: Technical Books. 516 p: il. 7