AVERIGUAÇÃO PRELIMINAR



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Transcrição:

Ministério da Justiça Conselho Administrativo de Defesa Econômica CADE AVERIGUAÇÃO PRELIMINAR nº 08012.001271/2001-44 Representante: Procon/SP. Representada: SKF do Brasil Ltda. Advogado(s): Rogério Domene, Syllas Tozzini, José Augusto Caleiro Regazzini e outros. Relator: Conselheiro Luiz Alberto Esteves Scaloppe RELATÓRIO Trata-se de Averiguação Preliminar instaurada por despacho do Sr. Secretário de Direito Econômico, em 06/07/2004, em desfavor da SKF do Brasil Ltda ( SKF do Brasil ), com vistas a apurar possível conduta infringente à ordem econômica passível de enquadramento no artigo 20, incisos I e II c/c artigo 21, inciso XI da Lei nº 8.884/94. A instauração do presente feito se deu em face da representação encaminhada pelo Procon/SP, por meio da qual foi dado conhecimento à SDE sobre a denúncia anônima de prática de cartel pelas empresas SKF e SKF do Brasil, possibilitada pela imposição de fixação de preço de revenda de seus distribuidores industriais autorizados. A SKF do Brasil Distribuição Autorizada Industrial teria elaborado documento no qual determinava a adoção de certas medidas preventivas. Nesse documento consta que a Rede de Distribuição Autorizada Industrial da SKF do Brasil estaria perdendo consideravelmente sua lucratividade nas vendas, em função da abertura do mercado, concorrência entre marcas, o aumento da rede de distribuidores de rolamentos e o surgimento de uma prática predatória de preços no mercado ( algumas até abaixo do custo SKF ) por parte da própria Distribuição Autorizada, que teria acabado comprometendo o desempenho dos negócios. Ainda segundo o documento, teria havido um consenso entre os Distribuidores Autorizados SKF e a SKF do Brasil sobre a adoção de medidas preventivas, visando proteger a viabilidade desse negócio, através de prática de um preço justo de mercado, zelando pelo bom atendimento de nossos clientes assim como pela saúde financeira de nossos investimentos. Os produtos contemplados por essas medidas preventivas englobavam todos da linha SKF, tais como rolamentos, retentores, graxas, lubrificantes e afins, ferramentas em geral, equipamentos de monitoramento e etc. Ficou estabelecido no documento que o mark-up mínimo, considerando vendas à vista, base VSM 18, a ser praticado pela rede de distribuidores seria de: DGBB = 1,45; outros = 1,52; e MAPRO = lista SKF. São estabelecidas também, no

documento, as formas de monitoramento e as penalidades para os que violassem as medidas ali definidas. Às fls. 16/24, a representada veio aos autos, em resposta a ofício da SDE, esclarecer que: (i) não impôs, de maneira unilateral, qualquer tipo de medida preventiva visando estabelecer um preço mínimo de revenda, mas que apenas teria colaborado, em procedimento solicitado pelos membros da rede de distribuição de sua marca, no sentido de disciplinar o funcionamento da rede e assim assegurar a sustentabilidade econômica dos distribuidores, estimulando a melhoria de qualidade dos serviços prestados e permitindo uma maior vitalidade na concorrência com outras marcas; (ii) que em nenhum momento definiu markups mínimos para vendas à vista; a própria rede de distribuidores é que teria calculado esses mark-ups; a SKF apenas concordou com a razoabilidade dos mesmos dado que não gerariam conseqüências negativas para a concorrência no mercado como um todo; (iii) que em razão do descumprimento das determinações constantes do documento juntados às fls. 03/04, apenas algumas poucas empresas sofreram sanções (restrições comerciais); sanções essas que foram reiteradamente solicitadas pela rede de distribuidores. Por último, a SKF teceu considerações sobre os motivos para a manutenção dos preços de revenda, seus benefícios e sobre a inexistência de efeitos anticompetitivos. Feito isso, a SDE considerou que estava demonstrada a eliminação da concorrência via preço entre os distribuidores da Rede SKF do Brasil. Dessa forma, tendo em vista grande discussão acerca da medida em que as restrições verticais para a fixação de preços mínimos de revenda seriam benéficas ou danosas à concorrência, considerou necessária a abertura da presente Averiguação Preliminar (fls. 26/32). Às fls. 38/53, a representada apresentou esclarecimentos, informando, inicialmente, sua participação nos mercados de rolamentos, retentores, graxas e lubrificantes, ferramentas de manutenção e equipamentos de monitoramento. Esclareceu, em seguida, que a SKF nunca aplicou qualquer outra forma de penalidade que não meras advertências formais, que foram apenas alertas de descumprimento, feitos por meio de cartas e sem qualquer implicação de outra natureza. Alega, também, que a aludida fixação de preços de revenda só deveria ser utilizada no caso de se mostrar benéfica de alguma forma, o que poderia ocorrer apenas em duas situações: (i) ou porque elas aumentam a eficiência do sistema de distribuição e, assim permitem ao fornecedor baixar seus custos; (ii) ou porque elas aumentam o poder de mercado do fornecedor, permitindo que o mesmo pratique preços supra-competitivos. A SKF sustenta não ter participação de mercado (estimada e apresentada na petição em comento) que permita supor que detenha qualquer poder sobre ele, de forma que sua intenção e interesse só poderiam ter sido a de buscar a maior eficiência possível de sua rede. Nesse sentido, segundo a representada, a determinação de markups mínimos teria sido feita para preservar a viabilidade e a vitalidade da rede de 2

distribuição, torná-la mais eficiente e estimular a melhoria do atendimento de consumidores finais, o que não estaria sendo incentivado pelo ambiente de disputa acirrada entre os distribuidores de uma mesma marca. Além disso, afirma, buscava-se consolidar a presença da SKF e fomentar a concorrência intermarcas. Dessa forma, a referida conduta, segundo a representada, poderia trazer benefícios à concorrência, uma vez que implicaria na redução de custos de distribuição; viabilizaria economias de escala; aumentaria a eficiência da rede; impediria a atuação de free riders; evitaria a concentração, de forma a não permitir que aqueles mais agressivos acabassem por incorporar outros e, ainda, permitiria a manutenção do equilíbrio concorrencial no mercado. Por último, sobre a acusação de que tal prática poderia ser prejudicial à concorrência intramarcas, foi destacado pela representada que, segundo H. Hovenkamp, a fixação de preço de revenda teria efeitos anticompetitivos apenas em dois casos: (i) se o produtor fosse monopolista ou, no mínimo, detivesse uma participação de mercado extremamente elevada, ou (ii) se a fixação fosse praticada por todos ou quase todos os fornecedores e distribuidores do mercado. Segundo a representada, esses não seriam o caso de nenhum dos mercados em que a SKF atua. A Secretaria de Direito Econômico SDE/MJ (fls. 54/67) considerou que, após análise dos documentos acostados aos autos, ficou demonstrada a prática de restrição vertical consubstanciada na imposição de preço mínimo de revenda pelos distribuidores industriais SKF do Brasil. Segundo a Secretaria, existe uma grande discussão acerca da medida em que as restrições verticais para fixação de preços mínimos de revenda seriam benéficas ou danosas à concorrência. A esse respeito, destaca que tal prática em determinado mercado só produziria efeitos anticompetitivos se os seus agentes controlassem parcela considerável do mercado, permitindo, portanto, o exercício de poder de monopólio dos mesmos. Pela análise dos autos, a SDE entendeu que a prática ora analisada não seria suscetível de produzir qualquer efeito anticompetitivo no mercado, tendo em vista que a SKF não possui poder de mercado suficiente para impor, de forma unilateral, uma diminuição injustificada dos níveis de concorrência, não havendo possibilidade de auferir lucros de monopólio. Além disso, sustenta a Secretaria que, como já constatado nos Pareceres SEAE nos Atos de Concentração n os 08012.000294/2001-31 e 08012.002669/2002-89, os mercados de atuação da SKF possuem um grau de competitividade bastante elevado, motivo pelo qual a Rede não teria como impor exercício unilateral de poder de mercado favorecendo a cooperação entre os agentes econômicos do mesmo. Corroborando esse entendimento, foi apresentada tabela com a participação de mercado da SKF e das maiores empresas atuantes nos mercados de rolamentos, retentores, graxas e lubrificantes, ferramentas de manutenção e equipamentos de monitoramento, conforme segue abaixo. 3

Rolamentos Retentores Graxas e Lubrificantes Ferramentas de Manutenção Equipamentos de Monitoramento SKF 24% 1% 1% 17% 30% NSK 23% - - 3% 30% Timken 10% - - - - INA/FAG 33% - - - - Sabó - 80% - - - Vedabrás - 15% - - - Gedore - - - 30% - Ferma - - - 10% - CSI - - - - - 01DB - - - - 15% FAG - - - 5% - Fonte: SDE fls. 62 (SKF, fls 41 a 43) A SDE entendeu que, de acordo com os dados fornecidos pela tabela acima, não teria ficado constatada a presença de poder de mercado pela Rede SKF nos mercados em que atua, afastando, dessa forma, um dos pressupostos de risco de produção de efeitos anticompetitivos no mercado provenientes da prática de restrição vertical pela a fixação de preços mínimos. Além disso, foi destacado que a prática em questão não elimina a concorrência inter-marcas nos mercados analisados e que não foi constatada a participação de quaisquer outros fornecedores. Sendo assim, a Secretaria concluiu que, comprovada a impossibilidade de aumento de poder de mercado do fornecedor (SKF), a racionalidade econômica para a prática analisada só poderia estar pautada na necessidade de aumento da eficiência do sistema de distribuição. Também não faria sentido que um fornecedor estabelecesse preços mínimos de revenda com o objetivo de promover a formação de cartel entre os seus distribuidores, tendo em vista que quanto maior o lucro do distribuidor, menor seria o lucro do fornecedor, sendo que um provável aumento de preços dos produtos ao consumidor causaria a diminuição dos lucros auferidos pelo produtor, visto que teria o efeito imediato de redução das quantidades vendidas. A fixação de preços de revenda, segundo a SDE, acabaria sendo justificada, pela necessidade de manter uniforme o preço do produto, pois sua oscilação constante e discrepância entre os distribuidores poderia gerar perda de credibilidade e de prestígio do mesmo. 4

Ademais, a Secretaria ressaltou que a concorrência via preços entre distribuidores da mesma marca é menos importante do que a concorrência que se dá entre diversos produtores e respectivos distribuidores de marcas distintas. Destaca, ainda, a SDE que a principal eficiência relacionada à fixação de preços mínimos de revenda constituir-se-ia na eliminação do problema do free rider e a conseqüente promoção do serviço de pré-venda, eliminando, dessa forma, a falta de incentivo para que os agentes econômicos efetuem investimentos em seus estabelecimentos comerciais, o que com a atuação dos free riders prejudica o fornecedor, pois a falta de investimento nos estabelecimentos comerciais e na promoção de seus produtos acabaria provocando uma redução nas vendas. A Secretaria acredita, pois, que a fixação de preços de revenda seria um instrumento adotado em face da deterioração dos serviços de pré-venda prestados pelos distribuidores e visaria implementar a concorrência através de outros fatores que não os preços. Dessa forma, após analisar os documentos juntados aos autos e a teoria econômica envolvendo o caso em questão, concluiu a SDE que, apesar da constatação da prática de fixação de preço mínimo de revenda prevista no art. 21, inciso XI da Lei nº 8.884/94, tal prática só poderia ser considerada anticoncorrencial se fosse constatada a incidência de quaisquer dos incisos do art. 20 da mesma lei, o que no decorrer da instrução do presente feito não pôde ser observado, não havendo qualquer possibilidade de se caracterizar a produção de efeitos negativos no mercado. Face ao exposto, a SDE sugeriu o arquivamento da presente averiguação preliminar entendendo que a prática denunciada não configura infração à ordem econômica. A Procuradoria-Geral do CADE - ProCADE (fls. 72/75) considerou não haverem nos autos elementos comprobatórios acerca da relação jurídica mantida entre a representada e seus distribuidores, sejam contratos, cartas ou outros expedientes. Além disso, ressaltou o fato de nenhum distribuidor ter sido chamado a comparecer nos autos para se manifestar sobre a conduta objeto de averiguação. Entendeu, ainda, não ter havido análise de mercado relevante por parte da SDE. Dessa forma, a ProCADE opinou pela realização de diligências complementares, visando a melhor instrução do processo. O Ministério Público Federal MPF (fls. 79/82) destacou que, apesar de a representada ter sustentado não possuir poder de mercado suficiente para produzir efeitos negativos à concorrência, a participação de mercado da empresa (informada por ela mesma) foi superior a 20% em alguns casos, como rolamentos (24%) e equipamentos de monitoramento (30%), o que seria um indício de posição dominante. O MPF entendeu também que o parecer da SDE, além de não ter feito uma análise dos mercados relevantes, teve como base os dados 5

apresentados pela própria SKF, não pesquisando informações de outras empresas ou de associações do setor. Também, alega, não terem sido apresentadas diligências e requerimentos para esclarecimento de práticas adotadas por outros fornecedores e rede de distribuidores do mercado. Sendo assim, opinou o Ministério Público Federal pela volta dos autos à SDE, acatando o Parecer da ProCADE que determinou diligência complementares a fim de esclarecer os itens elencados às fls. 74, visando a melhor instrução do processo. É o relatório. Brasília, 10 de maio de 2005. LUIZ ALBERTO ESTEVES SCALOPPE Conselheiro-Relator 6