REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE INTERVENÇÃO DE SUA EXCELÊNCIA, IOLANDA CINTURA SEUANE, MINISTRA DA MULHER E DA ACÇÃO SOCIAL DE MOÇAMBIQUE SOBRE O TEMA DESAFIOS DA PROTECÇÃO SOCIAL PARA ALCANÇAR A SEGURANÇA ALIMENTAR E NUTRICIONAL MAPUTO, 25 DE ABRIL 2013
Suas Excelências Senhores Ministros de Trabalho e dos Assuntos Sociais da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa; Excelentíssimo Senhor Representante do Secretário Executivo da CPLP; Excelentíssimo Senhor Representante do Director Geral da Organização Internacional do Trabalho; Caros Parceiros Sociais; Minhas Senhoras; e Meus Senhores; A temática sobre a segurança alimentar e nutricional sempre mereceu a atenção do Homem, facto que levou a que a Organização Internacional do Trabalho, na Declaração de Filadélfia, de 1944, apelasse para uma protecção social adequada a todos. Quatro anos mais tarde, em 1948, a Organização das Nações Unidas declarou a alimentação como um direito fundamental. Os esforços dos países visando assegurar a alimentação adequada a milhões de cidadãos traduziram-se em várias iniciativas internacionais como a Conferência Mundial de Alimentação realizada em 1996, onde os Estados e Governos comprometeram-se em reduzir para 50% a proporção de pessoas 2
que sofrem de fome e malnutrição até 2015 e reafirmaram o compromisso de adoptar políticas e estratégias nacionais para reforçar a coordenação institucional. A realização da Conferência Mundial dos Objectivos de Desenvolvimento do Milénio, em 2000, é outro marco igualmente importante ao nível internacional que se enquadra nos esforços colectivos para a erradicação da pobreza e da fome no mundo até 2015. Segundo os dados da FAO (2010-2012), o número de pessoas em situação de insegurança alimentar tem vindo a reduzir, contudo, estima-se que no mundo cerca de 870 milhões de pessoas têm carência alimentar. No que concerne a nutrição, o número de pessoas com desnutrição crónica é de cerca de 868 milhões de pessoas, o equivalente a 12% da população mundial. Moçambique não ficou alheio aos desafios existentes a nível mundial e as propostas de soluções para ultrapassá-los. É assim, que desde a proclamação da independência nacional em 1975, a segurança alimentar e nutricional tem merecido uma particular atenção o que se traduziu na implementação de programas que visam intensificar a produção agro-pecuária, o aumento da cobertura de água para o consumo humano, programas de protecção social para os grupos populacionais mais vulneráveis, dentre outros, com o objectivo de melhorar a qualidade de vida e o bem-estar das nossas populações. 3
Dados de finais de 2012 revelam que em Moçambique uma média de 270.300 pessoas sofriam de insegurança alimentar e nutricional necessitando de ajuda alimentar imediata, e com o impacto das últimas calamidades naturais ocorridas no corrente ano, estima-se que cerca de 375.000 pessoas correm riscos de ser afectados pela insegurança alimentar e nutricional no nosso País. A erradicação da fome e da malnutrição constitui uma preocupação constante do nosso Governo como indica a Estratégia e Plano de Acção de Segurança Alimentar e Nutricional (ESAN II) aprovada pelo Conselho de Ministros através da Resolução Nº 56/2007. A ESAN II adopta a abordagem do Direito Humano à Alimentação Adequada, reforça a inter-sectoriedade, integra metas e indicadores de monitoria da situação alimentar e nutricional até 2015 e integra a tipificação dos grupos mais vulneráveis. É também importante referir que foi feito um esforço considerável visando integrar a Segurança Alimentar e Nutricional e o Direito Humano à Alimentação Adequada nos instrumentos chave que orientam a nossa governação, tais como: o Programa Quinquenal do Governo, o Plano de Acção para a Redução da Pobreza, a Estratégia Nacional de Segurança Social Básica, o Plano Estratégico de Desenvolvimento do Sector Agrário, o Plano Multissectorial de Redução da Desnutrição Crónica 4
Outros documentos importantes incluem a relevância que deve ser dada a Segurança Social Obrigatória, como fundamental para cobrir a eventual queda de rendimento dos trabalhadores. Cada um dos sectores e aos actores das instituições governamentais e não-governamentais implementam as intervenções de forma coordenada e criam sinergias para fortalecer o acesso à alimentação adequada, contribuindo para o alcance da segurança alimentar e nutricional global, e assegurar a expansão da segurança social básica de forma a permitir a inclusão das populações mais pobres no processo de desenvolvimento social e económico; potenciar a redução da vulnerabilidade social e da insegurança alimentar e promover a resiliência social, particularmente da mulher, as crianças menores de 05 anos e dos jovens. Excelências Moçambique adoptou a protecção social como um dos mecanismos para o alcance da segurança alimentar e nutricional, tendo em vista atingir o piso da protecção social, ajustando-se assim ao plasmado na Declaração da OIT de Filadélfia que pugna pela extensão das medidas de segurança social com vista a assegurar um rendimento de base a todos os que precisem de protecção, assim como uma assistência, de um nível adequado de alimentação, entre outras medidas de protecção social. É assim que, em 2004, Moçambique teve a honra de acolher o lançamento da campanha mundial da OIT sobre a extensão da segurança social nos PALOP, e, desde então, o país vem 5
desenvolvendo diversas acções com vista a uma maior cobertura da protecção social, no quadro da cooperação com a OIT e com outros países. Dentre os marcos importantes visando consolidar o sistema de protecção social no nosso país e visando integrar a questão da segurança alimentar e nutricional destacamos: A aprovação em 2007, foi aprovada a Lei sobre a protecção social (Lei 4/2007 de 07 de Fevereiro) que inclui três principais pilares de actuação, nomeadamente: Segurança Social Básica, Obrigatória e Complementar. Aprovação de normas orientadoras de todos os subsistemas de protecção social; A aprovação da Estratégia Nacional de Segurança Social Básica para o período 2010 a 2014, que estabelece dentre os objectivos fundamentais o aumento da cobertura e do impacto das intervenções da protecção social básica assim como a harmonização e coordenação dos diferentes programas neste domínio. A aprovação em 2011 de novos programas de segurança social básica que dentre outros objectivos o alcance das crianças e das populações em situação de insegurança alimentar através das transferências sociais e monetárias e da assistência social. A introdução do Programa Acção Social Produtiva e as suas normas orientadoras de modo a providenciar o apoio monetário as pessoas mais pobres e vulneráveis vivendo 6
nas zonas áridas e semiáridas cronicamente sujeitas à insegurança alimentar, em troca do seu envolvimento em actividades produtivas de interesse público. A implementação de outras iniciativas com destaque para o Programa Apoio Social Directo que atende situações de insegurança alimentar e nutricional através de fornecimento de um cabaz alimentar com componentes nutritivas para crianças recém nascidas malnutridas vivendo em famílias pobres e sem condições para o seu auto sustento e para doentes crónicos e de HIV e SIDA em tratamento antiretroviral. No presente ano, o programa de transferências sociais monetárias que também contribui para atenuar situações de insegurança alimentar nas pessoas pobres e vulneráveis sem capacidade para o trabalho com destaque para as pessoas idosas e pessoas com deficiências, alcançou em valor monetário de cerca de um terço do valor da linha da pobreza. Como resultados destas acções, em 2012 foram assistidas em todo o país através dos programas de protecção social básica um universo de 325.000 agregados familiares com membros vulneráveis e vivendo em situação de pobreza. 7
Minhas Senhoras; e Meus Senhores; No âmbito da segurança social obrigatória institui-se uma contribuição dos trabalhadores e comparticipação dos empregadores que consiste numa poupança obrigatória proveniente das remunerações. Destas contribuições, que no caso de Moçambique correspondem a 7%, o Estado contribui no alívio à pobreza, conferindo aos trabalhadores várias prestações como: Os subsídios por doença, por maternidade, as pensões por velhice e por invalidez. No apoio familiar visando responder às carências que assolariam os trabalhadores e suas famílias nos casos de perda ou diminuição da renda são concedidos os subsídios por morte e de funeral e ainda, a título vitalício, a pensão de sobrevivência para o cônjuge sobrevivo, esta última, que é concedida aos órfãos menores e acompanhando o crescimento até o máximo de 25 anos quando se encontrem a frequentar os níveis de ensino do sistema nacional de educação até o ensino superior. A segurança social obrigatória confere ainda apoios a instituições públicas e privadas, bem como directamente aos trabalhadores e pensionistas, prestações de natureza financeira ou material em programas de natureza comunitária integradas nos Planos de Acção Sanitária e Social que, directa ou indirectamente contribuem para a segurança alimentar, contando que famílias usarão a sua 8
renda para outras necessidades, enquanto estas são cobertas pela segurança social obrigatória. Outra componente que merece ser mencionada é a da assistência social e sanitária, através da qual o nosso Instituto Nacional de Segurança Social presta apoio material, fundamentalmente em géneros alimentícios e material escolar e de higiene e a camadas vulneráveis da população, independentemente da sua condição de voluntário, assegurando um mínimo para a sua sobrevivência e escolarização. O sector informal em Moçambique destaca-se por integrar grande parte da população economicamente activa que busca como alternativa para aumento dos seus rendimentos o autoemprego. O actual sistema de segurança social cobre esta categoria visando reduzir situações de vulnerabilidade e de diferentes riscos que podem estar sujeitos. Na mesma perspectiva, já é uma realidade a articulação dos sistemas de segurança social dos trabalhadores do sector privado com o dos funcionários públicos que representa um ganho para os trabalhadores decorrentes da portabilidade dos direitos adquiridos. Minhas Senhoras Meus Senhores O estado nutricional é uma referência importante de medição da qualidade de vida da população no seu todo ou de um 9
determinado segmento populacional pelo que, as estatísticas apresentadas mostram um quadro preocupante ao nível da CPLP. Por isso, face aos desafios enfrentados pelo nosso país, e pela realidade partilhada pelos demais países da nossa Comunidade, consideramos prioritário: Aprovar e com solidar os programas de protecção social estruturados em prol dos grupos mais vulneráveis considerando estes grupos como um potencial do capital humano dos nossos países; Definir ou fortalecer as estratégias integradas de protecção social que respondam, em particular, os problemas da insegurança alimentar e nutricional nos grupos alvo mais propensos; Definir medidas preventivas nas zonas mais afectadas pela insegurança alimentar e nutricional de implantar medidas de combate a fome e a pobreza; Fortalecer a formação profissional do nosso capital humano como ferramenta para acesso ao emprego e desenvolvimento de iniciativas sustentáveis de geração de rendimento; Estabelecer plataformas para a partilha de experiências das boas práticas na área de protecção social, em especial as 10
medidas que de forma sustentável tem contribuído para a inclusão social dos grupos mais vulneráveis; Melhorar a capacidade de intervenção da administração do trabalho e do empenho dos trabalhadores e empregadores, nossos parceiros, na superação das dívidas contributivas e na promoção do diálogo social que é nosso apanágio. Na materialização destes desafios, todos somos chamados a consolidar os laços de cooperação e coordenação entre os nossos países em todos os domínios, reforçando os mecanismos que assegurem um maior envolvimento de todos os actores de desenvolvimento, referimo-nos, a sociedade civil, ao sector privado e aos parceiros de cooperação para a prossecução os objectivos da CPLP. Ao nível de Moçambique, foram realizadas diversas acções sendo de destacar: que, no corrente mês, Sua Excelência o Presidente da República, Armando Emílio Guebuza, presidiu a Conferência de Doadores cujo momento mais alto foi o lançamento do Plano Nacional de Investimento do Sector Agrário que atrair investimentos para garantir que, a agricultura tenha aumentos anuais de cerca de 7% da produção de comida, de modo a aumentar a disponibilidade e a diversificação de alimentos nutricionalmente ricos com vista a contribuir para a erradicação da fome e da pobreza. Está em curso a descentralização da implementação do Plano Multissectorial de Desnutrição Crónica em todas as 11
províncias do país e a Produção do Lanche Escolar. Estas iniciativas visam acelerar a redução da desnutrição crónica de 44% até 30% em 2014, bem como assegurar a retenção das crianças nas escolas por forma a contribuir na melhoria da nutrição de futuras gerações em Moçambique. Excelências, A XIIª Reunião dos Ministros de Trabalho e Assuntos Sociais da CPLP constitui uma oportunidade ímpar para estreitarmos os nossos laços de cooperação, partilhar as nossas estratégias de intervenção e desafios enfrentados pelos nossos países. Estamos cientes que todos acolheremos e materializaremos as recomendações saídas deste fórum de modo a garantir o bem estar económico e social das nossas populações. Para terminar, como país anfitrião, temos a elevada honra de desejar que a sessão de hoje represente uma viragem na garantia do alcance da Segurança Alimentar e Nutricional e da realização progressiva do Direito Humano a uma Alimentação Adequada, através do fortalecimento dos nossos sistemas de segurança social e da contínua expansão da cobertura da protecção social para todos na nossa Comunidade. Pela cultura do Trabalho Digno, o meu Muito Obrigada! Maputo, 25 de Abril de 2013 12