Declaração tripartida de Yaoundé sobre a instituição de um Pacote de Base de Protecção Social
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- Luiz Felipe Morais Anjos
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1 Declaração tripartida de Yaoundé sobre a instituição de um Pacote de Base de Protecção Social Nós, os delegados tripartidos de 47 Estados Africanos membros da Organização Internacional do Trabalho ao Segundo Colóquio Africano sobre o Trabalho Digno, Instituir um Pacote de Base de Protecção Social no contexto do Pacto Mundial sobre o Emprego, reunímo-nos em Yaoundé (Camarões) de 6 a 8 de Outubro de 2010, sob o alto patrocínio de Sua Excelência o Presidente da República dos Camarões. Tendo examinado as conclusões extraídas com base nos resultados de certo número de eventos históricos marcantes sobre a elaboração de uma política de protecção social, no decurso dos últimos anos, e tendo discutido sobre as estratégias possíveis relativas à extensão da protecção social, adoptamos, a presente Declaração tripartida de Yaoundé sobre a instituição de um Pacote de Base de Protecção Social, neste 8 dia do mês de Outubro de 2010, em reconhecimento pleno do imperativo de todos os Estados africanos e os parceiros sociais membros da OIT de dar início ao estabelecimento efectivo e urgente de um Pacote de Base de Protecção Social para todos. I. Resenha dos resultados dos eventos marcantes sobre a elaboração de uma política de protecção social Relembramos que: a) Por ocasião da 89ª Conferência Internacional do Trabalho, de Junho de 2010, os constituintes da OIT chegaram a um novo consenso sobre a segurança social, estipulando que, entre outras conclusões, prioridade absoluta devia ser dada as políticas e iniciativas tendentes a dotar de segurança social aqueles que não estão cobertos; a segurança social é importante não só para o bem-estar dos trabalhadores, das suas famílias e da colectividade em geral, mas ela pode também estimular a produtividade e contribuir ao desenvolvimento económico; b) A terceira sessão da Cimeira extraordinária dos Chefes de Estado e Governo da União Africana, realizada em Setembro de 2004 em Ouagadougou, Burkina-Faso e a Declaração e o Plano de Acção de Ouagadougou, visam dar as populações meios para se auto assumirem, criar oportunidades e uma protecção social para os trabalhadores, criando um ambiente propício ao crescimento económico e desenvolvimento nacional; c) As conferências de Livingstone e de Yaoundé (Março e Setembro 2006) recomendaram a criação generalizada de um conjunto de prestações sociais de base; d) A 11ª reunião regional africana que se realizou em Adis-Abeba em Abril de 2007, apelou todos os países africanos a adoptar estratégias nacionais coerentes em matéria de segurança social; e) A Declaração sobre a justiça social por uma mundialização equitável adoptada na Conferência Internacional do Trabalho em 2009, reiterou o engajamento tripartido da Declaração de Filadélfia (1944) de estender a segurança social a todos; 1
2 f) A primeira sessão da Conferência dos ministros da União Africana responsáveis pelo desenvolvimento social (Windhoek, Namíbia, de Outubro de 2008) adoptou o quadro de política social para a África, tendo recomendado a adopção de um certo número de medidas destinadas a enquadrar a aplicação dum conjunto de prestações sociais mínimas; g) O Comité de alto nível sobre os programas do Conselho dos chefes de Secretariado dos organismos das Nações Unidas adoptou, em Abril de 2009, o Pacote de base de Protecção Social como uma das suas iniciativas conjuntas par fazer face a crise, tendo indigitado a OIT e a OMS (Organização Mundial da Saúde)como agências responsáveis; h) A Conferência Internacional do Trabalho adoptou, em Junho de 2009, o princípio do Pacote de base de Protecção Social no quadro do Pacto mundial sobre o emprego, no qual se exorta os países que ainda não dispõem de sistemas de protecção social consistentes de instituir uma protecção social adequada e universal assente num Pacote de base de Protecção Social; i) A reunião tripartida dos peritos sobre as estratégias de extensão da cobertura da segurança social, que teve lugar em Genebra em Setembro de 2009, recomendou uma estratégia de extensão da segurança social comportando duas dimensões; j) O primeiro Colóquio sobre o Trabalho Digno intitulado «Ultrapassar a crise: tornar efectivo o Pacto mundial em África», realizado em Setembro de 2009, em Ouagadougou, ressaltou os progressos realizados na instituição de um Pacote de base de Protecção Social em vários países africanos; k) A Comissão das Nações Unidas para o desenvolvimento social adoptou, em Fevereiro de 2010, uma resolução instando a OIT a reforçar as suas estratégias de protecção social, particularmente na assistência aos países na elaboração de Pacotes de base de protecção social e de políticas de extensão de cobertura social; e l) A Cimeira do Milénio realizada em Nova York, em Setembro de 2010, reconheceu a importância de políticas de protecção social de base como um instrumento para acelerar a realização dos Objectivos do Milénio para o Desenvolvimento (OMDs) II. O papel e a necessidade de estratégias de Protecção Social em África Reconhecemos que : a) a segurança social é um direito humano realizável; b) a instituição de um Pacote de base de Protecção Social deve ser feita no quadro duma decisão nacional tomada através de um processo de diálogo social; c) a efectivação de um Pacote de base de Protecção Social em todas as suas dimensões deve ser o resultado duma vontade política forte e constante; d) existem ainda hoje diferenças flagrantes em matéria de cobertura social em África, particularmente na economia informal, nas zonas rurais, nos empregos ocasionais e culturais, marcados também por graves desigualdades em matéria de género; e) a extrema pobreza assim como a morbidez e mortalidade evitáveis em África podem ser imputáveis, em grande medida, a ausência de garantia de rendimento e de sistemas nacionais de saúde eficazes; f) na ausência de sistemas nacionais de protecção social eficazes que permitam lutar contra a pobreza, a exclusão social, a insegurança, a desigualdade, os problemas de saúde, os défices de educação, não se 2
3 pode instaurar a paz social, nem construir sociedades sem exclusão social, com um nível de vida decente para todos; g) o emprego e a protecção social são indissociáveis e estão ligados como se sublinha no Pacto Mundial para o Emprego e na Agenda para o Trabalho Digno; h) a promoção dum crescimento inclusivo e fértil em emprego reduz o número de pessoas dependentes da protecção social e aumenta o número de pessoas que contribuem ao financiamento dos sistemas de protecção social; i) uma protecção social consistente, é uma necessidade política, económica e social pois ela é uma condição necessária do crescimento económico inclusivo e durável; j) os sistemas de protecção social são estabilizadores sócio-económicos automáticos em períodos de crise e de mudança estrutural; k) sistemas de protecção social sustentáveis requerem uma base financeira fiável com objectivos quantificados e boa governação, iludindo um dispositivo de seguimento e avaliação. III. Construção dum modelo de segurança social africano Convimos em: 1. convidar os governos e os parceiros sociais em África a tomar medidas decisivas para melhorar o nível de segurança social para todos os africanos, adoptando uma estratégia comportando duas dimensões, destinada a alargar a cobertura social de forma eficaz: a dimensão horizontal deveria consistir a criar pacotes de base de protecção social ao nível nacional, nomeadamente um conjunto mínimo de transferências, de direitos e de elegibilidade, dando acesso aos cuidados essenciais de saúde e garantindo um rendimento suficiente a todos quantos necessitem desta protecção: a dimensão vertical deveria concentrar-se na melhoria da protecção social no mínimo conforme as disposições relativas as prestações da Convenção nº 102 da OIT relativa a segurança social (norma mínima), 1952, - para o maior número possível de pessoas que vivem nas nossas sociedades e isto, o mais rapidamente possível; como pré-requisito políticas de formalização progressiva das economias informais em África; 2. convidar os governos e os parceiros sociais em África a reforçar os seus esforços visando a ratificação da Convenção nº 102, tão mais massiva quanto possível; 3. o Pacote de base de Protecção Social em cada país deveria integrar um conjunto de garantias de base da segurança social, tais como: todas as pessoas residentes em qualquer ponto do país deveriam poder ter acesso a um conjunto de cuidados essenciais de saúde, incluindo a saúde materna; todas as crianças deveriam beneficiar de uma garantia de rendimento, pelo menos igual ao nível nacional de pobreza estabelecido, graças ao pagamento dos abonos de família destinados a facilitar o acesso a nutrição, a educação e aos cuidados; todas as pessoas na idade de trabalhar, identificadas como vulneráveis (tais como mulheres que trabalham, jovens desempregados, trabalhadores migrantes, trabalhadores da economia informal, portadores do VIH/SIDA) e que não estão em condições de aceder a um rendimento suficiente no mercado do trabalho deveriam beneficiar de uma garantia de rendimento mínimo graças à 3
4 assistência social ou aos regimes de transferências sociais ou ainda no quadro de regimes de garantia de trabalho ou de subsídios de desemprego; todos os residentes, idosos e portadores de deficiências, beneficiam de uma garantia de rendimento, pelo menos igual ao limite da pobreza definida ao nível nacional, graças ao pagamento de pensões de reforma e de invalidez. IV. Constituir uma coalizão para agir Exortamos: 1. os governos africanos : a se engajarem com os parceiros na promoção dum diálogo social efectivo com o fim de formular políticas nacionais as mais apropriadas e estabelecer um calendário realista para a instauração progressiva de pacotes de base de protecção social que tenham em conta a necessidade de promover o emprego e o desenvolvimento económico e social. 2. os parceiros sociais: a apoiar activamente a elaboração e a implementação de estratégias nacionais de protecção social; a contribuir na elaboração de normas de avaliação e de gestão que garantam uma administração eficaz e eficiente do sistema de protecção social nacional no seu conjunto. 3. as Agências das Nações Unidas, as Agências bilaterais de ajuda ao desenvolvimento e outros parceiros de desenvolvimento: a obrar pela criação dum sistema sustentável de financiamento do Pacote de base da Protecção Social que tenha sido adoptado depois de estudos actuariais que deveriam também determinar os níveis adicionais de taxas ou contribuições, garantir um apoio coordenado «do sistema unificado das Nações Unidas» e apoiar as estratégias de financiamento no quadro do Plano das Nações Unidas de Ajuda ao Desenvolvimento (PNUAD); a prever, em caso de comprovada necessidade, financiamentos externos, ou mecanismos de financiamentos internacionais para contribuições complementares ao regime; a garantir que a instituição de um Pacote de base de Protecção Social constitua um elemento central da Agenda conjunta de política social do Sistema das Nações Unidas, aos níveis regional, sub-regional e nacional, para enfrentar as crises sociais recorrentes e para realização dos Objectivos do Milénio par o Desenvolvimento. 4. a Organização Internacional do Trabalho (OIT) : (i) (ii) (iii) a prosseguir a sua campanha mundial sobre a segurança social e a protecção para todos utilizando todos os meios de acção a sua disposição, e a promover a ratificação da Convenção nº 102; a examinar utilizando de acção todos os seus meios de acção a possibilidade de introduzir um novo mecanismo que ajudaria os países a instituir o Pacote de base de Protecção Social ao nível nacional; assistir activamente os Estados membros, fornecendo assessoria e assistência técnica adaptadas e também encorajando o diálogo social orientado a atingir resultados, visando apoiar a instituição do Pacote de base de Protecção Social ao nível nacional, assim como a avaliação regular da sua viabilidade, sustentabilidade e impacto; 4
5 (iv) (v) (vi) reforçar as capacidades dos Estados membros, incluindo as instituições nacionais de segurança social e as administrações do trabalho preparando-os para conceber sistemas nacionais de segurança social capazes de responder aos novos desafios, incluindo a evolução das tendências demográficas e assegurar o bom funcionamento dos sistemas nacionais de segurança social; melhorar as competências das organizações patronais e sindicais para participar na concepção, na criação e na governação dum sistema de protecção social universal ao que seja mesmo tempo completo e durável, promover a cooperação sul-sul através de trocas de experiências e de peritos. V. Seguimento Convidamos a OIT a : assumir um papel de primeiro plano e elaborar um plano de acção estratégico baseado nas acções acima mencionadas, em estreita colaboração com a União Africana, as Organizações nacionais e internacionais dos empregadores, as Organizações internacionais e nacionais dos trabalhadores as Instituições das Nações Unidas, particularmente o Banco Mundial, o FMI a AISS assim como a coligação activa activa de doadores e ONGs internacionais representantes da sociedade civil tanto ao nível nacional como internacional; comunicar e difundir a presente Declaração e chamar a atenção sobre os apoios necessários à realização deste compromisso firme e renovado feito conjuntamente pelos governos africanos e pelos parceiros sociais com vista a instituir efectivamente Pacotes de base de Protecção social em toda extensão da África, à partir do ano de 2011 e para além; apresentar ao Conselho de Administração no decorrer duma próxima sessão a presente Declaração, e isto, em previsão da necessidade de seguimento exigida por esta Declaração assim como o plano de acção da OIT a este propósito. Esta Declaração solene para acção, ficará conhecida como «Declaração tripartida de Yaoundé sobre a instituição dum Pacote de base de Protecção Social», adoptada neste 8º dia do mês de Outubro de O seu objectivo é consagrar o compromisso dos Estados membros e dos parceiros sociais a adoptar os princípios, as principais componentes e os aspectos operacionais do Pacote de base de Protecção Social, tais como anunciados neste documento. Os Estados-membros são por isso exortados a traduzir as implicações orçamentais desta Declaração para acção a partir d o ano de
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