APOIO AS CONDIÇÕES DE TRABALHO DE CATADORES/AS DE MATERIAIS RECICLÁVEIS: RELATO DE UMA EXPERIÊNCIA



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Transcrição:

APOIO AS CONDIÇÕES DE TRABALHO DE CATADORES/AS DE MATERIAIS RECICLÁVEIS: RELATO DE UMA EXPERIÊNCIA Autora: Ana Paula S. dos Santos 1, co-autora: Mary Help Ibiapina Alves 2, co-autora: Karliane Sousa Coelho 3, orientadora: Idalina Maria Freitas Lima Santiago 4 1 Universidade Estadual da Paraíba-UEPB/Departamento de Serviço Social, Rua Antônio Guedes de Andrade, 190, Catolé, Cep: 58104-410, paulassana@yahoo.com.br 2 Universidade Estadual da Paraíba-UEPB/Departamento de Serviço Social, Rua Antônio Guedes de Andrade, 190, Catolé, Cep: 58104-410, maryhelpcg@hotmail.com 3 Universidade Estadual da Paraíba-UEPB/Departamento de Serviço Social, Rua Antônio Guedes de Andrade, 190, Catolé, Cep: 58104-410, karlianecoelhopb@gmail.com 4 Universidade Estadual da Paraíba-UEPB/Departamento de Serviço Social, Rua Antônio Guedes de Andrade, 190, Catolé, Cep: 58104-410, imfls@uol.com.br Resumo- O presente artigo é resultado das ações extencionistas, em andamento, do Projeto Melhor Coletar é a Vida Melhorar, que visam provocar a melhoria das condições de trabalho de catadores/as, em particular dos membros da Cooperativa CATAMAIS, além de contribuir para consolidação e ampliação da extensão universitária, em interação com ensino, pesquisa e produção de conhecimento. Para tanto, propõe a melhoria do processo de organização e de comercialização dos resíduos sólidos coletados pela CATAMAIS, além da aquisição de carros elétricos para substituição da tração humana e implantação de containers para destinação dos materiais recicláveis descartados pela comunidade local. Os resultados parciais já demonstram um aumento do número de adesões à coleta seletiva solidária, e ainda melhoria das condições de trabalho e do protagonismo social deste segmento. Assim, consideramos que as ações do referido projeto possibilitarão uma nova realidade quanto às condições de trabalho dos/as catadores/as da CATAMAIS, bem como trarão para o debate acadêmico e social questões que refletem a destinação adequada dos resíduos sólidos e as condições de vulnerabilidade e invisibilidade social que se encontram esses atores da catação. Palavras-chave: Cooperativismo, resíduos sólidos, catação. Área do Conhecimento: Ciências Sociais Aplicadas Introdução A relação entre a sociedade e a natureza no modelo de produção capitalista está marcada pela exploração desenfreada dos recursos naturais. Os problemas enfrentados em razão disso não são apenas ecológicos, mas também sociais, econômicos e culturais. Evidenciam-se questões como as desigualdades sociais e regionais que afetam milhares de pessoas em todo o mundo, especialmente da periferia do sistema. É neste contexto que se insere o debate em torno da sustentabilidade, da poluição, das mudanças climáticas, dos resíduos sólidos, entre outros, cujos estudos apontam a ação humana como a maior responsável pela degradação ambiental. A postura exploradora e consumista dessa sociedade capitalista pode ser mais desastrosa na medida em que não há limites para esta exploração, quando a tecnologia passa a ser um instrumento na busca de soluções para os problemas. No que diz respeito a produção e destinação do lixo, a discussão vai muito além da simples preocupação do local onde jogá-lo, embora a solução hoje chamada aterro sanitário seja vista do ponto de vista técnico como modelo eficiente de destinação. É necessário repensar as formas de produção e reprodução do sistema econômico vigente, o qual impõe uma cultura baseada no consumo e no descarte. Trata-se de uma sociedade que na mesma medida que consome, produz e descarta o lixo em larga escala. Diante disso, uma alternativa é a reciclagem de materiais como papelão, vidro, metal e plástico, entre outros, que podem ser reaproveitados e transformados em um novo produto. A reciclagem de resíduos sólidos é uma atividade lucrativa e por esta razão mobiliza indústrias em todo o mundo. Nesse cenário, o Brasil é o maior reciclador de embalagens de alumínio, além de estar aperfeiçoando o mercado de reaproveitamento de plásticos (Silva, 2010). Nesse cenário se encontra a Cooperativa de Catadores e Catadoras de Materiais Recicláveis de Campina Grande (CATAMAIS), criada em 2008, a partir da iniciativa de catadores/as, com apoio da Universidade Estadual da Paraíba 1

(UEPB) que agrega catador@s que sobreviviam exclusivamente da coleta de material reciclável da cidade. A formação da cooperativa significou a oportunidade de enfrentamento ao desemprego e a invisibilidade, de valorização e reconhecimento enquanto trabalhadores, portanto, de melhoria das condições de trabalho. O reconhecimento desses trabalhadores enquanto sujeitos sociais e políticos é fundamental. Assim, a experiência junto aos catadores da CATAMAIS visa o fortalecimento do protagonismo social, a capacidade de autogestão e de transformação da realidade vivida por eles/as. Portanto, nosso trabalho se propõe a evidenciar as ações do projeto Melhor coletar é a vida melhorar, desenvolvido desde 2010 na CATAMAIS e inserido na linha de Tecnologia Social do CNPQ, seu agente financiador. Metodologia A metodologia proposta tem como pressuposto a garantia da participação efetiva dos catadores (as) no processo de planejamento, implementação e avaliação das ações. O trabalho é desenvolvido por uma equipe interdisciplinar composta por profissionais e graduandos das áreas de Serviço Social, Jornalismo, Contabilidade, Publicidade e Propaganda. A metodologia utilizada conta com os seguintes passos: a) Planejamento participativo das atividades; b) Aquisição de materiais necessários para a execução do Projeto; c) Articulações, mobilizações, sensibilização da comunidade em geral, em especial das empresas e instituições visando parcerias e apoios; d) Compra dos carros elétricos, dos equipamentos de proteção individual e dos contêineres que servirão como pontos de armazenamento de entrega voluntária de materiais; e) Atividades de sensibilização da comunidade para separar materiais e depositar nos pontos de acondicionamento dos materiais recicláveis; f) Fortalecimento da coleta seletiva solidária nas rotas já estabelecidas pela cooperativa para coleta dos materiais recicláveis; g) Estabelecimento de canal de atendimento dos/as cooperados/as no Sistema Único de Saúde (SUS); Produção de artigos, participação e organização de eventos, g) Monitoramento, avaliação e re-planejamento das ações. A avaliação do andamento das ações do projeto será feita de forma processual, acompanhando o comportamento dos indicadores utilizados para mensurar e avaliar o cumprimento das metas estabelecidas. O monitoramento será feito também mediante o registro contábil e financeiro da cooperativa, bem como da observação in loco por parte da equipe técnica. Por fim, utilizaremos também como instrumentos técnico-operativos: reuniões,oficinas, observação participante, entrevistas, pesquisa em documentos como relatórios, formulários, fichas, entre outros documentos para acompanhamento e avaliação das atividades. Resultados Promover o acesso da comunidade local a coleta seletiva solidária e consequentemente viabilizar um aumento na renda obtida pelos/as catadores/as é uma das principais ações previstas. Para isto, estão sendo implantados três containers para armazenamento de materiais com capacidade de 2.500 litros, em locais estratégicos da cidade. Essas estruturas funcionarão como pontos de entrega dos materiais recicláveis da comunidade, possibilitando assim um aumento na quantidade de materiais coletados. Esta ação representa a inserção da comunidade local no processo de destinação adequada dos resíduos sólidos. Associado a essa ação, está sendo realizado um trabalho de sensibilização da comunidade local para adesão da coleta seletiva solidária. Possibilitar melhores condições de trabalho a esses catadores/as que andam em média 10 quilômetros por dia, geralmente carregando cerca de 250 quilos de materiais recicláveis, é um dos principais objetivos do Melhor Coletar é a Vida Melhorar. Sabemos que a realidade vivenciada por estes atores dificulta muito a vida e o trabalho dos (as) mesmos (as), em especial das mulheres, que encontram maiores dificuldades para tracionar o peso do carrinho, e, muitas vezes, se deparam com problemas de saúde resultantes do esforço físico depositado no trajeto da coleta. Assim, o referido projeto prevê a compra de carros movidos a eletricidade, para diminuir o esforço humano que era dispensado para a catação. Esse equipamento já está em fase de entrega pela empresa responsável. Convém destacar que um dos resultados mais importantes promovidos pelo projeto, refere-se à criação de um arranjo institucional voltado a implementação de políticas públicas municipais de gestão de resíduos sólidos com a participação dos catadores. Além disso, está sendo criada uma rede de sensibilização e parceria com empresas e instituições não-estatais do município, com o intuito de discutir a destinação dos resíduos produzidos por esses locais, já que verificamos que a maior parcela desse segmento não possui nenhuma política de destinação consciente dos resíduos gerados. As ações desenvolvidas vão desde a realização de palestras, debates, manifestações públicas, audiência com gestores/as públicos, 2

participação ativa em fóruns de gestores públicos, entre outras. Possibilitar o entendimento da população que os resíduos gerados nas casas fazem parte de uma cadeia produtiva de reaproveitamento, e que as ações de reciclagem possibilitam além da manutenção financeira de diversas famílias de catadores/as um tratamento adequado com o meio ambiente, faz parte das ações de educação ambiental do Melhor Coletar é a Vida Melhorar. Assim, foram pensadas diversas estratégias atrativas de sensibilização da comunidade como a criação de um blog (catamais.blogspot.com) e um twitter (@catamaiscg) atualizado diariamente. Esses meios eletrônicos informativos servem tanto para divulgação das atividades do referido Projeto, como para sensibilização da comunidade, que utiliza esses meios de comunicação, com a questão ambiental. Assim, diariamente são disponibilizadas matérias, informativos e etc. Ainda estão sendo produzidos materiais informativos como adesivos, imãs de geladeira, e folders, para serem disponibilizados em todas as casas e empresas que aderirem a coleta seletiva solidária nas ruas que a CATAMAIS está presente. O adesivo é um material estratégico para associar o local que doa seus materiais recicláveis a CATAMAIS com a visão de preservação do meio ambiente. O ímã de geladeira tem um cunho educativo, ensina ao participante da coleta seletiva como separar os materiais, o que é reciclável e o que não é. E os folders serão produzidos em um número mais reduzido possível, para não poluir o meio ambiente, e trarão uma apresentação da CATAMAIS com o intuito de retratar a importância que esta Cooperativa tem para preservação do meio ambiente em Campina Grande-PB. Associado a esses produtos estão sendo produzidos materiais midiáticos, como spot e VT televisivo, a fim de ampliar as informações para a população campinense. E é assim que as ações do Melhor Coletar é a Vida Melhorar visam transformar as atitudes dos cidadãos através de novos valores, hábitos, posturas, condutas e atos na relação com o ambiente através da destinação dos seus resíduos. Discussão O Projeto Melhor coletar é a vida melhorar esta inserido na linha de extensão tecnológica social, definida como: a disponibilização de dada tecnologia ou capacitação, por meio de estratégias promotoras do protagonismo das populações beneficiárias e da apropriação do conhecimento pelas mesmas, com metodologia participativa, de forma a ensejar um conjunto de ações que incidam no atendimento efetivo das demandas de caráter social e econômico, na perspectiva da sustentabilidade, eqüidade e elevação da qualidade de vida (Edital MCT/AÇÃO TRANSVERSAL, CNPq n º 29/2009, p.1). A reciclagem de resíduos sólidos é uma atividade lucrativa e por esta razão mobiliza indústrias em todo o mundo. Nesse cenário, o Brasil é o maior reciclador de embalagens de alumínio, além de estar aperfeiçoando o mercado de reaproveitamento de plásticos (Silva, 2010). A constituição dessa realidade não ocorre sem contradições. A disseminação de uma cultura ambiental na sociedade contribui para a idéia da reciclagem associada à redução dos impactos ambientais, que é amplamente reforçada nos discursos e nos meios de comunicação. Mas, se por um lado há a expansão e a legitimidade social da indústria recicladora privada, por outro ocorre o estímulo, a formação e a ampliação de uma rede que se inicia com os catadores, que atuam nas ruas das cidades em condições de trabalho precário e miserável, e se complementa com a atuação de organizações não governamentais, cooperativas, associações e do próprio Estado, participando do processo da coleta de materiais até o transporte do destino final. Os/as catadores/as apesar de serem agentes fundamentais para o processo de reciclagem, relizam a atividade da catação enfrentando precárias condições de trabalho, convivendo com a exclusão social e a capacidade mínima de manutenção de necessidades substanciais como alimentação, moradia, educação, e saúde. Nesse contexto, a sustentabilidade é tratada oficialmente e por estudiosos da área como uma alternativa de desenvolvimento consciente, no qual os aspectos econômicos, políticos, sociais e ambientais são levados em consideração. Porém, a sustentabilidade defendida pelo setor da indústria recicladora não incorpora o trabalho dos/as catadores/as, ao mesmo tempo em que estes/as desconhecem a rentabilidade do setor. A renda obtida com o trabalho não ultrapassa um salário mínimo, gerando certa dependência dos programas sociais do governo. Paradoxalmente, os catadores, estimados, conforme Bortoli (2009), em mais de 500 mil pessoas no país, são considerados agentes ambientais, e um dos mais importantes atores sociais da rede de reciclagem do país, apesar de não participarem da riqueza social produzida. Melhorar as condições de trabalho desse atores se torna cada vez mais urgente e necessário, pois como já vimos é um trabalho exaustivo, visto as condições a que estes indivíduos se submetem, com seus carrinhos puxados pela tração humana, carregando por dia mais de 200 quilos de lixo (cerca de 4 toneladas por mês), e percorrendo mais de vinte quilômetros por dia (Magera, 2003, p.34). 3

Conclusão Os resultados apresentados até o momento têm impacto direto na vida do grupo de cooperados, mas também beneficiam outros/as catadores/as que ainda coletam de maneira independente e outras cooperativas ou associações locais que atuam na área de materiais recicláveis, na medida em que dá visibilidade ao trabalho dos catadores e catadoras, mobiliza a sociedade, o poder público para cumprimento das leis, fortalece politicamente os catadores e catadoras e os movimentos sociais para continuarem na luta pelas reivindicações de seus direitos. Reconhecemos a necessidade de contribuir com a melhoria do trabalho dos cooperados com a compra e doação de equipamentos, mas esta questão está articulada a um conjunto de ações e atividades contínuas, ordenadas e articuladas com os setores da educação, saúde, cultura, entre outros. A perspectiva é capacitar o grupo para a autogestão e a autonomia. O Projeto Melhor Coletar é a Vida Melhorar é uma experiência nova e deve servir como exemplo de um trabalho participativo e de transformação social. Sabe-se que o caminho a percorrer é longo e desafiador, mas acredita-se na capacidade de promover mais melhorias com impacto direto na vida de muitas famílias em Campina Grande e na Paraíba. - PROJETO MELHOR COLETAR É A VIDA MELHORAR: apoio as condições de trabalho de catadores e catadoras de recicláveis da cooperativa CATAMAIS. Documento de Descrição Detalhada. CNPq, 2009. SIQUEIRA, M. S. e MORAES, M. S. de. Saúde coletiva, resíduos sólidos urbanos e os catadores de lixo. In: Red de Revistas Científicas de América Latina, el Caribe, España y Portuga. Disponível em: http://redalyc.uaemex.mx/pdf/630/63012431016.pd f. Acesso em: 10/03/2011. SILVA, Maria das Graças e. Questao ambiental e desenvolvimento sustentável: um desafio ético político ao Serviço Social. Cortez: São Paulo, 2010. SOUSA, Perci Coelho de. O Cooperativismo. In. Capacitação em serviço social e política social: Módulo 4: O trabalho do assistente social e as políticas sociais. Brasília. UNB, Centro de Educação Aberta, Continuada a Distância, 2000. Referências - BORTOLI, Mari Aparecida. Catadores de Materiais Recicláveis: a construção de novos sujeitos. Revista Katalisis, V. 12, N. 1, p. 105-114. Jan/jun. Florianópolis, 2009. - BURSZTYN, Marcel. No meio da rua: nômades, excluídos e viradouros. Rio de Janeiro: Garamond, 2000. p. 19-26. - JUNCÁ, Denise Chrisóstomo de Moura. Trajetórias de sujeitos no lixo. Revista Serviço Social e Sociedade, Ano XXVI, No. 84. São Paulo: Cortez, 2005. - MAGERA, M. Os empresários do lixo: um paradoxo da modernidade. Campinas, SP: Átomo, 2003. - MEDEIROS, Luiza Ferreira de Rezende e MACÊDO, Kátia Barbosa. Profissão: catador de material reciclável, entre o viver e o sobreviver. G&DR. v. 3, n. 2, p. 72-94, mai-ago/2007. 4

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