TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 2ª REGIÃO ESCOLA DA MAGISTRATURA



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I N F O R M A T I V O

SÍNTESE DAS ALTERAÇÕES INTRODUZIDAS PELO CÓDIGO CIVIL

Transcrição:

61 TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 2ª REGIÃO ESCOLA DA MAGISTRATURA PALESTRA TEMA: O DIREITO DAS COISAS NO NOVO CÓDIGO CIVIL Palestrante: Noé de Medeiros São Paulo, abril de 2003. Obs.: o texto desta palestra encontra-se disponível no site: www.noe.adv.br

62 TRANSPARÊNCIA Nº 01 DIREITO DAS COISAS 1º POSSE Pretores Mancipatio Glosadores Elementos 2º PROPRIEDADE Elementos constitutivos 3º DIREITOS REAIS São os próprios Direitos Reais USO GOZO DISPOSIÇÃO Mancipatio: 1 2 para bem imóvel mancipi para bem móvel res nec mancipi Glosadores: jus utendi, jus fruendi et jus abutendi

63 TRANSPARÊNCIA Nº 02 CONCEITO DE POSSE Código de 1916 Art. 485 Considerase possuidor todo aquele que tem de fato o exercício, pleno, ou não, de algum dos poderes inerentes ao domínio, ou propriedade. Código de 2002 Art. 1.196 Considera-se possuidor todo aquele que tem de fato o exercício, pleno ou não, de algum dos poderes inerentes à idd COMENTO Os artigos, como escritos, quase iguais, trazem a supressão da palavra domínio no Código de 2002, mantendo o exercício, pleno ou não, de algum dos poderes inerentes à propriedade. Nenhuma mudança radical; evidenciaríamos, no entanto, que domínio, como expresso no Código de 1916, não queria dizer domínio representado pela transcrição do Título da Propriedade no competente Cartório de Registro de Imóveis e, sim domínio, como prova da posse, demonstrada pela teoria subjetiva de Savigny (a posse exteriorizada com animus

64 TRANSPARÊNCIA Nº 03 RELAÇÃO DO NOVO CÓDIGO CIVIL COM O DIREITO DO TRABALHO Sempre que se discute a posse, na teoria de Ihering o poder de dispor, de deter a coisa surge a idéia de discutir-se por exemplo: não havendo direito regulando a posse, não será válido encarar-se como possuidor aquele que no momento estiver na posse da coisa?? NÃO Na história antiga da posse e nos Códigos modernos, aparecem duas figuras caracterizadoras, que não se contrapõem mas, se Possuidor Detentor

65 TRANSPARÊNCIA Nº 04 F.01 DISTINÇÃO ENTRE DETENÇÃO E POSSE DETENÇÃO POSSE Se dá quando alguém detém a coisa em nome de outrem, em cumprimento de ordens ou instruções suas e a quem está vinculado por uma relação de dependência. Ocorre quando alguém retém alguma coisa, com intenção de lhe tirar alguma vantagem ou lucro econômico. Detentor Possuidor Subordinado às ordens e comando do possuidor. Impõe ordens ao detentor, pagando-lhe inclusive COMENTO Comparando, não se tem dúvida que o empregado que recebe a mercadoria do empregador, para poder exibi-la à venda, é mero detentor da coisa, inocorrendo a figura da posse. Igualmente, o empregado que recebe do empregador veículo para desenvolvimento de seu trabalho. Não há neste caso nenhuma configuração da posse mas, sim, detenção.

66 TRANSPARÊNCIA Nº 04 F.02 Quanto ao veículo (ou qualquer outro bem) colocado à disposição do empregado, é preciso distinguir duas situações mais comuns de ocorrer: 1ª - o veículo (ou qualquer outro bem) do empregador é utilizado pelo empregado para o desenvolvimento de suas atividades para 2ª - o veículo (ou qualquer outro bem) é cedido ao empregado como benefício contratual pelo trabalho. Na primeira hipótese, haverá mera detenção da coisa (veículo) pelo empregado. Já na segunda, caracterizado o comodato, o empréstimo ou a locação, estar-se-á diante da posse direta do veículo pelo empregado, restando a este assegurado o uso das ações e interditos possessórios.

67 TRANSPARÊNCIA Nº 05 TEORIAS DE SAVIGNY E DE IHERING SOBRE A POSSE Teoria Subjetiva de Savigny Posse é o poder de dispor fisicamente da coisa com o ânimo de considerá-la sua e defendê-la contra a intervenção de outrem. Possui dois elementos: corpus e Teoria Objetiva de Ihering Posse é a condição de exercício da propriedade sobre a coisa. Relação entre a pessoa e a coisa. Repele a teoria de Savigny. COMENTO Como podemos conceber uma relação jurídica entre uma pessoa e uma coisa?

68 TRANSPARÊNCIA Nº 06 MODOS DE AQUISIÇÃO DA POSSE Código de 1916 Art. 493 Adquire-se a posse: I pela apreensão da coisa, ou pelo exercício do direito; II pelo fato de se dispor da coisa, ou do direito; III por qualquer dos modos de aquisição em geral. Parágrafo único É aplicável à aquisição da posse o disposto neste Código, arts. 81 a 85. Código de 2002 Art. 1204 Adquirese a posse desde o momento em que se torna possível o exercício, em nome próprio, de qualquer dos poderes inerentes à propriedade. COMENTO Simplificada foi a redação, sem mudança essencial. Mistura-se, entretanto, aqui, posse com propriedade. Porém, a posse fica mais forte quando ligada a qualquer dos poderes inerentes à propriedade. E quais são estes poderes? USO, GOZO E DISPOSIÇÃO, ou como no Direito Clássico jus utendi, jus fruendi et jus abutendi.

69 TRANSPARÊNCIA Nº 07 SOBRE QUE COISAS RECAI A POSSE? A POSSE RECAI SOBRE: coisas abandonadas (res derelictae); coisas de ninguém (res nullius); coisas de outrem, mesmo sem a anuência do proprietário. OS EFEITOS DA POSSE ORIGINÁRIA E DA POSSE DERIVADA se apresenta despida dos vícios que a macula- POSSE ORIGINÁRIA vam em mãos do antecessor, visto tratar-se de uma nova posse, de uma situação que acabou de nascer. Assim, se o antigo possuidor era titular de uma posse de má-fé, quer por havê-la cientemente adquirido de quem não era dono, quer por sabê-la nascida na clandestinidade, tais vícios desaparecem ao ser ele esbulhado, já que o esbulhador se constitui em titular de uma nova situação de fato, que não se encontra ligada à anterior. Esta nova posse pode ser violenta, mas, se convalescer desse vício que macula sua origem, não apresentará os vícios de que era portadora, nas mãos do b lh d POSSE DERIVADA ood o adquirente recebe a posse com todos os vícios que a inquinavam nas mãos do alienante. Assim, se o alienante desfrutava de uma posse clandestina, violenta ou precária, o adquirente recebe a posse com os mesmos defeitos

70 TRANSPARÊNCIA Nº 08 DO USUCAPIÃO O usucapião representa o efeito maior da posse. Objetiva transformar posse em propriedade. Código de 2002 Código de 1916 Art. 550 Aquele que, por 20 (vinte) anos, sem interrupção, nem oposição, possuir como seu um imóvel, adquirir-lhe-á domínio, independentemente de título e boa-fé que, em tal caso, se presume, podendo requerer ao juiz que assim o declare por sentença, a qual lhe servirá de título para transcrição no Art. 1.238 Aquele que, por 15 (quinze) anos, sem interrupção, nem oposição, possuir como seu um imóvel, adquire-lhe a propriedade, independentemente de título e boafé; podendo requerer ao juiz que assim o declare por sentença, a qual servirá de título para registro no Cartório de Registro de Imóveis. Parágrafo único. O prazo estabelecido neste artigo reduzirse-á a 10 (dez) anos se o possuidor houver estabelecido no imóvel a sua moradia habitual, ou nele realizado obras ou serviços de caráter d ti COMENTO O usucapião extraordinário teve reduzido o prazo aquisitivo de 20 para 15 anos de posse mansa, pacífica e sem oposição.

71 TRANSPARÊNCIA Nº 09 DO USUCAPIÃO ORDINÁRIO O usucapião ordinário ou com justo título e boa-fé tem, no Código de 2002, artigo 1.242, prazo único de 10 (dez) anos, um pouco diferente do Código de 1916. Código de 2002 Código de 1916 Art. 551 Adquire também o domínio do imóvel aquele que, por 10 (dez) anos entre presentes, ou 15 (quinze) entre ausentes, o possuir como seu, contínua e incontestadamente, com justo título e boa-fé. Parágrafo único. Reputam-se presentes os moradores do mesmo município e ausentes os que habitam município diverso Art. 1.242 Adquire também a propriedade do imóvel aquele que, contínua e incontestadamente, com justo título e boa-fé, o possuir por 10 (dez) anos. Parágrafo único. Será de 5 (cinco) anos o prazo previsto neste artigo se o imóvel houver sido adquirido, onerosamente, com base no registro constante do respectivo cartório, cancelada posteriormente, desde que os possuidores nele tiverem estabelecido a sua moradia, ou realizado investimentos de interesse social e econômico.

72 TRANSPARÊNCIA Nº 10 DO USUCAPIÃO ESPECIAL RURAL O art. 1.239 do novo Código, sem correspondência no antigo, regula o chamado usucapião especial rural. Art. 1.239 Aquele que, não sendo proprietário de imóvel rural ou urbano, possua como sua, por 5 (cinco) anos ininterruptos, sem oposição, área de terra em zona rural não superior a 50 (cinqüenta) hectares, tornando-a produtiva por seu trabalho ou de sua família, tendo nela sua moradia, adquirir-lhe-á a propriedade. DO USUCAPIÃO ESPECIAL URBANO Nos mesmos moldes o usucapião especial urbano vem definido no novo Código no art. 1.240. Art. 1.240 Aquele que possuir, como sua, área de até 250 (duzentos e cinqüenta) metros quadrados, por 5 (cinco) anos ininterruptamente e sem oposição, utilizando-a para sua moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o domínio, desde que não seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural. 1º O título de domínio e a concessão de uso serão conferidos ao homem ou à mulher, ou a ambos, independentemente do estado civil. 2º O direito previsto no parágrafo antecedente não será reconhecido ao mesmo possuidor mais de uma vez.

73 TRANSPARÊNCIA Nº 11 DO USUCAPIÃO COLETIVO Criado pela Lei nº 10.257/01 (Lei da Cidade), o Usucapião Coletivo não foi inserido, sob titulação adequada, no novo Código, encontrando-se disciplinado nos parágrafos 4º e 5º do artigo 1.228. 4º. O proprietário também pode ser privado da coisa se o imóvel reivindicado consistir em extensa área, na posse ininterrupta e de boa-fé, por mais de 5 (cinco) anos, de considerável número de pessoas, e estas nela houverem realizado, em conjunto ou separadamente, obras e serviços considerados pelo juiz de interesse social e econômico l t 5º. No caso do parágrafo antecedente, o juiz fixará a justa indenização devida ao proprietário; pago o preço, valerá a sentença como título para o registro do imóvel em nome dos possuidores.

74 TRANSPARÊNCIA Nº 12 DOS DIREITOS REAIS Código de 1916 Art. 674 São direitos reais, além da propriedade: I a enfiteuse; II as servidões; III o usufruto; IV o uso; V a habitação; VI as rendas expressamente constituídas imóveis; VII o penhor; VIII a anticrese; IX hi sobre Código de 2002 Art. 1.225 São direitos reais: I a propriedade; II a superfície; III as servidões; IV o usufruto; V o uso; VI a habitação; VII o direito do promitente comprador do imóvel; VIII o penhor; IX a hipoteca; X a anticrese. COMENTO Incluídos no novo Código o direito real de superfície (II) e o direito real do promitente comprador do imóvel (VII), enquanto excluídos o direito real da enfiteuse (I) e o direito real das rendas expressamente constituídas sobre imóveis TRANSPARÊNCIA (VI). Nº7

75 TRANSPARÊNCIA Nº 13 F.1 DIREITOS REAIS SUPRIMIDOS ENFITEUSE OU AFORAMENTO Além de não incluir a enfiteuse entre os direitos reais (art. 1.225) o art. 2.038 determinou: I fica proibida a constituição de enfiteuses e subenfiteuses; II as existentes continuam regidas pelo Código de 1916 e leis posteriores, mas com a proibição de cobrança de laudêmio nas transmissões de bem aforado; III a enfiteuse de terrenos de marinha e acrescidos regula-se por lei especial.

76 TRANSPARÊNCIA Nº 13 F.2 RENDAS CONSTITUÍDAS SOBRE IMÓVEIS O Código de 1916 regulou o contrato de constituição de renda (art. 1.424 a 1.431) e o direito real de renda constituída sobre imóvel. O novo Código suprimiu o direito real sobre imóvel decorrente da constituição de renda. Não figura no art. 1.225. mas sobreviveu o contrato de constituição de renda nos art. 804 a 813.

77 TRANSPARÊNCIA Nº 13 F.3 Os arts. 804 e 805 dispõem: I- pode-se entregar bem imóvel à pessoa que se obriga a satisfazer as prestações a favor do credor ou de terceiros; II- pode o credor exigir que o rendeiro lhe preste garantia l fid j ói COMENTO Logo a diferença é que, antes, a renda vinculada a um imóvel constituía direito real automático sobre o mesmo; e pelo novo Código a garantia real imobiliária, que será hipoteca, dependerá de acordo das partes e inscrição no registro imobiliário.

78 TRANSPARÊNCIA Nº 14 DOS DIREITOS REAIS SOBRE COISAS ALHEIAS O Código novo não procedeu à necessária divisão dos Direitos Reais sobre Coisas Alheias em: Direitos reais de gozo ou fruição Direitos reais de garantia Os itens I a VII do art. 1.225 do Código de 2002 elencam os direitos reais sobre coisas alheias de gozo ou fruição. Os itens VIII ao X do art. 1.225 do Código de 2002 elencam os direitos reais sobre coisas alheias de garantia. São sempre contratados com prazo e, sempre dois contratos, um principal e outro acessório; o primeiro diz respeito a dívida e o segundo à

79 TRANSPARÊNCIA Nº 15 DA HIPOTECA O novo Código Civil inova, em termos de hipoteca, nos artigos 1.479 e 1480 e parágrafo, ao permitir que o adquirente do imóvel hipotecado, desde que não se tenha obrigado pessoalmente a pagar aos credores hipotecários, possa exonerar-se desse ônus real, abandonando o imóvel. O adquirente deve notificar o vendedor e os credores hipotecários, deferindo-lhes, conjuntamente, a posse do imóvel ou o depositará em juízo. Poderá, todavia, o adquirente exercer a faculdade de abandonar o imóvel hipotecado, até as 24 (vinte e quatro) horas subseqüentes à citação do Assim, aquele que adquire, em alienação judicial, bem hipotecado, desde que não tenha se obrigado a pagar pela dívida hipotecária, poderá abandonar o bem, livrando-se dessa obrigação.

80 TRANSPARÊNCIA Nº 16 DA PROPRIEDADE No sentido positivo, a propriedade confere ao titular o direito de usar, gozar e dispor da coisa e, no sentido negativo, exclui toda e qualquer ingerência alheia, protegendo-o, no exercício de seus direitos, contra turbação por parte de t i PROPRIEDADE É o mais amplo dos Direitos Reais, pois envolve em favor do proprietário os três elementos constitutivos jus utendi, jus fruendi et jus abutendi, ou uso, gozo e di i ã Quando um ou mais desses elementos se divorcia do proprietário, em favor de terceiro, este estará investido no chamado diireiitto reall ssobre coiissa allheiia..

81 TRANSPARÊNCIA Nº 17 DIREITO DO PROPRIETÁRIO SOBRE A COISA Código Civil de 1916 Art. 524 A lei assegura ao proprietário o direito de usar, gozar e dispor de seus bens, e de reavê-los do poder de quem quer que injustamente os possua. Código Civil de 2002 Art. 1.228 O proprietário tem a faculdade de usar, gozar e dispor da coisa, e o direito de reavê-la do poder de quem quer que injustamente a possua ou detenha. COMENTO No caput dos artigos comparados, não se detecta diferença de entendimento. O art. 524 do Código antigo trazia em seu parágrafo único a menção sobre a propriedade literária, científica e artística, com regulação no Capítulo VI, do mesmo Título. Não houve correspondência no novo Código, mas o estabelecimento de uma série de parágrafos conduzentes ao entendimento do prevalecimento da FUNÇÃO SOCIAL DA PROPRIEDADE, sobre os direitos do proprietário sobre a coisa.

82 TRANSPARÊNCIA Nº 18 DO CONDOMÍNIO EM GERAL O Código Civil de 2002 regulamenta expressamente o condomínio edilício nos artigos 1.331 a 1.358. São de uso comum dos condôminos, não podendo ser alienados separadamente ou divididos: o solo; a estrutura do prédio; o telhado; a rede geral de distribuição de água, esgoto, gás e eletricidade; a calefação e refrigeração centrais; o acesso ao logradouro público e, as demais partes comuns. Tais bens e equipamentos, considerados individualmente, não podem ser penhorados, já que inalienáveis ou inseparáveis do seu conjunto (condomínio). As partes suscetíveis de utilização autônoma (apartamentos, escritórios, salas, lojas, sobrelojas, garagens, etc.) sujeitam-se a propriedade exclusiva, podendo ser alienadas e gravadas livremente por seus i tá i

83 TRANSPARÊNCIA Nº 19 DA PROPRIEDADE FIDUCIÁRIA A propriedade fiduciária encontra-se regulada no artigo 1.361 ao 1.368 do Código de 2002, sendo que a mesma encontrava-se anteriormente regulada pela Lei nº 4.728/65 e Decreto-lei nº 911/69. Conceito Considera-se fiduciária a propriedade resolúvel de coisa móvel infungível que o devedor, com escopo de garantia transfere ao credor. COMENTO A alienação fiduciária deveria pertencer ao grupo dos direitos reais de garantia, até por sua íntima semelhança com o penhor. Trata-se de propriedade resolúvel, sem dúvida, mas, enquanto os direitos recaintes sobre ela estiverem em poder do credor, é mera garantia de pagamento, que o devedor tem todo o interesse em resgatar para, em seguida, promover a resolução. Disciplinado como veio, consideramos revogado o Decreto-Lei Nº 911/69, ex vi do artigo 2.046 do novo Código. A alienação fiduciária de coisa imóvel continua a ser regida pela Lei nº 9.514/97, cap. II, arts. 22 e seguintes.

84 TRANSPARÊNCIA Nº 20 A CONSTRUÇÃO E A PLANTAÇÃO EM SOLO ALHEIO A construção e a plantação em solo alheio, se contratado esse direito por escritura pública e registro imobiliário, deixam de sofrer a atração do solo para constituírem propriedades imobiliárias autônomas, pelo prazo convencionado, com possibilidade de transferência a terceiro, inter-vivos ou causa-mortis. O instituto visa estimular a construção em terreno alheio Veio, inclusive para substituir a enffiitteusse..