A ELABORAÇÃO DA PROPOSTA CURRICULAR DE EDUCAÇÃO INFANTIL DA REDE MUNICIPAL



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Transcrição:

A ELABORAÇÃO DA PROPOSTA CURRICULAR DE EDUCAÇÃO INFANTIL DA REDE MUNICIPAL Resumo OLIVEIRA Luciana de FIGUEIRDEDO Anelice Maria banhara BANHARA Aline fátima BELTRAME Lisaura Maria Eixo Temático: Educação infantil Agência Financiadora: Não contou com financiamento Reconhecer a criança enquanto sujeito histórico social significa desvendar o seu universo infantil. Esse fator é o que levou ao desafio de elaborar uma proposta curricular que dê suporte ao trabalho pedagógico do professor e que atenda as especificidades da Educação Infantil. Foi esse o ponto de partida para professores, gestoras e equipe pedagógica da secretaria municipal de educação em desafiar-se na construção de uma proposta curricular, para dar suporte às práticas educativas, criando ao mesmo tempo uma identidade da Educação Infantil Municipal e autonomia para que cada Centro de Educação Infantil respeite e valorize as características e particularidades das crianças de seu bairro/comunidade. Para isso, partiuse das práticas cotidianas dos Centros de Educação Infantil sendo realizados encontros para estudos, discussões e reelaboração da proposta curricular. Os professores tiveram a oportunidade de refletir sobre os conteúdos necessários para a elaboração desse currículo e suas necessidades, principalmente a qualidade no trabalho pedagógico realizado com a criança. O diferencial dessa proposta é um currículo básico específico para o berçário, maternal e pré-escola. Esse material está norteando a prática pedagógica, auxiliando no planejamento e na avaliação. O currículo é organizado dentro de cinco grandes linguagens: linguagem movimento, linguagem oral e escrita, linguagem matemática, linguagem artística e linguagem da natureza e sociedade. As atividades são desenvolvidas dentro dessas linguagens, garantindo um maior envolvimento da criança e conseqüentemente maior desenvolvimento e aprendizagem. A Proposta Curricular de Educação Infantil da Rede Municipal teve a participação efetiva de todos os profissionais que atuam na rede e é um instrumento que busca atender as necessidades e interesses das crianças em todos os aspectos. É importante que, o professor de Educação Infantil tenha uma atuação que promova a aprendizagem e desenvolvimento das crianças, no sentido de lhes garantir o direito à infância. Palavras-chave: Educação Infantil. Currículo. Aprendizagem

4608 Introdução Este relato é relevante porque nas últimas décadas, o número de instituições de educação infantil tem aumentado consideravelmente e as propostas de pedagógicas em muitas instituições de educação infantil por vezes, não condizem com a realidade. Segundo Souza e Carvalho (2004 p.126-127) várias são as razões para essa expansão, tais como avanços políticos e legais, à obrigação dos Municípios em oferecer atendimento à criança pequena, o aumento da participação da mulher no mercado de trabalho, bem como o aumento de famílias monoparentais. No entanto, vivemos em momento que cada vez mais tem sido reconhecida a importância da aprendizagem inicial, tanto como direito, quanto por acreditar que as experiências vivênciadas na primeira infância acarretam na melhoria do desempenho escolar nos anos subseqüentes (DAHLBERG, MOSS, E PENSE, 2003). Ferreira et al (1998) ressalva que: [...] esse panorama alerta para a urgência de medidas tanto quantitativas quanto qualitativas, na promoção da qualidade na educação infantil no Brasil. Isso significa que ao lado da necessidade de ampliar o atendimento às crianças de zero a cinco anos para suprimir a crescente demanda, urge também cuidar da qualidade do atendimento já existente (p. 58). Várias questões vêm sendo discutida acerca do assunto, dentre as quais uma delas é a proposta pedagógica ou curricular da educação infantil e qualidade em educação infantil Para Rocha (1999, p. 13), o estabelecimento de políticas para a infância tem exigido a sistematização das experiências positivas do ponto de vista da qualidade da educação da criança pequena e ampliação de pesquisas que favoreçam a consolidação de uma pedagogia da infância, e ainda mais particularmente, da educação infantil. A preocupação com a qualidade da educação infantil esta ligada ao movimento em busca das garantias do direito da criança, bem como propostas que atendam as necessidades específicas da criança e garantam a qualidade em sua aplicabilidade. Para isso, temos que envolver os profissionais que trabalham diretamente com a criança porque eles é que farão a diferença no dia a dia com a criança.

4609 A qualidade nas propostas de Educação Infantil. Aspectos, relacionados com o conceito de qualidade em educação infantil tem sido largamente discutidos e relacionados a modelos pedagógicos vigentes no atual sistema educacional, como defende Oliveira (2002, p.81): Ter a creche incluída no sistema de ensino significa elaborar um a proposta pedagógica a ser planejada, desenvolvida e avaliada por toda a comunidade escolar. Essa gestão democrática da creche deve ser voltada para o aperfeiçoamento pedagógico de seu cotidiano. O padrão de qualidade a ser obedecido pela creche passa a incluir critérios pedagógicos de desenvolvimento de competências pelas crianças, além de outros requisitos que uma instituição para crianças deve apresentar: ambiente limpo, saudável, organizado, com cuidados físicos também atentamente observados. escreve: Ao ressaltar sobre a importância da proposta pedagógica, Oliveira et al (2002, p. 64) [...] construir uma proposta pedagógica para a creche implica em optar por uma organização que garanta o atendimento de certos objetivos julgados mais valiosos do que outros. Ela é elaborada a partir de uma reflexão sobre a realidade cotidiana da criança, o meio social onde seus pais, e ela mesma vivem. Não pode ignorar os desejos, necessidades e conflitos destas populações. Na formulação de seus objetivos, ela tem que discutir seu papel político em relação à população atendida, dado que, através de sua ação a creche pode ser mais conservadora ou transformadora de papéis, atitudes, conhecimentos, representações. A educação infantil não pode ser pensada desintegrada do contexto histórico e sóciocultural em que cada instituição esta inserida, sendo definida a partir da negociação entre todos os atores que, de alguma forma, estão envolvidos no que Bondioli (2004) chama de rede educativa da infância. Portanto, para garantir a efetivação de atendimento educacional de qualidade nesta faixa etária é imprescindível uma Proposta Pedagógica construída com a participação dos professores, um Projeto Político Pedagógico por espaço de educação infantil e a formação continuada dos profissionais, pois é reconhecidamente um dos fatores relevantes para a aprendizagem e o desenvolvimento infantil. Para elaborar uma Proposta Pedagógica é essencial compreender que concepção se tem de infância, de Centros de Educação Infantil e de aprendizagem.

4610 Nesse sentido, a concepção de infância vem se construindo historicamente não se apresentando de forma homogênea, mas de acordo com a organização de cada sociedade e as estruturas sociais e econômicas em vigor. As idéias a respeito do desenvolvimento infantil, da educação e do cuidado de crianças foram modificando-se ao longo da história. Por isso, compreender a infância e reconhecer a criança enquanto sujeito histórico social significa desvendar o seu universo infantil, considerando que ela adquire o conhecimento através do encontro com o outro: o adulto, as crianças, os livros, a observação do mundo e a fantasia. Aprender, a partir do que já sabe, da participação, do diálogo, da criatividade, dos recursos disponíveis na construção das relações. Enfim, a criança aprende por meio das diferentes linguagens: brincando, falando, descobrindo, construindo, explorando o mundo, expressando-se através do corpo, do olhar, do desenho. Ao fornecer informações e explicações acerca das características e atividades da criança nos vários períodos do seu desenvolvimento, autores como Vygotsky e Wallon, ressaltam que ela aprende a partir das múltiplas interações que estabelece com o meio histórico-cultural, constrói conhecimentos que fazem parte do seu dia-a-dia e aqueles que ela reelabora nos Centros de Educação Infantil. A contribuição da teoria de Vygotsky nos faz compreender o papel da linguagem, da brincadeira e das interações no desenvolvimento infantil, apontando, que a construção do conhecimento acontece no desenvolvimento das funções psicológicas superiores, com a apropriação de signos e instrumentos dentro de um contexto de interação. A linguagem exerce função primordial, pois é a comunicação social enquanto instrumento do pensamento, que permite a criança representar abstratamente o real e atuar sobre ele. A relação entre pensamento e linguagem é atribuída à necessidade de intercâmbio entre os sujeitos, sendo dois processos independentes que após a aquisição da fala se articulam formando o pensamento verbal, ou a linguagem racional. A partir desse momento o ser humano passa a ter um modo de funcionamento psicológico mediado pelo sistema simbólico que age como organizador da própria atividade humana espaço para a construção do sujeito histórico. A linguagem constitui-se em um processo histórico-cultural, para além da comunicação. Permite ao sujeito modificar-se a partir das interações sociais, as quais possibilitam a aquisição e elaboração das funções psicológicas superiores, para poder transformar o social no qual está inserido. O signo é o instrumento

4611 mediador que tem como função a organização do pensamento, decorrente da possibilidade de generalizar e abstrair as experiências dos sujeitos. (PROPOSTA CURRICULAR DE SANTA CATARINA, 1997, p. 17). Para Vygotsky (1992), o desenvolvimento do pensamento pode ser demonstrado através do processo de aquisição dos conceitos científicos, que são diferentes dos conceitos espontâneos. Os conceitos científicos não ocorrem de forma espontânea, mas da organização de estratégias especificas que envolvem uma multiplicidade de linguagens. Já, os conhecimentos cotidianos advêm da prática social. São construídos pela observação, experiências e vivências. É participando de situações do dia-a-dia que a criança aprende com os adultos ou com outras crianças. Além da função da linguagem apontada por Vygotsky e Wallon como instrumento do pensamento, onde é dada ênfase à linguagem verbal, não se pode, desconsiderar as demais linguagens da criança como forma de comunicação e expressão. É na interação social que as crianças são inseridas na linguagem. Cada uma das linguagens que permeia o trabalho da educação infantil tem seu conjunto de regras e princípios de funcionamento próprio. Elas são diferentes umas das outras, requerendo investimentos diferenciados para serem apropriadas por crianças e professores. Na especificidade da Educação Infantil, quem media o processo de aquisição e construção do conhecimento é o professor. Um profissional habilitado e comprometido que proporciona situações de aprendizagem e desafios, auxiliando as crianças a ampliar as linguagens que usa para representar e exprimir sua forma de compreender o mundo. É importante que, o professor de Educação Infantil tenha uma atuação promotora da aprendizagem e do desenvolvimento das crianças, no sentido de lhes garantir o direito à infância e um dos caminhos pelo qual a criança compreende o mundo é pela brincadeira. As maiores aquisições de uma criança são conseguidas na brincadeira, aquisições que no futuro tornar-se-ão seu nível básico de ação. Para Kishimoto (2000), o brinquedo enquanto objeto é suporte da brincadeira, pois estimula e flui o imaginário infantil. A brincadeira é ação que a criança desempenha ao mergulhar na ação lúdica, sendo que, o faz-de-conta deixa mais evidente a presença da

4612 situação imaginária permitindo a expressão de regras implícitas que se materializam nos temas das brincadeiras. A brincadeira tem significados diversos no seu desenvolvimento. Para elas, brincar é ação e vida, pensamentos e descobertas, palavras e gestos, alegrias, emoções, tensão e liberdade. O prazer motivado pela curiosidade e pelo desafio está sempre presente, é razão em si do ato de brincar. Este texto representa os anseios e objetivos dos professores de Educação Infantil que atuam na Rede Pública de Ensino Municipal de Chapecó, e almejavam a construção de uma Proposta Pedagógica que atendesse as necessidades específicas da Educação Infantil. O processo de construção dessa Proposta foi por meio de estudos e discussões com os profissionais envolvidos e comprometidos na sistematização de um currículo único para os CEI Centros de Educação Infantil de Chapecó. Todos os CEIMs receberam da Secretaria Municipal de Educação os textos preliminares, para leitura discussão e interferências. Esse trabalho resultou em um Currículo para a EI, que foi construído com a participação dos profissionais que atuam na rede municipal. A elaboração deste documento teve inicio no ano de 2006, quando a equipe técnica pedagógica da Secretaria Municipal de Educação, organizou palestras, estudos, discussões com o objetivo de elaborar um currículo para da EI na rede municipal, para melhorar a qualidade no atendimento às crianças nos CEIMs. Organização curricular da educação infantil A instituição de Educação Infantil deve ser acessível a todas às crianças que a freqüentam com elementos da cultura que enriqueçam seu desenvolvimento e sua inserção social, buscando formas de intervenção, compreensão, ação e uma política educacional que considera homens e mulheres, adultos e crianças, sujeitos de cultura. O currículo na Educação Infantil poderá ajudar a organizar e direcionar a tomada de decisões e procedimentos, apresentando situações para que as crianças possam desenvolver suas capacidades, vinculadas à aprendizagem de saberes culturais que lhes permitem conhecer o mundo que as envolvem. Neste sentido, para que o currículo seja coerente para as crianças, precisa estar conectado às suas experiências atuais considerando suas aspirações e interesses. O currículo

4613 coerente reconhece a ambigüidade e respeita a diversidade, que é a forma como o organizam e proporcionam sentidos as coisas a partir das suas próprias experiências. Os contextos educativos retratam os assuntos da vida cotidiana das crianças e suas especificidades, caracterizando elementos importantes da lógica infantil. Possibilitam a compreensão de questões que envolvem a vivência da infância no contexto atual. Para organizar o currículo na Educação Infantil precisamos considerar os sujeitos envolvidos no processo e os momentos que oportunizam o trabalho com as crianças. Para esclarecer, o que se organiza com as crianças entre o horário de chegada e o de ir embora, não se define por si mesmo. As formas de organização dos tempos, dos espaços, dos materiais, dos equipamentos, dos procedimentos durante situações específicas, enfim, a programação do dia-a-dia é definida a partir das decisões dos adultos, as quais devem ser encaminhadas considerando os anseios, manifestações e necessidades das crianças, sendo que elas têm direitos a escolhas e de serem respeitadas em suas preferências individuais, garantindo que todas sejam ouvidas com atenção suas explicações, respeitando a estética nas produções, a expressão de seus sentimentos e pensamentos. Segundo Brazelton, T. Berry (2002, p. 88) Um currículo de crescimento e desenvolvimento humano deveria ter o mesmo nível de importância que história, línguas, ciências ou matemática e incluir leituras, experiências, experiência prática e discussões adequada a idade da criança e às questões relevantes para aquela idade. Fatores físicos, psicológicos e sociais e capacidades e dificuldades emergentes previsíveis deveriam ser consideradas. O objetivo é a educação no desenvolvimento humano. Assim, um currículo para a Educação Infantil precisa reconhecer que a criança desde que nasce é capaz de agir, interagir, de produzir cultura e de ser sujeito de direitos e deveres. Para melhor compreender esta questão, bem como seus interesses e necessidades, permite enfocar diversas linguagens do conhecimento em uma abordagem globalizada, privilegia o olhar da criança, sua expressão e questionamentos, baseando-se em situações e assuntos significativos para a criança, que é possível visualizar no quadro a seguir:

4614 TEMPO EDUCAÇÃO INFANTIL FUNÇÃO SOCIAL DA EDUCAÇÃO INFANTIL Oportunizar vivências e aprendizagens significativas parao desenvolvimentointegraldacriança. R E L A Ç Õ E S N A T U R E Z A EDUCAÇÃO INFANTIL 0 A 3 ANOS EDUCAÇÃO INFANTIL 4 E 5 ANOS BERÇÁRIO MATERNAL PRÉ ESCOLA LINGUAGENS LINGUAGEM ORAL E ESCRITA LINGUAGEM ARTÍSTICA LINGUAGEM MATEMÁTICA ESPAÇO LINGUAGEM DO MOVIMENTO LINGUAGEM DA NATUEZA E SOCIEDADE Conforme Junqueira Filho, a proposta de linguagens geradoras, o modelo de planejamento que coordena o processo de seleção e articulação de conteúdos e a prática pedagógica cotidiana do professor se organiza a partir de dois momentos: o primeiro é o que o professor conhece sobre o desenvolvimento da criança [...] as suas concepções de criança, de infância, da função social da Educação Infantil, de sua concepção de professora de crianças de 0 a 6 anos e o segundo é o que as crianças apresentam através das interações entre seus

4615 pares. Pontuados em diálogos e problematizações entre as professoras e as crianças, organizados através de projetos de trabalhos. (JUNQUEIRA FILHO, 2005, p. 22) A função do trabalho pedagógico desenvolvido através do projeto é favorecer a criação de estratégias para resolver um problema proposto, levantar algumas hipóteses referentes a um determinado tema, pesquisar sobre um assunto eleito pelo grupo, enfim, levar o grupo a buscar o que lhe é significativo. O projeto auxilia as crianças a serem conscientes de seu processo de aprendizagem e exige do professor uma postura flexível, de pesquisador onde os desafios e conflitos o estimulem e não o paralisem. Os projetos surgem na relação adulto/criança, criança/criança, criança/meio na medida em que o professor é capaz de atribuir significado à curiosidade despertada por assuntos ou atividades, às perguntas feitas, ao que é necessário ao seu desenvolvimento. No momento em que o professor consegue entender e aprofundar seus conhecimentos nesta proposta de trabalho terá condições de aventurar-se em infinitas descobertas e perceber o quanto isto é enriquecedor. Trabalhar com projetos implica ensinar de forma diferente, levando em consideração como as crianças aprendem e pensam, partindo do que já sabem sobre o tema e pesquisando suas concepções espontâneas, ou seja, suas idéias a respeito dos acontecimentos e fenômenos em geral. Segundo Hernandez (1997), a função básica do projeto é favorecer a criação de estratégias de organização dos conhecimentos em relação ao tratamento da informação e a relação entre os diferentes conteúdos em torno dos problemas ou hipóteses que facilitem as crianças, no que diz respeito à construção de seus conhecimentos. Poderá organizar-se seguindo um eixo, a definição de um conceito, um problema geral ou particular, um conjunto de perguntas inter-relacionadas, uma temática a ser tratada por ela mesma. Hernández diz que todas as coisas podem ser ensinadas por meio de projetos, basta que se tenha uma dúvida inicial ou uma curiosidade das crianças e que se comece a pesquisar e buscar evidências sobre o assunto. É preciso ter em mente que as crianças, mesmo antes de entrarem na escola, através do convívio com pessoas mais velhas e também com os acontecimentos do mundo que as rodeia, construindo teorias que vão elaborar e reelaborar, conforme as necessidades sobre os objetos da cultura.(cavalcanti, 1996, p. 46)

4616 Quando trabalhamos numa perspectiva de projetos, as crianças são capazes de realizar transferências e generalizações a outras situações, a partir dos conhecimentos que construíram e das estratégias utilizadas nessa construção. Reaparece, neste ponto, o entendimento de globalização, não como forma alienada de se organizar as atividades, mas como processo mais amplo no qual a criança se envolve ativamente, atualizando e reciclando conhecimentos construídos, conhecimentos que são de natureza diversa e que se constroem mediante múltiplas conexões entre o que já sabe e o que estão lhe ensinando. Considerações Finais É fundamental ressaltarmos a importância da Educação Infantil porque é nesta etapa que as crianças desenvolvem-se no meio onde estão inseridas nos diferentes aspectos: cognitivo, social, psicológico e emocional de forma quantitativa e qualitativa. Os vários aspectos e dimensões do desenvolvimento não são áreas separadas e para isto é fundamental considerarmos a infância como um todo, ampliando suas experiências e conhecimentos estimulando seu interesse pelo processo de transformação pelo convívio em sociedade. Essa nova dimensão da Educação Infantil é indiscutível, por isso é necessário uma Proposta Pedagógica específica construída de forma participativa, em cada Centro de Educação Infantil e profissional habilitados, devido à responsabilidade a social e educativa que se espera deles. Neste contexto, a Educação Infantil tem como finalidade um trabalho educativo de qualidade à criança, se aproximando de conceitos científicos como meio de exercício da cidadania, estimulando e motivando a necessidade de ampliar seus conhecimentos e experiências para alcançar progressivos graus de autonomia frente às condições de seu meio. REFERÊNCIAS BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Lei n.º 9.394/96, de dezembro de 1996.. Estatuto da Criança e do Adolescente. Lei n.º 8.069/90, de 13 de julho de 1990. São Paulo: CBIA SP, 1991.

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