UMA REALIDADE BRASILEIRA DESENVOLVIMENTO DE BLINDADOS SOBRE RODAS 2ª Parte



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Transcrição:

UMA REALIDADE BRASILEIRA DESENVOLVIMENTO DE BLINDADOS SOBRE RODAS 2ª Parte VIATURA BLINDADA SOBRE RODAS 2 VBR-2 A partir do momento em que o Exército descarta a V.B.B. e informa sobre a necessidade de se projetar e construir um blindado de reconhecimento 6x6, o Grupo de Estudos do PqRMM/2 parte para a construção de uma maqueta em metal que será a base para o mock-up na escala 1:1 para atender as especificações da Diretoria de Motomecanização, surgindo desta forma a V.B.R-2 Viatura Blindada de Reconhecimento 2. (Foto 8 e 9) Foto 8 Maqueta do conceito para a futura V.B.R. todo em metal. (autor)

Foto 9 Mock-up na escala 1:1 da primeira versão da V.B.R. 2 (autor) Com este conceito desenvolvido, principalmente na parte estrutural da carcaça, foi a ele acrescentado a torre da V.B.B., armada com canhão de 37mm (uma das oito que haviam sido construídas). A seguir sua designação passa a ser C.R.R. Carro de Reconhecimento sobre Rodas e sua configuração sofrerá pequenas modificações, principalmente nas suas linhas básicas, modificando-o até a construção do primeiro protótipo em 1970. (Foto 10 e 11) O primeiro protótipo será totalmente construído no PqRMM/2 e como havia necessidade de estudar melhor sua suspensão, foi adotado o recém criado sistema boomerang desenvolvido por uma pequena empresa chamada ENGESA. Foto 10 O mesmo mock-up da foto 9 com modificações para a Segunda versão da VBR-2, agora CRR. (autor)

Foto 11 Versão final do mock-up, daí saiu o primeiro protótipo do CRR. (autor) Devido a carência de torres, optou-se por usar as do Carro de Reconhecimento M-8 Greyhound, com canhão de 37mm e metralhadora coaxial.30, tendo sido alongadas na sua parte traseira pois estava previsto um sistema de rádio. Na realidade o primeiro protótipo, construído inteiramente no PqRMM/2, usou uma das torres da VBB-1 e após os testes e melhoramentos no veículo, este passou a usar as torres derivadas do M-8 até que fosse elaborada as derivadas do M-3 Stuart que irá equipar os primeiros pré-séries. (foto 12) Foto 12 Construção do primeiro protótipo que no futuro será o EE-9 Cascavel, no PqRMM/2 de São Paulo, em 1971. Notar a torre da VBB-1 no veículo. (autor)

Com os testes práticos elaborados exaustivamente pelo Exército supervisionado pelo Grupo de Trabalho do PqRMM/2 foi então decidido a construção inicialmente de cinco veículo pré-série, número este elevado para oito quando da assinatura da Carta- Contrato de Desenvolvimento e preparo de Protótipos, firmado entre a Diretoria de Pesquisa e Ensino Técnico do Exército DPET e a Engenheiros Especializados S/A ENGESA, em junho de 1971, e a produção iniciou-se no ano seguinte, tendo sido concluída em setembro de 1975. (Foto 13) Foto 13 Os oito CRM de pré-série fabricados pela ENGESA no PqRMM/2 em setembro de 1975 pronto para os testes (autor) Estes oito veículos foram testados por mais de 32.000km (de São Paulo a Uruguaiana e Alegrete, RS). Os testes consistiram em andar com os veículos 24horas por dia, até que apresentassem defeitos, corrigidos os veículos voltavam a campo novamente, apenas parando para trocar a guarnição e abastecer. É curioso notar que os estudos e conceitos, foram todos desenvolvidos pelo Exército Brasileiro e repassado a uma empresa privada, coisa comum no mundo, mas até então inédito no Brasil. A partir daí a torre foi aos poucos sendo modificada, incorporou-se novamente as do M-8 Greyhound, que sofreu alongamentos laterais e traseiros, sendo modificada gradativamente, que culminaram numa torre mais moderna com visores laterais e baixo perfil. O carro recebeu a designação de Carro de Reconhecimento Médio C.R.M., permanecendo o chassi como modelo padrão da produção seriada, e despertando o interesse estrangeiro sobre eles, muito embora a Engesa não acreditasse neste veículo, pois achava que se deveria construir um anfíbio. (Foto 14 e 15) Posteriormente passou a denominar-se EE- 9 Cascavel, conhecido como a versão Cascavel Magro em função do canhão de 37mm, dos quais mais de 100 unidades foram comprados pelo Exército Brasileiro.

Foto 14 O protótipo do CRR com o primeiro modelo de torre derivada do M-8, no IME RJ em janeiro de 1972. (autor) Foto 15 Um dos oito pré-séries com a nova designação de C.R.M. e segundo modelo de torre derivada do M-8. (autor) A primeira grande aquisição se dá quando, em 1972-1973, a Líbia encomenda 200 destes veículos, pagando à vista e exigindo que os mesmos fossem armados com canhão de 90mm, o que foi sanado com a importação de torres e canhões franceses para equiparem esta versão, que nunca foi usada pelo Exército Brasileiro, denominada EE-9 Cascavel MK II, lançando um produto brasileiro no fechado mundo de Material de Defesa. Posteriormente serão comprados mais 200 só que com torre Engesa e canhão Cockerill de 90mm. (Foto 16)

Foto 16 Cascavel com torre e canhão franceses, similares aos vendidos para a Líbia e Chile. (Engesa) Um dos EE-9 Cascavel MK II, dos vendidos à Líbia, atualmente faz parte do acervo do Museu de Blindados de Saumur, França, onde está exposto à visitação pública com uma curiosa pintura, diferente de todas as que estamos acostumados a ver, mas que foi usada usada pelos Líbios na guerra contra o Chade. (foto 17) Foto 17 Raro Cascavel Líbio no MUSÉE DES BLINDÉS de SAUMUR, França. (Pedro M.Monteiro). Esta compra possibilitou a Engesa a construção de sua fábrica, em São José dos Campos (SP), e foi de grande importância para a consolidação do veículo, alertou o

Exército para o canhão de 90mm. Em 1973 chegaram a desenvolver uma torre nacional derivada da francesa, no PqRMM/2, mas equipada com o canhão francês vendido para os Líbios e Chilenos, que não foi usada pelo Exército brasileiro, montada sobre um dos oito C.R.M. para testes, surgindo em seguida a versão Mk-III com torre nacional e canhão Cockerill de 90mm, dos quais mais 200 foram comprados pela Líbia. (Foto 18) Foto 18 Um dos oito CRM com torre nacional derivada da francesa e canhão de 90mm francês. O Exército Brasileiro nunca usou esta versão. (autor) Paralelamente a esta compra o Chile efetuou uma encomenda de 106 destes veículos que consolidou de vez o nome EE-9 CASCAVEL, sendo EE uma abreviatura do nome Engesa, o 9 o peso do veículo, 9 toneladas, embora ele fosse superior, e Cascavel o nome de uma cobra venenosa brasileira. A história do Cascavel não termina aí e será objeto futuro de outros artigos mostrando a sua evolução a partir deste momento, pois já corria o ano de 1974... CARRO TRANSPORTE DE TROPAS ANFÍBIO CTTA Outro veículo concebido pelo Grupo de Trabalho do PqRMM/2 foi o Carro de Transporte de Tropas Anfíbio CTTA, que surgiu quase que simultaneamente ao projeto do VBR-2, com a construção de um mock-up na escala 1:1, armado com uma peque torreta para metralhadoras, 6x6 com rodas simetricamente colocadas em três eixos e que foi repassado à Engesa para em conjunto viabilizarem modificações para a construção do protótipo, pois esta parceria permitiu que o mesmo recebesse a suspensão boomerang e sofresse modificações no seu desenho inicial culminando com a construção de um protótipo que foi exaustivamente testado e aprovado no ano de 1971-72. (Foto 19 e 20)

Foto 19 Mock-up do C.T.T.A construído no PqRMM/2 na escala 1:1 em outubro de 1969. Notar que suas rodas são simétricas. (autor) Foto 20 Primeiro protótipo do derivado do C.T.T.A construído pela ENGESA e denominado EE-11 URUTU em testes de rampa no PqRMM/2 de São Paulo em 1971. Notar o slogam na lateral do veículo em amarelo PROJETO E CONSTRUÍDO NO BRASIL POR BRASILEIROS (autor) Em 1973 foi desenvolvido uma versão para a Marinha Brasileira, sob a designação de Carro Transporte de Rodas Anfíbio equipado com hélices na traseira, para facilitar a manobrabilidade em rios e mar. A produção dos cinco primeiro exemplares de série foram para atender a uma encomenda para o Corpo de Fuzileiros Navais já sob a denominação de EE-11 Urutu, utilizando boa parte da mecânica e alguns componentes do EE-9 Cascavel, o que de certa forma facilitou em muito a logística. (Foto 21 e 22)

Foto 21 Construção dos cinco primeiro EE-11 Urutu na fábrica da Engesa em São Paulo. Estes são os exemplares para a Marinha do Brasil (Corpo de Fuzileiros Navais). (autor) Foto 22 Entrega dos cinco primeiros EE-11 URUTU para o Corpo de Fuzileiros Navais, em 20 de julho de 1973, no Rio de Janeiro. (Corpo de Fuzileiros Navais)

Foram também exportados 40 para a Líbia e 37 para o Chile e posteriormente para vários outros países, sendo a menina dos olhos do proprietário da Engesa, embora suas vendas nunca tenha superado às do Cascavel. Na Marinha não foram o sucesso esperado, tiveram uma série de problemas, mas com modificações posteriores, teve ótima aceitação no Exército e chegou a participar de licitações em países do primeiro mundo, como Estados Unidos e Canadá, mas isto será melhor aprofundado em artigos futuros. CONCLUSÃO O desenvolvimento e de certa forma, uma consolidação do país numa área tão importante e disputada como esta, foi conseguida em pouco tempo, graças a um grupo atuante e dedicado, que acreditava no desenvolvimento através da parceria Exército/Empresas privadas, que não termina aí, irá perdurar por mais algum tempo desenvolvendo novos veículos não só de rodas como também de lagartas, até sua falência total nos anos 90, sepultando a maior parte desta indústria, com raros sobreviventes e alguns aventureiros na atualidade. Ficou demonstrado a grande interatividade entre a indústria nacional, multinacionais e o Exército, na época, transformando o país num produtor de Material de Defesa, para seu uso e exportação, desenvolvendo tecnologias que na maior parte não pode ser comprada, pela simples razão de que quem as detêm não ensinam a dominar seu ciclo de produção, criando a terrível dependência. Diversas etapas do ciclo de: projeto, desenvolvimento e produção foram exercitadas e entendidas. No momento em que toda a cadeia de desenvolvimento e produção entrou em crise os governantes não cuidaram em preservá-la. Fato essencial para o domínio da tecnologia na área de defesa. Faltou visão estratégica e vontade política, pois a alegação de que importar é mais barato, prevaleceu nos últimos anos e somente agora estamos percebendo o que realmente fizemos. O curioso é que em pleno ano de 2002, a empresa Israelense NIMDA CORPORATION LTD, comprou do Exército Chileno 70 (setenta) EE-9 Cascavel MK II e 31 (trinta e um) EE-11 Urutu que foram para lá exportados entre 1974 e 1976, juntamente com os grandes lotes vendidos para Líbia (400 EE-9 e 40 EE-11).(Foto 23 e 24)

Foto 23 Um dos cento e seis EE-9 Cascavel Mk-II do Exército do Chile quando ainda em operação. Setenta foram adquiridos pela empresa israelense Nimda Corporation Ltd. (ChileArmas -FRANCISCO CRUZ MANDIOLA) Foto 24 Um dos trinta e sete EE-11 Urutu do Exército do Chile quando ainda em operação. Trinta e um foram adquiridos pela Nimda Corporation Ltd de Israel. (ChileArmas - FRANCISCO CRUZ MANDIOLA) Compraram para revender a algum país, após modernizados, pois estes veículos estão escassos nos dias de hoje, mesmo com toda a gama existente de outros modelos e com os preços altíssimos, distante da maioria de muitos. As dúvidas são muitas, mas teremos que aguardar e ver o que realmente irá acontecer com estes e outros produtos "Made in Brazil" que se recusaram a morrer, muitos estão abandonados no Chade e algumas empresas brasileiras lá estiveram para ver se é possível revitalizá-los, vamos aguardar e ficar atentos. (foto 25)

Foto 25 Uma quantidade razoável de EE-9 Cascavel Mk II e III, ex-líbios capturados pelo Chade, fotografados em 2002. (foto coleção do autor) Vale também uma reflexão para os dias atuais, pois se compreendermos e aprendermos com o passado evitaremos muitos dos erros do presente e futuro, pois na atualidade não existe nada comparado ao que foi o PqRMM/2 e aquele grupo de oficiais, que atuou por aproximadamente 10 a 12 anos, fator importantíssimo para criar uma mentalidade voltada para esta importante atividade que é a produção de Material de Defesa. O que existe hoje são fragmentos de toda aquele infra-estrutura do passado, pois o próprio Parque foi extinto e seu material não foi sequer preservado, poucos dos protótipos e estudos existem e os existentes estão em precário estado de conservação, sua história não foi contada e é pouco conhecida pois parece que as empresas que deles se beneficiaram fizeram tudo sozinhas, o que não é verdade. No momento o que se vê é aqui e ali trabalhando na maioria das vezes separadamente, ficando muito mais no campo da teoria, sem conclusão prática dos trabalhos e aquelas empresas, também em sua grande maioria já desapareceram, o mesmo ocorrendo com seus arquivos e ferramental, muitos foram para o papel velho e outros sucateados, sua mão de obra especializada teve que sobreviver em outras áreas sem qualquer vínculo com que faziam no passado. A defasagem tecnológica neste campo, no Brasil, está se distanciando a passos largos em relação aos outros países e nossos equipamentos chegando ao fim de sua vida útil, embora tenha-se tentado um maior prolongamento de vida, aumentando nossa agonia, não resolvendo o problema e o horizonte no futuro não é dos mais claros... =========================================================== FIM