Apelação Cível n. 2008.022565-1, da Capital Relator: Juiz Rodrigo Collaço



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Transcrição:

Apelação Cível n. 2008.022565-1, da Capital Relator: Juiz Rodrigo Collaço APELAÇÕES CÍVEIS - AÇÃO DE RESSARCIMENTO DE DANOS MATERIAIS CAUSADOS EM ACIDENTE DE TRÂNSITO - INDENIZAÇÃO PAGA PELA SEGURADORA AO SEGURADO - SUB-ROGAÇÃO DE DIREITOS - VIATURA CONDUZIDA POR SERVIDOR PÚBLICO QUE COLIDE CONTRA A TRASEIRA DE VEÍCULO DE PARTICULAR - RESPONSABILIDADE CIVIL OBJETIVA DO ENTE ESTATAL - INEXISTÊNCIA DE DEMONSTRAÇÃO DE CULPA EXCLUSIVA DE TERCEIRO - PREJUÍZO PATRIMONIAL E NEXO DE CAUSALIDADE CONFIGURADOS - DEVER DE INDENIZAR INARREDÁVEL - JUROS DE MORA - TERMO A QUO - DATA DO DESEMBOLSO - RECURSO DA RÉ DESPROVIDO E RECLAMO DA AUTORA PARCIALMENTE PROVIDO 1. "O motorista que segue atrás deve manter atenção e uma distância segura do automóvel à frente que lhe permita, em situação de emergência, evitar uma colisão. Não observadas essas cautelas, deve-se reconhecer a culpa do condutor pelo abalroamento na parte traseira do carro que o precedia" (AC n. 2007.035559-7, relª Desa. Maria do Rocio Luz Santa Ritta, j. 27.10.09). 2. "'Na ação regressiva ajuizada pela seguradora, à indenização por danos materiais incidirão juros de mora, os quais tem por marco inicial não a citação do réu, causador do acidente de trânsito, mas a data do efetivo pagamento ao segurado, momento em que a instituição financeira sofreu o decréscimo patrimonial.' (TJSC, ACv n. 2006.046635-4, Rel. Des. Eládio Torret Rocha)" (AC n. 2008.004248-0, relª Desa. Maria do Rocio Luz Santa Ritta, j. 5.5.09). Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Cível n. 2008.022565-1, da comarca da Capital (Unidade da Fazenda Pública), em que é apte/apda Tokio Marine Brasil Seguradora S/A, e apdo/apte Estado de Santa Catarina: A Quarta Câmara de Direito Público decidiu, por votação unânime,

desprover o recurso da ré e dar parcial provimento ao apelo da autora. Custas legais. Participaram do julgamento, realizado em 8 de dezembro de 2011, os Excelentíssimos Senhores Desembargadores Cláudio Barreto Dutra (Presidente) e José Volpato de Souza. Florianópolis, 12 de dezembro de 2011 Rodrigo Collaço RELATOR

RELATÓRIO Trata-se de apelações cíveis que visam à reforma da sentença de fls. 394/398 proferida pelo juízo da Unidade da Fazenda Pública da Comarca da Capital que, nos autos da ação de ressarcimento de danos materiais causados em acidente de trânsito n. 023.03.660964-4 movida por Tokio Marine Brasil Seguradora S/A em face do Estado de Santa Catarina (figurando, ademais, como litisdenunciado Marcos Antônio Vilvert) - a qual possuía como a restituição dos valores suportados pela autora para a reparação de veículo segurado, que foi abalroado na traseira por viatura conduzida pelo preposto (denunciado) do ente estatal réu e, na sequência, lançado contra o automotor que seguia à frente -, julgou procedente o pleito para, consectariamente, condenar a administração ao reembolso da indigitada quantia despendida pela parte insurgente (R$ 3.471,00) - devidamente acrescido tal importe de correção monetária desde a data do decréscimo patrimonial e de juros de mora a partir da citação -, sem prejuízo, ainda, das despesas processuais e verba advocatícia, esta última na ordem de R$ 500,00. Outrossim, a pretensão encartada na denunciação da lide foi julgada procedente, restando o litisdenunciado condenado a arcar com todas as despesas que o poder público viesse a suportar na demanda principal e a pagar honorários advocatícios ao patrono do denunciante no valor de R$ 500,00. A autora, em seu apelo (fls. 402/406), roga a aplicação do dia do sinistro como termo inicial de incidência dos juros moratórios. O réu (fls. 408/411), por sua vez, aduz, em síntese, que a culpa pelo infausto acontecimento foi exclusiva de terceiro, eis que o servidor, naquele momento, trafegava em velocidade regular, observando os procedimentos padrões (giroflex, pisca-alerta e faróis ligados) e mantendo distância regular dos demais veículos, sendo que foi um automóvel proveniente da Argentina, precedente a todos os outros envolvidos no engavetamento, que enveredou manobra de freada brusca e inopinada, dando azo, assim, ao acidente. Contrarrazões da demandante às fls. 415/421 e do demandado às fls. 422/426), deixando o litisdenunciado transcorrer in albis referido prazo (fl. 427). Por força da decisão de fls. 431/432, os autos foram redistribuídos para esta Câmara de Direito Público. Este é o sucinto relatório. VOTO Inicialmente, calha notar que a sentença vergastada não está sujeita a reexame necessário, tendo em vista que, nos moldes do que estabelece o art. 475, 2º, do CPC, o valor da condenação - atualizado até a época da prolação do decisum - não excedeu sessenta salários mínimos vigentes naquele período. Estabelecida tal premissa, urge registrar, de antemão, que apenas o inconformismo da autora está a merecer parcial provimento.

1. Da responsabilidade civil da ré A responsabilidade civil do Estado réu, in casu, dever ser analisada sob a ótica objetiva, a teor do que dispõe o art. 37, 6º, da CRFB/88: "as pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa". Dessa feita, aplica-se à hipótese sub judice a teoria do risco administrativo, segundo a qual a parte lesada, desde que evidencie o dano suportado, bem como a correlação entre o alegado prejuízo e a conduta empregada pela administração, fica dispensada de comprovar culpa ou dolo, razão pela qual o poder público só poderá se eximir do seu dever de indenizar quando demonstrar a existência de alguma circunstância excludente de aludido nexo causal, como por exemplo a culpa exclusiva da vítima ou de terceiro ou, ainda, o caso fortuito ou a força maior. A respeito do assunto, Yussef Said Cahali elucida: "A jurisprudência mais atualizada vem-se orientando no sentido da dispensa da demonstração da culpa do agente estatal na condução do veículo oficial, fazendo deduzir a responsabilidade civil da administração pelos danos consequentes de colisão ou abalroamento. Em outros, com interpretação razoável, busca-se compatibilizar o princípio constitucional da responsabilidade civil do Estado com a responsabilidade objetiva fundada na presunção de culpa, para deduzir daí a dispensa da prova da culpa do motorista dirigente do veiculo oficial, transferindo ao Estado o ônus da contraprova que seja suficientemente hábil para elidi-la. Concilia-se, assim, a regra constitucional da responsabilidade objetiva do Estado, que se torna relativa diante da demonstração de excludente do dever de indenizar ante a prova de que o evento terá tido como causa a conduta culposa do próprio ofendido." (Responsabilidade civil do Estado. 3. ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2007. p. 228) Esta Corte também já assentou que, "nos acidentes automobilísticos decorrentes da ação dos agentes públicos, aplica-se a teoria da responsabilidade objetiva da Administração, definido no art. 37, parágrafo 6º, da Constituição Federal, que apenas é elidida ou atenuada nas hipóteses de culpa total ou parcial da própria vítima ou de terceiro, na produção do evento danoso, ou no caso de força maior" (AC n. 2008.070957-3, rel. Des. Pedro Manoel Abreu, j. 1º.9.09). Ocorre que, no caso concreto, resta clarividente o nexo causal entre os danos causados ao veículo segurado e a conduta imprudente adotada pelo agente vinculado ao réu, inexistindo, por outro lado, qualquer situação peculiar que possua o condão de afastar essa relação de causalidade material. Nesse diapasão, deve-se atentar que não procede a assertiva do réu de que a culpa pelo evento danoso teria sido exclusiva de um terceiro que trafegava à frente dos demais veículos sinistrados e que freou bruscamente o seu veículo. Como bem se sabe, é dever de qualquer condutor de um automotor guardar distância segura dos veículos que seguem à sua frente, de tal forma a evitar,

justamente, acidentes em situações inesperadas como aquela de que tratam os presentes autos. É o que preceitua a redação do art. 29, inc. II, da Lei n. 9.503/97: "Art. 29. O trânsito de veículos nas vias terrestres abertas à circulação obedecerá às seguintes normas: [...] II - o condutor deverá guardar distância de segurança lateral e frontal entre o seu e os demais veículos, bem como em relação ao bordo da pista, considerando-se, no momento, a velocidade e as condições do local, da circulação, do veículo e as condições climáticas;" Nesses termos, este Tribunal apregoa que, "o motorista que segue atrás deve manter atenção e uma distância segura do automóvel à frente que lhe permita, em situação de emergência, evitar uma colisão. Não observadas essas cautelas, deve-se reconhecer a culpa do condutor pelo abalroamento na parte traseira do carro que o precedia" (AC n. 2007.035559-7, relª Desa. Maria do Rocio Luz Santa Ritta, j. 27.10.09). De outra banda, não se pode olvidar que o suposto terceiro nem ao menos foi ouvido em juízo, inclusive para esclarecer se de fato houve uma freada brusca e, além disso, se tal procedimento decorreu de alguma peculiaridade do tráfego naquele dia, como, por exemplo, formação de fila, semáforo à frente ou outro acidente na pista. Finalmente, a par da suposta ação desse terceiro, convém lembrar que todos os automóveis precedentes ao veículo oficial conseguiram evitar a batida, razão pela qual não pairam dúvidas de que a desatenção do agente estatal foi determinante para o engavetamento. Assim, o veredicto de procedência da pretensão merece acolhida. 2. Do termo a quo dos juros de mora No que toca ao pedido da demandante de alteração do termo inicial de incidência dos juros de mora, que fora fixado na origem desde a citação do demandado, impende salientar que possui pertinência, ainda que por fundamento diverso, a pretensão, pois "quem pede o mais, pode ter deferido o menos" (AC n. 2005.017209-0, rel. Des. Luiz Cézar Medeiros, j. 23.9.09). Em que pese a requerente tenha postulado a incidência do encargo a partir do evento danoso, certo é que não se afigura coerente a aplicação do disposto na Súmula n. 54 do STJ no caso em apreço, eis que a restituição será feita à seguradora e não ao particular que, num primeiro momento, sofreu o dano, de modo que aludida prática implicaria enriquecimento ilícito. Nesse sentido, já se decidiu, em aresto amparado no entendimento do Superior Tribunal de Justiça: "'afasta-se a incidência da Súmula n. 54/STJ já que o pagamento da indenização será feito à empresa seguradora e não ao particular que efetivamente sofreu o dano' (STJ, REsp. 515187/RS, Segunda Turma, Relator: Ministro João Otávio de Noronha, julgado em 05/12/2006)" (AC n. 2004.001995-5, relª Juíza Denise Volpato, j. 15.10.09).

Em verdade, "'na ação regressiva ajuizada pela seguradora, à indenização por danos materiais incidirão juros de mora, os quais tem por marco inicial não a citação do réu, causador do acidente de trânsito, mas a data do efetivo pagamento ao segurado, momento em que a instituição financeira sofreu o decréscimo patrimonial' (TJSC, ACv n. 2006.046635-4, Rel. Des. Eládio Torret Rocha)" (AC n. 2008.004248-0, relª Desa. Maria do Rocio Luz Santa Ritta, j. 5.5.09). 3. Ante o exposto, o voto é pelo desprovimento do recurso da ré e pelo parcial provimento do reclamo da autora a fim de determinar que os juros de mora sobre a verba indenizatória incidam desde a data do desembolso do valor pago pela seguradora ao segurado.