Redes Digitais de Sociabilidade: Educomunicação e os Processos Colaborativos de Aprendizagem nas Universidades.



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Transcrição:

Redes Digitais de Sociabilidade: Educomunicação e os Processos Colaborativos de Aprendizagem nas Universidades. Sociability of Digital Networks: Educommunication and Collaborative Processes Learning in Universities. Denise Regina Stacheski Doutoranda em Comunicação e Linguagens Universidade Tuiuti do Paraná Denise.stacheski@utp.br Resumo: O objetivo do artigo, Redes Digitais de Sociabilidade: Educomunicação e os Processos Colaborativos de Aprendizagem nas Universidades é discutir caminhos para favorecer práticas pedagógicas, no ensino superior, por meio das redes digitais de sociabilidade, que possibilitam um processo mais colaborativo na construção do conhecimento, potencializando a interdisciplinariedade entre diversas áreas. Para isso, como parte de fundamentação, está a educomunicação que compreende a prática pedagógica como um ato comunicativo e integrador, ao promover a aprendizagem pelos meios de comunicação, aqui representada pelas redes sociais digitais. Essa participação, essa intervenção interdisciplinar da educomunicação, a bidirecionalidade, a multiplicidade de conexões são termos que devem estar inseridos na prática pedagógica universitária. Ações facilitadas pelas redes digitais de sociabilidade e sua potencialidade comunicacional. Palavras-chave: Educomunicação; redes digitais; processos colaborativos; aprendizagem; interdisciplinariedade. Abstract: The purpose of the article, "Digital Networks Sociability: Educational Communication and Collaborative Learning Processes in Universities" to discuss ways to promote teaching practices in higher education through digital networks of sociability, which enable a more collaborative process of building the knowledge, enhancing interdisciplinarity between different areas. For that as part of the reasons is educommunication which includes teaching practice as a communicative act and integrator, to promote learning through the media, here represented by social networks. This participation, this interdisciplinary interventions of educational communication, bidirectionality, multiple connections are terms that should be included in university teaching practice. Actions facilitated by digital networks of social communication and its potential Key-words: Educommunication; digital networks, collaborative processes, learning, interdisciplinarity. 1. Educomunicação e Processos Colaborativos de Aprendizagem 1

O avanço do conhecimento científico, das aplicações das tecnologias de informação e comunicação (TIC), como práticas pedagógicas exige novos paradigmas educacionais frente aos contextos sociais contemporâneos. Uma nova organização do conhecimento, maneiras de promover a utilização dos recursos tecnológicos em favor do próprio ser humano. Como afirma Kenski (2007, p.3): A relação biunívoca em que se entrelaçam educação e comunicação engloba os mais diferenciados assuntos, concepções e linhas teóricas, práticas, sujeitos, tempos e processos formais e não-formais conscientes e determinados, ou nem tanto assim. Envolve também manifestações humanas expressivas mediadas ou não em um sentido de transformação e continuidade das relações interpessoais. Abrange a autonomia para a produção e a realização de conteúdos midiáticos contextualizados, as próprias inovações, as interconexões possíveis entre processos e produtos comunicacionais; as montagens e edições como aprendizagens e descobertas, refletindo o sentido de aprender, os desejos de ir além e ultrapassar as fronteiras de si em múltiplas dimensões pessoais e sociais. Um modelo de pensamento mais aberto, fundamentado na complexidade que perpasse pela interação com o ambiente, a comunicação com o ecossocial, o incentivo aos valores atitudinais dos indivíduos, o ensino perante as incertezas, a execução da produção do conhecimento e o desenvolvimento de ação crítica e autônoma. Essa postura almejada do sujeito social exige dos educadores e educandos uma participação ativa e humana, um trabalho coletivo, um espírito de entreajuda, de cooperação, de parcerias, de comunicação e fundamentalmente de interdisciplinariedade entre as áreas do conhecimento, compreendendo a complexidade do todo. Dentro das Universidades, e nos demais níveis educacionais, alternativas de estruturação do saber escolar e do saber sistematizado (SAVIANI,2007), de gestão, de formação do professor, têm de ser planejadas, fomentando a interdisciplinariedade diversas áreas do conhecimento. Assim, para favorecer práticas pedagógicas, na Universidade, que vertam a esse caminho descrito, potencializando a interdisciplinariedade entre as áreas do conhecimento, está presente a educomunicação, que compreende a prática pedagógica como um ato comunicativo e integrador, promovendo a aprendizagem pelos meios de comunicação. Segundo Oliveira (2008), da Universidade de São Paulo, a Educomunicação surgiu durante a década de 1970 e tem como pressuposto que não há como educar sem se comunicar. Soares (2002, p. 24) conceitua educomunicação como: 2

O conjunto das ações inerentes ao planejamento, implementação e avaliação de processos, programas e produtos destinados a criar e a fortalecer ecossistemas comunicativos em espaços educativos presenciais ou virtuais, assim como a melhorar o coeficiente comunicativos das ações educativas, incluindo as relacionadas ao uso dos recursos da informação no processo de aprendizagem. Em outras palavras, a Educomunicação trabalha a partir do conceito de gestão comunicativa. Educomunicação, portanto, é o nome do campo acadêmico que discute as ações que unem as áreas de educação e comunicação social, percebendo que na atualidade a linguagem dos meios de comunicação se torna preponderante, muitas vezes, no processo de aprendizagem, desde a mais tenra idade. Um mundo imagético que constitui novas narrativas e discursos para os métodos de aprendizagem, bem como para a constituição de novas produções colaborativas e coletivas na escola. Os meios de comunicação, a mídia, como objeto de estudo e como ferramenta de aprendizagem. Abordagens que colaboram para compreensão do mundo, da coletividade e de seus relacionamentos. Segundo Kenski (2007, p.4): Reunida à comunicação, a educação é solicitada para invadir todos os campos, não isolada e ciosa de seus limites de formação e instrução, mas mediada, realizando na prática as interconexões e hibridismo que as potencializam e as indiferenciam. A indistinção entre os suportes tecnológicos, as técnicas subjacentes à produção e veiculação, os conteúdos veiculados e o próprio processo comunicacional-educacional em muitos dos estudos realizados colaboram para essa incompreensão e confusão. Um processo de convergência, de mudança de paradigmas que ainda geram muitas dúvidas e resistências. É função da Universidade formar cidadãos críticos, reflexivos, éticos e capacitados para atuarem em uma sociedade cada vez mais exigente (BUARQUE, 1994). Behrens (1999, p.2) afirma que uma metodologia que busca a simples reprodução de conhecimento, provando um ensino assentado no escute, leia, decore e repita, ainda é muito forte no ensino universitário. A Universidade não pode ter medo da reforma do pensamento (BUARQUE,1994). Não apenas as certezas cartesianas devem ser ensinadas, a ciência moderna tem de conversar com o incerto, com as dúvidas, com a complexidade e suas inter-relações (MORIN, 2002). 2. Redes Digitais de Sociabilidade na Aprendizagem 3

Neste artigo, os meios de comunicação a serem trabalhados são as redes digitais de sociabilidade e para Capra (1996) redes sociais são redes de comunicação (interconexões) que envolvem a linguagem simbólica (elementos representativos), os limites culturais (contextos vivenciados) e as relações de poder inseridos no grupo. As redes sociais podem se tornar redes de aprendizagem dentro das práticas pedagógicas. A caracterização fundamental de uma rede é que seus integrantes não se posicionam em uma ordem crescente ou decrescente de poder - e, sim, por meio de uma ligação horizontal circular - conectados a todos os demais. Recuero (2009, p. 24) define rede social como sendo um conjunto de dois elementos: atores (pessoas, instituições ou grupos, os nós da rede) e suas conexões (interações ou laços sociais). Uma rede, assim, é uma metáfora para observar os padrões de conexão de um grupo social, a partir das conexões estabelecidas entre os diversos atores. A abordagem da rede tem, assim, seu foco na estrutura social, onde não é possível isolar os atores sociais nem suas conexões. O objetivo maior da apropriação das redes digitais de sociabilidade como práticas de ensino é viabilizar uma comunicação significativa com base na interdisciplinariedade universitária, possibilitar que os indivíduos contextualizem suas percepções e representações por meio do todo, respeitando as diversidades mas, percebendo as várias ligações entre as ideias, as ciências, os modelos etc. Kenski (2007, p. 3) afirma: As novas formas de interação e comunicação em redes, oferecidas pelas mídias digitais, possibilitam a realização de trocas de informações e cooperações em uma escala inimaginável. Permitem o desenvolvimento de projetos colaborativos complexos e associações inesperadas. Wikipedia, Second Life, Craigslist, MySpace, Bebo, Facebook, Flickr são exemplos de espaços virtuais e informais de encontro na internet que permitem a construção coletiva aberta. Todos os que acessam são potencialmente produtores de informações e podem "colaborar", inserindo suas contribuições e opiniões em qualquer tipo de texto a que tenham acesso nesses ambientes. Revisões podem ser feitas periodicamente por especialistas e profissionais qualificados, o que não impede que novas inserções sejam incluídas. O crescimento é exponencial. Uma informação postada reflete-se em um número incalculável de comentários e novas contribuições de qualidade e origem diferenciadas. Ainda não há um número expressivo de propostas e práticas de interações mútuas (PRIMO, 2007), de pesquisas e projetos colaborativos (ANDRE, 2008), de 4

questões e práticas a serem construídas a partir de um pensamento complexo, de um todo nas Universidades. Métodos coletivos de aprendizagem e de formatação de grupos reflexivos no ensino superior permanecem submetidos a um paradigma conservador de ensino. O desafio encontra-se em nossa capacidade criativa e de adaptação ao meio e às novas exigências. Em ultrapassar a simples presença da tecnologia e produzir diferenças significativas nos processos de aprendizagem com os novos recursos disponíveis. Apropriar-se das tecnologias a favor de uma interdisciplinaridade entre as áreas do conhecimento, fomentando a religação do todo, do complexo. Kenski (2007, p.5) enfatiza: A ação educativa que se realiza como aprendizagem é mais complexa e compreende a essência da comunicação. Exige a participação plena e a intercomunicação frequente entre os diversos parceiros do processo. Todos devem estar envolvidos no mesmo desejo de avançar no conhecimento, ou seja, se transmutar, ser diferente. Ser melhor não apenas pelas aquisições cognitivas, mas pela formação ampla da pessoa em termos de valores, comportamentos individuais e sociais, capacidade crítica e autonomia para pensar e agir. Essa necessidade educacional é inerente ao ser e se apresenta em todos os seus momentos vivenciais, independente da escolarização. A participação, a intervenção transdisciplinar da educomunicação, a bidirecionalidade, a multiplicidade de conexões são termos que devem estar inseridos na prática pedagógica universitária (SILVA, 2001). Ações que são facilitadas pelo fortalecimento das redes de comunicação proporcionadas pelas redes digitais de sociabilidade. O incentivo ao diálogo, à prática de discussão com as demais áreas do conhecimento, ações que as redes digitais de sociabilidades potencializam com sua interação comunicacional. FREIRE (2006, p.38), em seus textos, argumenta que: a tarefa coerente do educador que pensa certo é, exercendo como ser humano a irrecusável prática de inteligir, desafiar o educando com quem se comunica e a quem se comunica, produzir sua compreensão do que vem sendo comunicado. Não há inteligibilidade que não seja comunicação e intercomunicação e que não se funde na dialogicidade. Em relação às modalidades de aprendizagem, via mediação tecnológica, se destaca SILVA (2001, p.76) quando caracteriza a modalidade interativa, sendo intuitiva que conta com o inesperado, com o acaso, com as junções não lineares e com o ilógico. Kenski também afirma (2007, p.6): 5

O distanciamento entre os comunicantes foi superado por meio de novos processos e suportes que viabilizaram os diálogos entre as pessoas por meio de correspondências, telefones, e-mails... A ampliação do acesso a novas formas comunicativas redefiniram os comportamentos e a cultura, gerando outros valores e aprendizagens coletivas. Categorias como tempo, espaço, distância e proximidade se transmutaram a cada incorporação das mais modernas tecnologias de comunicação e informação em cada época. A era do rádio, da televisão, do cinema... são momentos datados da evolução não apenas das mídias vigentes, mas de toda a sociedade, com as especificidades que cada um desses meios ofereceu. Nenhum desses meios, no entanto, se sobrepôs aos anteriores. Ao contrário, sempre coexistiram e se relacionaram de alguma forma. Trabalhar com e na interatividade é o foco a ser seguido nas redes digitais, prática pedagógica que pode ser potencializada pela mediação tecnológica. Um modelo direcionado à comunicação, ao diálogo e não apenas à distribuição da informação à educação bancária, como se referia Freire (2006). 3. Considerações Finais Em prol de reflexões e aplicações práticas para que uma educação de qualidade possa ser adquirida é fundamental uma reforma no pensamento e na formação do professor. Não bastam apenas novas técnicas e tecnologias se a estrutura do pensamento conservador e tradicional ainda se prioriza entre os docentes. Como afirma MORIN (2002, p.73), não se pode reformar a instituição sem ter previamente reformado os espíritos e as mentes, mas não se pode reformá-los se as instituições na forem previamente reformadas. Há a necessidade da mudança paradigmática, de uma nova visão aos conceitos pedagógicos e de mundo nas Universidades. A meta é elaborar práticas que incentivem o processo de criação coletiva entre as disciplinas dos cursos universitários utilizando a mediação por tecnologia citada - as redes digitais de sociabilidade. Aprendizagem na web como grupos de discussão, fóruns, blogs, entre outros ambientes e ferramentas de comunicação online já disponíveis nas Universidades brasileiras. Kenski (2007, p.7) aborda: 6 Como tecnologia de síntese, a internet viabiliza a convergência entre os diferentes formatos midiáticos existentes e altera as maneiras como as mensagens são veiculadas ou apreendidas. Apesar da flexibilidade e do movimento indiferenciado possibilitado pelo novo meio, a metáfora a ele relacionada ainda retoma a compreensão do processo comunicativo como

algo veloz, mas previsível e fisicamente delimitado. São as "infovias", "autopistas de informação e comunicação eletrônicas", as metáforas que pretendem explicar a nova realidade presente no virtual. A reforma do pensamento do professor universitário é necessária para que as novas gerações de educadores atuem de acordo com novos paradigmas e entendimentos nas próximas décadas. As redes digitais e a interdisciplinariedade, não são, em sua maioria, exploradas e apropriadas de forma correta pelos professores do ensino superior. O que predomina, ainda, é uma metodologia tradicional, dentro de um paradigma conservador, sistematicamente cartesiano, onde o educando recebe passivamente a informação fragmentada, sem que seja estimulada sua expressão criativa e transformadora (FREIRE, 2006), e sem que compreenda a visão das ciências e do mundo como um todo. O desafio é despertar o interesse, a participação do educador e do educando para a utilização de práticas pedagógicas, com o auxílio das tecnologias, que incentivem culturas escolares e que priorizem o raciocínio dos alunos, por meio de uma base conceitual sólida interdisciplinar, permitindo uma maior articulação de informações que orientem suas ações na vida (DAVIS, NUNES e NUNES, 2005). Referências ANDRÉ, Marli (Org.). O papel da pesquisa na formação e na prática dos professores. Campinas: Papirus, 2008. BEHRENS, Marilda Aparecida. O paradigma emergente e a prática pedagógica. Curitiba: Champagnat, 1999. BUARQUE, Cristovam. A aventura da universidade. São Paulo: Paz e Terra, 1994. CAPRA, Fritjof. A teia da vida: uma nova compreensão científica dos seres vivos. São Paulo: Cultrix, 1996 DAVIS, C., NUNES, M. M. R. e NUNES, C. A. A. Metacognição e sucessoescolar: articulando teoria e prática. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/cp/v35n125/a1135125.pdf. Acesso em fevereiro 2010. FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 2006. KENSKI, V. M. Educomunicação e comunicação: interconexões e convergências. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/es/v29n104/a0229104.pdf. Acesso em maio 2011. 7

MORIN, Edgar. Educação e complexidade: os sete saberes e outros ensaios. São Paulo: Cortez, 2002. PRIMO, Alex. Interação mediada por computador: comunicação, cibercultura, cognição. Porto Alegre: Sulina, 2007. RECUERO, Raquel. Redes Sociais na Internet. Porto Alegre, Sulina, 2009. SAVIANI, Demerval. História das ideias pedagógicas no Brasil. Campinas: Autores Associados, 2007. SOARES, I. de O. Gestão comunicativa e educação: caminhos da educomunicação. In: Revista Comunicação & Educação, Salesiana: São Paulo, n. 23, jan./abr. 2002, p. 16-25. SILVA, Marco. Sala de aula interativa. São Paulo, Quartet, 2001. 8