REDES DE APOIO SOCIAL E INCLUSÃO DIGITAL NA TERCEIRA IDADE



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Transcrição:

PÔSTER REDES DE APOIO SOCIAL E INCLUSÃO DIGITAL NA TERCEIRA IDADE Tatiane Krempser Gandra, Adriana Bogliolo Sirihal Duarte Resumo: O artigo analisa a rede de apoio social de um grupo de idosos que vivenciou o processo de inclusão digital. O objetivo da pesquisa, de cunho qualitativo, é identificar a rede de apoio de apoio social e compreender como ela influencia no comportamento informacional e nas formas de sociabilidade dos idosos. Utilizou-se uma metodologia análise de redes sociais, em conjunto com um método fenomenológico de pesquisa. A análise inicial dos resultados indica que os idosos assumem duplo papel na rede: como idoso que recebe o apoio social de diferentes fontes e como pessoa que fornece apoio a outros idosos. Dentre os tipos de apoio identificados estão o apoio material / instrumental, o apoio emocional e apoio informacional, sendo este último o mais constante na rede. Percebe-se, também, que a rede de apoio social e o processo de inclusão digital influenciam no comportamento informacional e nas formas de sociabilidade dos sujeitos. O estudo aponta a potência da análise de redes sociais como metodologia de apoio em estudam sobre os diversos fenômenos informacionais, como a inclusão digital. Palavras-chave: Inclusão digital. Terceira idade. Redes de apoio social. 1 INTRODUÇÃO O artigo analisa a rede de apoio social de um grupo de idosos incluídos digitalmente, como parte de uma pesquisa de mestrado em andamento. O objetivo geral é compreender como a rede de apoio social influencia no comportamento informacional e nas formas de sociabilidade dos sujeitos. Os objetivos específicos são: identificar e formalizar a rede de apoio social dos idosos; investigar os tipos de apoio mais percebidos pelos idosos; analisar o papel da rede como fonte de apoio informacional para os idosos. Recorre-se à aportes teóricos sobre inclusão digital e redes de apoio social para a compreensão do fenômeno estudado. 2 INCLUSÃO DIGITAL NA TERCEIRA IDADE Observa-se, a partir da década de 1990 no Brasil, a acelerada penetração das tecnologias da informação e comunicação (TICs) em todos os segmentos da sociedade, tornando-se cada vez mais presentes no cotidiano das pessoas. Neste contexto ganha destaque o binômio exclusão / inclusão digital, conceituado de diferentes modos por diversos autores. Nesta pesquisa o conceito adotado é o de Sorj e Guedes (2005), para quem o binômio inclusão / exclusão digital além de tratar do acesso físico a equipamentos e conexão, se refere às conseqüências sociais, econômicas e culturais da distribuição desigual no acesso a computadores e Internet. GT3 1034

A taxa de pessoas com mais de 60 anos na população brasileira cresce a cada nova estatística realizada. E surgem, também, cada vez mais estudos que indagam a respeito da interação de idosos com as tecnologias. Nunes (2006), Goulart (2007), Ferreira (2005) e Mendes (2010) ressaltam a importância de se pensar a interação entre os idosos com as novas tecnologias de modo contextualizado. Os programas de governo, ONGs ou iniciativas privadas devem desenvolver políticas de promoção do acesso às TICs utilizando abordagens e metodologias adequadas às especificidades destes sujeitos, visto que na velhice algumas habilidades podem ser prejudicadas, como a memória que tem grande importância no desempenho de atividades cotidianas e na aquisição, processamento e recuperação de informações, por exemplo. A interação dos sujeitos com as novas tecnologias está entrelaçada com a questão da aprendizagem por meio de recursos informatizados. Ao mesmo tempo em que são necessárias habilidades para que os sujeitos possam manusear e se apropriar das possibilidades oferecidas pelas tecnologias, estas podem ser um recurso muito útil em processos de aprendizagem e educação em geral (NUNES, 2006). Mendes (2010) atenta para o fato de que mesmo entre um grupo de idosos o processo de interação com o computador e a internet se dá de formas variadas de acordo com os diferentes sujeitos. Cada um, a sua maneira, experimenta a vivência de inclusão digital de formas diferentes. Isso reforça a importância de se contextualizar a inclusão digital à realidade de cada sujeito e a necessidade de políticas públicas específicas para este segmento da sociedade. 3 REDES DE APOIO SOCIAL Ao viver em sociedade as pessoas interagem e criam vínculos diversos com outros sujeitos, como as relações de amizade ou trabalho. Formam-se, assim, as redes sociais, que Wasserman e Faust (1999) definem como um conjunto de atores (nós) mais ou menos finito e todas as relações definidas entre eles. Gracia (1998) apud Rangel (2007) ressalta a importância de diferenciar alguns conceitos: rede social trata das características estruturais das relações sociais; o apoio social refere-se às funções a que esta rede se presta, bem como o efeito sobre o bem-estar das pessoas; o conceito de rede de apoio é mais restrito, considerando o conjunto de relações que desempenham funções de apoio e proporcionam ajuda concreta às pessoas. Na literatura há uma diversidade de modelos sobre tipos de apoio social. Um modelo muito utilizado é o de Barrón (1996), que identifica três tipos de apoio. GT3 1035

Tabela 1- Tipos de apoio social APOIO MATERIAL APOIO DE INFORMAÇÃO APOIO EMOCIONAL Ações e / ou materiais oferecidos por outras pessoas que facilitam ou resolvem atividades do dia-a-dia. Fornecimento de informações e / ou orientações relevantes que auxiliam o receptor a compreender os fenômenos que ocorrem em seu mundo e o ajudam a adaptar-se às situações. Refere-se a disponibilidade de alguém com quem se possa conversar, de modo que proporcione bemestar ao receptor, que se sente amado, respeitado e estimado. Fonte: Desenvolvido pela autora, baseado em Barrón (1996). As redes de apoio social revelam-se fundamentais para os idosos, auxiliando na manutenção de suas atividades cotidianas e proporcionando, além do auxílio material e de informação, o sentimento de que são estimados pela família, amigos e sociedade em geral. 4 METODOLOGIA Para alcançar os objetivos da pesquisa recorre-se à parceria entre a análise de redes sociais (ARS) e a fenomenologia. A ARS é utilizada para estruturar e formalizar a rede de apoio social de um grupo de oito idosos incluídos digitalmente. Utilizam-se o software de análise de redes sociais Ucinet 6 e a ferramenta NetDraw 2.111, de visualização. A entrevista semiestruturada é utilizada como instrumento de coleta de dados, fundamentada pelo método fenomenológico de pesquisa. O epoché é o primeiro dos principais passos do método fenomenológico e consiste na suspensão de crenças e juízos de valor por parte do pesquisador, para se olhar atentivamente para o fenômeno. O segundo passo é a redução eidética, momento em que o pesquisador busca desvelar a essência do fenômeno abordado (MOREIRA, 2004). O universo da pesquisa é composto por sujeitos idosos, com 60 anos de idade ou mais, que passaram por processo de inclusão digital, seja através de alguma inciativa de inclusão ou por iniciativa própria. Optou-se por uma amostra de oito idosos, baseando-se na visão de Moreira (2004), que observa este número como média nas pesquisas fenomenológicas, e no conceito de saturação amostral, que prevê a suspensão da inclusão de novos participantes para que não haja redundância na coleta e análise dos dados. A seleção da amostra foi realizada a partir da técnica bola de neve (GOODMAN, 1961), que consiste na procura de alguns indivíduos que tenham as características pretendidas, a partir do que os próprios respondentes indicam outras pessoas. GT3 1036

5 ANÁLISE DOS RESULTADOS Figura 1- Grafo da rede de apoio social e tipos de apoio oferecidos Fonte: Desenvolvido pela autora. O primeiro passo para responder aos objetivos da pesquisa foi a identificação dos atores que compõem a rede e, em seguida, do tipo de apoio oferecido durante a inclusão digital. Através da análise das entrevistas foi possível formalizar a rede de apoio social (FIG. 1). Os atores numerados de 1 a 8 são os idosos que vivenciaram o processo de inclusão digital e os atores numerados de 9 a 41 são as pessoas que, segundo as falas dos idosos, integram sua rede de apoio social. Alguns idosos assumem duplo papel dentro da rede: como idoso que recebe apoio social de diferentes fontes e como pessoa que fornece apoio a outros idosos. O idoso mais indicado como fonte de apoio pelos colegas foi o ator n 2. Utilizando as categorias sugeridas por Barrón (1996), definimos os tipos de apoio social oferecidos aos idosos. Analisando o duplo papel dos idosos, que recebem e fornecem apoio, foi possível constatar que o apoio oferecido por eles consiste nos tipos informacional e emocional. Às vezes eu não dava conta de fazer no computador o que a professora pedia no curso e ficava com vergonha disso. Aí se alguém na sala percebia, dizia pra eu não ficar com vergonha, que ele também não estava conseguindo fazer...ou, às vezes, eles me ensinavam e incentivavam pra não desistir (fala do idoso / ator 4). Analisando a rede em sua totalidade é possível perceber que os tipos de apoio predominantes são o informacional e o emocional, sendo o material / instrumental o menos percebido. O apoio material / instrumental é percebido pelos idosos como proveniente de amigos e familiares, que fornecem os equipamentos e serviços necessários para que eles tenham acesso ao computador e à GT3 1037

internet, especialmente nos casos em que o indivíduo se inclui sozinho ou com auxilio de amigos e familiares. O apoio emocional, além de percebido entre os próprios idosos, é oriundo, também, de amigos e familiares que tentam facilitar o processo de inclusão digital oferecendo carinho, atenção e companheirismo, dentre outros. O apoio de informação é o mais percebido pelos participantes da pesquisa, correspondendo desde trocas informacionais diversas e orientações até as trocas de experiências. Entre os próprios idosos o apoio informacional se dá, basicamente, por meio de troca de experiências relativas ao uso de novas tecnologias e a inclusão digital, seja no sentido de tirar dúvidas sobre as atividades do curso ou mesmo experiências de uso do computador e internet para outros fins. Já os familiares e amigos dos idosos são percebidos como fonte de apoio informacional, na medida em que os ajudam em casa, tiram dúvidas e ensinam sobre o uso do computador ou internet, além de participam da troca de experiências. Percebe-se que a troca de informações e experiências exerce grande influência na escolha dos dispositivos utilizados pelos idosos em seu comportamento informacional e formas de sociabilidade. Na época do curso que queria saber algumas coisas sobre diabetes, porque meu netinho tem, e não sabia como olhar isso na internet. Essa minha amiga foi me falando tudinho como eu tinha que procurar as informações sobre essa doença...e o curso também me ajudou muito, aprendi muito e agora eu já aprendi a fazer isso...procurar o que eu quero na internet (fala do idoso / ator 7). Ressalta-se o papel do apoio informacional, que se destaca na análise da rede social sob dois aspectos: primeiro, porque favorece o processo de aprendizagem dos dispositivos e recursos digitais, tanto por meio de orientações e informações dadas quanto por meio de trocas de experiências; segundo, porque influencia no modo como os idosos buscam e usam a informação no meio digital e nas suas formas de comunicação e sociabilidade, também por meio de trocas de informações e experiências. Em alguns casos, é justamente alguma necessidade informacional (como no caso de uma avó que queria utilizar a internet para buscar informações sobre diabetes, para entender a doença do neto) ou a necessidade de utilizar novas formas de sociabilidade (como uma mãe que se incluiu digitalmente com o objetivo de aprender a utilizar ferramentas como Skype e MSN para se comunicar com o filho que vive em outro país) que motiva os sujeitos a se incluírem. 6 CONCLUSÕES O presente estudo reforça a potência da ARS como metodologia de apoio em pesquisas que estudam os diversos fenômenos informacionais, como a inclusão digital. Especificamente sobre redes de apoio social, os estudos são mais frequentes na área da saúde, sendo ainda incipientes em outras áreas, como na Ciência da Informação (CI). Analisando as falas dos entrevistados, percebe-se que, no decorrer do processo de inclusão digital, são suscitados sentimentos e reações ambíguas e contraditórias. Mas ao final da experiência, GT3 1038

em geral, os idosos apresentam sentimentos e impressões positivas do fenômeno que vivenciaram. Embora seja possível traçar considerações que são comuns aos participantes da pesquisa, o processo de inclusão digital é vivenciado de maneira singular pelos diferentes sujeitos. Cada idoso desenvolve uma relação peculiar com as novas tecnologias, sentindo-se mais ou menos à vontade na interação com elas. Isto reforça a importância das redes de apoio social dos idosos tanto durante o processo de inclusão digital, que foi o foco desta pesquisa, quanto em quaisquer momentos de suas vidas. Abstract: This article analyses the social support network from a group of elderly that have lived the process of digital inclusion. The objective of the research, that has qualitative character, is identify the social support network and understand how it influences in the information behavior and in the forms of sociability of elderly. Used a methodology of analysis of social network, together with a phenomenological method of search. The initial analysis of the results indicates that the elderly assume dual role in the network: like elderly that receive social support from different sources and like a person that gives support to other elderly. Among the types of support are identified material/ instrumental, emotional support and informational support, the latter being the most constant in the network. It also realizes that the social support network and the process of digital inclusion influence on information behavior and in the forms of social subjects. The study shows the power of social network analysis as a methodology to support studies about the several phenomena informational, like the digital inclusion. Keywords: Digital inclusion. Seniors. Social support networks. REFERÊNCIAS BARRON, A. I. Apoyo social: aspectos teóricos y aplicaciones. Madrid: España Editores, 1996. GOODMAN, Leo A. Snowball Sampling. Annals of Mathematical Statistics. v.32, p. 148-170, 1961. GOULART, Denise. Inclusão digital na terceira idade: a virtualidade como objeto e reencantamento da aprendizagem. 2007. 219 p. Dissertação (Mestrado em Educação) Faculdade de Educação, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2007. MENDES, Daniele Cristina. Navegando por entre trilhas digitais com novas e velhas gerações. 2010. 114 p. Dissertação (Mestrado em Educação) Faculdade de Educação, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2010. MOREIRA, Daniel Augusto. O método fenomenológico na pesquisa. São Paulo: Thomson Learning, 2004. 152 p. NUNES, Vívian Patrícia Carbelon. A inclusão digital e sua contribuição no cotidiano de idosos: possibilidade para uma concepção multidimensional de envelhecimento. 2006. 55 p. Dissertação (Mestrado em Gerontologia Biomédica) Instituto de Geriatria e Gerontologia, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2006. RANGEL, María Piedad. Redes sociais: pessoais: conceitos, práticas e metodologia. 2007. Tese GT3 1039

(Doutorado em Psicologia) - Faculdade de Psicologia, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre. 2007. SORJ, Bernardo; GUEDES, Luís Eduardo. Exclusão digital: problemas conceituais, evidências empíricas e políticas públicas. Novos estudos CEBRAP, São Paulo, n. 72, p. 101 117, jul. 2005. WARSCHAUER, Mark. Tecnologia e Inclusão Social: a exclusão digital em debate. São Paulo: Senac, 2006. 319 p. WASSERMAN, Stanley; FAUST, Katherine. Social Network Analysis: methods and applications. In: Structural analysis in social the social sciences series. Cambridge: Cambridge University Press, 1999. GT3 1040