SEMANA DE ARTE MODERNA DA UESB: O ENSINO DA LITERATURA E OUTRAS ARTES EM QUESTÃO. Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia/UESB Campus de Jequié



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Transcrição:

SEMANA DE ARTE MODERNA DA UESB: O ENSINO DA LITERATURA E OUTRAS ARTES EM QUESTÃO SANTOS, Selma Melo Silva Orientadora: Profª. Drª. Maria Afonsina Ferreira Matos Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia/UESB Campus de Jequié RESUMO: Este trabalho visa apresentar os resultados da Semana de Arte Moderna da UESB, que propiciou conhecimentos literários entre os interessados pela literatura brasileira e outras artes. O objetivo foi promover o conhecimento sobre o Modernismo em múltiplas formas, possibilitando a livre troca de informações literárias entre os participantes, o que lhes permitiu pensar, ser cidadão mais crítico da situação, entender e conhecer o processo de formação do Modernismo, ser parte dele, continuá-lo e modificá-lo. PALAVRAS-CHAVES: Modernismo. Literatura Brasileira. Artes. Ensino. 1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS A Literatura nada mais é do que a arte de inventar, recriar e reconstruir o seu cotidiano através dos escritos artísticos. Desta forma, acompanha o ser humano, provendo-o com a ficção imprescindível para enfrentar os empecilhos da vida, tentando responder as suas indagações e possibilitando a instauração do diálogo entre textos e leitores de todas as épocas. Assim, é um direito inerente a todo ser humano participar do circuito de conhecimento literário, de ideias e de discursos, uma vez que a Literatura deixa suas marcas, tornando o conhecimento literário uma experiência ímpar. Antes de tudo, dentre as inúmeras possibilidades interpretativas, é pertinente fazer uma ressalva a conceituação aplicada ao estilo de época consagrado de Modernismo, pois assim, será possível demonstrar como se desenvolveu o Modernismo Brasileiro dentro das abrangentes questões que envolvem a modernidade no seu aspecto

mais geral, apesar de ser um termo complexo e contraditório, que envolve rupturas, paradoxo e transformações. Essa mesma ordem de ideias é elaborada por Marshall Berman em Tudo que é sólido desmancha no ar (1986), quando propõe conceituar primeiro o ser moderno, descrevendo as principais características deste. Ser moderno é viver uma vida de paradoxo e contradição. É sentir-se fortalecido pelas imensas organizações burocráticas que detêm o poder de controlar e freqüentemente destruir comunidades, valores, vidas; e ainda sentir-se compelido a enfrentar essas forças, a lutar para mudar o seu mundo transformando-o em nosso mundo. É ser ao mesmo tempo revolucionário e conservador: aberto a novas possibilidades de experiência e aventura [...] (BERMAN, 1986, p. 13). O reconhecimento desse fato, no entanto, é apenas o primeiro passo para o crítico descrever a modernidade como um conjunto de experiências e declarar que para ser moderno é necessário vivenciar as contradições, angústias, ambiguidades e mudanças do mundo moderno. [...] A experiência ambiental da modernidade anula todas as fronteiras geográficas e raciais, de classe e nacionalidade, de religião e ideologia: nesse sentido, pode-se dizer que a modernidade une a espécie humana. Porém, é uma unidade paradoxal, uma unidade de desunidade: ela nos despeja a todos num turbilhão de permanente desintegração e mudança, de luta e contradição, de ambigüidade e angústia. Ser moderno é fazer parte de um universo no qual, como disse Marx, tudo o que é sólido desmancha no ar. (IDEM, 1986, p.15) Para melhor compreensão deste aspecto, Charles Baudelaire (1996) utiliza uma linguagem poética para relatar que a modernidade é a união do passageiro, do incerto com o eterno, sendo que o passageiro é o moderno e o eterno é o belo, a beleza natural. Então, ele enfatiza a ideia de beleza e afirma que toda modernidade para tornarse antiguidade, é necessário que dela se extraia a beleza misteriosa que a vida humana involuntariamente lhe confere. Sendo assim, o modernismo é um estilo, e para concretizá-lo é necessário que aconteça a modernidade, ou seja, é preciso que aconteçam mudanças tanto no âmbito tecnológico como no social e político. Mediante esses fatos, a arte brasileira obtém nova roupagem e é vista com um caráter bastante irreverente, ocasionado por um grupo de intelectuais e artistas que cansados de ver os brasileiros tomarem de empréstimo a arte da Europa, resolve realizar em São Paulo uma exposição artística com pintura, escultura, música, poesia, peças teatrais, tudo moderno e chocante, conhecida como A Semana de Arte Moderna. É pertinente lembrar, que a modernidade no Brasil só surgiu quando a de outros países já

estava na terceira fase, tendo como inspiração as vanguardas europeias. Passou por vários processos de transformação, vivenciando todos os paradoxos e as angústias comuns à modernidade. Contudo, A Semana de Arte Moderna causou muito tumulto e mudou a arte brasileira. Vale ressaltar, que foi através do modernismo brasileiro que alguns escritores criaram interesse por problemas econômico-sociais e que houve renovação não só no plano da poesia e do romance, mas também no conto, na sociologia, nos estudos históricos e econômicos. Por conseguinte, quanto mais se conhece esse contexto histórico mais se adquire conhecimento e modifica o nosso modo de olhar e pensar. 2. RELEMBRANDO A SEMANA DE ARTE MODERNA DE 1922 Em fevereiro de 1922, mais precisamente no período de 11 a 18, realizou-se em São Paulo A Semana de Arte Moderna. O objetivo dos organizadores era acima de tudo a destruição das velhas formas artísticas veiculadas através da literatura, música e artes plásticas... Ao mesmo tempo, pretendiam uma arte extremamente vinculada à realidade brasileira, mas em sintonia com as Vanguardas Europeias... A cidade entrou em plena ebulição cultural. Sob a inspiração de novas linguagens, de novas experiências artísticas deu-se uma liberdade criadora sem igual e um consequente rompimento com o passado. Novos conceitos foram difundidos e talentos, até então desconhecidos, ganharam espaços nesse novo cenário cultural. A historiografia literária brasileira convencionou a realização das manifestações da Semana de Arte Moderna (1922), organizada em São Paulo, como o Movimento Modernista ou Modernismo. No entanto, conforme Mário de Andrade, A Semana marca uma data, isso é inegável. Mas o certo é que a pré-consciência primeiro, e em seguida a convicção de uma arte nova, de um espírito novo, desde pelo menos seis anos viera se definindo no [...] sentimento de um grupinho de intelectuais paulistas. [...] (ANDRADE, 1974, p.232). Além disso, Nelson Werneck Sodré que faz várias referências a Mário de Andrade no livro História da Literatura Brasileira informa que o modernismo foi a expressão do processo histórico brasileiro e esclarece que o modernismo brasileiro rompeu radicalmente com o passado. Nesse molde, a Semana não foi o ponto de partida, mas o ápice da renovação que se manifestava desde princípios do século XX, ainda que seja referida como marco do Movimento Modernista Brasileiro.

Dentre os artistas presentes na Semana de Arte Moderna, pode-se lembrar de nomes como: Mário de Andrade, Oswald de Andrade, na literatura; Victor Brecheret, na escultura; e Anita Malfatti, na pintura; Villa Lobos, na música. Este movimento eclodiu em um contexto repleto de agitações políticas, sociais, econômicas, culturais... e foi traduzido por slogans do tipo: Não sabemos o que queremos. Mas sabemos o que não queremos de Oswald de Andrade; Está fundado o desvairismo! de Mário de Andrade; e Não há mais poesia,/mas há artes poéticas de Manuel Bandeira. Uma das principais características do modernismo brasileiro é a liberdade de estética, ou seja, os poetas não seguem regras, eles criam as suas próprias, sendo uma literatura mais voltada a aspectos socioculturais. Partindo deste pressuposto, Antonio Candido e José Aderaldo Castello demonstram claramente essa abordagem no livro Presença da Literatura Brasileira ao afirmarem que o que unificava os modernistas era um grande desejo de expressão livre, cujo desejo principal foi o de serem atuais, de exprimir a vida diária, de dar estado de literatura aos fatos da civilização moderna, buscando uma expressão mais coloquial, próxima do modo de falar brasileiro. [...] No Brasil, ele significava principalmente libertação dos modelos acadêmicos. [...] afirmaram a sua libertação em vários rumos e setores: vocabulários, sintaxe, escolha dos temas, a própria maneira de ver o mundo. (1975, p.9/10) Já Alfredo Bosi no livro História Concisa da Literatura sobre as características do Modernismo Brasileiro relata que: Falando de um modo genérico, é a sedução do irracionalismo, como atitude existencial e estética, que dá o tom aos novos grupos, ditos modernistas, e lhes infunde aquele tom agressivo com que se põem em campo para demolir as colunas parnasianas e o academismo em geral. (BOSI. 2006, p.325) Contudo, Afrânio Coutinho no livro A Literatura no Brasil, no qual aborda A crítica Modernista aponta que o modernismo foi, no Brasil, a obra de uma geração de espíritos críticos entre os quais nenhum exerceu naquele momento a crítica literária propriamente dita. Ocorre então, nas origens do movimento, um duplo paradoxo: por um lado, é um processo de criação realizado por espíritos críticos; por outro lado, nenhum desses espíritos críticos levou a efeito, no período heróico, uma notável tarefa crítica. (COUTINHO. 2004, p.591) De encontro à afirmação de Coutinho, Wilson Martins em A literatura Brasileira: O Modernismo descreve com precisão o conceito de Modernismo. Mais do que uma simples escola literária ou, mesmo, um período da vida intelectual, o Modernismo foi, [...] toda uma época da vida brasileira, inscrito num largo processo social e histórico, fonte e resultado de transformações

que extravasam largamente dos seus limites estéticos. [...] (MARTINS, 1916-1945, p.12/13) Chegados a esse ponto, fica evidente o quão importante foi a Semana de Arte Moderna para o Brasil, que de acordo com Martins introduziu um novo estado de espírito e foi a mais profunda de todas as nossas revoluções literárias (MARTINS, 1916-1945, p.17). 3. RESULTADOS COMENTADOS DA SEMANA DE ARTE MODERNA DA UESB Muito se discute sobre a Semana de Arte Moderna, o Movimento Modernista e o Modernismo. Na História da Literatura Brasileira, há quem legitime suas manifestações culturais. Há quem as veja com certas reservas e quem resista às mesmas. Seus maiores defensores foram, evidentemente, os seus mentores e organizadores liderados por Graça Aranha, Mário de Andrade e Oswald de Andrade... Do lado das resistências, basta lembrar as ruidosas vaias diante das quais eles expunham ao público os ideários de vanguarda. Ilustrativo das polêmicas em torno do tema é o caso Anita Malfatti, quando da publicação de Paranóia Ou Mistificação de autoria de Monteiro Lobato. Lobato, afeiçoado ao realismo pictórico e vendo com reservas a suposta independência cultural preconizada, desfecha críticas à pintura de Anita. A repercussão decorrida desse episódio vai configurar o sentido e as práticas de um movimento nascido entre a tradição e a modernidade, o desejo de afirmação cultural e a dúvida quanto à sua realização efetiva. De qualquer sorte, houve uma iniciativa que alterou o estado de coisas naquele momento histórico e permitiu maior liberdade de expressão aos artistas a partir de então. Ademais, o evento foi pensado com o intuito de colocar em prática o que se aprendeu durante as aulas de Literatura Brasileira III sobre o Modernismo, já que teoria e prática devem caminhar juntas para que se possa confrontar a prática através da teoria, além de dinamizar as aulas e resgatar a autoestima dos discentes, ou seja, proporcionar uma aprendizagem prazerosa, dinâmica e, sobretudo, participativa. Por isso, a Professora Dra. Maria Afonsina Ferreira Matos, ministrante do referido componente curricular, juntamente com os alunos do IV semestre do curso de Letras da mencionada disciplina, organizaram a Semana de Arte Moderna da UESB que aconteceu nos dias 26 a 28 de Novembro de 2009, cujo principal objetivo era trabalhar os conteúdos da Semana de Arte Moderna em múltiplas formas, possibilitando a livre força de

experiências entre os participantes e a promoção do exercício de conhecimento dentro e fora da Universidade, além de incitar o estudante a uma melhor aprendizagem proporcionada por reflexões críticas acerca do movimento Modernista. Cumpre salientar que a Semana de Arte Moderna da UESB foi dividida em três etapas, são elas: 1ª etapa - Fase de planejamento, na qual o grupo preparou todo o material de divulgação e o colocou em circulação nas escolas e comunidade em geral, organizou o espaço de exposições e criou toda a infraestrutura necessária ao desenvolvimento das atividades, agendou visitas de escolas e elaborou um caderno cultural para circulação no Jornal da cidade e região. Já na 2ª etapa - Fase de execução, o grupo ofereceu assistência aos convidados e executou as atividades previstas para os discentes recitais, exposição de banners, coordenação de mesa, distribuição do Caderno Cultural e realizou todas as atividades de uma equipe organizadora de um evento. E por fim, na 3ª etapa Fase final, os estudantes após o término dos trabalhos, desmontou a exposição e fizeram a devolução do material exposto, além de confeccionar o relatório de atividades. 3.1 Atividades desenvolvidas no evento A Semana de Arte Moderna da UESB aconteceu durante três dias, e com programação para todos os turnos. O primeiro dia 26/11/09 (quinta-feira) foi mais teórico, com discussões, debates, palestras e diálogos dando ênfase ao tema Modernismo. Nesse dia sucedeu-se a Mesa de abertura com os representantes da UESB e da Secretaria de Cultura da cidade; Apresentação da proposta da Semana feita pelos alunos do IV semestre de Letras; Apresentação do Ballet; Mesa Temática com as seguintes abordagens: Espírito moderno, A escrava que não era Isaura e jogral do poema Os sapos; Apresentação da mesa-redonda Ecos de Modernidade em Outros Tempos e Lugares na qual se discutiu a Literatura Grega, Inglesa, Latina, Africana e Portuguesa; Exibição dos filmes: Eternamente Pagu e Lição de Amor; Sessão de pôsteres, cujo tema foi A Semana de Arte Moderna e a Literatura Modernista; Exposições; Lançamentos e por fim, recital de piano Tom Jobim, Vinícius de Moraes. Já o segundo dia 27/11/09 (sexta- feira) foi mais descontraído, com mais prática, no qual aconteceu Recital de piano Tom Jobim, Vinícius de Moraes; Exibição dos filmes: Macunaíma, Vidas Secas e Grande Sertão Veredas; Oficina de teatromímica e clown; Apresentação do grupo teatral ARTEFACES; Apresentação do Trio

Zabumbaia; Apresentação do coral da AJECE; Exposições; Lançamentos; Sessão de pôsteres sobre temas e autores modernistas e show de voz e violão. E por fim, o último dia 28/11/09 (sábado), nesse dia aconteceu a Apresentação de músicas e poesias; Exibição dos filmes: o Auto da Compadecida, sessão de pôsteres sobre temas e Autores Modernistas e Apresentação da História do Teatro pelos alunos do IV semestre de Letras. Vale notar, através desta programação, o quão diversificada e bem organizada foi a Semana de Arte Moderna da UESB, fazendo com que os estudantes voltassem no passado e vivenciasse esse período tão marcante da nossa história. 3.2 Análise dos objetivos atendidos Ao final do evento, verificaram-se os espaços de discussões sobre a Semana de Arte Moderna, suas teorias e práticas; a participação do público na formação de hipóteses e discussão de questões básicas da Semana, nas diversas áreas da arte e tentear respondê-las através do debate interdisciplinar; a troca de conhecimentos, no espaço acadêmico e a reunião de pessoas interessadas em conversar sobre a Literatura, arte, filosofia, educação e história, etc. Vale lembrar que as atividades foram prestigiadas pela comunidade acadêmica e pela comunidade externa à UESB e que os comentários e a repercussão do evento na UESB, na comunidade e nos locais por onde circulou o Caderno Cultural foi a mais positiva possível. Todos louvaram a iniciativa dos estudantes, a qualidade da programação e o cuidado na organização do evento; 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS A educação é um processo de ensino-aprendizagem que tem como objetivo desenvolver um cidadão crítico-reflexivo, sendo o professor um dos principais mediadores desse processo. Partindo desse pressuposto pode-se avaliar que a educação no Brasil vem enfrentando sérias dificuldades, a cada ano o interesse e a desmotivação dos alunos e dos professores aumentam. Por isso, pensou-se em inovar o conteúdo da referida disciplina, fazendo com que durante a organização e realização do evento, prevalecessem os espaços de discussões a cerca da Arte Moderna, bem como a

problematização gerada pela Semana de 1922 e seus reflexos para as Artes no Brasil. As apresentações de banners, as mesas temáticas, as exposições de arte e os recitais possibilitaram a troca de conhecimento entre professores, estudantes, músicos, artistas e a comunidade. Esta troca de conhecimentos permitiu uma melhor socialização do tema e possibilidade de novas leituras para os envolvidos nas atividades de modo geral. Portanto, os conhecimentos adquiridos pelos alunos/organizadores do evento foram incomensuráveis tanto no que se refere à organização de evento como a propósito do Modernismo e seus desdobramentos.

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANDRADE, Mário de. O movimento modernista. In:. Aspectos da Literatura Brasileira. 5ª ed. São Paulo: Liv. Martins. 1974. BAUDELAIRE, Charles. Sobre a Modernidade: o pintor da vida moderna. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1996. BERMAN, Marshall. Tudo que é sólido desmancha no ar: a aventura da modernidade. São Paulo: Companhia da Letras, 1986. BOSI, Alfredo. História Concisa da Literatura Brasileira. 47ª ed. São Paulo: Cultrix, 2006. CANDIDO, Antonio e Castello, José Aderaldo. Presença da Literatura Brasileira. 5ª ed. São Paulo - Rio de Janeiro: Difel, 1975. COUTINHO, Afranio. A Literatura no Brasil: Era Modernista. 7ª ed. Vol. 5. São Paulo: Global, 2004. MARTINS, Wilson. A Literatura Brasileira: O Modernismo. Vol. VI. São Paulo: Cultrix, 1916-1945. MOISÈS, Massaud. A literatura brasileira através dos textos. São Paulo: Cultrix, 2007. SODRÉ, Nelson Werneck. História da Literatura Brasileira. 10ª ed. Rio de Janeiro: Graphia, 2002.