BULLYING NA ESCOLA: UM ESTUDO COM ALUNOS E PROFISSIONAIS DE ESCOLAS PÚBLICAS



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Transcrição:

BULLYING NA ESCOLA: UM ESTUDO COM ALUNOS E PROFISSIONAIS DE ESCOLAS PÚBLICAS CARVALHO, João Eloir PUCPR/ GELL joao.eloir@pucpr.br Eixo temático: Violências nas escolas Agência Financiadora: não contou com financiamento Resumo O bullying existe nas escolas, desde as primeiras séries, causando sofrimento aos envolvidos. As crianças que sofrem ações de bullying, dependendo do meio onde vivem, do ambiente familiar e principalmente de suas características pessoais ao tratar com seus próprios problemas, poderão superar os traumas vividos ou crescer com sentimentos negativos, relacionados à sua auto-estima, produzindo dificuldades nas relações com as pessoas que fazem parte do seu cotidiano. Este estudo teve como objetivo identificar o conhecimento e a incidência dos casos de bullying no contexto escolar, as intervenções para a redução das práticas agressivas entre crianças e identificar a percepção do bullying, junto a profissionais das escolas públicas. Os questionários foram aplicados com 34 turmas, totalizando 923 alunos, além de 65 profissionais de quatro escolas públicas de São José dos Pinhais PR. Os resultados apontam 80% de agressividade, em todas as escolas pesquisadas mais de 40% dos alunos já estiveram envolvidos em casos de bullying, sendo vítimas ou agressores e a maioria dos professores acreditam que a violência está mais presente nas escolas nos dias atuais, que em outras épocas e que as situações mais comuns, são as agressões verbais entre os alunos. Palavras chave: Bullying. Crianças. Escola. Introdução Dentro do contexto escolar observam-se manifestações que envolvem a violência e suas formas de agressão, atualmente, destaca-se o fenômeno denominado bullying e as questões relativas ao enfrentamento entre pares, tornam-se cada vez mais relevantes, apesar de históricamente já estar nele inserido, há muito tempo. O bullying, conforme a literatura, é definido como um comportamento agressivo e de intimidação, apresentando um conjunto de características comuns, que se identificam nas estratégias de intimidação a outra pessoa e que geralmente resultam em práticas violentas exercidas por um indivíduo ou grupos e que se caracterizam pelo seu caráter regular e

16011 freqüente. Conforme (Olweus, 1993a) no conceito de bullying está contida a agressão individual e em grupo. Smith & Sharp (1994) definem por bullying o abuso sistemático de poder entre pares ou um processo de agressão intencional e repetido (OLWEUS, 1993b). Há de se levar ainda em conta duas características adicionais referente ao bullying, as quais parecem estar associadas; a primeira está relacionada aos benefícios diretos que envolvem o agressor e a segunda está refletida na satisfação pessoal em maltratar o outro (Pereira, 2001). Pereira (2002, p.16), define o tema por comportamentos agressivos de intimidação ao outro e que resultam em práticas violentas exercidas por um indivíduo ou por pequenos grupos, com caráter regular e freqüente. O termo bullying pode estar associado ao termo agressividade, por não se conseguir uma tradução fiel do fenômeno na língua portuguesa, portanto necessita de uma identificação. O bullying como uma ação direta, engloba a forma física e verbal, e a indireta está relacionada com as ameaças e exclusões. Diversos estudos ressaltam que as agressões físicas são mais comuns entre os rapazes e que entre as meninas são as verbais que aparecem com maior ênfase. Pereira (2001, p.29) refere-se às formas indiretas, como agressões mais difíceis de serem identificadas e produzem efeitos mais sérios e, sobretudo mais duradouros. Ainda Lopes (2005, p.166), classifica o fenômeno bullying da seguinte forma: o bullying direto, que engloba a imposição de apelidos, assédios, agressões físicas, ameaças, roubos e ofensas verbais; o bullying indireto, que envolve atitudes de indiferença, isolamento e difamação e o Cyberbullying. Os diversos conceitos relativos à violência e a agressividade nos leva a uma questão central, o entendimento de que a concepção da violência não é necessariamente a mesma em nossa sociedade como em outros povos e culturas, assumindo formas diversas como: agressividade, vandalismo, perturbações do comportamento, indisciplina ou bullying. Desenvolvimento O bullying pode se manifestar de diferentes maneiras e provocar atitudes desiguais em seus praticantes, segundo Pereira (2002) as diferentes formas e papéis assumidos pelos participantes dos casos de bullying, geralmente alunos, podem estar definidos dentro dos perfis que se apresentam: agressor, vítima, vítima/agressor e o expectador.

16012 Os agressores usam de sua influência para que suas vontades sejam realizadas, além da busca para ser o centro das atenções. Sentem-se recompensados por obterem status e o poder, sentindo prazer em estar no papel que desempenham durante suas ameaças, agressões ou a ridicularização das vítimas. As vítimas sentem-se prejudicadas e dificilmente pedem ajuda, demonstram desinteresse, medo e falta de vontade para frequentar a escola, procurando justificar suas ausências. Os problemas sofridos pelas vítimas, mesmo após o período de agressões na escola, podem ter como consequência, a depressão e a auto-estima em constante desequilíbrio. Os observadores, aprendem a conviver com os casos de bullying e se calam, tornam-se testemunhas sem envolvimento direto, adquirindo sentimentos negativos em relação aos fatos observados. Uma questão muito séria pode ser transformada em uma banalidade, ao se admitir de forma irresponsável determinadas verdades, como as que seguem: 1. Afinal, quem nunca sofreu ou praticou zombarias em seus anos escolares? 2. Quem nunca apelidou ou recebeu apelidos? As várias pesquisas sobre o tema demonstraram que as consequências dessa prática, especialmente para as vítimas, são demasiadamente graves para as aceitarmos como simples gracejos ou divertimento. As consequências mais comuns para as criança vitimadas pelo bullying são: baixa auto-estima, baixo rendimento e evasão escolar, estresse, ansiedade e agressividade. Em síntese, muitas conseqüências da vitimação podem também ser associadas à sua causa, observando-se um feedback permanente entre o output e o input, reforçando certas tendências e agravando as dificuldades (Pereira, 2008). Apesar do fenômeno da violência e do bullying serem históricamente uma ocorrência antiga na sociedade e na escola, as primeiras intervenções publicadas estão relacionadas às pesquisas desenvolvida na Noruega, no ano de 1983, com 130.000 estudantes e que teve como principal objetivo, verificar a incidência de participação dos alunos em casos de bullying. As pesquisas sobre a temática no Brasil encontram-se ainda em um estágio de desenvolvimento inicial em relação a outros países e continentes, onde os projetos de intervenção recebem investimentos mais aprofundados. A ABRAPIA realizou um estudo com 5875 alunos na cidade do Rio de Janeiro, os resultados apontaram que 40,5% ja tinham

16013 envolvimento com os casos de bullying relatados, 16,9 % eram vítimas, 12,7% agressores e ainda 10,9% vítimas/agressores. A mesma pesquisa ainda destacou que 60% dos participantes apontaram a sala de aula como o local de maior ocorrência dos casos de bullying. (Oliboni, 2008) A escola pode reduzir os problemas relacionados ao bullying, criando programas de intervenção, acompanhando sua evolução, criando um ambiente favorável, e primordialmente aceitando as situações de bullying no seu contexto social. Deve ainda informar aos pais os esforços para a prevenção e intervenção, convidandoos para encontros e palestras sobre o tema, para incentivar e permitir a segurança necessária aos alunos, a fim de que possam buscar o apoio em todas as instâncias possíveis. Este estudo é parte da tese de doutoramento em Estudos da criança, em desenvolvimento na Universidade do Minho Portugal, tendo por objetivo identificar o conhecimento e incidência dos casos de bullying e os benefícios das atividades lúdicas para a redução das práticas agressivas entre pares, com crianças de 3ª e 4ª séries, em escolas públicas do município de São José dos Pinhais- PR, procurou também verificar o conhecimento dos professores e funcionários sobre a temática. Para o estudo foram selecionadas 34 turmas, sendo 18 de 3ª séries e 16 de 4ª séries, totalizando 923 alunos de quatro escolas públicas de São José dos Pinhais PR. O Número de professores e funcionários participantes da pesquisa foi de 65, assim distribuídos por escolas: 10, 20, 18 e 17. Dos 65 participantes, apenas 1 era do sexo masculino, com idades compreendidas entre 20 a 50 anos, quase 70% estão nestas escolas por menos de 10 anos, demonstrando uma rotatividade de profissionais. Tabela 1 - Agressões sofridas pelos alunos nas quatro escolas pesquisadas: Quantas vezes lhe fizeram mal neste semestre? n % Nenhuma 529 57,3 1 ou 2 vezes 231 25,1 3 ou 4 vezes 48 5,2 5 ou mais vezes 112 12,1 Sem resposta 3 0,3 Total 923 100,0 Os números revelam que 42,5 % dos alunos, em um total de 391, de ambos os sexos já foram vítimas de agressões pelo menos 1 vez na escola. Ressalta-se ainda que 112 alunos

16014 relatam terem sido vítimas mais de 5 vezes, o que nos alerta para, a regularidade dos casos, uma das principais características do bullying. Os resultados quanto aos níveis de vitimação em cada escola, demonstram que em termos gerais as quatro escolas apresentam um alto percentual de casos de agressões. A escola 2 possui o maior percentual (64,5%) de indicações quanto a nenhuma vez, mas em contra ponto apresenta os mesmos níveis, próximo dos 13% de alunos (as) que já sofreram mal mais de 5 vezes. A escola 1, com apenas 164 respondentes, apresenta o menor percentual (53,9%) no ítem nenhuma vez ; na escola 3 com 257 participantes 57% de respostas nenhuma vez, mas no somatório dos alunos que sofreram entre 2 a 5 vezes, é a escola que apresenta o maior grau de incidência, acima dos 18%. Para complementar as informações referentes às agressões sofridas pelos alunos dentro da escola, os resultados demonstram com mais exatidão o momento atual das relações existentes entre os alunos no ambiente escolar e aponta dados relevantes para a definição das escolas onde a intervenção e controle serão realizados, neste estudo. A escola 1, sendo a escola com o menor percentual (56,3%) que afirmam não ter sido vítimas, apresenta uma incidência de situações muito frequentes, quando 17,4% (n=28) relatam terem sofrido três ou mais agressões no último mês de aula. Os resultados demonstram de forma muito clara a frequência de vitimização entre as crianças, uma das características do bullying. É uma prática usual dentro desta escola, como já foi relatado anteriormente se caracteriza pela presença de alunos de bairros e classes distintas, que convivem no seu dia a dia com crianças em situação de risco, abandonadas pelos pais ou em sérias dificuldades. Muitas destas crianças permanecem no local durante dois períodos, um deles na escola regular e o outro em um projeto social desenvolvido para a readaptação social, de responsabilidade de uma instituição religiosa em parceria com uma instituição de ensino superior. Fica evidente nos estudos desenvolvidos, que em todas as escolas pesquisadas, mais de 40% dos alunos já estiveram envolvidos em casos de bullying, sendo vítimas ou agressores. Na escola 2, um índice de 67,3% dos participantes afirmaram não ter sofrido nenhuma agressão no ultimo mês de aula. Na escola 4, apesar de apresentar resultados que demonstram

16015 uma menor incidência de agressões, destaca-se os 12,7%, (n= 36) de alunos (as) que relatam serem agredidos três ou mais vezes no ultimo mês de aulas. A escola 3, apresenta resultados muito similares aos apresentados na questão relativa às agressões sofridas durante o semestre, pois 40% (n=102) dos alunos (as) relatam já terem sido vítimas de agressões, no último mês de aula. Os dados coletados em cada escola, quanto ao número de agressões sofridas por gênero, demonstram que os meninos são as maiores vítimas, somados os resultados de 3, 4 e 5 vezes ou mais, a escola 1 tem 21,7% (meninos) contra 13,3% (meninas), a escola 3 tem 22,2% (meninos) contra 11,6% (meninas), a escola 4 com 22,6% (meninos) contra 10,6% (meninas), somente na escola 2 as meninas com 17,9% e os meninos com 15,7% apresenta um resultado inverso. Quadro 1 Formas de agressão sofridas pelos alunos(as) na escola. Variáveis de estudo Escola 1 Escola 2 Escola 3 Escola 4 n % n % n % n % p Bateram, deram murros ou pontapés 33 19,8 30 14,2 45 17,4 38 13,4 0,25 Tiraram minhas coisas 53 31,7 33 15,6 41 15,9 51 18,0 <0,001 Ameaçaram 61 36,5 36 17,1 61 23,6 61 21,5 <0,001 Chamaram nomes feios 84 50,3 70 33,2 111 43,0 108 38,0 0,01 Falaram de mim, contam meus segredos 41 24,6 18 8,5 44 17,1 27 9,5 <0,001 Não falam comigo 26 15,6 24 11,4 25 9,7 30 10,6 0,28 Mostraram fotos minhas por celular 17 10,2 4 1,9 12 4,7 6 2,1 <0,001 Outras coisas 20 12,0 15 7,1 23 8,9 23 8,1 0,39 Ninguém mexeu comigo 56 33,5 97 46,0 100 38,8 117 41,2 0,10 Legenda: p= nível de significância para o teste de qui-quadrado. A questão que abordou as formas de agressão ocorridas na escola, tinha como critério a possibilidade da escolha de mais de uma opção, o que justifica os percentuais expostos. Os resultados demonstram que nas quatro escolas pesquisadas, a forma de agressão mais comum e frequente são as verbais, através de xingamentos, uso de palavras apelativas ou ainda gritos e insinuações. Na escola 1, mais de 50 % (n=84) dos alunos já disseram ter sido vítima, níveis próximos aos da escola 3 onde 43% (n=111) dos participantes ressaltam a mesma forma de agressão. Apresenta ainda em grande escala o uso das ameaças; na escola 1 mais de 36% (n= 61) e novamente na escola 3 mais de 23% (n= 61), números idênticos em quantidade de crianças em ambas escolas, foram vítimas de ameaças, as quais podem ser exercidas através

16016 do uso da força física ou forma verbal, o que demonstra a existência de agressores em potenciais, que através de lideranças individuais ou em grupos, manipulam determinadas ações e comportamentos de outras crianças no ambiente escolar. Na escola 4, 38 % (n=108) dos alunos relatam serem vítimas do tipo de agressão mais comum identificado nas outras escolas, as verbais. Na escola 1, ainda se destaca com 31,7% o comportamento de tirar coisas dos outros, como objetos e lanches, e nas escolas 2, 3 e 4 ressalta-se um grande percentual, entre 38% a 46% de crianças que relatam não terem sofrido nenhuma das agressões citadas na questão. Tabela 2 Conhecimento dos professores e funcionários sobre o bullying: Questões Opções de resposta Escola 1 Escola 2 Escola 3 Escola 4 n % n % n % n % Não conhece 4 40,0 5 27,8 5 25,0 3 17,6 Entendimento/ conhecimento Pouco conhece/ já ouviu falar 4 40,0 6 33,3 8 40,0 9 52,9 sobre o termo Já leu algo a respeito 0 0,0 5 27,8 4 20,0 2 11,8 bullying Conhece e já discutiu o tema 0 0,0 0 0,0 2 10,0 0 0,0 Conhece e quer aprofundar 2 20,0 2 11,1 1 5,0 3 17,6 O estudo procurou realizar um diagnóstico da realidade, através da coleta de dados com os professores, funcionários e corpo diretivo, objetivando verificar o conhecimento sobre o bullying e os principais problemas de violência. A questão relacionada ao conhecimento sobre o termo bullying, aponta uma realidade da qual surgiu a necessidade da aplicação deste instrumento, na escola 1 a maioria, ou seja, 80% disseram não conhecer ou pouco conhecerem o termo. Na escola 2 apesar de 60% pouco conhecerem o termo, 39 % já leram algo a respeito ou quererem aprofundar os conhecimentos sobre a temática, sendo este o maior percentual entre as escolas pesquisadas. Na escola 3 apenas 15 %, ou seja, 3 respondentes já haviam discutido o tema e na escola 4, 60% dos profissionais não conheciam o termo, apenas 17% disseram já conhecer o termo denominado bullying. A percepção dos professores sobre o envolvimento dos alunos nos casos de agressão ocorridos no ambiente escolar, apontam que na escola 1, onde a maioria das crianças

16017 permanecem em período integral, a agressividade entre pares é maior. Na escola 2, onde se concentra um grande número de alunos oriundos de diferentes locais e culturas, apresenta um alto índice, próximo dos 60% de agressões, destaca-se aqui o maior número de agressões entre alunos e professores. Na escola 3, localizada em um bairro de concentração extremamente populosa, 50% das agressões ocorrem em caráter individual e outros 50% se realizam através do agrupamento de crianças. A escola 4, que atende a classe média, aponta um número bastante elevado de agressões entre as crianças individualmente (59%), valores que podem ser explicados por uma realidade destes alunos. Considerações finais Os resultados relativos à vitimação, relacionados com a freqüência das agressões ocorridas em cada uma das escolas pesquisadas, refletem de forma muito clara a existência do bullying no ambiente escolar. A análise destes resultados e suas relações, oportunizaram ao pesquisador o reconhecimento da realidade das escolas participantes e o conseqüente delineamento do universo onde as ações de intervenção deveriam ser direcionadas. Quanto à vitimação, somados os resultados dos alunos que fizeram algum mal, 2, 3 ou mais vezes no último mês de aula, a escola 1 apresentou um percentual maior que 27%, nas escolas 2, 3 e 4 números próximos aos 18% dos alunos foram vítimas de agressões. As formas de agressão mais comuns são as verbais, com a média de 41,1% (n=373) para chamar nomes feios e 24,6% (n=219) para as ameaças; as agressões físicas através de murros, empurrões e ponta-pés receberam uma média de 16,2% (n=146). Os meninos foram apontados como as principais vítimas do bullying no último mês de aula, com um média de 23,2%, mas também são apontados como os grandes responsáveis pelas agressões dentro da escola com um percentual de 53,8% entre 2 a mais de 5 agressões, enquanto as meninas somam 25,1%, levando em conta os mesmo critérios. Os estudos demonstram que não existe escola sem violência, sem ocorrências de bullying, independente do local em que está situada ou da classe social que atende; a pesquisa aponta níveis de agressividade e violência próximos dos 80%, de forma especial nas regiões periféricas, onde existe uma maior concentração de famílias e pessoas de maior carência. De forma geral, os resultados ressaltam em todas as escolas as agressões individuais e em grupos entre os alunos, o que nos aponta para o aprofundamento desta pesquisa, que teve como

16018 principal objetivo verificar a agressão entre pares e suas consequências, sem distinção de classes ou espaços. É extremamente importante que os professores e todos os envolvidos no processo de organização da escola, assumam o fato e acreditem que o bullying é um problema que pode e necessita ser identificado, diagnosticado e resolvido. REFERÊNCIAS LOPES, N. A. A. (2005). Bullying comportamento agressivo entre estudantes. Jornal Pediatria. Rio de Janeiro, 164-172. OLIBONI, Samara Pereira. O bullying como violência velada: a percepção e ação dos professores. 2008. Dissertação (Mestrado em Educação Ambiental) Universidade Federal do Rio Grande, RS, 2008. OLWEUS, D. (1993a). Conductas de acoso y amenaza entre escolares. Madrid: Ediciones Morata. OLWEUS, D. (1993b). Bullying at school. What we Know and what we can do. Oxford: Blackwell. PEREIRA, B. O. (2001). A violência na escola formas de prevenção. In. B. Pereira, A. P. Pinto (eds), A escola e a criança em risco intervir para prevenir, Edições Asa, 17-30. Pereira, B. O. (2002). Para uma escola sem violência: estudo e prevenção das práticas agressivas entre crianças. Fundação Calouste Gulbenkian. Fundação Para a Ciência e Tecnologia. PEREIRA, B. O. (2008). Para uma escola sem violência: estudo e prevenção das práticas agressivas entre crianças. Fundação Calouste Gulbenkian. Fundação Para a Ciência e Tecnologia, 2ª Edição.