Diagnóstico e avaliação do Programa Bolsa Família (PBF) na pesca artesanal do litoral de Pernambuco.



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Transcrição:

Diagnóstico e avaliação do Programa Bolsa Família (PBF) na pesca artesanal do litoral de Pernambuco. Pedro Henrique Dias Inácio 1 Maria do Rosário de Fátima Andrade Leitão 2 Resumo Este trabalho pretende comunicar os resultados da pesquisa Relações de gênero e políticas de Desenvolvimento Social e Combate à Fome: diagnóstico e avaliação na pesca artesanal do litoral de Pernambuco, financiada pelo edital MCT/MDS- SAGI/CNPq/2010 chamada Nº 36/2010, coordenado pela profa. Dra. Maria do Rosário de Fátima de Andrade Leitão (UFRPE). Tomando como problemática o efeito do Programa Bolsa Família (PBF), no grupo de mulheres pescadoras, visitamos 11 comunidades do litoral de Pernambuco realizando a aplicação de questionários sobre as principais mudanças ocorridas nas vidas das famílias após o recebimento do PBF, averiguando o acesso destas comunidades aos serviços públicos de saúde, educação, bens básicos (água, luz, saneamento, calçamento, etc.) além das mudanças nos hábitos alimentares e as demandas das comunidades por políticas públicas relativas à pesca artesanal. Introdução A construção do programa de transferência de renda do governo federal, o Bolsa Família (PBF), tem demonstrado sua importância para o desenvolvimento humano, social e econômico do país por meio de diferentes índices, nacionais e internacionais, que o situam como o maior programa do gênero no mundo. No âmbito da implementação das políticas sociais de assistência social e transferência de renda o papel da Secretaria de Administração e Gestão da Informação (SAGI/MDS) é capital, a partir dela é feito o monitoramento do programa e gerados relatórios da gestão em todos os municípios, formando os censos que dirigem o estabelecimento e aperfeiçoamento das redes de assistência social e políticas públicas governamentais voltadas para as especificidades de cada localidade. 1 Mestre em História. Bolsista de Extensão EXP-3 do CNPq, trabalhando em projetos do grupo de pesquisa Desenvolvimento e Sociedade (CNPq) desde março de 2011. 2 Profa. Dra. da Universidade Federal Rural de Pernambuco. Coordenadora do Grupo Desenvolvimento e Sociedade (CNPq).

Além do monitoramento dos dados e seu acompanhamento, o aperfeiçoamento do programa depende de uma constante rede de desenvolvimento de pesquisas que aponte a atualidade do impacto do recebimento dos benefícios pelas famílias e suas relativas falhas, proporcionando uma contínua renovação da secretaria com novos dados e orientações sobre o andamento do programa e das demais políticas públicas relativas ao Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS), não só em cada localidade específica, mas em grupos e comunidades de dinâmicas próprias. Neste sentido, o papel dos grupos de pesquisa e dos professores universitários do país é de grande importância para a construção de projetos de pesquisa voltados para atuar em parceria com o ministério na produção, atualização e avaliação dos programas sociais. O desenvolvimento de nosso trabalho com comunidades pescadoras, não só do estado de Pernambuco, mas de outros estados do nordeste e do Brasil como Santa Catarina, Ceará, Pará, Paraíba, atuando com projetos de pesquisa ligados ao Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) 3, Ministério da Pesca e Aquicultura (MPA) 4, Secretaria de Políticas para as Mulheres (SPM-PR) 5 além de projetos dentro da própria Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) 6 e com o Conselho Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico (CNPq) 7, envolvendo, fundamentalmente o binômio mulher e pesca com incursões sobre as áreas de inclusão e organização produtiva, meio ambiente: coleta e reciclagem, Cotidiano da Vida e Trabalho além dos estudos, pesquisas e ações voltadas a promoção da Igualdade de Gênero nas comunidades notadamente reconhecidas como tradicionais, patriarcais e machistas 8, nos 3 Gênero, Raça e Pesca: Produção e Articulação das Pescadoras de Pernambuco. Objetivo geral do projeto: Possibilitar o fomento da organização produtiva e econômica na Articulação de Pescadoras de Pernambuco para a construção de processos de organização integrada e empoderada, de forma a potencializar as ações de desenvolvimento pesqueiro sustentável, a promoção de intercâmbios, difusão de experiências e apoio a iniciativas de integração social e econômica destas organizações, incluindo a comercialização. Aprovado em Edital MDA/2009: CHAMADA PÚBLICA PARA APOIO FINANCEIRO A PROJETOS DEORGANIZAÇÃO PRODUTIVA DE MULHERES RURAIS. 4 Ações para Consolidar a Transversalidade de Gênero nas Políticas Públicas para a Pesca e Aqüicultura. Objetivo geral do projeto: Garantir a incorporação da transversalidade de gênero na formulação e implementação das políticas públicas do MPA/PR e demais órgãos públicos, através de ações articuladas e dialógicas com entidade parceiras e comunidades beneficiárias, compartilhando e gerando conhecimentos na busca da eficácia das ações na redução das assimetrias de gênero, assegurando uma governabilidade mais democrática e inclusiva para as mulheres trabalhadoras da pesca e da aqüicultura. 5 Gênero, Raça e Pesca: o trabalho de marisqueiras no litoral Sul de Pernambuco. 2009. 6 7 Gênero e Pesca: O Conselho Pastoral da Pesca e sua contribuição na trajetória do movimento de mulheres pescadoras. 2011 2013. 8 Contando com diferenças percebidas na própria divisão do trabalho e reconhecimento profissional entre mulheres e homens pescadores. Às mulheres está delimitado o trabalho de marisqueiras, catadoras não sendo profissionalmente reconhecidas como pescadoras nem pelos próprios maridos, tendo assim, grandes dificuldades em lutar pelos seus direitos dentro das próprias colônias de pescadores.

dá uma vasta experiência de trabalho com a temática e com as comunidades que pudemos aplicar neste projeto nos direcionando para o impacto do recebimento do benefício do PBF nas comunidades pesqueiras do litoral de Pernambuco. Problemática As definições de números para a pesca artesanal são bastante imprecisas no país, o quantitativo de pessoas envolvidas, ou unicamente dependentes da atividade, seja exclusivamente para a sobrevivência, ligada a segurança alimentar e nutricional das famílias, seja agregada a uma pequena comercialização dos produtos é feito por estimativas que dificilmente conseguem precisar o real impacto da atividade na ocupação das famílias. Esta imprecisão deve-se ao não reconhecimento da atividade como uma ocupação formal por um grande contingente de trabalhadores, já que para muitos está ligada ao próprio modo de vida e subsistência das famílias (como pode ser notado com maior precisão no norte do país, a partir dos ribeirinhos da Amazônia), além de exercerem outras atividades junto à pesca, ligadas a comercialização dos produtos ou ao oferecimento de serviços domésticos. Em grande medida, uma definição que enquadre devidamente a categoria de pescadores artesanais ainda não é precisamente delimitada. A presença das duas maiores bacias hidrográficas do mundo e um dos maiores litorais navegáveis do planeta, seguido pelo irrisório índice de consumo de pescados pelos brasileiros (muito abaixo das taxas recomendadas pela ONU) demonstram o paradoxo relativo ao potencial de exploração econômica e produtiva da atividade e as capacidades de usos e absorção da nossa sociedade destes produtos, que certamente, incidirá no problema inicial de reconhecimento e profissionalização da profissão. Nesse sentido é possível perceber a importância e necessidade das novas políticas públicas para a pesca construídas nos últimos dez anos, quando foi criada a Secretaria Especial de Pesca e Aquicultura (SEAP-PR) que deu origem ao Ministério da Pesca e Aquicultura (MPA). Tomando feições muitos mais mercadológica e produtivistas, em sentido de dar vazão a dinamização das capacidades produtivas da pesca e a promoção do consumo e inclusão do peixe e pescados na dieta dos brasileiros, promovendo estudos de desenvolvimento de parques aquícolas e áreas de pesca intensiva, continental e oceânica, além de promover a abertura de linhas de crédito específicas para o desenvolvimento de atividades produtivas ligadas a produção de pescados, que objetivamente voltadas a

melhoria das condições de vida e trabalho das comunidades pesqueiras e desenvolvimento dos pescadores artesanais, percebemos que apesar das grandes mudanças econômicas ligadas à pesca, as comunidades de pescadores artesanais encontram-se numa triste encruzilhada, onde se vivencia a disputa por áreas da manguezal e pesca com empreendimentos comerciais, ligados as atividades aquícolas ou a hotéis, resorts e demais empreendimentos imobiliários que trazem consigo a devastação das áreas de mangue e a consequente extinção de espécies e possibilidades sustentáveis de desenvolvimento da pesca artesanal. As tímidas políticas setoriais voltadas à pesca artesanal, como a expedição de registros (que passam a possibilitar o acesso aos direitos sociais previdenciários do INSS) 9 além das políticas de microcrédito voltadas para as famílias, ou adequação e modernização de colônias para o beneficiamento e comercialização-distribuição de pescados encontramse num ritmo bem diferenciado das obras que executam uma grande modernização produtiva no setor, trazendo consigo o acirramento da competição por áreas e produtos com os pescadores artesanais. As políticas de dinamização da economia pesqueira brasileira vão, em grande medida, de encontro ao modo de vida e trabalho dos pescadores artesanais, e são justificadas pela necessidade de desenvolvimento econômico rápido e pelos gargalos que são encontrados na organização produtiva dos pescadores artesanais, que não deixam de ser objeto de preocupação das políticas ministeriais que constantemente abrem editais e propostas de inclusão e dinamização produtiva da categoria, além da promoção de políticas públicas, das quais já fomos contemplados.. Além das políticas voltadas para a pesca, nos últimos dez anos acompanhamos também uma grande mudança na sociedade brasileira proporcionada pela inclusão social do programa de renda mínima fixa Bolsa Família, que dentro do programa Fome Zero, tem como objetivo retirar do estado de miséria e pobreza extrema milhões de brasileiros que se encontravam completamente alheios a sociedade produtiva e a condições minimamente dignas de vida e segurança alimentar e nutricional. Tendo em vista que a grande maioria das famílias pescadoras, com crianças e jovens de até 17 anos está compreendida na faixa de beneficiários do PBF, devido ao fato de baixa 9 A Devido ao reconhecimento de fraudes em diversas localidades a expedição dos registros de pesca foi suspensa em quase todo o ano de 2011.

rentabilidade monetária dos produtos da pesca, é razoável que pensamos que as políticas sociais do governo federal, beneficiando como um todo os pobres do país, encontram-se aos pescadores artesanais como uma importante rede de cobertura social que promove, assim como objetivado para outros seguimentos socais de comunidades não específicas, patamares mínimos de renda que incidem numa direta melhoria das condições de vida. Assim, as políticas sociais beneficiam como um todo diversos setores da população brasileira, que no caso da pesca artesanal, atua diretamente na promoção objetiva de melhores condições de vida e remuneração dos produtos da pesca. Sendo beneficiárias do PBF as famílias tem menores demandas de alimentarem-se única e exclusivamente dos produtos extraídos dos mangues, podendo contar com o dinheiro do programa social para comprar alimentos de consumo básico, como arroz, feijão, farinha, milho, carne bovina e de aves, tendo condições de diversificar a dieta, garantir a perenidade dos alimentos, além de terem a possibilidade de comercializar uma maior porção da produção dos pescados, incidindo diretamente em maiores possibilidades de renda para as famílias. Por tanto, PBF tem um impacto específico sobre as comunidades de pescadores artesanais, fundamentalmente relativas às questões de segurança alimentar e nutricional e geração de renda. Tomando ainda as condições de moradia e vida nas comunidades pesqueiras, normalmente isoladas, e suas dificuldades em ter acesso a bens básicos como água, luz, saneamento, calçamento, além da disposição dos serviços públicos de educação saúde e assistência social fazia-se mister averiguar, além das condições mínimas de vida, as possibilidades de cumprir com as condicionalidades de recebimento do PBF, como frequência escolar, vacinação e realização de pré-natal o que nos direcionou ao reconhecimento destes serviços na produção do questionário. Metodologia Contamos com uma equipe de trabalho de doze pessoas 10 que foi preparada mediante a realização de encontros voltados para a discussão de textos relativos às políticas sociais, em especial ao PBF, tomando publicações de grande relevância como 10 Maria do Rosário de Fátima Andrade Leitão (coordenação geral); Ivan Pereira Leitão. Maria do Rosário de Fátima Andrade Leitão; Pedro Henrique Dias Inácio; Juliana Gomes de Moraes; Anderson Oliveira de Lima; Claudia Maria de Lima; Clodoaldo de Souza Cavalcante Neto; Fernando Antonio Duarte Barros Junior; Francisco Assis de Andrade Costa; Júlia Xavier Souto; Maria Solange da Silva; Phelippo de Oliveira Cordeiro Vanderlei.

o livro Concepção e gestão da proteção social não contributiva no Brasil e demais publicações disponíveis na internet (inclusive de autores desconhecidos) aonde foi possível formar as concepções sobre o funcionamento do programa, conhecendo suas condicionalidades, métodos de cadastramento e formação do CADÚNICO, cálculos do valor de recebimento e composição do Sistema Único de Assistência Social (SUAS), além das principais críticas e estudos avaliativos voltados para questões da área de saúde, educação, trabalho infantil, trabalho e emprego, além de questões relativas ao empoderamento feminino e constituição familiar no Brasil. Em seguida foi preparado um banco de teses e dissertações onde foi possível detectar as principais produções acadêmicas relativas a temática e perceber os métodos pelos quais as pesquisas foram orientadas e quais seus focos de análise, gerando discussões no grupo que embasaram a formação do Questionário Investigativo, voltado para as comunidades específicas da pesca, que contou ainda com a proposição dos objetivos expostos pelas Metas do Milênio. O questionário contou com cerca de 32 questões (já que foi aperfeiçoado durante sua aplicação nas comunidades), além de um quadro de características da composição familiar contando com dados como idade, anos de estudo, participação em instituições sociais, tempo de pesca, existência de registro e produtos do pescado, além dos número de integrantes familiares. As questões versaram sobre os temas: histórico e usos (temporalidade de recebimento do benefício, elevação do valor e valor de recebimento atual, além das principais áreas sociais onde foram averiguadas mudanças, fatores de gasto/uso do benefício e percepções sobre as mudanças de vida depois do recebimento); Mulher e convivência (relação de empoderamento das mulheres no uso do benefício, relação de convivência em casa com filhos e ou parentes, além da titularidade e da responsabilidade do gasto dos mesmos); Investimento, (existência inversões produtivas com o valor recebido); Moradia, (levantamento sobre as condições de habitação, tais como pagamento de aluguel, acesso a bens e serviços básicos como água, luz, saneamento e calçamento, acesso a eletrodomésticos, além uma pergunta subjetiva sobre como a entrevistadas percebiam suas); Saúde, (instituições de saúde acessadas, clínicas ou complexidades, acesso a ambulância, realização de exames de pré-natal, acesso de vacinação à família, recebimento de visitas de agentes de saúde e agenciamento de serviços nas instituições de saúde, acesso a serviços odontológicos, realização de atividades físicas e acesso ao lazer); Alimentação, (hábitos alimentares,

inclusão de alimentos industrializados, preparo diário dos alimentos, além do papel da merenda oferecida nas escolas); Educação, (identificação aprendizado e interesse das crianças, acompanhamento da frequência e da vacinação, e percepção da obrigatoriedade); Políticas Públicas, (acompanhamento e disponibilidade das prefeituras de políticas de prevenção ao trabalho infantil, o acesso das entrevistadas a outros programas sociais de qualquer origem); Políticas de Pesca, (demandas das mulheres por políticas públicas para a pesca, o efeito do inverno na economia familiar, desejo de realizar outras atividades exteriores a pesca, existência ou não de políticas locais de incentivo as atividades da pesca, além de comentários gerais sobre o programa Bolsa Família). Foram aplicados 98 questionários com mulheres que recebem o benefício, dos quais apenas 88 puderam ser contabilizados devido a dificuldade da equipe em obter a concentração e interesse de algumas pescadoras em responder aos mesmos, devido a um grande temor sobre as intenções do levantamento de dados. Foram aplicados também cerca de 28 questionários com mulheres pescadoras que não recebem o benefício, um questionário simplificado onde eram questionadas, fundamentalmente, sobre como elas viam o benefício, porque não recebiam e sobre as políticas públicas para a pesca. Os questionários foram aplicados em todo o litoral de Pernambuco (Norte, Região Metropolitana e Sul) nas localidades de: Goiana (Carne de Vaca e Tejucupapo), Itamaracá, Igarassu, Abreu e Lima, Paulista, Olinda, Recife, Ipojuca (Serrambi) e São José da Coroa Grande. Afim de testar o levantamento das questões elaboradas foi realizado uma reunião voltada a aplicação do questionário em Grupo Focal, na localidade Das Carolinas em Jaboatão dos Guararapes, onde foi possível perceber a dificuldade de dar continuidade ao método de respostas coletivo e foi possível aperfeiçoar as questões trabalhadas voltadas a aplicação individual nas demais comunidades. Esta experiência do grupo focal também foi relatada e sistematizada disponível no relatório final de pesquisa. A sistematização dos dados foi feita em gráficos do Excel 2007, por localidade e de modo geral para o litoral pernambucano, contando o relatório final 335 páginas onde apontamos as especificidades de cada localidade, os demais eixos metodológicos, além do embasamento teórico e dos principais problemas e questões que envolvem o binômio

mulher e pesca, apontando de modo breve, algumas caminhos para a elaboração de políticas públicas e projetos pilotos de mapeamento e estudos destas comunidades a qual esperamos dar continuidade em outros projetos. Resultados Análises qualitativas e questões gerais do efeito do PBF sobre as comunidades pescadoras. Devido ao caráter de subsistência da atividade, sendo a pesca artesanal praticada, sobretudo para a nutrição das famílias, e apenas uma pequena parte da produção comercializada sazonalmente, quando existem demandas locais diretamente relacionadas ao turismo nas regiões, o recebimento do benefício do PBF possuí uma relação direta com o trabalho da pesca artesanal e a vida das famílias contempladas, possibilitando uma maior segurança alimentar, baseada na perenidade dos produtos consumidos e na diversificação da dieta; a dependência direta do extrativismo dos mangues para a subsistência é amenizada, e diretamente, uma parte maior da produção pode ser comercializada tendo o programa uma ação efetiva na categoria, embora a dimensão desta mudança não possa ser quantificada por estes estudos. Foi percebida a total amplitude de cobertura do Programa Bolsa Família em todas as comunidades pescadoras visitadas, ainda que nem em todas as comunidades haja postos de Assistência Social CRAS que lhe prestem assistência, tendo que dirigir-se aos centros municipais para tal. Quanto ao não recebimento do benefício, foi perene em todas as comunidades pesquisadas, as pescadoras não sabem o verdadeiro motivo do não recebimento. Houve denúncias do uso político e clientelista do benefício em um dos municípios pesquisados. Outras entrevistadas que disseram não receber o benefício referiram-se as situações cadastrais, fundamentalmente a renda familiar, que devido ao trabalho do marido era atingida e impossibilitava o recebimento do mesmo. Foram citados ainda problemas de falta de documentos e recebimento do benefício por outras pessoas na família, caso, principalmente, de filhas que moram na mesma casa. Pôde ser averiguado, a partir de repetidos relatos das entrevistadas, uma constante e gradual diminuição da produção do pescado e da produtividade das atividades da pesca. Que julgamos, fundamentalmente, resultado do aumento

populacional e de densidade das comunidades pesqueiras, trazendo problemas ambientais de ordem habitacional, com a geração e destinação incorreta de lixo, falta de saneamento básico ou ocupação física das áreas de estuário. Sendo uma demanda das comunidades políticas públicas ambientais que auxiliem na manutenção da vida nos estuários. Análises quantitativas do Litoral Pernambucano (por matéria de pesquisa) Amostra. As entrevistadas tiveram uma idade média entre 40 e 45 anos, estudaram somente até o ensino fundamental I. A maioria das entrevistadas (cerca de 80%) iniciou suas atividades na pesca com até 16 anos, podendo ser consideradas nascidas na atividade. Cerca de 63,5% das entrevistadas disseram-se casadas, morando junto com o marido e 36,5% são solteiras. As famílias possuem em média 4 membros e as doenças crônicas apontadas com maior frequência foram hipertensão e diabetes. Cerca de 40% das entrevistadas possuem registro de pesca há menos de 5 anos. Cerca de 60% das mulheres são cadastradas nas colônias de pescadores. O marisco e o sururu foram os produtos da pesca mais citados. Com relação às moradias foi notável o alto grau de residências próprias, poucas entrevistadas disseram pagar aluguel apenas 4 entrevistadas de toda a amostra - embora uma porção significativa das que disseram não pagar aluguel morem em casas cedidas por parentes. A maioria das entrevistadas (cerca de 70%) não tem a rua onde moram calçadas. Todas as entrevistadas possuem energia elétrica em casa e em apenas casos isolados este acesso é feito mediante ligações clandestinas, a grande maioria das entrevistadas também têm acesso a água em casa. Histórico e Usos As entrevistadas possuem o benefício em média há 5 anos, recebendo R$ 90,00. Apenas cerca de 15% das entrevistadas tem o benefício há menos de dois anos. Os principais usos foram a) compra de alimentos seguido de b) vestuário e e)pagamento de contas, o item outros gastos recebeu várias citações, referindo-se principalmente a compra de remédios e medicamentos diversos e material escolar para as crianças e transporte para os filhos irem para a escola.

A principal importância credenciada ao benefício, ou as principais mudanças foram citadas como sendo ter a renda certa todo mês (Renda Fixa), poder consumir mais alimentos e produtos, além de comprar coisas para as crianças, fundamentalmente material escolar. Apesar de não terem sido muito expressivas, houve alguns relatos de nada mudou e tudo continua como antes após o recebimento do benefício. Mulher e Convivência Percebemos majoritariamente a concordância com a centralidade do pagamento do benefício pelas mulheres, sendo a razão das principais discordâncias: Tem maridos que cuidam dos filhos e direitos deveriam ser iguais inexpressivas quanto ao direcionamento efetivo da questão, já que não haveria uma subsunção efetiva da mulher ao homem na maioria das respostas. De modo majoritário as mulheres são também responsáveis pelo gasto do benefício, algumas disseram que gastam junto com o marido, e poucas que é o meu marido quem decide. Em um caso, a entrevistada disse que meu marido não sabe que eu recebo, se ele souber gera conflito. Neste mesmo sentido, poucas entrevistadas admitiram enfrentarem conflitos em casa, seja com maridos ou filho devido ao recebimento do benefício. Sobre a convivência familiar uma pequena maioria disse ter encontrado melhoras (53%) enquanto cerca de 45% disse não ter tido mudança alguma e apenas 2% apontaram pioras nas relações de convivência em casa. Com relação a questão gênero e empoderamento, percebemos que o recebimento do benefício centraliza sobre as mulheres as obrigações de manutenção da casa e reprodução da força de trabalho, tendo neste sentido, reforçado a importância do papel das mesmas na promoção da subsistência do lar. O benefício garante a elas não apenas a alimentação, mas a possibilidade de investirem na educação dos filhos (pagando aulas de reforço) e na promoção da saúde familiar, principalmente a das titulares, que citaram agora poderem comprar remédios e óculos, que anteriormente não tinham acesso. Investimentos Majoritariamente não encontramos relação de investimento com o dinheiro do benefício (apenas 25%), a maioria das entrevistadas disse que o dinheiro é pouco e mal

da para comer. No caso da Região Metropolitana, encontramos diferenças sensíveis nesta condição (apenas duas entrevistadas não realizaram qualquer tipo de inversão, sendo bem exitosas as que a intentaram), ao que credenciamos a maior dinâmica de mercados e produção e comércio informal. Saúde Houve um perceptível conflito na pesquisa entre haver disponibilidade de atendimento médico hospitalar pelos municípios e as entrevistadas o reconhecerem, ou terem acesso aos mesmos. Cerca de 20% das entrevistadas disseram que usam eficientemente os serviços, 45% disseram que às vezes é bem atendida sinalizando problemas com consultas, disponibilidade de médicos, e principalmente demora para os atendimentos, realizado a partir da distribuição de senhas nas primeiras horas da manhã. Cerca de 20% das entrevistadas disseram que não frequentam hospitais não precisaram de atendimento - apenas 15% das entrevistadas disseram não ter acesso ao mesmo. A maioria das entrevistadas tem nas figuras dos postos de saúde locais opiniões mais positivas sobre o atendimento e tratamento de doenças que sobre os hospitais municipais, ainda que na maior parte das localidades as críticas sobre o funcionamento do mesmo sejam parecidas com a dos hospitais. Os principais problemas apontados foram a falta de médicos e especialidades, como oftamologia, dificuldades em se conseguir remédios e vacinas, além de dificuldades em conseguir atendimento (devido ao número limitado de senhas distribuído). De modo geral, cerca de 50% das entrevistadas utilizam os postos de saúde de forma eficiente e 35% utiliza com dificuldades, sinalizando que cerca de 85% tem algum tipo de acesso aos postos de saúde. Cerca de 5% não tem acesso aos postos de saúde e 10% não utiliza os mesmos. Como a maioria dos postos faz parte do Programa de Saúde da Família ficou difícil para as entrevistadas distinguir as ações dos programas nas comunidades. Percebemos que em Pernambuco os antigos postos de saúde tornaram-se unidades do PSF, e que praticamente não há postos de saúde de baixa e média complexidade, no sentido de Policlínicas, como recentemente vêem se instalando na região metropolitana, além das Unidades de Pronto-Atendimento (UPA s) que funcionam de modo semelhante às policlínicas. Apenas na região metropolitana, e mais especificamente no Recife, é possível encontrar um sistema de saúde mais diversificado

neste sentido. Perguntadas então, se recebiam visitas de Agentes de Saúde em casa, tivemos respostas regularmente satisfatórias, embora muitas tenham se confundido com as campanhas de combate aos focos de dengue. Percebemos que regularmente uma boa parte das entrevistadas (cerca de 50%) nas mais diversas localidades, recebe visita de agentes de saúde que acompanham a vacinação dos filhos, medem a pressão das mulheres, além de levarem remédios, preservativos e marcarem consultas nas unidades de atendimento. Do mesmo modo, 50% das entrevistadas não recebem ou não sabem do programa, o que se enquadra em não recebe visitas de Agentes de Saúde que realizam a aproximação das famílias com a instituição pública de saúde local. Com relação ao atendimento médico de urgência, principalmente ambulâncias foi notável a carente cobertura dos municípios visitados fora da região metropolitana. Nas localidades de Goiana (Carne de Vaca e Tejucupapo) assim como em Itamaracá foi dito que praticamente não há ambulâncias, e que vivem quebradas, que quando chamam costuma demorar muito. Embora tenhamos recebido respostas positivas do atendimento quando necessitado de algumas entrevistadas. Com relação ao uso de ambulâncias nos últimos tempos, 30% das entrevistadas precisou e foi atendida; 30% não respondeu; 25% não precisou e apenas 15% das entrevistadas precisaram e não foram atendidas. Com relação ao acompanhamento da gravidez tivemos respostas majoritariamente positivas para a realização do pré-natal integralmente, bem como a vacinação das crianças. De modo geral respostas negativas para a questão referem-se às gestações ocorridas em média a mais de uma década, quando as entrevistadas afirmaram ser difícil a realização do mesmo, tendo que fazer por iniciativa particular. Uma das entrevistadas disse não ter feito por razões psicológicas ligadas a ausência da presença paterna. Uma entrevistada disse ter feito parte do pré-natal pela rede privada por ter tido dificuldades na marcação de consultas e realização de exames, como o ultra-som. Foi perceptível também um amplo acesso a odontologia em todas as localidades (cerca de 70%), embora nem todas as entrevistadas tenham utilizado os serviços, para algumas delas há dificuldades no atendimento (limitação de senhas para consulta). De modo geral as entrevistadas que têm acesso mostram-se razoavelmente satisfeitas com o mesmo.

Com relação ao lazer, percebido como forma de promover saúde mental encontrou um problema durante a realização dos questionários, a realização do mesmo estava dividida em esferas públicas e privadas. Ou seja, não definimos se seria uma oferta de lazer pela localidade ou poder municipal ou se as pessoas realizam lazer individualmente, de modo privado, embora as questões tenham sido sempre postas de modo aberto e as respostas assim anotadas. De modo geral não foi perceptível a realização de lazer pela maioria das entrevistadas (cerca de 75%), apenas algumas entrevistadas disseram que realizam lazer passeando pela localidade, nas orlas ou dentro de casa, com o marido assistindo televisão. Não foi perceptível nenhuma citação de promoção institucional ao lazer em qualquer localidade, mesmo na Região metropolitana do Recife onde sabemos da realização de vários tipos de shows gratuitos durante o ano, levando-nos a refletir sobre a amplitude da cobertura destas políticas para este segmento da população: a situação de exclusão social é perpetuada pela falta de informação e possibilidades de realizar lazer em esferas públicas da sociedade. A grande maioria das entrevistadas também não pratica atividades físicas (cerca de 80%). As que disseram praticar alguma atividade citaram majoritariamente a caminhada. Naturalmente as mulheres referiram-se ao trabalho que realizam como sendo de grande desgaste físico, em andar vários quilômetros, carregar peso e beneficiar os produtos. O trabalho foi constantemente citado como uma atividade física. Mais da metade das entrevistadas notaram melhoras nas condições de saúde da família após o recebimento do benefício, referiram-se a diminuição do cansaço do filho, a poderem alimentar-se melhor, terem os filhos mais pesados e fortes, ficarem menos doentes e a ter acesso a remédios como as principais atribuições a esta melhoria nas condições de saúde. Alimentação Embora a maioria das entrevistadas tenha apontado mudanças na dieta, foi bastante expressivo respostas de nenhuma mudança (cerca de 20%). O principal alimento incluído nas dietas foi citado como sendo as proteínas de origem animal (cerca de 35%), representadas por carnes (bovina e de frango) e pelo consumo de leite e derivados, seguidos da inserção de produtos industrializados (25%) como macarrão instantâneo, biscoitos, refrigerantes; seguido de proteínas vegetais (10%) como feijão e

trigo, do consumo de frutas e verduras (10%) e do aumento na quantidade dos produtos consumidos (20%). Com relação à alimentação das crianças percebemos que quase a totalidade das mulheres prepara refeições diárias em casa, e que a merenda escolar não substitui majoritariamente as refeições em casa (cerca de 80%), seja porque comem novamente quando chegam em casa, seja porque não comem a merenda. Cerca de dez por cento 10% das entrevistadas que disseram que a merenda substitui refeições em casa, disseram que a merenda servida nas escolas tem os mesmos nutrientes ou é como se fosse a comida de casa. Com exceção daqueles que estudam em escolas particulares e instituições diversas que não oferecem merenda (sistema S /SESI/SENAI/SENAT), os que não comem a merenda na escola tem vergonha, é enjoado ou tem problemas com a fila. Algumas entrevistadas (10%) disseram que a merenda substitui às vezes a alimentação em casa, dependendo do cardápio as crianças chegam sem fome, principalmente quando é composta de tubérculos ou grãos e carnes. Ainda nestes casos encontramos respostas que se referem ao fato de no meio da tarde (no caso de crianças que estão pela manhã na escola) as crianças terem fome e quererem almoçar. No caso de crianças que estudam no período vespertino, ou jovens que estudam a noite, não há relação com substituição de refeições importantes em casa. Educação A educação reconhecida por uma parte das entrevistadas como um dos mais importantes setores da cobertura familiar e dos investimentos do benefício. Com relação às perspectivas de desenvolvimento educacional percebemos que em todas as comunidades visitadas existe acesso a escolas de ensino fundamental de modo relativamente facilitado. Em localidades como Carne de Vaca e Tejucupapo não existem acesso às escolas de ensino médio, sendo necessário o deslocamento para o centro do município para sua realização.houve muitas críticas às instituições de ensino, além da já referida questão da merenda, foi citada a falta de professores para algumas disciplinas, além da falta de material escolar e da inoperância e desimportância das instituições para a formação escolar dos jovens, para algumas mães os filhos não aprendem nada na escola. Foi percebido ainda um grande número de entrevistadas que disseram pagar reforço escolar para os filhos, principalmente para as disciplinas de português e

matemática, havendo algumas instituições envolvidas neste trabalho. O valor deste reforço variou entre R$ 15,00 e R$ 30,00. Foi percebida a presença mais ou menos constante dos filhos no auxílio do trabalho, fundamentalmente das mães, nos mangues. Devido a não terem com quem deixar as crianças e para auxiliar no trabalho da extração dos mariscos muitas crianças correm perigo junto ao trabalho da mãe, sujeito a variações de maré, a corte com cascalhos e picadas de animais peçonhentos. Uma das entrevistadas chegou a expressar integralmente que a escola é a maré, dando um contraponto a idéia apresentada inicialmente de crença e estímulo a realização da educação dos filhos. Do mesmo modo encontramos uma pequena atuação das prefeituras municipais na promoção de políticas de proteção ao trabalho infantil realizando atividades que tanto ajudem a complementar o desenvolvimento educacional dos jovens quanto possam ocupá-los enquanto as mães estiverem no trabalho nos mangues. Na única localidade em que encontramos um posto do PETI, em São José da Coroa Grande, uma das entrevistadas disse que o programa só serve para levar as crianças para jogar bola no campo, e que todas as atividades se resumem a esta prática esportiva. Embora a maioria das entrevistadas reconheça o aprendizado dos filhos na escola é preciso ter cuidado para determinar esta assertiva como verdadeira, realizando verificações cruzadas para a determinação da questão, já que os parâmetros usados para esta pergunta foram: perceber esse aprendizado a partir da escrita, da leitura e da ajuda nas contas domésticas, principalmente dos mariscos da produção. Apenas nove entrevistadas, de toda a amostra, disseram não reconhecer o aprendizado dos filhos na escola, os motivos foram principalmente credenciados a falta de interesse e apatia das crianças para o estudo, sendo constantemente referidas como preguiçosas. Do mesmo modo, a questão sobre o interesse dos filhos em estudar aparece como correlata ao desenvolvimento da aprendizagem, praticamente as mesmas entrevistadas que disseram não estarem os filhos aprendendo, disseram que não reconhecem interesse dos mesmos nos estudos. Nesta mesma questão, perguntávamos para as entrevistadas se eles falavam sobre futuras profissões. Nenhuma das entrevistadas disse que qualquer um dos filhos gostaria de ser pescador no futuro, as principais profissões citadas foram militares (forças armadas, bombeiros e policiais), enfermeiras, professores, médicas e advogados.

Com relação ao acompanhamento das condicionalidades encontramos um número bastante expressivo de entrevistadas (cerca 40%) que disse não reconhecer qualquer acompanhamento das condicionalidades para o recebimento do benefício seja o acompanhamento da frequência, seja o cartão de vacinação. Cerca de 20% das entrevistadas disseram ter dificuldades no cumprimento da condicionalidade da obrigatoriedade da presença escolar. A maioria das entrevistadas afirmou que os filhos vão à escola espontaneamente, e que não são obrigados. Mulheres e Pesca Das entrevistadas, 60% disseram gostar da atividade do trabalho na pesca, 30% disseram gostar, mas vêem muitas dificuldades. Acreditamos que de certo modo isso tenha explicações culturais, já que muitas dessas mulheres nasceram ligadas ao mangue e tem em sua profissão uma relação muito próxima com o modo de vida, além das recentes intervenções e políticas ministeriais que promoveram uma valorização à pesca artesanal, garantindo e ampliando direitos previdenciários além de promoverem diversos projetos e ações voltadas a reestruturação de colônias, além do papel do próprio benefício do Bolsa Família como um elo de estruturação das comunidades pescadoras e promotor de maiores garantias de vida para estas famílias. Com relação às entrevistadas que vêem a profissão negativamente (10%), referiram-se a vida sofrida que levam; disseram que as atividades domésticas que se somam ao trabalho são em grande medida as principais responsáveis pelo cansaço e desgaste físico que levam. Os principais incentivos precisados pelas entrevistadas situaram-se na possibilidade de comercialização do pescado garantir mercado consumidor e remuneração justa pelos produtos e tornar a atividade econômica mais produtiva foi demandado ainda a existência de políticas públicas voltadas para a categoria, principalmente ligadas à promoção da questão ambiental e incentivos de ordem financeira e alimentar, principalmente ligados as dificuldades de coleta e extração de mariscos e demais produtos durante a época das chuvas. Percebemos ainda uma grande demanda de incentivos da ordem da formação profissional atrelada ou não às atividades da pesca, na promoção de cursos que possam promover uma melhor capacitação para o trabalho e promover novos trabalhos para as pescadoras. Não foi percebido em nenhuma localidade a existência de política públicas voltadas para as comunidades pesqueiras.todas as entrevistadas disseram passar

dificuldades durante o inverno. Na maior parte das localidades não há possibilidade alguma de pesca durante os meses de maio a agosto, quando a queda na salinidade das águas dos mangues impossibilita a reprodução dos mariscos. Cerca de 60% das entrevistadas realizam alguma atividade exterior a pesca durante este período, a maioria ligada a relações de trabalho informais na prestação de serviços domésticos (25%) em casas de veraneio, na localidade ou em municípios próximos: fazem faxinas e lavam roupas, principalmente. Uma parcela envolve-se no comércio informal (15%), fundamentalmente de doces e salgados de baixo valor, no chamado fiteiro, ou de modo semelhante, prestam serviços a parentes e conhecidos em bares ou restaurantes. Uma pequena parcela disse realizar artesanatos com os resíduos da pesca, ou na confecção de peças com tricô ou crochê, além de bordados. Cerca de 40% das entrevistadas não realiza qualquer atividade produtiva durante o inverno. A maioria das entrevistadas (cerca de 90%) tem interesse em desenvolver outras atividades além da pesca, o grupo que disse não ter interesse é formado em grande medida por mulheres mais velhas, que se encontram em idades próximas da aposentadoria e sentem-se cansadas. As que gostariam de trabalhar com outra coisa, citaram a importância de ter um emprego de carteira assinada e receber um salário certo. Nas áreas de trabalho encontramos uma grande demanda para trabalhar em espaços ligados a comunidade, como nas cozinhas das escolas, como merendeiras, o que se mostrou ser o sonho de muitas entrevistadas. Elas disseram ainda que gostariam de poder ter o próprio negócio informal, como os fiteiros, além de realizarem capacitações, principalmente de cursos que fossem voltados para sua inserção das mulheres em outros mercados de trabalho. Foi demandado ainda cursos a realização de cursos ligados a área da pesca como de artesanato e beneficiamento de pescados. Uma parte significante das entrevistadas disse não saber que tipo de atividade gostaria de realizar. Referências BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Concepção e gestão da proteção social não contributivano Brasil. Brasília: MDS; UNESCO, 2009 BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Políticas sociais para o desenvolvimento: superara pobreza e promover a inclusão. Brasília, DF: Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome; UNESCO, 2010

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