CONSTRUINDO PRÁTICAS DE CULTURA DE PAZ EM ESCOLAS PÚBLICAS DE TERESINA



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Transcrição:

CONSTRUINDO PRÁTICAS DE CULTURA DE PAZ EM ESCOLAS PÚBLICAS DE TERESINA Elilian Basílio e Silva/UFPI/SEMEC 1 RESUMO A Paz é um grande desafio e um imperativo para quem trabalha no campo da educação, principalmente para educadoras e educadores da Educação Básica, etapa da vida escolar em que crianças e jovens, como seres em desenvolvimento, necessitam de uma formação substancial nas várias dimensões da vida (afetiva, emocional, cognitiva, ética, social, cultural, dentre outras), bem como de todo o empenho profissional e generosidade humana por parte dos profissionais envolvidos diretamente no cotidiano escolar. A escola, hoje, se tornou um espaço revelador de conflitos violentos, seja entre alunos/as, seja entre alunos/as e professores/as ou entre alunos e outros sujeitos que compõem o cenário de inúmeras instituições escolares. Lamentavelmente a escola, em especial a pública, tem sido protagonista de vários episódios que têm preocupado a sociedade, principalmente as pessoas que nela se arriscam diariamente, educadores, pais, bem como autoridades e pesquisadores. O agravamento crescente do fenômeno da violência da/na escola é cada vez mais presente no seu cotidiano. Observa-se, portanto, que esse contexto contribui para que se instalem sentimentos de insegurança por todos aqueles que nele convivem. Neste sentido, necessário se faz construir uma análise do contexto escolar de Teresina, sob o ponto de vista de que a violência na/da escola não pode ser analisada de maneira isolada, mas a partir de um processo social desse fenômeno num âmbito mais amplo. De modo geral, os estudos sobre violências ou violência escolar apontam os principais elementos relacionados à violência nas escolas: o uso da força, a existência de agressor e/ou vítima, agressões físicas e verbais, roubos e vandalismos [...]. É a partir desses elementos atitudinais que residem os principais problemas enfatizados em certos estudos sobre violências. Assim, algumas compreensões imediatistas registram entendimentos que passam somente a idéia de violência como criminalidade, agressões físicas, ou seja, atos que nos causam dor física e sofrimentos. O presente trabalho tem como objetivos: a) Conceituar as diferentes formas de violência que se manifestam no espaço escolar, à luz de alguns teóricos que discutem essa temática: Bomfim, 2006; Abramovay, 2006; Odália, 2004) e outros; b) Apresentar práticas pedagógicas voltadas para o grande desafio: o combate ás violências na escola; Neste sentido, apresentaremos a experiência do Projeto Escola que Protege Educadoras/es e Agentes Comunitários Fazendo Cultura de Paz: combate às violências nas escolas, realizado pela Universidade Federal do Piauí UFPI em parceria com várias entidades locais, através do Observatório de Juventudes e Violências na Escola, no período de janeiro de 2008 a julho de 2009 sob a coordenação da Profª Drª Maria do Carmo Alves do Bomfim e Profª Ms. Rosa Mª de Almeida Macedo (Coordenadora Adjunta); c) Em seguida, o texto trás uma amostra dos resultados da avaliação do Projeto realizado com os professores participantes que revelaram a forma como os seminários realizados foram satisfatórios, atendendo aos objetivos propostos pelo Programa. Conforme proposto no início deste texto, foi possível, no limite de tempo disponível, alinhavar alguns elementos sobre as diversas formas de 1 Pedagoga da Secretaria Municipal de Teresina-SEMEC e Mestranda do Curso de Pós-Graduação / Mestrado em Educação da UFPI. e-mail elilian.net@ig.com.br

2 violências ocorridas no espaço escolar, como reflexo do que ocorre no conjunto da sociedade, bem como seu enfrentamento nesse espaço. Palavras chaves: Violência, Cultura de Paz e Prática Pedagógica INTRODUÇÃO: A escola, agência formadora privilegiada pela humanidade para formar mentes, corpos e sensibilidades das pessoas, para uma vida mais justa, fraterna e cidadã, é um dos espaços sociais mais apropriados de formação integral dos indivíduos por meio da construção e cultivo de valores, saberes e atitudes propícios/as no que tange à substanciação do respeito à dignidade individual e coletiva das pessoas, à luz dos Direitos Humanos e de Cidadania. Embora, na contemporaneidade, em especial no início do século XXI, estejamos vivendo na velocidade da informação e do conhecimento, com diversos avanços científicos e tecnológicos, as populações de inúmeras sociedades são atingidas, cotidianamente, por uma avalanche de práticas violentas de diversos tipos. Nesse sentido, procurar os porquês da violência e refletir sobre suas relações com a sociedade e com o homem e a mulher tornou-se um imperativo a todo aquele que direta ou indiretamente estão envolvidos num projeto de ser humano solidário, fraterno e profissional, tendo como missão promover práticas de Cultura de Paz, voltadas para convivência pacífica dos indivíduos nos vários espaços de socialização. Esse deve ser, portanto, papel da escola: discutir os problemas que envolvem as práticas de violência, na perspectiva de desenvolver ações educativas capazes de promover a superação desses problemas, a partir da redução deles. Assim, a complexidade do fenômeno em questão nos remete a pensar práticas educativas como ferramenta de ataque e combate a toda forma de violência, encontrar meios de vencê-la, enquanto fenômeno de natureza social e cultural, pois não podemos jamais pensar que a melhor saída ou ferramenta de luta contra a violência seja aprender a conviver com ela. Para Odalia (2004, p. 90), a violência, hoje, é meio de ataque, mas também de defesa. Ela exprime um inconformismo radical em relação às imperfeições da sociedade. Caberá à escola com a sua função social e política, transformar-se em espaço de convivência saudável, ou seja, construindo e vivenciando práticas de Cultura de Paz, como condição para garantir o sucesso da educação. Sob essa ótica, segundo Ribeiro (2006, p. 167) educar para Paz é, aprender a descobrir e enfrentar os conflitos para resolvê-los adequadamente; é possível encontrar nos conflitos cotidianos escolares, através de análise destes, soluções contrárias à violência.

3 Não pretendemos aqui discutir todos os tipos de violência vivenciados pela sociedade, mas compreender alguns deles ocorridos no contexto escolar, suas marcas e complexidades, bem como as práticas de Cultura de Paz desenvolvidas por várias instituições, em especial a UFPI por meio do Projeto Escola que Protege Educadoras/es e Agentes Comunitários fazendo Cultura de Paz: combate às violências na Escola, e uma pequena amostra dos resultados da avaliação do Projeto, indicados pelos professores participantes. 1 Violência: buscando sentidos Inicialmente a violência nos permite ter muitos olhares e definições, pois se trata de um fenômeno com dificuldades de conceituação, uma vez que está presente em nosso cotidiano e nos remete a muitas indagações e reflexões. Pois, quando falamos de violências poderíamos nos referir a todas as formas deste fenômeno que incluem os assassinatos, assaltos, chacinas, roubos, assédio moral, violência sexual, agressões físicas, verbais, xingamentos, violência conta o patrimônio público, atos de indisciplina, violência simbólica ou ainda as chamadas incivilidades, esta última, caracterizada por Abramovay e Castro (2006, p.50), como microviolências, o que consistem em infrações à ordem estabelecida que ocorrem na vida cotidiana. No contexto escolar, muitas vezes, essas infrações não são percebidas como atos de violência. Nesse sentido, é fundamental compreender e analisar sob a ótica de alguns teóricos o que são as violências, seus sentidos e suas manifestações, principalmente no espaço escolar. Violências São atos reais, muitas vezes de sangue, de órgão arrancado, de gritos, de pessoas desfiguradas: é o que dói. Mas nem todas as dores são físicas e, não necessariamente, todos sentem a dor com a mesma intensidade e da mesma maneira, pois em cada época e em cada sociedade as representações e os sentimentos em relação à violência variam. (ABRAMOVAY e CASTRO, 2006, p. 14-15). Segundo Macedo e Bomfim (2007) quando o assunto é violência, é preciso, pois, olhar cenários, contextos, situações e processos sociais. Michaud (2001) acredita que existe violência quando, numa situação de interação, um ou vários atores, direta ou indiretamente, causam prejuízo a um ou vários indivíduos em gruas variáveis. Se pensarmos num sentido macro do fenômeno, definiríamos violência, segundo Chauí apud Abramovay e Castro (1999 p.3/5) Tudo o que age usando a força para ir contra

4 a natureza de alguém (é desnaturar); Todo ato de transgressão contra o que alguém ou uma sociedade define como justo e como direito [...] É nessa inter-relação que ora se refere ao sujeito ou ao contexto que a escola adentra nesse ambiente de onde se discute o fenômeno da violência e suas implicações. Pois é necessário entendermos que a violência não se distancia nas diferentes práticas e nas esferas da vida social, atingindo também a escola e criando uma inquietação crescente que permeia todos os espaços. (ABRAMOVAY, 2006) Então, é a partir desse cenário, o da escola, com todos os seus protagonistas que se envolvem num processo de ensino-aprendizagem-ensino, mediado pelo enfrentamento dos conflitos nela existentes, todos e todas cidadãos/cidadãs como profissionais e integrantes desse corpo institucional são convidados/as a discutir e buscar estratégias e ações educativas voltadas para uma Cultura de Paz na Escola e na sociedade. Compreendendo que a Educação para a Paz deve refletir no sujeito uma formação integral de ser humano. É nessa perspectiva que agora detalharemos as ações do Projeto Escola que Protege Educadores e Agentes Comunitários Fazendo Cultura de Paz: combate ás violências. 2- Construção e Funcionamento do Projeto Escola que Protege Educadores e Agentes Comunitários Fazendo Cultura de Paz: Combate às violências na Escola Apresentaremos agora como foi realizado, de janeiro de 2008 a julho de 2009, o Projeto supramencionado, seus objetivos, sujeitos envolvidos e as práticas pedagógicas dele decorrentes. No processo de execução dessa formação continuada de educadoras/es e agentes comunitários, diversas práticas de Cultura de Paz foram iniciadas e continuam a desenvolverse em escolas públicas pelos participantes das várias atividades desse Projeto, em seus locais de trabalho. O processo de implantação do Projeto Escola que Protege financiado pela SECAD/MEC 2, teve como objetivo contribuir para uma nova ordem social, investindo nos processos de inclusão social, como forma de prevenir e combater a violência no meio escolar, através da formação e capacitação de educação e agentes comunitários para atuarem junto às crianças e aos jovens escolares em condições de vulnerabilidade social. Começou no ano de 2008 sob a Coordenação da Profª Drª Maria do Carmo Alves do Bomfim juntamente com a Profª Ms. Rosa Maria de Almeida Macedo (Coordenadora Adjunta) sendo uma das primeiras 2 SECAD Secretaria de Formação Continuada, Alfabetização e Diversidades.

5 ações a realização de contatos com entidades locais em busca de parcerias, culminando, assim, com a criação do Comitê Gestor, seguido da divulgação do Projeto (Janeiro/2008). Inicialmente, houve a adesão do Comitê Gestor em fevereiro de 2008, formado por representantes de várias entidades, a citar: Secretaria Estadual de Educação e Cultura - SEDUC, Secretaria Municipal de Educação e Cultura - SEMEC, Universidade Estadual do Piauí - UESPI, Ação Social Arquidiocesana - ASA, Comissão Estadual de Direitos Humanos- CEDH, Coordenadoria Estadual de Direitos Humano e da Juventude - CEDHJ, Coordenadoria Estadual de Defesa da Criança e do Adolescente - CEDCA, Secretaria Municipal da Juventude - SEMJUV, Fundação Cultural do Estado do Piauí - FUNDAC, Centro de Juventude para a Paz - CEJUPAZ, Secretaria Estadual da Fazenda/ESCOLA FAZERNDÁRIA SEFAZ/ESFAZ. Em 14/01/2088, então, iniciou-se o processo de divulgação informando como seria a realização e o planejamento das ações do Projeto que ora cito, bem como o seu formato, em termos de execução, consistindo em Oficinas, Seminários, Encontros e Fóruns de Debates, Elaboração de Cartilha, Produção de Vídeo e participação de educadoras/es em Congresso de Formação de Professores: VIII Congresso Nacional de Educação da PUC/PR (EDUCERE) e III Congresso Ibero-Americano sobre Violências nas Escolas, no período de 04 a 06 de outubro de 2008. O Projeto Escola que Protege realizou 14 Ações de Formação Continuada distribuídas em Seminário, Fórum, Encontros contando com a participação de 1.054 profissionais, sendo 850 profissionais da Educação Básica de diversas escolas, 134 estudantes universitários e 70 outros profissionais de outras instituições. A maioria das ações foi realizada na Escola Fazendária, depois no Instituto de Ensino Superior Antonino Freire e, por último, no Auditório do Edifício Paulo VI. Apresentaremos uma experiência realizada por uma escola participante do Projeto da Rede Municipal de Educação de Teresina. 3- Experiências de Cultura de Paz resultantes desse Projeto O Projeto Escola que Protege - Educadores e Agentes Comunitários Fazendo Cultura de Paz: combate às violências na escola tem como proposta mediadora contribuir para a formulação de ações que traduzam e viabilizem alternativa para a escola e seus jovens que, em sua maioria, vive em situação de vulnerabilidade social. Todos os envolvidos no processo de superação das violências no ambiente escolar, muitas vezes se deparam com algumas certezas ou muitos questionamentos. È pensando dessa maneira que muitas escolas envolvidas

6 no Projeto ora citado, desenvolveram projetos e transformaram a escola em espaço alternativo de educação. Mas, no limite deste texto, apresentaremos apenas uma experiência: a da U. E. Prof. Manoel Paulo Nunes. 3.1 - A Experiência da Escola Municipal Prof. Manoel Paulo Nunes A Escola Municipal Profº Manoel Paulo Nunes, fica situada na Av. Zequinha Freire, 4415, zona leste, na periferia de Teresina, funciona nos três turnos, e nesse ano de 2010 possui 1.061 alunos no seu total. É uma escola que enfrenta sérios problemas de violência, tanto no espaço interno, como no seu entorno. E foi por essa razão, que a escola resolveu participar do Projeto Escola que Protege, com desejo de buscar saídas e estratégias para realizar um trabalho de Cultura de Paz na escola. Assim, desde o seu inicio desenvolve projetos que objetivam minimizar as incidências de atos violentos praticados por alunos, bem como auxiliar na aprendizagem, considerando a necessidade de elevar a auto-estima, de descobrir as potencialidades e incentivá-los a desenvolver suas habilidades dentre de uma Cultura de Paz. Dentre os projetos desenvolvidos podemos destacar os seguintes: - Pais Voluntários tem por objetivo trazer os pais para dentro da escola para acompanhar os alunos e também ajudar nas atividades quando se fizerem necessárias, tudo dentro da lei do voluntariado. - Cultura de Paz trabalhar a não violência, mostrando grandes exemplos de pacificadores, tais como: Jesus Cristo, Madre Teresa de Calcutá, Betinho, Mahatma Gandhi, São Francisco de Assis e outros. 3.2 Objetivos da Experiência acima apresentada Objetivo Geral: Apoiar a ampliação do tempo e do espaço educativo, e a extensão do ambiente escolar nas redes públicas de educação básica, no combate às violências, na escola. E como objetivos específicos: Contribuir para a redução da evasão, da reprovação, da distorção idade/série; Prevenir e combater o trabalho infantil, a exploração sexual e outras formas de violência contra crianças, adolescentes e jovens, Promover a formação de sensibilidade, da percepção e da expressão de crianças, adolescentes e jovens nas linguagens artísticas, literárias e estéticas; Estimular crianças, adolescentes e jovens a manter uma interação efetiva em torno de práticas esportivas, educacionais e de lazer direcionada ao processo de desenvolvimento humano, da cidadania e da solidariedade; Promover a aproximação entre a escola, às famílias e as comunidades; Prestar assistência entre a escola, às famílias e as comunidades;

7 4. Avaliação: um registro dos conhecimentos proporcionados pelo Projeto A avaliação toma corpo, com um olhar orientador para reestruturação do Projeto ora apresentado, dentro de um processo contínuo, a fim de subsidiá-lo para sua continuidade. Oportunizar o registro e reflexões das experiências realizadas pelos participantes do Projeto, tendo como objetivo examinar os impactos das ações na prática dos professores no contexto da escola. Apresentaremos o que representou para os 54 professores, a experiência de discutir, buscar estratégias e ações educativas voltadas para uma Cultura de Paz na escola, como forma de prevenir e combater a violência no meio escolar. A partir de um item do questionário aplicado com os professores, foi possível apreender, através de depoimentos, dados positivos que revelam a percepção deixada pelos docentes, quando perguntado sobre: Você concorda ou discorda que o Projeto Cultura de Paz na Escola proporcionou-lhe fundamentação teóricometodológico para trabalhar este tema com seus alunos e colegas da escola onde trabalha? 31 responderam que: Os temas abordados foram importantes para meus estudos sobre violência; Aprendi a desenvolver um projeto; Procurei conhecer a fundamentação teórica e minha postura como professor (a) melhorou; Agora dei um olhar diferente para o meu trabalho; Foi um subsidio a mais para trabalhar com os alunos; Estamos mais conscientes do que é violência; Passei a ver a violência dos alunos com mais tolerância e procurei resolver com diálogo; Ampliou os conhecimentos; Trocas de experiências; Melhorou relação da família com a escola; Melhorou a interação entre professor e alunos; Foi muito bom pra alertar os alunos na escola; As experiências realizadas na escola serviram para a realização dos outros projetos; Uma educação mais voltada para uma cultura de paz com parceria e coletividade; A conscientização de realizar projetos de paz nas escolas. Os 23 professores restantes, responderam a título de sugestão o que segue: Que tivesse divulgação para mais escolas; Mais envolvimento das entidades parceiras; Que sejam trabalhados mais textos sobre o tema do Projeto; Que os encontros sejam mensais (sexta e sábado); Criar uma equipe organizadora para comunicação; Maior participação do professor que está lá na sala de aula; Contemplasse o maior número de escola possível; Colocar a disposição os materiais das palestras. Esses depoimentos transcritos de parte do questionário 3 avaliativo registram o quanto o Projeto, como uma política pública de fortalecimento social, foi significativa para os 3 O questionário não foi apresentado na sua íntegra, tendo em vista o limite das laudas exigidas para esse trabalho. Assim escolhi o item que melhor representasse dados positivos do Projeto realizado.

8 professores e professoras, o quanto contribuíram as discussões realizadas durante o Programa nas ações pedagógicas mais significativas para uma Cultura de Paz na Escola, junto aos alunos e aos colegas de trabalho. Assim, podemos perceber a partir das falas dos docentes, o desafio que se apresenta para a escola; aprender a trabalhar a partir das suas demandas para superar as dificuldades que se apresentam tornado o espaço interno da escola um lugar de paz e encantamento. Compreendermos que esses passos dados, por todos aqueles que direta ou indiretamente, estão envolvidos no processo de educação democrática e inclusiva, são revelados como um grande imperativo a ser alcançado. A possibilidade de concretizar a máxima do conhecimento apreendido se constitui como saber necessário para uma prática docente sólida e segura. 6. Considerações Finais Conforme proposto no início deste texto, foi possível, no limite de tempo disponível, alinhavar alguns elementos sobre as diversas formas de violências ocorridas no espaço escolar, como reflexo do que ocorre no conjunto da sociedade, bem como seu enfrentamento nesse espaço. Através de uma pequena amostra avaliativa, a partir de relatos, de que forma as ações desenvolvidas pelo Projeto subsidiou as prática pedagógicas dos professores no seu ambiente de trabalho. Além disso, registramos uma experiência de Cultura de Paz, dentre muitas desenvolvidas por participantes do Projeto Escola que Protege Educadoras/es fazendo Cultura de Paz: combate às violências na escola. Uma experiência que valeu a pena! Acreditamos que trabalhar no universo da escola que se apresenta em situação de vulnerabilidade social, principalmente no quesito de violências, é oportuno criar alternativas que apontem para novas perspectivas e oportunidades. Que a escola se torne em potencial, um espaço de inserção, pertencimento de meninos e meninas em situações de risco social. Assim com as reflexões e registros de experiências de Cultura de Paz de uma Escola Municipal de Teresina, esperamos contribuir com as leitoras e os leitores deste trabalho, aguardando complementos e contribuições. 7. REFERÊNCIAS

9 ABRAMOVAY, Miriam; CASTRO, Mary Garcia. Caleidoscópio das violências nas escolas. Brasília: Missão Criança, 2006. ABRAMOVAY, Miriam; Vitimização nas escolas: clima escolar, roubos e agressões físicas. In: Bonfim Maria do Carmo Alves, MATOS, Kelma Socorro Lopes de (org.) Juventudes, Cultura de Paz e Violências na Escola. Fortaleza: Editora UFC, 2006, p.69-103. MACEDO, Rosa Maria de Almeida; Bomfim, Maria do Carmo Alves do. Um olhar sobre juventude e Violências na escola. Teresina: Expansão, 2007. MICHAUD, Yves. A violência. São Paulo: EGB; 2001. ODÁLIO, Nilo. O que é Violência. São Paulo: Brasiliense, 2004. RIBEIRO, Raimunda. Educação e Paz: Construindo Cidadania. In: BOMFIM, Maria do Carmo Alves do (org.) e Kelma Socorro Lopes de Matos. Juventude, Cultura de Paz e Violência na Escola. Fortaleza: Editora UFC, 2006, p.166-167.