Uso da Gestão de Configuração de Software pelas Organizações em Busca de Certificação



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Transcrição:

Uso da Gestão de Configuração de Software pelas Organizações em Busca de Certificação Carlos Eduardo Sanches da Silva, Dr. (UNIFEI) sanches@iem.efei.br Dalton Péricles de Almeida (UNIFEI) dalton.almeida@ig.com.br Daniela Barreto (UNIFEI) dan_barreto@yahoo.com.br João Batista Turrioni, Dr. (UNIFEI) turrioni@iem.efei.br Resumo A gestão de configuração vem adquirindo grande importância não somente para a organização das empresas, mas como requisito de certificação, exigido nas principais iniciativas internacionais de certificação de qualidade de processo de software: ISO 9000, CMM (Capability Maturity Model) e SPICE (Software Process Improvement and Capability Determination). Com base na estrutura da Gestão de Configuração de Software (GCS), serão apresentadas as vantagens da adoção desta prática nas empresas de desenvolvimento de software e também nas empresas que possuem pequenos grupos de desenvolvimento, mesmo que este não seja o seu core business. Palavras chave: Gestão de configuração, desenvolvimento de software, documentação. 1. Introdução Atualmente, a qualidade exigida no desenvolvimento de um produto de software vem aumentando. Com isso, maior qualidade e maior produtividade são fatores críticos para a competitividade das organizações. Paralelamente, os produtos de software estão se tornando cada vez mais complexos. Essa situação vem propiciando o uso de teorias e ferramentas que garantam a satisfação desses requisitos. Dentre essas ferramentas, uma que vem se destacando é a Gestão de Configuração de Software (GCS). A GCS está, em geral, relacionada a iniciativas de desenvolvimento de software em que o processo de desenvolvimento é bem definido, com atividades agrupadas em fases que possuem produtos bem definidos e documentados. Neste contexto, GCS é a espinha dorsal sobre a qual as fases do desenvolvimento são conduzidas e os produtos, tanto finais como intermediários, controlados. Este artigo surgiu da necessidade de alinhamento entre os conceitos de GCS e as premissas que justifiquem a sua utilização pelas empresas e/ou grupos de desenvolvimento de software. A finalidade deste artigo é identificar os principais fatores que devem ser considerados na implantação de um sistema de GCS, suas vantagens, independente da necessidade de certificação (ISO 9000, CMM...), e apresentar uma breve estatística sobre a utilização de GCS nas empresas brasileiras. 2. Conceitos A GCS pode ser definida como o processo através do qual todos os componentes de um sistema de informação (hardware e software), as suas inter-relações, a sua documentação e mesmo os processos de trabalho associados são administrados, principalmente no que se refere às parametrizações para o bom funcionamento do conjunto e as alterações que vão sendo necessárias. ENEGEP 2003 ABEPRO 1

Segundo Oliveira et al (2001) A Gerência de Configuração de Software propõe-se a minimizar os problemas surgidos durante o ciclo de vida do software através de um controle sistemático sobre as modificações. Não é objetivo da GCS coibir as modificações, pelo contrário, é facilitá-las. Procura-se apenas cuidar que elas ocorram de forma sistemática e controlada para evitar, ou minimizar, as suas decorrências negativas. As modificações em um produto de software são inevitáveis durante seu ciclo de vida. Elas podem ocorrer pelo surgimento de novas necessidades dos clientes, que exigem modificações dos dados produzidos por sistemas de informação ou até mesmo por restrições de orçamento ou cronograma, que causam redefinições no sistema ou produto. Como as mudanças nos produtos de software são intrínsecas, se não forem bem controladas, podem levar à perda de controle do produto e, como conseqüência, comprometer sua integridade e qualidade. O principal objetivo da GCS é possibilitar o controle das mudanças de forma eficiente, contribuindo para a melhoria do processo de desenvolvimento. Muitos desenvolvedores de software, em grande parte, não consideram as modificações que o software sofre durante seu desenvolvimento ou durante o seu ciclo de vida como um fato normal. Para estes desenvolvedores, as alterações se tornam tarefas complexas e por vezes demoradas. Esta situação ocorre principalmente devido a falta de informação consistente dos anseios dos clientes em relação ao software, falta de dados sobre como este foi construído ou até mesmo, em alguns casos, informações básicas, tais como: em que ambiente o software é utilizado e/ou quais são as suas funcionalidades. Como a função da GCS é o controle dos produtos de software, as modificações devem ser encaradas naturalmente, fazendo com que sua realização possa ser feita de forma segura, controlada e rastreável. A GCS enfoca que toda a documentação pertinente a um projeto tem que ser guardada e atualizada, seguindo uma linha que é adotada em outros ramos da engenharia.. O acesso a esta documentação para fins de consulta deve ser facilitado, mas as modificações devem ser estritamente controladas para evitar inconsistências e perdas de informação. Só o processamento disciplinado dos artefatos de um projeto garante que estes manterão a qualidade, a consistência e a atualidade ao longo das mudanças que acontecem durante a vida dos projetos e dos produtos. Uma concepção errônea, comum a muitas pretensas implantações, consiste em julgar que estão realizando uma gestão de configuração, pelo simples fato de usarem uma ferramenta de gestão de configuração, principalmente para a realização de controle de versões. Na realidade, a GCS envolve todo um conjunto de regras e procedimentos, que são apenas parcialmente automatizáveis. Dentre as normas que indicam as diretrizes para a gestão de configuração, temos a NBR ISO 10007 (Quality Management Guidelines for Configuration Management). Esta norma fornece orientação no uso da gestão de configuração na indústria e na relação com outros sistemas e procedimentos de gestão. Procura descrever todo o ciclo de desenvolvimento de um produto e foi concebida como forma de atender os requisitos de GCS estabelecidos na família de normas ISO 9000. As demais normas que formalizam GCS são as seguintes: ISO/IEC 12207, Information Technology Software Life Cycle Process; ISO/IEC TR 15846, Information Technology Configuration Management for Software. Tradicionalmente, a gestão de configuração é aplicada através de quatro atividades principais, conforme a Figura 1 [CUNHA (2001)]: ENEGEP 2003 ABEPRO 2

Gestão de Configuração Atividades para melhoria do processo Identificação Define os itens de configuração Controle Controla as mudanças do produto e as alterações na documentação Auditoria Relatório de estado Provê informações sobre o produto e a documentação Figura 1. Estrutura das atividades da GCS A seguir, cada uma das principais atividades da GCS são detalhadas, baseadas em Cunha (2001) e Pressman (1995): Identificação: Consiste em selecionar os itens de configuração (software configuration items - SCIs) e armazenar suas características físicas e funcionais. Os SCIs são as informações que são criadas como parte do processo de engenharia de software. Qualquer documento importante para o desenvolvimento deve tornar-se um item de configuração, mas os itens mais comuns são Especificação do Sistema, Plano de Projeto de Software, Especificação dos Requisitos de Software, Manual Preliminar do Usuário, Especificação do Projeto, Listagem do código-fonte, Plano e Procedimento de testes, entre outros Após a seleção dos itens que devem ser controlados e a definição de como estes itens devem ser identificados para que possam ser facilmente encontrados, devem ser definidas as datas ou etapas do projeto para que estes itens se tornam linhas básicas. A linha básica é um marco de referência no desenvolvimento de um software, que é caracterizado pela entrega de um ou mais itens de configuração e pela aprovação desses itens, obtida através de revisão técnica formal. Por exemplo, os elementos de uma Especificação de Projeto foram documentados e revisados. Erros são encontrados e corrigidos. Assim que todas as partes da especificação forem revisadas, corrigidas e depois aprovadas, a Especificação de Projeto torna-se uma linha básica. A partir de então, as mudanças na Especificação de Projeto devem ser feitas somente depois que cada uma delas for avaliada e aprovada. Controle: Uma das partes mais críticas do controle de configuração. O controle consiste na implementação de mecanismos que regulem as modificações sob a alçada da gestão de configuração. Devem ser levados em conta a natureza da modificação, a identificação de novos elementos envolvidos e o efeito da alteração nos demais elementos do sistema. O mecanismo de controle deve evitar a ocorrência de incompatibilidade. Auditoria: Processo realizado para verificar se o produto desenvolvido está de acordo com o que foi definido nas especificações ou em outra documentação contratual. Existem duas vertentes essenciais: PCA - Physical Configuration Audit: Verificação física da localização do hardware, software ou documentação; ENEGEP 2003 ABEPRO 3

FCA Functional Configuration Audit: Verificação de que as práticas anteriormente definidas estão sendo corretamente realizadas. A necessidade da realização de auditorias deve ser determinada no plano de gestão de configuração de software, podendo ter um caráter periódico (anual, bienal) ou um caráter mais contínuo, como nos grandes projetos, nos quais as mesmas são necessárias durante a evolução do produto para garantir a conformidade com o que foi planejado. Relatório de Estado: Consiste no registo e relato do estado da configuração completa do sistema em momentos definidos. Os relatórios devem ser capazes de responder às seguintes perguntas: O que aconteceu? Quem fez? Quando aconteceu? O que mais será afetado?. Em grandes projetos, aconselha-se que os relatórios de estado também possam ser instantâneos do sistema. Esta prática, geralmente, é suportada por ferramentas de software. Esta forma de criação dos relatórios minimiza a possibilidade de existência de um relatório desatualizado em relação a real configuração do sistema. Estes relatórios instantâneos desempenham um papel vital no sucesso em grandes projetos, pois possibilitam às diversas pessoas envolvidas no desenvolvimento trabalharem de forma sincronizada, evitando trabalhos conflitantes ou redundantes, uma vez que os mesmos mostram quais tarefas já foram feitas, quando e por quem. 2. Implantação de GCS Para a implantação da GCS não existe nenhum tipo de roteiro formalizado, que possa ser aplicado em todos os tipos de organização, uma vez que cada uma delas apresenta cenários diversos umas das outras, tais como necessidades diferentes, além de variados tipos de recursos humanos e computacionais. Entretanto, seguem abaixo os quatro pontos básicos que devem ser considerados numa implantação de GCS: - Identificação do que se pretende controlar; - Definição do tipo de controle a ser estabelecido; - Controle de que as modificações planejadas sejam implementadas de acordo com o especificado; - Criação de registros que permitam aos interessados a obtenção de informações do estado em que se encontram os itens sob controle. Após a definição dos pontos básicos, as próximas etapas a serem consideradas são: Definir o plano (de configuração): É no plano que se descreve a abordagem ao problema de gestão de configuração. Dele constam: procedimentos, políticas, cronogramas e responsabilidades; As normas IEEE Std: 828-1998 e ANSI/IEEE Std 1042-1987 descrevem uma estrutura para elaboração de um plano de GCS. Estabelecer a gestão de configuração: Conjunto de ferramentas utilizadas para automatizar o processo. Dentre as atividades que podem ser automatizadas, temos o armazenamento, a gestão de versões, a gestão de relatórios e o controle de acesso. Definir a estratégia de adoção da gestão de configuração: Cujo propósito é auxiliar a adoção das práticas de gestão de configuração de forma a proporcionar uma transição o menos traumática possível da forma atual em que a organização está trabalhando para a forma na qual a organização deverá trabalhar. ENEGEP 2003 ABEPRO 4

Durante o processo de implantação deve-se ter sempre em mente os vários benefícios importantes que serão alcançados através da implantação da GCS. Estes benefícios possibilitarão à organização um aumento considerável em qualidade e flexibilidade. Dentre estes benefícios, os mais difundidos são: - Assegurar que as modificações efetuadas no produtos estão de acordo com as especificações já analisadas, acordadas com o cliente e aprovadas; - Facilidade para acomodar mudanças, uma vez que através das documentações geradas durante o ciclo de vida do software é possível facilmente identificar quais pontos serão afetados pela mudança e qual será o impacto desta mudança no produto; - Maior controle sobre os produtos, pois todo o seu ciclo de vida é documentado; - Economia de tempo no desenvolvimento, devido a minimização do tempo gasto em não conformidades entre o produto em desenvolvimento e as reais necessidades e anseios do cliente, pois nada é feito sem uma prévia análise; - Facilidade na geração de versões diferentes de um mesmo produto de software; - Facilidade em retornar à situações anteriores, pois todas as alterações não ocorrem sem uma análise de impacto sobre o produto existente e são executadas de maneira pontual, sendo facilmente identificadas e restauradas ao estado anterior. Entretanto não podemos desconsiderar os variados custos gerados por uma implantação desse tipo. Apesar de ser composta por conceitos simples e de fácil entendimento, a principal barreira enfrentada pela implantação da GCS é a mudança cultural que deve ocorrer na organização, pois a mesma representa alterações nos métodos de trabalho de vários setores, envolvendo aspectos técnicos e gerenciais. Em algumas situações, a grandeza destas mudanças muitas vezes são responsáveis pelo desencorajamento das pessoas afetadas pelo processo. Com isto, pode-se notar que a implantação da GCS não ocorre sem custos para empresa e estes custos não podem ser desprezados durante o processo de implantação, para que o objetivo final possa ser plenamente atingido. Estes custos podem ser agrupados em dois tipos: - Custos com a adoção, os quais envolvem capacitação (aquisição de informação) e treinamento do pessoal envolvido no processo; - Custos para a implementação, que envolvem recursos humanos (pessoal envolvido na implantação da GCS ), recursos computacionais (computadores e dispositivos a serem utilizados para armazenamento das informações) e ferramentas de GCS (ferramentas para automatização do processo da GCS). 3. A utilização da GCS no Brasil No Brasil, o assunto ainda é pouco conhecido e não existem no mercado ferramentas nacionais de destaque para o controle das atividades automatizáveis da GCS. Atualmente, percebe-se um interesse crescente por GCS. Esse interesse pode ser atribuído em grande parte à busca por certificações de qualidade, como ISO 9000, ou nível de maturidade, de acordo com o CMM, mas também devido às necessidades colocadas pela competição do mercado que, cada vez mais, exige qualidade. De acordo com Oliveira et al (2001), verifica-se maior incidência do uso de GCS em empresas multinacionais ou de grande porte. Além disso, deve-se observar também que o aumento de formalismo altera a rotina de trabalho da organização como um todo, gerando um ENEGEP 2003 ABEPRO 5

série de procedimentos de trabalho a mais que devem ser seguidos. Esta situação torna-se mais grave quando a observamos pela ótica da realidade nacional, na qual boa parte dos produtos de software são desenvolvidos por pequenas empresas, com no máximo 10 funcionários, que lutam contra a escassez de recursos e as deficiências tecnológicas para manter seus produtos no mercado. Neste cenário, todo aumento de formalidade é visto inicialmente como aumento desnecessário na carga de trabalho. Para ilustrar o uso da GCS pelas empresas brasileiras, podemos tomar como parâmetro a pesquisa Qualidade e Produtividade no Setor de Software Brasileiro. Essa pesquisa é desenvolvida, a cada dois anos, pela Secretaria de Política de Informática do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT/SEPIN), em parceria com entidades representativas do setor, como SOFTEX (Sociedade para a Promoção da Excelência do Software Brasileiro), ABEP (Associação Brasileira de Empresas Estaduais de Processamento de Dados), ABES (Associação Brasileira de Empresas de Software), ABINEE (Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica), ASSESPRO (Associação das Empresas Brasileiras de Tecnologia da Informação, Software e Internet) e SUCESU (Sociedade de Usuários de Informática e Telecomunicações). Segundo a pesquisa Qualidade e Produtividade no Setor de Software Brasileiro realizada entre empresas que desenvolvem, distribuem ou editaram software 23,4% dessas empresas utilizavam GCS em 2001. Apesar de ainda representar um pequeno número de empresas, esse resultado demostra um significativo crescimento em relação aos 6,8% de empresas que utilizavam GCS em 1997. 4. Conclusão A implantação de GCS e sua utilização em uma organização não é uma tarefa fácil, mas devese manter em foco que as mudanças ocorridas com a implentação trazem muitos benefícios para a qualidade do software produzido, melhorando a satisfação do cliente, diminuindo os retrabalhos e, principalmente, facilitando as manutenções e alterações no software durante seu ciclo de vida. A mesma possibilita ainda que mudanças simples possam ser feitas em softwares complexos sem que ocorra perda de qualidade e funcionalidade, e que mudanças complexas possam ser feitas de forma pontual e gradativa, de maneira que estas mudanças se tornem simples e ocorram sem dificuldades. Isto faz com que uma organização que adote a GCS se torne flexível e competitiva no mercado, pois produz software com qualidade e flexibilidade durante todo o ciclo de vida do mesmo. Deve-se destacar que, como em todos os processos de melhoria da qualidade, o não comprometimento dos escalões superiores pode inviabilizar o uso da GCS em uma organização, uma vez que a mesma não pode ser encarada como sendo simplesmente uma ferramenta ou um procedimento a ser seguido, mas sim uma mudança na cultura da organização. Referências ANSI/IEEE Std 1042-1987. CUNHA, PAULO RUPINO DA. Gestão de Configuração (Configuration Management CM). 2001. IEEE Std: 828-1998. PRESSMAN, ROGER S. Engenharia de Software. Rio de Janeiro: Makron Books, 1995. Software Configuration Management (SCM): A pratical guide. United States of America: Albuquerque Operations Office, 2000. ENEGEP 2003 ABEPRO 6

OLIVEIRA, ANGELINA A. A. C. P. de. Gerência de Configuração de Software: Evolução de Software sob Controle. 2001. ITI Instituto Nacional de Tecnologia e Informação. ENEGEP 2003 ABEPRO 7