Resumo O CURSO DE PEDAGOGIA: UM ESTUDO COMPARADO DE PROPOSTAS CURRICULARES DIAS, Carmen Regina Oleski, UFPR carmenoleski@hotmail.com SILVA, Evelyn Gonçalves da Costa evelynemaps@yahoo.com.br Eixo Temático: Políticas Públicas, Avaliação e Gestão da Educação Agência Financiadora: Observatório da Educação Superior O presente trabalho, cuja temática central é a formação de professores, busca, sob uma perspectiva histórica e comparada, entender a trajetória, estrutura e o contexto em que foram concebidas e implantadas duas propostas curriculares analisadas, do Curso de Pedagogia de uma Instituição de Ensino Superior pública. Cabe às instituições formadoras analisar e avaliar a problemática que envolve as necessidades e desafios que se apresentam na atualidade, diante de obstáculos ainda não superados na educação brasileira e que tem sido objeto de discussão em torno da temática sobre formação de professores, nesse contexto. O objetivo da pesquisa é identificar avanços e limitações que se delineiam na proposta em implantação, que possam apontar indicadores de qualidade na formação de pedagogos. Os procedimentos teórico-metodológicos adotados norteiam-se em princípios da pesquisa qualitativa, na análise documental e analise comparativa com fundamentação em Triviños (1987), Lüdke e André (1986), Bonitatibus (1989) de maneira a permitir certa flexibilidade na condução dos estudos, visto que o currículo atual se encontra em fase de implantação. Além da leitura das propostas pedagógicas e de textos sobre a temática em estudo, procedeu-se à análise dos documentos seguidos de momentos de reflexão, que propiciaram a construção de uma análise comparativa das matrizes curriculares. Os resultados desse estudo, até o momento, foram significativos, destacando-se como avanços estratégias metodológicas e ações que enfatizam: a indissociabilidade entre a teoria e a prática; a expansão das funções e áreas de atuação do profissional a ser formado pelo curso; o aumento na duração e carga horária do curso, com expansão da oferta de disciplinas optativas e acréscimo da carga horária para atividades formativas; maior incentivo à formação do professor pesquisador; e, a implantação do trabalho de conclusão de curso. O estudo e pesquisa encontram-se em construção, articulados ao Projeto Observatório da Educação Superior. Palavras-chave: Pedagogia. Currículo. Avanços. Limites. Introdução
14986 O curso de Pedagogia no Brasil, ao longo da história, forma profissionais que dominam os conhecimentos pertinentes aos processos educativos na escola e no meio social, tendo como principal objeto de estudo a forma de ensinar e a gestão educacional. Oficialmente, foi regulamentado pela primeira vez no país por meio do Decreto-Lei nº1190/1939, que definia esse curso como formador de técnicos de educação, sendo direcionado aos professores primários que desejavam assumir [...] funções de administração, planejamento de currículos, orientação a professores, inspeção de escolas, avaliação do desempenho dos alunos e dos docentes, de pesquisa e desenvolvimento tecnológico da educação, no Mistério da Educação, nas secretarias dos estados e dos municípios. (PARECER CNE/CP Nº 3/2006, p. 2) Dos anos 90 até os dias atuais o Curso de Pedagogia da Universidade em estudo passa a enfatizar a formação de profissionais habilitados para a docência na Educação Infantil e anos iniciais da Educação Básica. As necessidades presentes na sociedade contemporânea apontam para a importância de uma melhor qualificação do corpo docente na Educação Básica, como forma de propiciar um melhor desempenho escolar aos educandos, para que se ampliem as oportunidades de progressão nos estudos. Cria-se em 1996, conforme a resolução nº 15/96- CEPE, uma nova estrutura para o referido curso. No entanto, apesar do intenso debate, as modificações não foram suficientemente significativas para mudar inteiramente o caráter tradicionalmente fragmentado, sustentado por uma antiga concepção, o que seria motivo para novas discussões com a participação de professores e alunos as quais, por sua vez, levariam à formulação de uma nova proposta pedagógica, em 2008. O presente trabalho realizou uma análise comparativa entre as propostas pedagógicas de 1996 e 2008 (esta, em fase de implantação), dessa instituição, a fim de se identificar as inovações e os limites e compreender a trajetória, estrutura e o contexto em que foram concebidas e implantadas. Iniciativas de pesquisa relacionadas à formação de futuros educadores são de grande importância para a área educacional, devido ao papel que esses profissionais desempenham no processo de formação de cidadãos. Posteriormente, serão aplicados questionários abertos e realizadas entrevistas para um estudo mais detalhado, com a intenção de aprofundar a análise. Revisão Bibliográfica
14987 A sociedade atual propõe que a formação inicial dos professores acompanhe as modificações no mundo do trabalho, os avanços tecnológicos, os delineamentos dos organismos internacionais, os fatores culturais, econômicos e sociais. Para tanto, é primordial que a formação acadêmica em diversas áreas do conhecimento, possibilite aos futuros educadores o aprimoramento individual e profissional que lhe garanta a necessária capacidade de análise e discernimento para distinguir o que realmente colabora para a definição de novas estratégias e conteúdos que possibilitem saltos de qualidade na formação e na subseqüente atuação de professores, como um dos principais requisitos para o enfrentamento desses e de outros desafios. Segundo Hagemeyer (2008), o curso de pedagogia da (...) forma o pedagogo unitário para atuar preferencialmente no âmbito escolar, tanto na carreira docente como na gestão/organização do trabalho pedagógico, tendo como eixo central o trabalho pedagógico escolar como princípio educativo e constitutivo para a formação integral desse profissional. Concordando com Saviani (1985, p.27), entende-se que o pedagogo (...) é aquele que possibilita o acesso a cultura, organizando o processo de formação cultural. É, pois, aquele que domina as formas, os procedimentos, os métodos (...). Gatti (2009) adverte que a complexidade curricular exigida para esse curso é vasta, notando-se, pelas orientações da Resolução nº 1 de 15/05/2006, a dispersão disciplinar que se impõe em função do tempo de duração do curso, sua carga horária e a formação que deverá propiciar. A universidade, em geral, constrói a proposta curricular de um curso de forma coletiva, exercendo a sua autonomia, fundamentando e contextualizando a sua intencionalidade formativa. Assim, ao definir a sua proposta pedagógica, cada organização educativa estará, portanto, determinando a sua finalidade, meta e direção (EYNG, 2002, p. 25). Na análise de uma proposta pedagógica Gatti (2010, p.1360), ressalta a necessidade de analisar se os documentos curriculares contemplam [...] a concepção de um profissional que tem condições de confrontar-se com problemas complexos e variados, estando capacitado para construir soluções em sua ação, mobilizando seus recursos cognitivos e afetivos. O futuro educador necessita de possibilidades de formação que levem a aliar os seus conhecimentos teóricos às praticas pedagógicas na escola e em outros campos de sua atuação. Por outro lado, a proposta curricular precisa estar organizada de forma integrada a fim de superar fragmentações e dicotomias. Ludke & Andre (1986) consideram que ao analisar documentos se tem uma fonte natural de informações contextualizadas que surgiram
14988 num determinado tempo histórico e, por isso, fornecem dados específicos deste contexto no qual foram criadas. Nesse sentido Eyng defende um currículo integrado no processo do conhecimento, afirmando que a matriz curricular do curso deve, além de inter-relacionar teoria e prática nas diferentes áreas, levar as disciplinas a interatuarem como cada uma das pares de um todo que se completam (...) (EYNG, 2002, p. 30). A produção do conhecimento será o que resulta deste processo formativo flexível e aberto. Concordando com Eyng (2002, p. 31), entende-se que é importante analisar até que ponto a Proposta Curricular do curso analisado está organizada de modo a garantir a interrelação entre as teorias da educação (dimensão ideológico-explicativa), a realidade do profissional no seu campo de trabalho, a realidade social (dimensão contextual) e a possibilidade de ampliação das práticas pedagógicas (dimensão operacional ou metodológica). A compreensão dos problemas encontrados na formação docente e os atuais desafios da educação básica perpassam por [...] questões de ordem conceitual sobre a formação, objetivos, a lógica norteadora do processo, núcleo orientador, concepção de professor e as relações entre a teoria e prática, ensino/aprendizagem, ensino/pesquisa (...) (VEIGA, 2002, p.70), questões essas importantes e que permitem um olhar para a realidade da formação docente. Materiais e Métodos A pesquisa desenvolveu-se com base em procedimentos teórico-metodológicos que se norteiam em princípios da pesquisa qualitativa, na análise documental e análise comparativa, com fundamentação em Triviños (1987), Lüdke e André (1986) e Bonitatibus (1989). Além da leitura das propostas pedagógicas e de textos sobre a temática em estudo, procedeu-se à análise dos documentos, legislações e publicações, seguida de momentos de reflexão. Afirma Triviños (1987, p. 136), que em geral, esta linha de investigação segue os passos do método comparativo, descrevendo, explicando e comparando por justaposição e comparação propriamente dita os fenômenos. Um estudo comparado permite aos investigadores, segundo Bonitatibus (1989), examinar vários elementos ao mesmo tempo, estabelecendo uma comparação entre as semelhanças e diferenças sistematicamente. Este autor considera que, de fato, os limites
14989 espaciais de uma investigação comparativa podem variar imensamente, desde o nível de uma unidade escolar até um estudo verdadeiramente universal. (BONITATIBUS, 1989, p. 5). Análise Comparativa das Propostas Curriculares de 1996 e de 2008 A proposta do Curso de Pedagogia aprovada em 2008 manteve a concepção de pedagogo unitário do currículo anterior como sendo: [...] o Pedagogo enquanto profissional da educação, que conhece e reconhece o espaço escolar em sua totalidade, como articulador e organizador do processo político pedagógico escolar, no bojo de uma sociedade perpassada por novos paradigmas políticos, econômicos, sociais e culturais. (PROPOSTA CURRICULAR DO CURSO DE PEDAGOGIA, 1996 p.41) A discussão levantada pelos professores e alunos durante o processo de reformulação dessa proposta considerou as novas necessidades da sociedade e do mundo de trabalho contemporâneo. Uma das alterações ocorridas parte do pressuposto de que a formação do profissional pedagogo unitário se ampliou. [...] estará apto a exercer o trabalho pedagógico em espaços educativos escolares e não escolares; na gestão e organização do trabalho pedagógico; como pesquisador do campo educacional, como professor da educação infantil e anos iniciais do ensino fundamental, na articulação do processo de produção e divulgação de conhecimentos na área de Pedagogia (PROPOSTA CURRICULAR DO CURSO DE PEDAGOGIA: 2008, p.42). Agora, a formação considera também outros espaços pedagógicos como, por exemplo: o espaço da pedagogia hospitalar; a área de recursos humanos; em programas para a terceira idade; educação especial e outros, embora a ênfase permaneça no espaço escolar. Serão destacados a seguir, dados e informações extraídos da proposta pedagógica e curricular de 2008, por ano do curso, comparativamente à proposta curricular de 1996. Verificou-se que no 1º ano somente duas disciplinas mantiveram a mesma estrutura presente no currículo de 1996, as disciplinas de Filosofia da Educação I e de Fundamentos da Educação Infantil. Outras tiveram sua carga horária reduzida como, por exemplo, História da Educação I, que passou de 90 para 60 horas/aula, com redução de 30 horas/aula e a disciplina de Sociologia, que igualmente sofreu redução de 30 horas/aula.
14990 As disciplinas de Organização e Gestão da Educação Básica I e II, segundo consta na proposta de 2008, incorporaram em seu conteúdo os das disciplinas denominadas Estrutura e Funcionamento da Educação Infantil e do Ensino Fundamental A, Estrutura e Funcionamento do Ensino Médio e da Educação Profissional, e Estrutura e Funcionamento da Educação de Jovens e Adultos (proposta curricular 96). Substituiu-se, assim, a denominação estrutura e funcionamento da/o... por organização e gestão da educação básica, a fim de se trabalhar de forma interdisciplinar questões de caráter estrutural, organizacional e contextual. Esta alteração implicou na redução de 30 horas/aula em relação à carga horária das disciplinas do currículo de 96. Observou-se também que a disciplina Prática Pedagógica A: Extensão Escolar, presente no currículo 96, não se encontra na grade curricular obrigatória do currículo 2008, sendo ofertada como disciplina optativa. Algumas disciplinas foram remanejadas para outro ano e outras receberam um acréscimo em sua carga horária. A de Pesquisa Educacional era ofertada no segundo ano do currículo 96 e corresponde à disciplina Prática Pedagógica B: Introdução a Pesquisa Educacional. Esta, passou para o primeiro ano do currículo 08, ou seja, no inicio da vida acadêmica - fato relevante, pois é matéria que inicia os alunos na prática do desenvolvimento de trabalhos acadêmicos e de pesquisas, presentes no cotidiano estudantil. A disciplina Fundamentos da Educação Especial (currículo de 2008) era ofertada no quarto ano do currículo 96. Esta disciplina conta com o aumento de 30 horas/aula. E, a de Biologia Educacional B teve também um acréscimo na sua carga horária, passando de 90 para 120 horas/aula. Ainda nesse mesmo ano é ofertada uma nova disciplina, não presente no currículo anterior: Função Social do Pedagogo, a qual tem em vista o esclarecimento de dúvidas dos alunos recém ingressos, a discussão sobre a diversidade do trabalho pedagógico e das mudanças de concepção e função que este vem sofrendo. Contribui para a contextualização histórica, compreensão da profissão, assim como para a construção da identidade profissional. Observa-se, no segundo ano do currículo 08, que as disciplinas de História da Educação II e Psicologia da Educação I, sofrem redução de 30 horas/aula, passando de 90 para 60 horas/aula. Como uma das mudanças mais significativas do currículo de 2008, as disciplinas de Metodologia do Ensino de... recebem acréscimo em sua carga horária (distribuída no 2º e no 3º anos). Todas as metodologias aparecem com 15 horas a mais em relação ao currículo de
14991 96. Devem manter sua carga horária de 30 horas de atividades teórico-reflexivas acrescentando, contudo, 15 horas de atividades práticas (30+15). Assim, a carga horária total das metodologias passa de 210 horas (currículo 1996) para 315 horas (currículo 2008). A disciplina Educação de Jovens e Adultos, ofertada no currículo 2008, equivale à disciplina de Fundamentos da Educação de Jovens e Adultos I, do currículo 1996, ambas com carga horária de 30 horas/aula. Contudo, na proposta de 1996 há também uma disciplina denominada Estrutura e Funcionamento da Educação de Jovens e Adultos, o que totaliza 60 horas de conteúdo específico sobre a Educação de Jovens e Adultos, nesse currículo. O terceiro ano do currículo de 2008 passa também por mudanças significativas em relação ao currículo de 96. A disciplina Prática Pedagógica A. Estágio em docência na Educação Infantil corresponde à disciplina de Prática Pedagógica C: estágio em Docência de 1º e 2º grau, ofertada no terceiro ano do currículo 96. Contudo, tendo em vista a proposta da disciplina e seu direcionamento para a educação Infantil, é possível considerá-la como uma nova disciplina. Das três disciplinas de estágio ofertadas no currículo 2008, esta se apresenta como novidade. O currículo anterior possibilitava realizar estágio na educação infantil, mas como parte da disciplina de estágio em Docência das séries iniciais do Ensino Fundamental. Poucos estudantes conseguiam realizar seu estágio na Educação Infantil (especialmente os alunos do noturno), ficando sem a experiência de trabalhar com a pré-escola. Quanto à área de Psicologia da Educação, ocorre uma nova redução na carga horária do 3º ano, de 30 horas. Contudo, essa área recebe o acréscimo de 60 horas/aula com a implantação da disciplina Tópicos Especiais em Psicologia da Educação, no 4º ano. As optativas apresentam um grande aumento na sua carga horária, dispondo, a partir do 3º ano do curso, de 30 horas reservadas na grade curricular e no próprio turno no qual o aluno está matriculado. Ainda nesse ano do curso foram acrescentadas duas novas disciplinas: a de Comunicação em língua brasileira na linguagem de sinais (Libras), e a de Estudos da Infância, que substituiu a disciplina Estrutura e Funcionamento da Educação Infantil. A inclusão de Libras como disciplina obrigatória, com 60 horas/aula, constitui um avanço no currículo atual, devendo contribuir muito para a formação do professor, pois é uma necessidade presente na realidade escolar, uma vez que se busca a inclusão de alunos portadores de necessidades especiais. É preciso que o professor esteja preparado para esse tipo de atendimento, de modo que saiba utilizar de recursos educativos, métodos, práticas pedagógicas, entre outros, que possibilitem aos alunos especiais uma formação integral e, não,
14992 um simples assistencialismo. Segundo Sousa e Pietro (2007, p. 124), o principio norteador é a crença na possibilidade de desenvolvimento do ser humano, tratando-se as diferenças individuais como fatores condicionantes do processo de escolarização, que precisam ser consideradas quando se tem o compromisso de educação para todos. A disciplina Trabalho Pedagógico em Espaços Não Escolares, na implantação do novo currículo foi acrescida de 30 horas/aula em sua carga horária. Tendo em vista que o pedagogo pode escolher entre diversos campos educacionais, essa ampliação da carga horária é importante para garantir, pelo menos, informações básicas sobre esse vasto campo de trabalho. No quarto ano do currículo em implantação está prevista a disciplina de Prática Pedagógica B: Estágio em Docência nos anos iniciais, que equivale à disciplina Prática Pedagógica C: Estágio em Docência de 1º e 2º grau, ofertada no 3º ano do currículo anterior. É também no quarto ano que foi implantado o acréscimo na carga horária de três metodologias: Metodologia do Ensino de Matemática, Metodologia do Ensino de Educação Física, Metodologia do Ensino de Ciências (passando de 30 para 30+15, conforme comentário anterior). A disciplina Tópicos Especiais em Psicologia da Educação, 60 horas/aula, pode ser considerada uma inovação como disciplina obrigatória no currículo 08, visto que não existe equivalente no de 96, embora fosse prevista uma disciplina optativa com finalidade similar. Foram incluídas no 4º ano do curso 120 horas para disciplinas optativas, em continuidade à ampliação dessa oferta. E, a disciplina Educação Comparada deixa de ser obrigatória na grade curricular de 2008, sendo ofertada somente como optativa. No quinto ano e ultimo do currículo 2008, as disciplinas são em menor número em comparação aos anos anteriores, contudo cada uma com uma carga horária mais ampla. A disciplina Prática Pedagógica C: Estágio Supervisionado na Organização Escolar é equivalente à Prática Pedagógica D: Estágio supervisionado na Organização Escolar, porém com o acréscimo de 100% na carga horária - de 120 para 240h/a, destinadas à atuação na Organização Escolar. Esta disciplina é articulada e executada juntamente com a disciplina de Organização do Trabalho Pedagógico. Neste último ano do curso 2008 é obrigatório o cumprimento de 120 horas de disciplinas optativas, totalizando 280 horas ao final do curso.
14993 Por fim, um dos grandes diferenciais deste novo currículo é o trabalho de Conclusão de Curso, para o qual são reservadas 120 horas. Considera-se que ter regulamentado o TCC é mais uma garantia de inclusão da pesquisa na formação do educador no curso de Pedagogia e, espera-se, um importante indicador de uma formação mais qualificada. Considerações Finais A análise documental das propostas curriculares do curso de Pedagogia da universidade pública em estudo possibilitou um conhecimento mais consistente do caminhar histórico desse curso, decorrente de constantes avaliações internas, assim como de transformações desencadeadas pelas mudanças ocorridas na sociedade. Cabe, portanto, conforme ocorreu com a proposta pedagógica de 2008, aprofundar conhecimentos teóricopráticos e metodológicos e ampliar os horizontes desse profissional para atender a esta nova realidade. Esse é um conhecimento que constitui parte do anseio de compreender a própria formação, como alunas pesquisadoras, e as características que esta vem assumindo. Afirma Veiga (2002, p. 82), que o referencial para as propostas de formação dos professores visa a construção coletiva de um projeto alternativo capaz de contribuir, cada vez mais, para o desenvolvimento de uma educação de qualidade para todos. O currículo de 2008, além de acrescentar as alterações exigidas pela reforma Educacional de 2006, apresenta avanços em relação ao anterior. A análise comparativa possibilitou a constatação de diferenciais significativos na nova Proposta Pedagógica desse Curso de Pedagogia. Destacou-se a ênfase na perspectiva de maior articulação entre a teoria e a prática, se consideradas, no conjunto, as inovações e mudanças ocorridas. Em relação ao estágio supervisionado, por exemplo, o novo currículo não se atém ao cumprimento exclusivo da exigência de ampliação da carga horária e, sim, confirma um movimento teórico recente que defende o estágio como um momento de pesquisa e reflexão, a partir da realidade. Segundo Pimenta e Lima (2007, p.46), a pesquisa no estágio é uma estratégia, um método, uma possibilidade de formação do estagiário como professor. É o momento em que o aluno investiga as práticas pedagógicas nas instituições educativas e articula os seus conhecimentos teóricos com o cotidiano no âmbito escolar e outras possíveis áreas de atuação, desvelando o caráter coletivo e social da sua profissão. Percebe-se também essa preocupação na forma diferenciada de articulação entre a teoria e a prática ( 30+15 ), concebida na organização das disciplinas que contemplam as metodologias de ensino.
14994 Por outro lado, a disciplina de Iniciação a Pesquisa Educacional retoma, segundo Hagemeyer (2007), os processos de estudo e pesquisa na direção de oferecer suporte aos professores da escola básica em seus processos formativos. A autora argumenta que: a partir da pesquisa, como eixo do trabalho acadêmico, nascem as discussões que embasam posições que darão suporte às políticas de ensino e formação da escola contemporânea e esse deve ser um movimento crescente nos processos formativos de Pedagogia (HAGEMEYER, 2007, p.40). O trabalho de conclusão de curso-tcc, outro avanço no processo formativo, constitui indiscutível ferramenta para formar o professor pesquisador, que precisa refletir sobre os conhecimentos apreendidos, investigar e argumentar cientificamente sobre as suas conclusões com o auxílio da teoria. A ampliação da carga horária e diversificação das disciplinas optativas contribuem para subsidiar o aluno na área e temática que for de sua escolha para o desenvolvimento do TCC. Assim, constatou-se que a proposta curricular de 2008 denota a preocupação em reforçar e enfatizar questões já tratadas anteriormente, mas que exigiam novas estratégias e/ou reformulações que permitissem os avanços almejados. Esse movimento se coaduna com o pensamento de ALMEIDA (1999, p. 250), em relação aos conceitos de melhora e inovação: [...] a idéia de modificação do que está em exercício ou da forma de realizá-lo, posto que não seja mais capaz de responder adequadamente às necessidades sociais. Já o conceito de melhora parece ser mais adequado para qualificar as transformações educacionais desenvolvidas no âmbito da reforma ou inovação, na medida em que assinala a direção a ser perseguida no processo. Acredita-se que a idéia de inovação e avanço levam à melhora da formação, no sentido de possibilitar aos futuros educadores enfrentar e compreender claramente as particularidades do exercício da profissão, assim como de acompanhar as mudanças contextuais. Concorda-se com Thurler (1994, p.33) quando afirma que (...) a mudança em educação depende daquilo que os professores pensam dela, do que dela fizerem e da maneira como eles conseguem construí-la ativamente. É imprescindível que a formação do educador vise possibilidades de melhor atuação, valorização profissional e torne os educadores genuínos agentes de mudança na educação e no processo de construção da cidadania.
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