1 REDE DE INTERCÂMBIO ENTRE ESTUDANTES: UMA NOVA PROPOSTA DE INTERATIVIDADE E COMUNICAÇÃO PARA O ENSINO À DISTÂNCIA Indaial - SC Abril/2011 Francieli Stano Torres UNIASSELVI chellystano@yahoo.com.br Luis Augusto Ebert UNIASSELVI luisaugustoebert@gmail.com Setor: Educação Universitária Classificação Nível Macro: Métodos de Pesquisa em EAD e Transferência de Conhecimento Classificação Nível Meso: Serviços de Apoio ao Estudante Classificação Nível Micro: Interação e Comunicação em Comunidades de Aprendizagem Natureza: Relatório de Pesquisa Classe: Experiência Inovadora RESUMO A interatividade a partir das redes de intercâmbio é a abertura para uma comunicação cooperativa entre os estudantes, podendo emergir iniciativas de autoria coletiva, favorecendo a socialização, a autonomia e novas formas de aprendizado. Neste contexto, o presente trabalho descreve uma pesquisa realizada com estudantes de Ensino à Distância, no qual se verifica o grau de importância, atribuído por eles, de as instituições de EAD criarem uma rede de intercâmbio entre os estudantes dos mais variados cursos e fases de aprendizagem e que tipos de intercâmbio de informações lhes interessariam. A importância de criar uma rede de intercâmbio para o EAD foi investiga junto a 300 estudantes por meio de questionário. Como resultado, 97% classificaram como importante a criação de uma rede de intercâmbio entre estudantes para o EAD e 86% mencionaram interesse em participar. Quanto aos tipos de
2 intercâmbio de informações que lhes interessariam intercambiar, foi apontado o mercado de trabalho, as experiências de práticas educativas/estágios, as dúvidas de conteúdo específico, as indicações de livros, curiosidades, entre outros. É preciso oportunizar a interatividade na construção do conhecimento como premissa para a existência da sociedade da informação. Palavras-chaves: interatividade; comunicação; redes de intercâmbio. Introdução O processo de conhecimento é encarado como construção ativa da relação entre sujeito e mundo [1] e nesse processo, a internet trouxe a possibilidade do usuário interagir, podendo interferir nesse meio, sendo autor e não apenas receptor de informações [2]. A internet nos permite hoje criar uma inteligência coletiva, que é a capacidade de trocar idéias, compartilhar informações e interesses comuns, criando comunidades, estimulando conexões [3] e formando redes de intercâmbio [4]. Existem vários recursos online que viabilizam a edição coletiva ou o trabalho em cooperação por meio de trocas de mensagens listas de discussão, chats, fóruns, blogs, sistemas de compartilhamento de documentos em tempo real oportunizando interações mútuas [3]. Neste tipo de intercâmbio, cada interagente participa da construção inventiva e cooperada do relacionamento, transformando-se durante as trocas na rede de unidades interatuantes, constantemente atualizada [4]. O autor contrapõe às interações mútuas o conceito de interações reativas, limitadas por relações determinísticas de estímulo-resposta e opções pré-configuradas, desprovidas da possibilidade de empreender transformações recíprocas. Deve-se atentar às transformações recíprocas mais do que ao somatório de ações individuais [4]. Transmissões e recepções não necessariamente indicam transformações na rede. A implicação pessoal no grupo que inclui o reconhecimento do outro, a mobilização de competências, a capacidade de negociação e a disposição à cooperação é um dos aspectos que pode evidenciar o potencial de interação mútua e consequente criação
3 social, bem como manifestações de uma inteligência coletiva. A autoria não é um a priori da cultura digital, embora se manifeste em diferentes iniciativas que dela emergem, usufruindo de seus recursos e lançando mão das interações possíveis em um novo contexto sócio-tecnológico [4]. Com a interatividade, a partir da utilização de tecnologias digitais e da promoção de relações de cooperação entre os estudantes, podem emergir iniciativas de autoria coletiva, favorecendo novas formas de aprender. A interatividade está na disposição ou predisposição para mais interação, para uma hiper-interação, para bidirecionalidade fusão emissão-recepção, para participação e intervenção [5]. Portanto, não é apenas um ato de troca, nem se limita à interação digital, mas a abertura para mais comunicação, socialização das informações e participação. Na constatação da Valdés Arriagada [6], Piaget e Vygotsky reafirmam a importância da interação do sujeito com outros indivíduos no processo da aprendizagem, dando a noção de compartilhamento e da socialização. Por outro lado, discute-se a questão da autonomia e do seu desenvolvimento, assim como inter-relaciona os conceitos de cooperação e autonomia: para que a autonomia se desenvolva, é necessário que o sujeito seja capaz de estabelecer relações cooperativas [7]. É importante educar para a autonomia, para que cada um encontre o seu próprio ritmo de aprendizagem e, ao mesmo tempo, é importante educar para a cooperação, para aprender em grupo, intercambiar as idéias, participar de projetos e realizarem pesquisas em conjuntos [8]. Entretanto, a proposta de participação cooperativa vai ao encontro de criar oportunidades para o aprendizado de forma interativa e prazerosa. Assim sendo, o presente trabalho descreve uma pesquisa realizada com estudantes do Ensino à Distância a fim de verificar o grau de importância atribuído por eles, de as instituições de EAD criarem uma rede de intercâmbio entre os estudantes dos mais variados cursos e fases de aprendizagem e que tipos de intercâmbio de informações lhes interessam.
4 Materiais e método Fizeram parte da amostra 300 estudantes do Ensino à Distância (EAD), homens e mulheres, representantes de 30 turmas abrangendo os diferentes semestres, dos cursos de Ciências Biológicas e Gestão Ambiental, do Centro Universitário Leonardo Da Vinci UNIASSELVI. O critério para seleção dos participantes para integrar a amostra foi a aleatoriedade, através do sorteio de turmas de diferentes Pólos de Ensino. Foram levantados dados sobre a importância das instituições de EAD virem a criar redes de intercâmbio entre estudantes para o EAD por meio de pesquisas, tendo um questionário com alternativas de múltipla escolha e indicação para justificar as respostas. Esse foi aplicado no mês de fevereiro de 2011, abordando os seguintes aspectos: a) Grau de importância de uma rede de intercâmbio entre estudantes para o EAD; b) Nível de participação dos estudantes; c) Público para interatividade; d) Tipos de intercâmbio de informações. Os questionários foram enviados via contato digital e junto a esse, uma definição do termo rede de intercâmbio, relatado como uma forma de interação e comunicação de grupos de pessoas e/ou organizações que trocam (intercambiam) experiências e informações com afinidades temáticas, por meio de um espaço virtual. As informações obtidas, oriundas das justificativas das respostas dos estudantes, foram sistematizadas em diferentes discursos do sujeito coletivo. Para isso, utilizou-se o QualiQuantiSoft-SPI (2004). Esse software apóia pesquisas qualitativas e quantitativas, com base na teoria do discurso do sujeito coletivo. E, para se efetuar um paralelo das diferenças entre os tipos de intercâmbio de informações, foi empregado o Qui-quadrado (n.s. = 5%) [9]. Foram elaborados gráficos para melhor visualização dos resultados e realizadas pesquisas bibliográficas para fundamentar a presente proposta pesquisada.
5 Resultados e discussões O grau de importância de se criar uma rede de intercâmbio de informações entre estudantes para o Ensino à Distância foi avaliado como muito importante (63%) e importante em (34%) pelos estudantes entrevistados (Figura 1A). Além do mais, 86% dos estudantes mencionaram seu interesse em participar e apenas 14% disseram não ter interesse atualmente (Figura 1B), devido à falta de tempo ou mesmo por ainda não conhecer esse tipo de rede. A B Figura 1: A) Grau de importância de se criar uma rede de intercâmbio de informações para o EAD; B) Interesse dos estudantes do EAD em participar de uma rede de intercâmbio de informações. De tal forma, esses resultados demonstram que podemos considerar uma rede de intercâmbio entre estudantes para o EAD como uma nova proposta de interatividade e comunicação a vir ser criada pelas instituições de
6 EAD, uma vez que se fazem fundamental na ampliação das discussões iniciadas em sala de aula, estendendo-as para o ambiente virtual. Percebe-se ainda, pela presente pesquisa, que os estudantes interessados em participar de redes de intercâmbio no EAD acreditam que a participação de estudantes de diferentes afinidades temáticas pode contribuir fortemente na disseminação do conhecimento, contribuindo de forma significativa neste caso, para os futuros licenciados do curso de Ciências Biológicas e os tecnólogos em Gestão Ambiental. Além do mais, pode vir estimular esses à leitura, facilitar a interação e comunicação entre e com os demais estudantes, trocar experiências, manter atualizados e informados, contribuir para uma educação cooperativa e compartilhada, auxiliar na assimilação dos conteúdos e ainda a gerar novas dúvidas levando ao aprendizado. As redes de intercâmbio podem estar sustentadas no fluxo permanente e contínuo de informações em nível interpessoal e coletivo, exacerbado pela multiplicidade de conexões que se organizam pelos significados que os relacionamentos passaram a ter na sociedade midiatizada [2]. A iniciativa realizada pelo pesquisador Rodrigues [10] em seus estudos de criar um blog para trocar informações entre estudantes, por exemplo, mostrou-se mais do que positiva. Esse autor menciona que as discussões realizadas pelos estudantes junto a seu blog tiveram maior alcance, do ponto de vista temático, e despertaram o desejo de escrever e pesquisar mais. Ressalta ainda que, a proposta promoveu maior engajamento dos estudantes, propiciou a leitura de uma gama de gêneros disponibilizados na internet e gerou debates e comentários mediados pela escrita. As ferramentas midiáticas podem colocar o estudante em sintonia com o contexto de comunicação atual e, assim, potencializar a aprendizagem, a educação e a cidadania [5]. Neste contexto, podemos ainda dizer que uma rede de intercâmbio de informações forma autores, co-autores, leitores assíduos e estudantes envolvidos com a leitura, pesquisa e a escrita, levando a uma participação coletiva, interdisciplinar e interativa. Essa interatividade, multi e interdisciplinar pode ser evidencia na Figura 2, que representa o intercâmbio de informações indicada pelos
7 estudantes, em que (54%) interagiriam com estudantes de cursos semelhantes aos que frequentam e (42%) entre estudantes todos os cursos. Figura 2: Público relacionado as categoria de cursos para intercambiar informações com relação ao frequentado pelo estudante. Obs.: Não houve diferenças significativamente entre as categorias de cursos semelhantes e todos os cursos, porém houve diferenças desses para com a categoria de cursos distintos, conforme Qui-Quadrado (n.s. = 5%). A interatividade acontece quando o espaço promove a colaboração, quando cada postagem gera interlocução inventiva, crítica e comunicativa partindo de todos para todos, o que potencializa a construção do conhecimento [5] e o engajamento da coletividade viva e participativa. O intercâmbio interativo de informações entre estudantes dos mais variados cursos do Ensino à Distância pode oferecer uma nova maneira de produzir conhecimento, ultrapassando o espaço físico de uma sala, de uma escola, de uma casa, e adentrando um mundo de socializações, podendo assim ser motivados a inovar com mais liberdade que nos meios tradicionais [8]. As redes de intercâmbio podem auxiliar os estudantes a aprender a aprender, num processo contínuo, dinâmico, interativo, consigo mesmo e com os outros, por meio da conversação. A Figura 3 nos mostra que nesse contexto de aprender a aprender há uma gama abrange de diferentes contextos para se intercambiar as informações. Percebe-se que o interesse dos estudantes permeia os mais variados contextos dentro da aprendizagem no Ensino à Distância: intercâmbio sobre dúvidas de conteúdo, troca de informações
8 relacionadas à pesquisa ou práticas didáticas, ou às atividades e exercícios, troca de experiências, indicação de leituras, curiosidades, mercado de trabalho e informações do estágio de atuação (Figura 3). Figura 3: Tipos de intercâmbio de informações entre os estudantes do Ensino à Distância. OBS.: Não houve diferenças significativamente entre os tipos de intercâmbio de informações, conforme Qui-Quadrado (n.s. = 5%). As redes de intercâmbio, quando inseridas no EAD, podem ser uma alternativa de comunicação entre os estudantes, buscando formação na partilha de saberes, parcerias e soluções para aperfeiçoar sua prática e desenvolver o exercício da autoria. Além do mais, pode trazer inúmeras vantagens, tais como: desenvolver maior competência para leitura e escrita; valorizar a produção dos alunos melhorando sua auto-estima; ultrapassar os muros da escola dando abertura à comunidade e à família para acompanhar o processo de aprendizagem, valorizando-o; possibilitar o trabalho numa abordagem interdisciplinar; ampliar a aprendizagem, relacionando temas abordados em aula com o contexto do estudante; incentivar a reflexão sobre suas práticas e produções; integrar o ensino, a aprendizagem e a avaliação e; socializar o conhecimento construído com o público externo oportunizando a aprendizagem com trocas interpessoais [4, 5, 8, 10]. A proposta de criar redes de intercâmbio junto às instituições de Ensino à Distância pode promover ainda a transformação do perfil dos estudantes, de gestor da informação para produtor/criador de informação, e
9 igualmente um alto nível de intertextualidade e interatividade [11]. Pelo trabalho interativo e cooperativo, os estudantes compartilham a auto-aprendizagem, fortalecem a autonomia, as habilidades de reflexão e auto-avaliação. Considerações finais O sistema interativo atual tem o papel crucial de subsidiar o sentido de um novo comunicativo. Nesse sentido, já não há barreiras físicas, nem culturais, mas interesses e necessidades intrínsecas dos seres humanos em socializar as produções e reflexões sobre diferentes pontos de vista e importantes experiências pessoais ou coletivas. Promover a interatividade na construção do conhecimento, da aprendizagem, da autonomia, da cooperação e socialização é premissa para a existência da sociedade da informação, cabendo a cada estudante encontrar a melhor forma para seguir nessa dinâmica e inserir-se nesse meio, para que possa também fazer uso das vantagens de uma rede interativas, como mencionadas nessa pesquisa. Propõe-se às instituições de Ensino à Distância, criar essa alternativa de redes de intercâmbio entre seus estudantes, para que possam interagir entre si e com os estudantes dos mais variados cursos ofertados. E, ao professor-tutor cabe neste contexto, ser orientador e estimulador de integração dos estudantes à rede de intercâmbio. As repercussões sociais geradas pelas redes são muito importantes, pois potencializam processos de trabalho coletivo, de cooperativismo, de autonomia, de socialização, de produção, de pesquisa, de circulação de informações, de construção da cidadania e de conhecimento. Entretanto, destaca-se que é importante utilizar essas redes com propósito definido para que se possa efetivamente estabelecer uma rede de contatos e possibilitar o intercâmbio de informação, buscando assim a credibilidade e a interatividade. Referências [1] MONTENGERO, J.; MAURICE-NAVILLE, D. Piaget : ou a Inteligência em Evolução. (T. B. I. Marques e F. Becker, Trad.). Porto Alegre: Artmed, 1994.
10 [2] NICOLAU, M. Fluxo, conexão, relacionamento: um modelo comunicacional para as mídias interativas. Revista eletrônica Temática, 2008. Disponível em: http://www.cchla.ufpb.br/ppgc/smartgc/uploads/arquivos/6ed025a91a20101009 054815.pdf. Acesso em: 12 de março de 2011. [3] LÉVY, P. A Inteligência Coletiva. São Paulo: Loyola, 1998. [4] PRIMO, A. Interação mediada por computador: comunicação, cibercultura, cognição. Porto Alegre: Sulina, 2007. [5] SILVA, M. A sala de aula interativa. Rio de Janeiro, Quartet, 2000. [6] VALDÉS ARRIAGADA, M. Psicomotricidade vivenciada: uma proposta metodológica para trabalhar em aula. Blumenau: Edifurb, 2002. [7] FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia. 9. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1998. [8] MORAN, J. M.. A educação que desejamos, novos desafios e como chegar lá. São Paulo: Editora Papirus, 2007. [9] ZAR, J. H. Bioestatistical analysis. Prentice-Hall, New Jersey. 1999. [10] RODRIGUES, C. O uso de blogs como estratégia motivadora para o ensino de escrita na escola. Dissertação (mestrado). Universidade Estadual de Campinas: Campinas, SP, 2008. [11] ALVIM, L. Avaliação da qualidade de blogues. Congresso Nacional de Bibliotecários, Arquivistas e Documentalistas. Anais eletrônicos... Açores: Universidade dos Açores, 9, 2007. Disponível em: http://badinfo.apbad.pt/congresso9/com105.pdf. Acesso em: 14 de março de 2011.