MATEUS RIGO NORILLER

Documentos relacionados
Conjuntura Dezembro. Boletim de

Jornal Brasileiro de Indústrias da Biomassa Biomassa Florestal no Estado de Goiás

Visão. O comércio entre os BRICS e suas oportunidades de crescimento. do Desenvolvimento. nº abr no comércio internacional

A Influência da Crise Econômica Global no Setor Florestal do Brasil

MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO Secretaria de Relações Internacionais do Agronegócio. Balança Comercial do Agronegócio Agosto/2015

Produção e consumo de óleos vegetais no Brasil Sidemar Presotto Nunes

PED ABC Novembro 2015

ESCRITÓRIO TÉCNICO DE ESTUDOS ECONÔMICOS DO NORDESTE ETENE INFORME RURAL ETENE PRODUÇÃO E ÁREA COLHIDA DE CANA DE AÇÚCAR NO NORDESTE.

NOTA CEMEC 05/2015 INVESTIMENTO E RECESSÃO NA ECONOMIA BRASILEIRA : 2015: UMA ANÁLISE SETORIAL

OPORTUNIDADES PARA FLORESTAS ENERGÉTICAS NA GERAÇÃO DE ENERGIA NO BRASIL

MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO

Como as empresas financiam investimentos em meio à crise financeira internacional

1.6 Têxtil e Confecções. Diagnóstico

Questão 25. Questão 27. Questão 26. alternativa B. alternativa C

IMPORTÂNCIA DO CARVÃO VEGETAL PARA A ECONOMIA BRASILEIRA. Alessandro Albino Fontes

sociais (7,6%a.a.); já os segmentos que empregaram maiores contingentes foram o comércio de mercadorias, prestação de serviços e serviços sociais.

erradicar a pobreza extrema e a fome

1. A biomassa como energia complementar à hidroeletricidade

PRODUÇÃO DA EXTRAÇÃO VEGETAL E DA SILVICULTURA

PIB do Agronegócio CEPEA-USP/CNA Janeiro a abril de 2008 NÚMEROS BONS E ESTÁVEIS PARA O AGRONEGÓCIO EM ABRIL

Tabela 1. Raiz de mandioca Área colhida e quantidade produzida - Brasil e principais estados Safras 2005/06 a 2007/08

Energia Elétrica: Previsão da Carga dos Sistemas Interligados 2 a Revisão Quadrimestral de 2004

Informativo PIB Trimestral

MAPA ESTRATÉGICO DO COMÉRCIO EXTERIOR CATARINENSE CHAPECÓ, 08/12/2014

[Infográfico] As projeções de produção da cana, açúcar e etanol na safra 2023/2024

3 O Panorama Social Brasileiro

Junho/2015. Comércio Exterior

EUCALIPTO. plantio. Projeção de Receitas e Resultados. Fomento. Como suprir tamanha demanda preservando as florestas nativas?

MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO Secretaria de Relações Internacionais do Agronegócio. Balança Comercial do Agronegócio Março/2015

número 3 maio de 2005 A Valorização do Real e as Negociações Coletivas

Análise do mercado de trabalho

PAINEL 16,0% 12,0% 8,0% 2,5% 1,9% 4,0% 1,4% 0,8% 0,8% 0,0% 5,0% 3,8% 2,8% 3,0% 2,1% 1,0% 1,0% -1,0%

ELOBiomass.com. Como Comprar a Energia da Biomassa Lignocelulósica!

As avaliações sobre a evolução e o comportamento dos valores das

PAINEL. US$ Bilhões. nov-05 0,8 0,7 0,6 0,5 0,4 0,3 0,2 0,1

Produtividade no Brasil: desempenho e determinantes 1

NORTE DO ES: ARACRUZ E ÁREAS DE INFLUÊNCIA

O EMPREGO DOMÉSTICO. Boletim especial sobre o mercado de trabalho feminino na Região Metropolitana de São Paulo. Abril 2007

MINAS, IDEB E PROVA BRASIL

ANÁLISE DOS RESULTADOS DOS PROGRAMAS DE APOIO ÀS PMEs NO BRASIL Resumo Executivo PARA BAIXAR A AVALIAÇÃO COMPLETA:

Perfil Educacional SEADE 72

O selo verde garante que o produto respeita rios e nascentes

PLANTIOS FLORESTAIS E SISTEMAS AGROFLORESTAIS: ALTERNATIVAS PARA O AUMENTO O DE EMPREGO E RENDA NA PROPRIEDADE RURAL RESUMO

Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios - Síntese

PRODUÇÃO E ÁREA COLHIDA DE SOJA NO NORDESTE

Equipe: RENATA BARBOSA DE ARAÚJO DUARTE

O Ensino Superior Brasileiro na Década de 90

Mercado de Trabalho. O idoso brasileiro no. NOTA TÉCNICA Ana Amélia Camarano* 1- Introdução

FICHA BIBLIOGRÁFICA. Título: Perfil da Mulher Metalúrgica do ABC. Autoria: Subseção DIEESE/Metalúrgicos do ABC

Manejo Sustentável da Floresta

BOLETIM DE CONJUNTURA INDUSTRIAL

MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO SOCIAL E COMBATE À FOME. Nota MDS Brasília, 02 de maio de 2011.

IFRS TESTE DE RECUPERABILIDADE CPC 01 / IAS 36

Tabela 01 Mundo Soja Área, produção e produtividade Safra 2009/10 a 2013/14

ipea políticas sociais acompanhamento e análise 7 ago GASTOS SOCIAIS: FOCALIZAR VERSUS UNIVERSALIZAR José Márcio Camargo*

INTERCÂMBIO COMERCIAL BRASILEIRO NO MERCOSUL 1994 A 2003

Modos de vida no município de Paraty - Ponta Negra

SINCOR-SP 2016 FEVEREIRO 2016 CARTA DE CONJUNTURA DO SETOR DE SEGUROS

GEOGRAFIA - 2 o ANO MÓDULO 15 AGROPECUÁRIA E MEIO AMBIENTE

SINCOR-SP 2016 ABRIL 2016 CARTA DE CONJUNTURA DO SETOR DE SEGUROS

O BRASIL SEM MISÉRIA E AS MUDANÇAS NO DESENHO DO BOLSA FAMÍLIA

MAPA ESTRATÉGICO DO COMÉRCIO EXTERIOR CATARINENSE BLUMENAU, 03/12/2014

Energia Eólica. Atividade de Aprendizagem 3. Eixo(s) temático(s) Ciência e tecnologia / vida e ambiente

Conjuntura - Saúde Suplementar

Empreendedorismo do Rio de Janeiro: Conjuntura e Análise n.5 Marolinha carioca - Crise financeira praticamente não chegou ao Rio

Avaliação do uso de madeira como fonte energética em estabelecimentos comerciais no Município de Petrolina, PE

UFMS - PRÓ ENEM Matemática Estatística e Médias

Salário Mínimo e Mercado de Trabalho no Brasil no Passado Recente

PERFIL DOS TRABALHADORES NA CONSTRUÇÃO CIVIL NO ESTADO DA BAHIA

A situação do câncer no Brasil 1

Goiás e seu reflexo na sociedade

o Mercado de Trabalho Formal

O QUE É ATIVO INTANGÍVEL?

Cresce o emprego formal em todos os setores de atividade

Maxi Indicadores de Desempenho da Indústria de Produtos Plásticos do Estado de Santa Catarina Relatório do 3º Trimestre 2011 Análise Conjuntural

Desigualdade Entre Escolas Públicas no Brasil: Um Olhar Inicial

Avaliação Econômica. Relação entre Desempenho Escolar e os Salários no Brasil

Descrição do processo de priorização para tomada de tempos: Pesquisa ação em uma empresa job shop de usinados aeronáuticos.

ESTADO DO PARANÁ SECRETARIA DA AGRICULTURA E DO ABASTECIMENTO DEPARTAMENTO DE ECONOMIA RURAL ANÁLISE DA CONJUNTURA AGROPECUÁRIA SAFRA 2011/12

I SISTEMA DE BONIFICAÇÃO PELO USO DA ÁGUA NO BAIRRO JESUS DE NAZARETH - UMA PROPOSTA PILOTO PARA REGIÃO METROPOLITANA DA GRANDE VITÓRIA.

NOTA CEMEC 07/2015 FATORES DA DECISÃO DE INVESTIR DAS EMPRESAS NÃO FINANCEIRAS UM MODELO SIMPLES

GEOGRAFIA Professores: Ronaldo e Marcus

Potencial de Geração de Energia Utilizando Biomassa de Resíduos no Estado do Pará

Levantamento Inicial do Consumo de Energias Térmica e Elétrica na Indústria Brasileira de Revestimentos Cerâmicos

PROJETOS FLORESTAIS: QUALIFICAÇÕES (PLANTAÇÕES COMERCIAIS)

Questão 11. Questão 12. Resposta. Resposta. O mapa e os blocos-diagramas ilustram um dos grandes problemas do mundo moderno.

BNDES. ÁREA DE OPERAÇÕES INDUSTRIAIS 2 Gerência Setorial 1. Papelcartão

Curitiba, 25 de agosto de SUBSÍDIOS À CAMPANHA SALARIAL COPEL 2010 DATA BASE OUTUBRO 2010

O gráfico 1 mostra a evolução da inflação esperada, medida pelo IPCA, comparando-a com a meta máxima de 6,5% estabelecida pelo governo.

A EVOLUÇÃO DO INVESTIMENTO EXTERNO DIRETO (IED) NO BRASIL: RESUMO

Diagnóstico da Indústria Catarinense Estratégia e Gestão Ambiental

IMPACTOS DAS DISTORÇÕES DO ICMS NOS ESTADOS E DISTRITO FEDERAL

MIGRANTES EM UBERLÂNDIA/MG NO PERÍODO RECENTE

Promessa: Controlar a Inflação

UMA BREVE DESCRIÇÃO DA CONSTRUÇÃO CIVIL NO BRASIL, DESTACANDO O EMPREGO FORMAL E OS ESTABELECIMENTOS NO NORDESTE

AGÊNCIA ESPECIAL DE FINANCIAMENTO INDUSTRIAL FINAME RELATÓRIO DA ADMINISTRAÇÃO 31 DE DEZEMBRO DE 2008

Desempenho da Economia de Caxias do Sul Dezembro de 2015

PED-RMPA INFORME ESPECIAL IDOSOS

BIODIESEL COMO FONTE ALTERNATIVA DE ENERGIA ELÉTRICA: ESTUDO DO ÓLEO DE DENDÊ

Consumo Aparente, Cotação e Valor da Produção de Madeira de Florestas Plantadas no Estado de São Paulo: uma visão das últimas décadas

Transcrição:

MATEUS RIGO NORILLER CARACTERÍSTICAS DA OFERTA E DA DEMANDA DE PRODUTOS DE BASE FLORESTAL NO PERÍODO RECENTE EM SANTA CATARINA Menção Honrosa Categoria Graduandos

RESUMO Diante dos atuais desafios ambientais, as florestas plantadas se apresentam como importantes alternativas ao extrativismo no fornecimento de insumos para construção civil e para produção de móveis, papel e celulose. A madeira de silvicultura também tem ganhado crescente relevância como fonte de energia limpa sob a forma de lenha e de carvão vegetal, motivo pelo qual se cunhou o termo florestas energéticas, no entanto, o descompasso entre a demanda por produtos de base florestal e sua respectiva oferta por parte do setor de florestas plantadas podem exercer grande pressão sobre os remanescentes de florestas nativas. Nesse contexto, o presente artigo buscou caracterizar e dimensionar a oferta e a demanda por produtos de base florestal no estado de Santa Catarina entre os anos 2000 e 2010. Palavras-chave: Produtos de base florestal. Oferta e demanda. Santa Catarina.

ABSTRACT In light of the current environmental challenges, planted forests are considered an important alternative to extraction as a supplier of inputs to construction, furniture production, paper and pulp. Wood from silviculture has also grown in importance as a source of clean energy, hence the expression energy forests. However, the mismatch between the demand for forest products and the supply from the silviculture sector may exert pressure on remaining forest areas. This paper seeks to indicate the dimensions of the supply and demand of forest products in Santa Catarina between 2000 and 2010. Key-words: Forest Products. Supply and Demand. Santa Catarina.

SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO E PROBLEMÁTICA... 207 2 SETOR FLORESTAL BRASILEIRO... 208 3 OFERTA E DEMANDA DE PRODUTOS DE BASE FLORESTAL EM SANTA CATARINA... 211 3.1 Oferta de produtos primários... 212 3.2 Oferta de produtos industriais... 220 CONSIDERAÇÕES FINAIS... 224 REFERÊNCIAS... 226

206 CARACTERÍSTICAS DA OFERTA E DA DEMANDA DE PRODUTOS DE

CARACTERÍSTICAS DA OFERTA E DA DEMANDA DE PRODUTOS DE 207 1 INTRODUÇÃO E PROBLEMÁTICA Ao longo da história, tão importantes à sobrevivência humana quanto a água, o fogo e o ar, as florestas foram empregadas com múltiplas finalidades. Segundo a Food and Agriculture Organization of the United Nations (FAO), elas cobrem aproximadamente 30% das terras mundiais (FAO, 2012, p. 1). A exploração de áreas verdes, porém, jamais se limitou à extração de lenha para aquecer-se e para preparar alimentos. A madeira, de modo geral, mostrou-se indispensável também na construção de todo tipo de edificações e na produção de artefatos bélicos e de móveis, por exemplo. Do ponto de vista socioeconômico, as florestas apresentam-se como importantes fontes de renda e emprego. Delas brotam extensas cadeias produtivas, nas quais são produzidos vários produtos primários, como lenha, carvão vegetal e madeira em tora, bem como produtos industrializados, como papel, celulose e móveis. Para muitos países, as florestas são, ainda, fontes de importantes itens em suas pautas de exportação, possibilitando melhoras nos saldos de suas balanças comerciais. Na última década, porém foram as preocupações ambientais que mais lançaram luz à importância das florestas. Por realizarem fotossíntese, as plantas capturam e retêm gás carbônico da atmosfera, o que contribui para a mitigação do efeito estufa e do aquecimento global antrópico. Nesse sentido, esforços pela preservação de florestas nativas têm se intensificado, em diferentes graus, em todo o mundo. Consequentemente, a silvicultura, outrora entendida como um destruidor de biomas, cada vez mais, passa a ser vista como um aliado na preservação ambiental. Além de fornecerem madeira em tora para os mais diversos fins sem que matas nativas sejam derrubadas, as florestas plantadas também oferecem importantes alternativas energéticas aos combustíveis fósseis: o carvão vegetal e a lenha. Não obstante, para que, de fato, se observe uma contribuição positiva ao meio ambiente, deve existir um compasso entre a demanda por produtos de base florestal e a capacidade de resposta do setor a essa demanda, sobretudo por parte da silvicultura. O presente artigo pretende, portanto, caracterizar e dimensionar a oferta e a demanda por produtos de base florestal em Santa Catarina entre os anos 2000 e 2010. Especificamente, as questões que se buscam esclarecer são se o setor de produtos da madeira tem ganhado importância na economia estadual ou não e, sobretudo, se a evolução do setor florestal catarinense tem acompanhado as demandas mercadológicas e ambientais. A pesquisa, em sua abordagem e apresentação de dados, é de caráter descritivo e faz uso, entre outros, de relatórios estatísticos produzidos pelo setor florestal e de publicações do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

208 CARACTERÍSTICAS DA OFERTA E DA DEMANDA DE PRODUTOS DE 2 SETOR FLORESTAL BRASILEIRO De acordo com o Serviço Florestal Brasileiro (SFB), em 2009, o Brasil possuía aproximadamente 516 milhões de hectares de área florestal total (SFB, 2010, p. 7). Isso representa 60,7% do território nacional e coloca o Brasil em segundo lugar no ranking mundial de cobertura florestal absoluta, atrás apenas da Rússia. Do total, 509.803.545 ha referem-se a florestas naturais e 6.782.500 ha a florestas plantadas (SFB, 2010, p. 23). A silvicultura, portanto, representa apenas 1,3% da área florestal total brasileira e 0,8% do território nacional (SFB, 2010, p. 23). A Amazônia é, de longe, o bioma com maior área florestal no país: 355 milhões de hectares. Em segundo e em terceiro lugares vêm, respectivamente, o Cerrado e a Caatinga (SFB, 2010, p. 24). Estima-se que o volume de madeira total existente na Amazônia seja 106.388 milhões de m³, o que representa 84% do total dos biomas brasileiros (SFB, 2010, p. 31). Apesar de menores em área florestal, o Pantanal e a Mata Atlântica aparecem em segundo e terceiro lugares em volume de madeira total, com 8.329 milhões de m³ e 7.768 milhões de m³, respectivamente. Para o Brasil, esse volume é estimado em 126.607 milhões de m³ (SFB, 2010, p. 31). Com relação à silvicultura, duas espécies predominam: Eucalyptus e Pinus. Juntas, as duas culturas responderam por 6.510.693 ha de florestas plantadas em 2010 (ABRAF, 2012, p. 28). O gráfico a seguir ilustra a evolução da área plantada com Pinus e Eucalyptus no Brasil no período de 2005 a 2010. Gráfico 1 Plantios florestais no Brasil (mil ha) (2005-2010) Fonte: Abraf (2012).

CARACTERÍSTICAS DA OFERTA E DA DEMANDA DE PRODUTOS DE 209 Nesse período, a área plantada com Pinus diminuiu 4%, enquanto a área plantada com Eucalyptus cresceu 37%. No total, a área ocupada pelas duas culturas no Brasil cresceu 23% no mesmo período. O que também se torna evidente, a partir do gráfico anterior, é a predominância do Eucalyptus. Em 2010, a área plantada com Eucalyptus representou 73% da área total destinada às duas culturas no país. Em 2005, essa participação era de 65%. Os estados que mais contribuíram para o total nacional de área plantada com as duas culturas em 2010 foram Minas Gerais, São Paulo, Paraná, Bahia e Santa Catarina, como pode ser visualizado no gráfico a seguir. Gráfico 2 Área plantada com Pinus e Eucalyptus (Brasil 2010) Fonte: Abraf (2012). Como se observou, essas florestas ocupam largas extensões de terra. Não surpreende, portanto, que elas possuam grande relevância econômica para o país. Em 2007, o setor florestal respondeu por aproximadamente 3,4% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, o que equivale a mais de 44 bilhões de dólares, 5,6% das exportações nacionais e 18,5% do superávit da balança comercial, tendo gerado mais de 8 milhões de empregos diretos e indiretos (SBS, 2008). Considerando-se a silvicultura como um todo (madeira em tora, madeira para energia e outros produtos de madeira), a produção oriunda de florestas plantadas no Brasil atingiu o valor de R$ 10,7 bilhões em 2010 (IBGE, 2013b). Enquanto isso, a extração vegetal, que inclui desde madeira em tora e para energia até itens alimentícios, produziu um montante de R$ 4,2 bilhões no mesmo ano (IBGE, 2013b). Portanto, a produção conjunta de silvicultura e extrativismo atingiu R$ 14,9 bilhões em 2010.

210 CARACTERÍSTICAS DA OFERTA E DA DEMANDA DE PRODUTOS DE Grande parte dessa produção é destinada à indústria, sobretudo sob a forma de madeira em tora. Aproximadamente 60% do total de madeira em tora produzido pela silvicultura brasileira, em 2010, tiveram como finalidade a produção de celulose e papel (IBGE, 2013b). Segundo a Associação Brasileira de Produtores de Florestas Plantadas (Abraf), a produção brasileira de celulose, em 2010, totalizou 14,1 milhões de toneladas, colocando o Brasil em 4 lugar no ranking mundial dos produtores (ABRAF, 2011, p. 54). No que tange ao comércio exterior, o Brasil exportou 8,8 milhões de toneladas de celulose em 2010, o que correspondeu a US$ 4,8 bilhões (Abraf, 2011, p. 54). Com relação ao papel, segundo a Bracelpa, a produção brasileira atingiu 9,8 milhões de toneladas em 2010 e as exportações totalizaram, no mesmo ano, 2,07 milhões de toneladas, ou US$ 2 bilhões (Abraf, 2011, p. 54). Ainda no setor industrial, a madeira também é direcionada para produção de painéis industrializados, utilizados na fabricação de móveis, e para produção de compensados, serrados, lâminas etc., que constituem o segmento de madeira mecanicamente processada. De acordo com a Abraf, em 2010, a produção de painéis de madeira industrializada no Brasil atingiu 6,4 milhões de toneladas (Abraf, 2011, p. 56). Além disso, uma parte também muito expressiva da produção de madeira no Brasil destina-se à geração de energia. As florestas energéticas têm ganhado, cada vez mais, importância devido às crescentes preocupações ambientais e à necessidade de substituição de combustíveis fósseis por fontes de energia limpa. O Brasil foi o terceiro maior produtor mundial de madeira para fins energéticos entre 1989 e 2009, com produção de 2,75 bilhões de m³ (FAO, 2011). A quantidade de energia produzida a partir de biomassa florestal apresentou tendência de alta na última década, contribuindo com 114 bilhões de MTEP em 2009 (BRASIL, 2011); e a produção brasileira de lenha e carvão vegetal totalizou R$ 4,6 milhões em 2010 (IBGE, 2013b).

CARACTERÍSTICAS DA OFERTA E DA DEMANDA DE PRODUTOS DE 211 3 OFERTA E DEMANDA DE PRODUTOS DE BASE FLORESTAL EM SANTA CATARINA A base florestal catarinense é ampla e atende a diversas cadeias produtivas. Segundo resultados preliminares do Inventário Florístico e Florestal de Santa Catarina (IFFSC), a cobertura florestal remanescente no estado é de 29% (IFFSC, 2012). Isso significa que aproximadamente 27.753,5 km², ou 2,8 milhões de hectares, são cobertos por florestas nativas adultas, no entanto, devido às crescentes preocupações ambientais, é a silvicultura que tem ganhado importância social e econômica perante as atividades relacionadas ao setor madeireiro. De acordo com a Abraf, em 2010, a área plantada com Pinus e Eucalyptus em Santa Catarina foi de 647.991 ha (ABRAF, 2012). Em 2005, esse número era de 588.245 ha, o que representa aumento de 10,16% na área destinada a essas duas culturas. O gráfico a seguir mostra essa evolução. Gráfico 3 Área plantada em SC (mil ha) (2005-2010) Fonte: Abraf (2012). Apesar de a área destinada ao plantio de Eucalyptus ter crescido mais no período, 67,4%, pode-se observar que a cultura de Pinus predomina no estado. Em 2010, a área plantada com Pinus respondeu por 84,2% da área total destinada às duas culturas. Proporção semelhante é observada apenas no Paraná, o que diferencia os dois estados do restante do país. De fato, Santa Catarina desempenha papel importante na silvicultura nacional. Como observado no gráfico 2, em 2010, o estado respondeu por aproximadamente 10% da área plantada com Pinus e Eucalyptus no Brasil. Especificamente, essa participação foi 2,15% para Eucalyptus e de 31,1% para Pinus e se manteve mais ou menos constante ao longo da década (ABRAF, 2011).

212 CARACTERÍSTICAS DA OFERTA E DA DEMANDA DE PRODUTOS DE 3.1 OFERTA DE PRODUTOS PRIMÁRIOS A oferta total de madeira no estado de Santa Catarina ultrapassou os 25 milhões de m³ em 2010. Em 2000, esse valor era pouco inferior a 20 milhões de m³. O gráfico a seguir mostra que tal crescimento se deu paralelamente a uma redução na participação do extrativismo na oferta total de madeira em tora, lenha e carvão vegetal no estado. Gráfico 4 Oferta total de madeira em SC (m³) (2000-2010) Fonte: elaboração do autor, a partir de dados do IBGE (2013b). Em termos nacionais, a oferta total de madeira totalizou aproximadamente 250 milhões de m³ em 2010. Em 2000, esse valor era pouco superior a 200 milhões de m³. Pode-se dizer, portanto, que a contribuição catarinense para a oferta nacional de madeira (considerando-se madeira em tora, lenha e carvão vegetal) manteve-se mais ou menos constante. O gráfico a seguir mostra que, apesar de maior do que a do estado de Santa Catarina, a participação do extrativismo na oferta total de madeira nacional também tem diminuído.

CARACTERÍSTICAS DA OFERTA E DA DEMANDA DE PRODUTOS DE 10 213 Gráfico 5 Oferta total de madeira no Brasil (m³) (2000-2010) Fonte: elaboração do autor, a partir de dados do IBGE (2013b). A produção de madeira em tora totalizou 18,7 milhões de m³ em Santa Catarina no ano de 2010 (IBGE, 2013b). Isso representa aumento de 40,3% em relação ao ano 2000. Tal crescimento se deu paralelamente a importante mudança no padrão produtivo do estado. Em 2000, 42% do total de madeira produzido destinavam-se à fabricação de papel e celulose. Em 2010, essa participação havia aumentado para 52% (IBGE, 2013b). De fato, de 2000 a 2010, a produção de madeira em tora para papel e celulose cresceu 72% em Santa Catarina. A de madeira em tora para outras finalidades (dentro da silvicultura), por sua vez, cresceu apenas 18% no mesmo período (IBGE, 2013b). Como há de se observar na próxima seção, isso é reflexo de uma expansão do setor de papel e celulose maior do que a do setor de produtos de madeira, no qual as toras são beneficiadas antes de serem direcionadas a outros usos. O gráfico a seguir ilustra essa transformação. Gráfico Destino 6 da Destino madeira da em madeira tora em SC tora (2000 em SC e 2010) (2000 e 2010) Outras finalidades Papel e celulose Fonte: IBGE (2013b). 2000 2010

214 CARACTERÍSTICAS DA OFERTA E DA DEMANDA DE PRODUTOS DE Em termos regionais, a produção concentra-se na serra, no norte e no oeste do estado, como se observa no gráfico a seguir. Gráfico 7 Produção de madeira em tora em SC (mil m³) Fonte: IBGE (2013b). É interessante notar que, com apenas 10% da área nacional dedicada à cultura de Pinus e de Eucalyptus, Santa Catarina chegou a produzir, no início da década de 2000, 16,21% do total nacional de madeira em tora. Em 2010, essa participação era de 14,56% (IBGE, 2013b). Nesse período, a produção brasileira cresceu 37%; a catarinense, 40%, porém, quando se analisam silvicultura e extração vegetal separadamente, observa-se que, ao passo que esta se retrai, aquela cresce tanto em termos relativos quanto absolutos. Enquanto a produção de madeira em tora oriunda da silvicultura cresceu 41% de 2000 a 2010, a de extração vegetal diminuiu 47% no estado no mesmo período. Evolução semelhante é observada também na produção nacional. Nesta, porém, o extrativismo ainda tem participação muito maior e a mudança tem sido mais lenta. No âmbito da extração vegetal, Santa Catarina apresenta-se, ainda, como grande produtor de araucária, ou pinheiro brasileiro. Com 21% da produção nacional em 2010, a produção de madeira em tora a partir dessa espécie, no estado, caiu 17%, de 23.000 m³, em 2000, para 19.000 m³, em 2010, todavia, isso representa uma redução menor do que a da produção nacional que, no mesmo período, caiu 70%, passando de 296.000 m³, em 2000, para 88.000 m³, em 2010 (IBGE, 2013b). Destarte, pode-se dizer que o estado do Paraná, maior produtor nacional de madeira em tora a partir de araucária e responsável pela quase totalidade dessa redução, tenha sido mais bem-sucedido em suas políticas de proteção à espécie. A lenha é considerada uma forma primária de energia. Ela pode ser destinada aos setores residencial (para cocção de alimentos), industrial (para aquecimento de caldeiras), agropecuário (para secagem

CARACTERÍSTICAS DA OFERTA E DA DEMANDA DE PRODUTOS DE 215 de grãos e aquecimento de animais), comercial (para fornos e fogões de restaurantes e hotéis) ou para centros de transformação, como carvoarias e usinas termoelétricas (FONTES, 2005, p. 1). Em 2010, a produção de lenha em Santa Catarina atingiu um valor de R$ 287 milhões. A produção total do estado passou de 6,2 milhões de m³, em 2000, para 8,7 milhões, em 2010 (IBGE, 2013b). Isso significa um aumento de 39% e difere em muito da evolução da produção nacional, que diminuiu 5%. Como se pode observar no gráfico a seguir, o oeste catarinense é a mesorregião que mais contribui para produção estadual. Gráfico 8 Produção regional de lenha em SC (mil m³) Fonte: IBGE (2013b). Deve-se notar que a produção de lenha a partir da silvicultura em Santa Catarina cresceu 85% ao longo da década de 2000, enquanto a lenha de extrativismo viu sua produção reduzida em 36% no mesmo período. De fato, a participação da extração vegetal sobre o total de lenha produzido no estado passou de 38% em 2000 para 18% em 2010. Além disso, tem aumentado o peso do estado na produção nacional. Em 2000, Santa Catarina respondia por menos de 7% de toda a lenha produzida no país. Em 2010, essa participação foi maior do que 10% (IBGE, 2013).

216 CARACTERÍSTICAS DA OFERTA E DA DEMANDA DE PRODUTOS DE Gráfico 9 Produção de lenha em SC (mil m³) Fonte: IBGE (2013b). O carvão vegetal, por sua vez, é um subproduto da lenha in natura e é obtido por meio de um processo conhecido como pirólise, ou carbonização. No mercado interno, ele pode ser destinado aos consumidores finais, sob a forma de carvão para churrasco, por meio de supermercados, restaurantes e churrascarias, entretanto, segundo Fontes, o principal mercado para o carvão são as siderúrgicas, que o utilizam como termorredutor do minério de ferro (FONTES, 2005, p. 33). No estado de Santa Catarina, em 2010, foram produzidas quase 8.000 toneladas de carvão vegetal de silvicultura (IBGE, 2013b). Isso representa apenas 0,2% da produção nacional e, desde 2000, essa produção estadual cresceu apenas 5%, enquanto a nacional aumentou 45%. Considerando-se também o extrativismo, foram produzidas, em Santa Catarina, em 2010, aproximadamente 11.500 toneladas de carvão vegetal, das quais 3.700 t (32%) eram oriundas da extração vegetal. Apesar de essa proporção ainda ser elevada e acima da nacional em 2010 (30%), a produção de carvão vegetal a partir do extrativismo diminuiu em 71% no estado ao longo da década de 2000, enquanto a nacional aumentou 5% no mesmo período (IBGE, 2013b).

CARACTERÍSTICAS DA OFERTA E DA DEMANDA DE PRODUTOS DE 217 Gráfico 10 Produção de carvão vegetal em SC (toneladas) Fonte: IBGE (2013b). Em termos regionais, a mesorregião que mais contribuiu para produção estadual em 2010 foi o Sul, seguido do Vale do Itajaí. No início da década, no entanto, os maiores produtores eram o Oeste e o Norte, ambos com predomínio do extrativismo. O gráfico a seguir mostra a participação de cada mesorregião. Gráfico 11 Produção regional de carvão vegetal em SC (toneladas) Fonte: IBGE (2013b).

218 CARACTERÍSTICAS DA OFERTA E DA DEMANDA DE PRODUTOS DE Ainda que seja louvável que o extrativismo esteja perdendo importância na produção estadual, permanece o fato de que a produção total diminuiu 44% de 2000 a 2010. Existem diferentes possíveis explicações para isso, mas, como há de se analisar a seguir, é improvável que essa queda se deva a uma redução na demanda. É possível que esta esteja sendo suprida por carvão vegetal produzido em outras unidades da Federação, no entanto, essa drástica mudança na produção do Oeste e do Norte parece ser reflexo da intensificação da fiscalização ambiental, podendo, inclusive, não constituir uma redução real, mas tão somente uma não declaração da produção oriunda do extrativismo. Santa Catarina não elabora um balanço energético estadual. Isso torna difícil a mensuração da demanda total por lenha e carvão vegetal no estado, sobretudo com relação aos setores industrial e de serviços. Sabe-se que o setor agropecuário é importante consumidor desses dois produtos. Segundo o Censo Agropecuário de 2006, os estabelecimentos agropecuários do estado consumiram 622.300 m³ de lenha e 166 toneladas de carvão vegetal (IBGE, 2013a). Isso representa 8,7% do total de lenha e 1,0% do total de carvão vegetal produzidos no estado no mesmo ano. As macrorregiões que mais demandaram lenha para atividades agropecuárias no estado foram o sul catarinense e o Vale do Itajaí, com 45,7% e 17,5% do total do consumo do setor em 2006, respectivamente (IBGE, 2013a). No caso do carvão vegetal, o destaque ficou para o oeste do estado, com 87% do total. Esses dois produtos também são importantes fontes de energia para as famílias. Para o estado de Santa Catarina, as únicas informações disponíveis a respeito do consumo pelo setor residencial são os dados da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF), do IBGE. Segundo dados da POF, as famílias catarinenses tiveram um dispêndio de quase R$ 760 mil com lenha e de quase R$ 5,5 milhões com carvão vegetal em 2008 (IBGE, 2013c). Isso representa apenas 0,44% dos gastos nacionais com lenha por parte das famílias e 9,53% dos gastos nacionais com carvão vegetal no mesmo ano. O fato de as famílias gastarem muito mais com carvão vegetal pode estar intimamente ligado à cultura do churrasco. Por outro lado, isso levanta uma questão importante: é possível que o dispêndio das famílias com lenha, calculado pelo IBGE, não reflita o real consumo desse energético pelo setor residencial. Como salienta Uhlig, a lenha é frequentemente catada/coletada ao longo das rodovias e de árvores isoladas, mais do que em florestas. (UHLIG, 2008, p. 38). O autor chama atenção, ainda, para um estudo de Arnold et al. (2003), que indica que mais de dois terços da lenha utilizada para cocção no mundo têm origem não florestal, provêm de áreas de agricultura e ao longo de rodovias ou ainda de resíduos de serrarias ou restos de construções (ARNOLD et al., 2003 apud UHLIG, 2008, p. 39). De fato, é razoável supor que, em áreas rurais, o consumo de lenha esteja fundamentado em coleta ou comércio informal. De todo modo, o consumo nacional de lenha por parte das famílias tem decrescido. Isso provavelmente se deve ao aumento do poder aquisitivo e ao maior acesso a fogões a gás, visto que o gás de cozinha (GLP) é um bem substituto da lenha (FONTES, 2005, p. 91). Logo, espera-se que essa redução também seja observada para o caso de Santa Catarina. Apesar da importância como fontes de energia para as famílias, foi o setor industrial o que mais contribuiu para o consumo de lenha e carvão vegetal. No Brasil, em 2010, as indústrias responderam por 42% do consumo final de lenha no país e por 87% do de carvão vegetal (BRASIL, MME, 2012).

CARACTERÍSTICAS DA OFERTA E DA DEMANDA DE PRODUTOS DE 219 No caso da lenha, três atividades destacam-se: alimentos e bebidas, cerâmica e papel e celulose. Para o carvão vegetal, o consumo concentra-se praticamente todo no setor de ferro-gusa e aço, no entanto, segundo o IBGE, não existem empresas produtoras de ferro-gusa e ferroligas em Santa Catarina (IBGE, 2013e). Isso provavelmente explica o fato de a produção de carvão vegetal no estado representar apenas 0,23% da produção nacional. É razoável supor, portanto, que o consumo catarinense desse energético concentre-se nos setores residencial e de serviços. Por outro lado, em 2010, existiam 2.950 unidades locais de empresas relacionadas a alimentos, bebidas, cerâmica, papel e celulose em Santa Catarina, as quais empregavam quase 150.000 pessoas (IBGE, 2013d). O gráfico a seguir mostra a evolução do índice de produção física industrial dos setores nos quais essas atividades estão inseridas. Gráfico 12 Índice de produção física industrial em SC (2000-2010) Fonte: IBGE (2013d). Notas: * dados indisponíveis para bebidas. ** cerâmica pertence a essa categoria. Considerando-se o crescimento na produção física dessas atividades, é natural que também tenha aumentado a demanda industrial por lenha em Santa Catarina, no entanto, há razões para se esperar que tal aumento tenha sido menos que proporcional. Em primeiro lugar, tem havido melhorias e inovações nos processos industriais com relação à eficiência energética. No caso da produção de celulose, por exemplo, é crescente a utilização de subprodutos da própria madeira para geração de energia. Uhlig chama a atenção para o licor negro, que se origina durante o processo de digestão das toras e que supre até 85% da demanda por energia nesse setor (ARACRUZ, 2007 apud UHLIG, 2008, p. 48). Ademais, nem todas as atividades dentro do setor de cerâmica utilizam lenha para queima de seus produtos. Segundo informações fornecidas pelo Sindicato das Indústrias de Cerâmica (Sindiceram), de Criciúma/SC, a lenha é utilizada para produção de cerâmica vermelha. Por outro lado, as indústrias produtoras de revestimentos cerâmicos utilizam gás natural (SINDICERAM, mensagem pessoal recebida em 16 out. 2012).

220 CARACTERÍSTICAS DA OFERTA E DA DEMANDA DE PRODUTOS DE No estado, o comércio exterior de madeira em bruto, lenha e carvão vegetal é inconstante e pouco representativo. Juntas, as exportações dos três produtos ao longo da década totalizaram 2,6 milhões de US$ FOB (BRASIL, MDIC/SECEX, 2013). Verifica-se uma tendência de aumento nas exportações de lenha e de madeira em bruto a partir de 2005, mas pouco se pode inferir a respeito da possibilidade de continuidade dessas vendas ao exterior. Com relação a outros produtos de origem florestal, a produção de Santa Catarina é bastante tímida. Em meados da década de 2000, chegou-se a produzir 7 toneladas de resina e 2.700 toneladas de folhas de Eucalyptus, mas, em 2010, essa produção era praticamente nula. Da mesma forma, a produção de palmito passou de 241 toneladas, em 2000, para zero em 2010. Apenas na produção de pinhão e de erva-mate, o estado possui representatividade, no entanto, ambas estão em queda. Em 2000, foram produzidas 2.150 t de pinhão; em 2010, 1.799 t, o que representa uma queda de 16%. A produção de erva-mate se viu reduzida em 9%, passando de 39.967 t para 36.274 t no mesmo período, todavia, assim como no caso do carvão vegetal, essas reduções devem ser analisadas com cuidado. Por se tratarem de produtos do extrativismo, é possível que parte dessas quedas se deva à não declaração devido ao rigor da fiscalização ambiental. 3.2 OFERTA DE PRODUTOS INDUSTRIAIS Considerando-se as atividades de fabricação de móveis, de celulose e papel e de outros produtos de madeira, Santa Catarina abrigava, em 2010, um total de 2.946 unidades locais de empresas (IBGE, 2013e). Elas empregavam, em dezembro desse mesmo ano, 84.584 pessoas, de modo que o dispêndio com salários e outras remunerações totalizasse R$ 1,2 bilhão (IBGE, 2013e). No entanto essas três atividades evoluíram no estado de maneiras bastante distintas ao longo da década de 2000. Enquanto a fabricação de produtos de madeira cresceu em ritmo lento, as demais cresceram a taxas iguais ou maiores do que as observadas para o Brasil. O gráfico a seguir mostra a evolução do número de unidades locais para as três atividades industriais relacionadas à madeira.

CARACTERÍSTICAS DA OFERTA E DA DEMANDA DE PRODUTOS DE 221 Gráfico 13 Número de unidades locais em SC (2000-2010) Fonte: IBGE (2013e). Como se pode observar, por um lado, o número de unidades locais dedicadas à fabricação de produtos de madeira cresceu muito pouco ao longo da década: 1,80%. Por outro lado, para celulose, papel e produtos de papel e para fabricação de móveis, esse crescimento foi de 60,12% e 47,09%, respectivamente, muito acima do observado para o Brasil. Quando se considera o pessoal ocupado por essas unidades fabris, também se observa um crescimento muito tímido para a atividade de fabricação de produtos de madeira, ao passo que as demais apresentam crescimento bastante acentuado ao longo da década. O gráfico a seguir mostra essa evolução. Gráfico 14 Pessoal ocupado em SC (pessoas) (2000-2010) Fonte: IBGE (2013e).

222 CARACTERÍSTICAS DA OFERTA E DA DEMANDA DE PRODUTOS DE Enquanto a fabricação de produtos de madeira experimentou um crescimento de apenas 5,56% no número de pessoas ocupadas, a fabricação de celulose, papel e produtos de papel e a fabricação de móveis apresentaram, no mesmo período, crescimentos de 37,76% e 32,50%, respectivamente. De fato, o baixo crescimento do emprego na fabricação de produtos de madeira se reflete na produção física dessa atividade. O gráfico a seguir mostra que, enquanto a produção física de celulose, papel e produtos de papel cresceu quase 20% ao longo da década, a de produtos de madeira diminuiu na mesma proporção. Gráfico 15 Índice de produção física em SC (2000 = 100) Fonte: IBGE (2013d). Nota: * índice do valor da transformação industrial (deflacionado pelo IPCA). Não obstante, a fabricação de móveis tem se expandido no estado. Deve-se notar que grande parte dos seus insumos advém da atividade de fabricação de produtos de madeira. Ademais, sabe-se que a indústria moveleira utiliza, em parcela de sua produção, madeira oriunda do extrativismo, cuja produção também apresentou acentuado declínio no período observado. Isso pode indicar que a demanda por madeira por parte da indústria moveleira de Santa Catarina esteja sendo suprida por produção localizada em outras unidades da Federação. No que tange ao comércio internacional, é notório que a fabricação de produtos de base florestal em Santa Catarina sempre esteve intimamente relacionada ao comércio internacional. No início da década de 2000, o estado ocupou a primeira posição nas exportações nacionais de móveis (BRDE, 2003, p. 33). De forma geral, Santa Catarina liderava as exportações de produtos de base florestal no país, os quais representaram aproximadamente 25% do valor total das exportações do estado em 2002 (BRDE, 2003, p. 32). Portanto, a referida expansão das atividades de fabricação de móveis e de papel e celulose poderia ter como fator explicativo um aumento da demanda internacional por esses produtos, no entanto a evolução recente do comércio exterior nesses setores mostra que isso não se aplica ao caso da indústria de móveis, como pode ser observado no gráfico a seguir.

CARACTERÍSTICAS DA OFERTA E DA DEMANDA DE PRODUTOS DE 223 Gráfico 16 Exportações de produtos de base florestal (SC) (2000 2010) Fonte: Brasil (2013). Enquanto, por um lado, as exportações de produtos de madeira caíram tanto em valor quanto em quantidade ao longo da década (27% e 37%, respectivamente), as de celulose, papel e produtos de papel aumentaram sob as duas óticas: 77% em valor e 19% em quantidade. Por outro lado, as de móveis de madeira cresceram pouco em valor (9%) e se retraíram bastante em quantidade (17%). É interessante notar que as exportações de celulose, papel e produtos de papel e as de móveis de madeira apresentaram declínio em quantidade a partir da metade da década de 2000, no entanto, também a partir da metade da década, esses dois setores apresentaram crescimento em suas atividades, como observado no gráfico 13. Isso sugere que o mercado interno brasileiro tenha ganhado importância como destino dos bens produzidos por esses setores.

224 CARACTERÍSTICAS DA OFERTA E DA DEMANDA DE PRODUTOS DE CONSIDERAÇÕES FINAIS Este estudo buscou analisar e dimensionar a oferta e a demanda de produtos de base florestal em Santa Catarina ao longo da década de 2000. O objetivo consistiu em compreender se existe um compasso entre a oferta e a demanda desses produtos no estado e se o setor de produtos de base florestal respondeu às demandas mercadológicas e ambientais que se lhe apresentaram. Como se observou, Santa Catarina acomoda importantes polos florestais, madeireiros, moveleiros e de papel e celulose. Isso significa que os produtos florestais são apenas o início de uma grande cadeia produtiva regional. No âmbito da madeira em tora, verificou-se que o estado responde por quase 15% da produção nacional e que permanece o tradicional predomínio da cultura de Pinus, apesar de a área destinada ao Eucalyptus ter crescido mais. As maiores regiões produtoras são a serra e o norte catarinense, onde se concentram as indústrias de celulose e papel e de móveis, respectivamente. De forma geral, a produção estadual de madeira em tora cresceu 40% nos 10 anos observados. No entanto, ao se desagregar tal taxa, o que se observou foi uma importante mudança no padrão produtivo do estado: a produção de madeira para papel e celulose cresceu mais do que a de madeira para outras finalidades. Consequentemente, a participação da madeira para papel e celulose sobre o total produzido passou de 42% em 2000 para 52% em 2010. Não surpreendentemente, verificouse, na indústria de papel e celulose, um aumento no índice de produção física de 20% ao longo da década, bem como um crescimento de quase 38% no número de pessoas empregadas. Tal expansão, no entanto, não parece ter sido puxada pelo comércio internacional e, sim, pelo mercado interno. Concomitantemente ao crescimento do setor, observou-se uma redução no volume de suas exportações a partir de 2006. Da mesma forma, a atividade de fabricação de móveis também se expandiu no período observado paralelamente a uma redução no volume de suas exportações. Além de sugerir que o mercado interno tenha sido o motor desse crescimento, isso chama atenção para outro fato. Visto que a produção física industrial de produtos de madeira diminuiu no estado, a maior demanda por madeira no setor moveleiro só pode ter sido suprida por produção oriunda de outras regiões do país, o que sugere uma queda na densidade dessa cadeia produtiva no estado de Santa Catarina. O presente estudo buscou também analisar a evolução recente da oferta de madeira para fins energéticos em Santa Catarina vis-à-vis as demandas mercadológicas e ambientais. Verificou-se, por um lado, que a produção estadual de lenha cresceu 39% na década analisada, totalizando quase 9 milhões de m³ em 2010. Por outro lado, a de carvão vegetal fechou em 11.500 t em 2010, o que representa uma queda de 44% em 10 anos, no entanto, tal queda não parece encontrar explicações em mudanças nas estruturas de demanda por esse energético no estado e, sim, na intensificação da fiscalização ambiental sobre o extrativismo. Com relação à lenha, espera-se que sua demanda tenha aumentado no setor industrial, dado o crescimento da produção física nas atividades demandantes

CARACTERÍSTICAS DA OFERTA E DA DEMANDA DE PRODUTOS DE 225 de lenha, e diminuído no residencial devido ao maior acesso das famílias ao gás de cozinha (GLP). Sugeriu-se, porém, que o aumento da demanda industrial tenha sido menor do que o aumento da produção de lenha. Isso se deve a ganhos de eficiência energética na indústria e à utilização de fontes alternativas de energia, como é o caso do licor negro no setor de celulose. No que concerne ao meio ambiente, é notório o declínio do extrativismo tanto em termos relativos quanto absolutos para todos os produtos primários considerados. O setor florestal mostrou-se capaz de atender às demandas de mercado ao mesmo tempo em que se ajustou às exigências ambientais. Isso se deve tanto a exigências impostas diretamente às atividades primárias quanto àquelas impostas à indústria consumidora de insumos de base florestal. De forma geral, a indústria catarinense parece estar engajada em tornar sua atuação mais sustentável. De acordo com uma pesquisa realizada pela Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina (Fiesc), 35,23% das empresas participantes do estudo declararam possuir políticas de gestão ambiental integradas com as demais políticas da organização (FIESC, 2009a, p. 5). Entre as empresas de grande porte, que caracterizam o crescente setor de papel e celulose no estado, esse número era de 45%. Ademais, 57,5% das empresas de grande porte declararam possuir áreas de reflorestamento e de preservação e 47,5% declararam adotar práticas de eficiência energética (Fiesc, 2009 a, p. 8). Por fim, é mister salientar que muitas questões, fundamentais para compreensão da dinâmica economia das florestas, foram apenas superficialmente abordadas ao longo deste estudo. O estado de Santa Catarina, por não possuir um balanço energético próprio, carece de uma detalhada análise da demanda por lenha e carvão vegetal referente a cada setor de sua economia, especialmente ao industrial e ao residencial. Faz-se necessário, sobretudo, investigar as inter-relações setoriais e os seus impactos sobre a oferta e a demanda dos produtos de base florestal no estado. Tais tarefas, no entanto, extrapolam o escopo deste artigo e permanecem, portanto, como sugestões para futuras investigações.

226 CARACTERÍSTICAS DA OFERTA E DA DEMANDA DE PRODUTOS DE REFERÊNCIAS ABRAF. Anuário estatístico 2012. Disponível em: <http://www.abraflor.org.br/estatisticas/ ABRAF12/ABRAF12-BR.pdf>. Acesso em: 20 fev. 2013.. Anuário estatístico 2011. Disponível em: <http://www.abraflor.org.br/estatisticas/ ABRAF11/ABRAF11-BR.pdf>. Acesso em: 20 fev. 2013. BRDE. Produção e consumo de produtos florestais: perspectivas para a região sul com ênfase em Santa Catarina. Florianópolis, 2003. Disponível em: <http://www.brde.com.br/media/brde.com.br/ doc/estudos_e_pub/producao%20e%20consumo%20de%20produtos%20florestais.pdf>. Acesso em: 10 dez. 2012. BRASIL. MDIC. Alice-web II. Disponível em: <http://aliceweb.desenvolvimento.gov.br/>. Acesso em: 10 fev. 2013. BRASIL. MME. Balanço Energético Nacional: ano base 2010. Brasília, 2011. Disponível em: <https://ben.epe.gov.br/benrelatoriofinal2011.aspx>. Acesso em: 25 jan. 2013. FIESC. Diagnóstico da indústria catarinense 2009: estratégia e gestão ambiental. Florianópolis, 2009. Disponível em: <http://www2.fiescnet.com.br/web/recursos/vuvsr01uqxdnqt09>. Acesso em: 26 fev. 2013a.. Indústria sustentável: meio ambiente. Florianópolis. Disponível em: <http://www2. fiescnet.com.br/web/recursos/vuvsr01estboqt09>. Acesso em: 26 fev. 2013b. FONTES, A. A. A cadeia produtiva da madeira para energia, 2005. 127 p. Tese (Doutorado em Ciência Florestal) Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, 2005. FAO. Global forest land-use change: 1990-2005. Roma, 2012. Disponível em: <http://www.fao. org/docrep/017/i3110e/i3110e00.htm>. Acesso em: 19 fev. 2013a.. State of the Worlds Forests: 2012. Roma, 2012. Disponível em: <http://www.fao.org/ docrep/016/i3010e/i3010e00.htm>. Acesso em: 15 fev 2013b.. Faostat: ForesSTAT. Disponível em: <http://faostat.fao.org/site/626/default.aspx#ancor>. Acesso em: 5 fev. 2011.

CARACTERÍSTICAS DA OFERTA E DA DEMANDA DE PRODUTOS DE 227 IBGE. Censo agropecuário 2006. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/ economia/agropecuaria/censoagro/default.shtm>. Acesso em: 15 nov. 2013a.. Produção da extração vegetal e silvicultura. Disponível em: <http://www.sidra.ibge. gov.br/bda/pesquisas/pevs/default.asp>. Acesso em: 27 fev. 2013b.. Pesquisa de orçamentos familiares 2008-2009: microdados. Disponível em: <http:// www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/condicaodevida/pof/2008_2009/microdados.shtm>. Acesso em: 30 nov. 2013c.. Pesquisa industrial mensal: produção física regional. Disponível em: <http://www.ibge. gov.br/home/estatistica/indicadores/industria/pimpfregional/default.shtm>. Acesso em: 4 mar. 2013d.. Pesquisa industrial anual: empresa 2010. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/home/ estatistica/economia/industria/pia/empresas/2010/defaultempresa.shtm>. Acesso em: 6 fev. 2013e. IFFSC. Resultados preliminares. Disponível em: <http://www.iff.sc.gov.br/images/stories/pdf/ resultados_resumido.pdf>. Acesso em: 4 fev. 2013. SBS. Fatos e números do Brasil florestal. São Paulo, 2008. Disponível em: <http://www.sbs.org.br/ FatoseNumerosdoBrasilFlorestal.pdf>. Acesso em: 28 fev. 2013. SFB. Florestas do Brasil em resumo: 2010: dados de 2005 2010. Brasília, 2010. Disponível em: <http://www.florestal.gov.br/index.php?option=com_k2&view=item&task=download&id=98>. Acesso em: 28 fev. 2013. SINDICERAM. Lenha e carvão vegetal. UHLIG, A. Lenha e carvão vegetal no Brasil: balanço oferta-demanda e métodos para estimação do consumo. 2008. 124 p. Tese (Doutorado em Energia) Programa Interunidades de Pós-graduação em Energia, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2008.