O IMPACTO DO CONHECIMENTO DA ESTRUTURA DA LÍNGUA MATERNA NA APRENDIZAGEM DE LÍNGUA ESTRANGEIRA



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Transcrição:

O IMPACTO DO CONHECIMENTO DA ESTRUTURA DA LÍNGUA MATERNA NA APRENDIZAGEM DE LÍNGUA ESTRANGEIRA Leandro Leal (UFG Campus Jataí) Neuda Alves do Lago (UFG Campus Jataí) RESUMO: A influência do conhecimento da estrutura em gramática da língua materna no processo de aprendizagem de uma língua estrangeira é um assunto muito polêmico e amplamente discutido. De forma geral e ao mesmo tempo útil, concebe-se que os aprendizes que entendem claramente e sem nenhum tipo de dificuldade a morfologia e sintaxe da sua língua materna conseguem adaptar-se melhor e obter melhores resultados em relação a aquisição de conhecimento em língua estrangeira do que aqueles que dizem não ter uma noção muito ampla sobre o assunto. Nesta comunicação, apresentaremos os resultados de uma pesquisa-ação, de cunho qualitativo, cujo fundamento básico foi a comparação entre o desempenho em língua inglesa de alunos que têm um conhecimento mais aprofundado sobre a estrutura lingüística da língua portuguesa, principalmente sua sintaxe, estrutura da oração e morfológico, estrutura interna da palavra, sua primeira língua, e os que não têm esse conhecimento, de acordo com suas próprias impressões. Os instrumentos utilizados para a coleta de dados foram um questionário fechado e um aberto, assim como entrevistas com os participantes. Os resultados apontam para a relevância do conhecimento do professor acerca da familiaridade de seus alunos com sua própria língua, a fim de adaptar seus procedimentos didáticos às necessidades deles. PALAVRAS-CHAVE: Língua Inglesa. Língua materna. Estrutura linguística. Introdução Este estudo teve o intuito de investigar a opinião dos alunos de um centro de ensino de línguas estrangeiras no sudeste de Goiás, matriculados nos cursos de inglês regular elementar e inglês instrumental sobre o quesito gramática, apontando quais são, nas opiniões deles, as falhas, as vantagens e a utilização do ensino da gramática em língua materna para se aprender uma língua estrangeira. Mais especificamente, o estudo investigou se o conhecimento da estrutura de língua materna, isto é, gramática, em seus níveis morfológico e sintático, ajudaria os [68]

alunos a aprender a falar outra língua (no nosso caso, o inglês), ou se, de fato, não faz diferença alguma aprender essas estruturas. A pesquisa se caracterizou por ser um trabalho quantitativo e qualitativo, para triangularmos os dados apurados. A motivação principal para pesquisar sobre este tema foi a grande discussão que há entre os estudantes e professores do curso de Letras, em relação à pertinência de se ensinar, ou não, gramática em língua materna, assunto que sempre divide as opiniões. Este trabalho não tem o intuito de mostrar o ensino de estrutura de língua materna para outros fins, tais como, comunicação, redação e etc. O intuito básico deste estudo foi responder à seguinte pergunta: Na opinião dos alunos, o conhecimento da gramática da sua língua materna os ajuda na compreensão e na aprendizagem da língua estrangeira? Referencial teórico Existem poucos trabalhos publicados atualmente em relação a este tema. Supomos que o tema seja pouco explorado, nos dias atuais, devido ao fato de que falar sobre gramática é algo polêmico e áspero e, para não enfrentar resistência ou intolerância, muitos pesquisadores preferem não adentrar no tema. Podem-se achar vários artigos e livros em relação à gramática de língua materna, mas relacionando a mesma com o aprendizado de língua estrangeira, temos raros estudos. Segundo Byrd (1998), ''gramática é o cerne do processo de ensinar e aprender línguas. É também um dos aspectos mais difíceis para se ensinar bem.'' Na citação anterior, vemos como o autor aborda a discussão da gramática para o ensino de língua. Em sua opinião, a gramática localiza-se numa posição crucial no processo de ensino e aprendizagem de línguas. Para se aprender uma língua estrangeira, é preciso adentrar nos níveis da língua em questão, que são comumente divididos em fonéticos, morfológicos, sintáticos e semânticos. Os três primeiros aspectos são os mais ensinados, sendo que, desses três, destacamos a morfologia e a sintaxe (a primeira, por trabalhar mais nomenclaturas (pronome objeto, préterito, condicional, [69]

adjetivo, etc; e a segunda, por trabalhar com a estrutura organizacional dos termos na frase). É sabido que cada língua tem sua estrutura, e no ensino de uma língua estrangeira é essencial que essa estrutura seja passada ao aluno que deseja aprendêla. Quando se fala em estrutura, os dois níveis, sintático e morfológico, se cruzam totalmente. Um exemplo muito usado é quando acontece a troca que há entre a posição comum do adjetivo e do substantivo do inglês para o português. Para explicar isso ao aluno, o professor deve extrair dele o conhecimento da nomenclatura morfológica (adjetivo e substantivo), e a ordem desses elementos na frase (nível sintático). Freeman (1991) define a gramática como um quadro livre gramatical tri dimensional. Ela divide a gramática em uma circunferência subdividida em três partes. Nessas partes, ela separa um lado para a forma e a estrutura (morfemas, fonemas, etc), outro lado para o significado lexical, ou seja, significado gramatical, e, por fim, ela apresenta a terceira parte que é a pragmática, que seriam as implicações do contexto. A autora sempre utiliza circunferências para explicar a gramática. Um outro círculo que ela utiliza para gramática, também se dividindo em três partes, traz a primeira parte se preocupando em mostrar como é formada a sentença, isto é, qual é a forma da frase, onde entra a gramática normativa (com conceitos de morfologia, sintaxe, fonologia). A segunda parte mostra o significado, neste caso ela trabalha a semântica; e por último, ela trabalha um contexto mais interacionista (pragmática), porque e quando a língua é usada. Em um dos seus círculos, ela nos dá um exemplo de como ensinar possessivo em inglês. De acordo com a autora, primeiramente ela formula uma equação para designar a forma, isso seria a parte do 'como é formado' (explicando como é formado o possessivo, ex: Lucas' house), depois, ela entra no significado, e por fim ela usa a pragmática (pode ser substituído por of the, possessivo determinante, etc). Como descobrir, então, a importância da gramática? Para Christy (2005), esperase que os alunos reconheçam e usem a gramática corretamente. A autora nos diz também que o ensino da gramática deve ser feito sob medida para atender às [70]

necessidades dos alunos, e deve tecer ambas as práticas prescritivas e descritivas em instrução, pertinentes e significativas. Ela subdivide o conhecimento da gramática em três áreas: a primeira foca em identificar as normas, a segunda em determinar o que o aluno já sabe e a última, em traçar um plano de instrução. O guia de Christy (idem) para ensinar gramática em língua estrangeira é muito usado por professores. Muitos utilizam esses três tipos para ensinar estrutura aos seus alunos, focando na identificação, depois checando o que os alunos sabem até ali e por fim, traçam um plano de como instruir os alunos a usar a tal estrutura. Há alguns autores que são contra o ensino de gramática de língua materna na sala de aula. Um exemplo claro desse caminho de pensamento é Possenti (1996), grande pesquisador do ensino e aprendizagem de língua materna. De acordo com ele, o aluno já sabe a estrutura de língua e, portanto, não precisa ser ensinada. O autor enfatiza que não é preciso estudar concordância, só se houver uma deficiência muito grande pelos alunos. Já segundo Geraldi (2000), não é preciso ensinar nomenclatura, os únicos que devem saber as nomenclaturas gramaticais são os professores. Envolvendo-se também em pesquisa de língua materna, Ribeiro (2001, p.146) nos faz pensar sobre o ensino de gramática dessa língua, com a seguinte reflexão: ''ao final de um curso, os alunos saem sem se lembrar das regras, sem saber como aplicá-las e abominando o Português.'' De certa forma, Ribeiro tem razão quando diz que os alunos se esquecem, ou melhor, dizendo, nem aprendem o que lhes é ensinado sobre gramática, e que, no final, a maioria acaba odiando a disciplina de português. Quando falamos em ensino de língua estrangeira, de certa forma, quase sempre esbarramos também na questão do ensino de língua materna, já que os alunos adultos, dos quais tratamos neste artigo, utilizam-na como suporte para a aprendizagem da nova língua. [71]

Metodologia Realizamos, neste estudo, uma modalidade de pesquisa qualitativa intitulada pesquisa-ação. A característica central da pesquisa-ação é a intenção que o pesquisador tem de interferir no seu ambiente de atuação. Desta forma, busca-se estabelecer uma relação íntima e coesa entre teoria e prática, buscando transpor o abismo normalmente existente entre quem produz o conhecimento e quem o aplica. Conforme ressaltado por Miranda e Resende (2006, p. 512): O dilema das possibilidades e condições do conhecimento desde sempre tem sido um impasse para os homens, e tem-se restabelecido, por diferentes perspectivas, matizes teóricos e propostas metodológicas de variados aportes, em distintos momentos históricos. Afinal, quais são as condições de possibilidade de apreensão da realidade pelo sujeito de conhecimento? Qual é a relação desse conhecimento com a objetividade, com a prática? Uma das possíveis soluções para esse impasse teoria/prática se configura na modalidade da pesquisa-ação. Na área de ensino e aprendizagem de língua estrangeira, ela significa, grosso modo, professores pesquisando os assuntos relativos à sua prática docente e ao processo de aprendizagem de seus alunos, com a intenção explícita de interferir na realidade, de forma a aprimorá-la. Ofereceremos, agora, algumas informações relativas aos participantes e contexto deste estudo. A pesquisa foi realizada no Centro de Línguas da Universidade Federal de Goiás, no Campus Jataí. O Centro de Línguas é um projeto de extensão da faculdade de Letras daquela universidade, cujo propósito é oferecer o ensino de línguas estrangeiras e redação em língua materna à comunidade de Jataí e região, quer tenha algum vínculo com o campus ou não. Por se tratar de um centro de formação de professores, a maioria dos professores são alunos do curso de Letras Inglês, que são orientados e coordenados por professores da graduação. [72]

Participaram desta pesquisa alunos de duas turmas daquele centro, contabilizando, no total, 15 alunos, sendo que 3 eram alunos de inglês instrumental e o restante (12 alunos) eram alunos do inglês regular, nível 2. Como instrumentos para a coleta dos dados, utilizamos um questionário fechado e outro aberto. O primeiro continha assertivas, com as quais os alunos deveriam demonstrar seu grau de concordância numa escala Likert quíntupla, que variava de concordar totalmente a discordar totalmente. O segundo continha perguntas abertas, às quais os alunos respondiam livremente, sem nossa interferência. Apresentaremos, a seguir, os dados obtidos. Análise de dados Para esta análise, inicialmente, focaremos nos dados quantitativos e posteriormente focaremos nas respostas abertas dos alunos aos questionários aplicados. Nossa afirmação inicial foi: Professor: ''Sem aprender gramática, não há possibilidade de um aluno aprender uma língua estrangeira '', Alunos: 7 alunos concordaram totalmente 1 aluno discordou totalmente 7 alunos nem concordaram nem discordaram. A afirmação acima tem o intuito de descobrir se a gramática é realmente importante para os alunos. Podemos ver que a pergunta focaliza-se firmemente em um contexto de não possibilidade, no qual a gramática é posta como algo fundamental no ensino-aprendizado de uma língua estrangeira. Logo em seguida, foi afirmado: Professor: ''No Brasil, só tem facilidade na gramática de língua inglesa quem [73]

Alunos: conhece bem a gramática do português.'' 4 alunos concordaram totalmente 5 alunos discordaram totalmente 6 alunos nem concordaram nem discordaram A afirmação teve como propósito saber se os alunos associavam a capacidade de aprendizagem da língua inglesa com o conhecimento estrutural da língua materna. Outra afirmação que constava no questionário fechado foi: Professor: ''A gramática do Português é mais difícil do que aprender vocabulário. '' Alunos: 9 alunos concordaram totalmente 4 alunos discordaram totalmente 2 alunos não concordaram nem discordaram Com o intuito de descobrir a visão dos alunos sobre o conhecimento da estrutura da língua estrangeira, foi questionada a sua opinião a este respeito, em forma de afirmação, para descobrir a opinião dos alunos Professor: ''Para escrever e ler bem em inglês, é fundamental ter um bom conhecimento de gramática da língua inglesa. '', Alunos: 13 alunos concordaram totalmente com a afirmação 2 alunos que discordaram totalmente A próxima sentença fez uma relação entre a gramática da língua portuguesa e a gramática da língua inglesa: Professor: Alunos: ''Alunos que são bons na gramática do Português são bons na gramática do inglês'' 4 alunos concordaram totalmente 5 alunos discordaram totalmente 6 aluns nem concordaram nem discordaram Na próxima afirmação, a relação entre o que é aprendido na escola e o que é adquirido durante a vida do falante foi levada em questão. [74]

Professor: Alunos: ''O conhecimento de gramática é uma capacidade que o aluno já nasce dominando, pouco depende da escola. '' 2 alunos concordaram totalmente 10 alunos discordaram totalmente 3 alunos nem concordaram nem discordaram Esta última afirmação do questionário fechado faz, mesmo que discretamente, uma comparação entre o aprendizado da língua materna, em seu nível gramatical, com a língua estrangeira, no caso, o inglês: Professor: Aprender a gramática do inglês é um processo completamente diferente de aprender a gramática do português.'' Alunos: 5 alunos concordaram totalmente com a afirmação 4 alunos discordaram totalmente da afirmação 6 alunos nem concordaram nem discordaram Mostramos, acima, a pesquisa quantitativa, com base nas informações coletadas no estudo. De agora em diante, exporemos os dados qualitativos, isto é, as respostas às perguntas abertas, nas quais os alunos expressaram suas opiniões livremente sobre o tema esboçado. Optamos por apresentar os dados de um aluno para cada pergunta, cuja posição foi representativa dos outros. Selecionamos, inicialmente, a resposta da aluna do inglês instrumental, Camila. Ela tem 29 anos, é formada em medicina veterinária, e lhe foi perguntado: Professor: ''Você tem conhecimento da gramática da língua portuguesa?'' Camila: ''Acredito que possuo conhecimento razoável da gramática do português, devido ao meu interesse particular. Tenho mais facilidade com morfologia e sintaxe''. Camila possuía uma grande facilidade em aprender regras de construção sintática quando traduzia seus textos e algumas vezes, em sala de aula, ela mesma dizia que o conhecimento que ela possuía em estrutura de língua materna a ajudava a entender a estrutura da língua estrangeira que ela estudava, no caso, o inglês. [75]

Outra participante da pesquisa foi a estudante de psicologia, Karla, que tem 20 anos e era aluna do inglês regular de nível 2. Foi lhe perguntado: Professor: '' Você acredita que para se aprender uma língua estrangeira é importante ter noção dos níveis lingüísticos de sua própria língua?'' Karla ''Sim, pois servem como base para o aluno entender outra língua. '' Karla era uma aluna que não tinha dificuldades em compreender gramática do inglês. Outro aluno que representou bem a opinião da maioria do grupo foi Alessandro, um rapaz de 35 anos que cursava o primeiro ano do ensino médio, e estava no inglês 2. A pergunta que selecionamos foi a seguinte: Professor: Você sente algum tipo de receio quando o professor utiliza termos gramaticais na aula, como: substantivos, artigo, verbo flexionado, preposição, conjunção, etc?'' Alessandro ''Sim, isso pra mim tudo é estranho, cada dia aparecem gramáticas mais difíceis. '' Alessandro foi um aluno desafiador, tinha muita dificuldade em aprender língua estrangeira. Segundo o mesmo, ele não entendia muito quando o assunto era estrutura de língua, e essa falta de conhecimento era visível ao longo das aulas. Emiliane é formada em biologia, tem 22 anos, estudava inglês 2, e não tinha dificuldades em nenhum nível lingüístico, tanto estrangeiro, quanto materno, uma aluna que captava com clareza o que lhe era passado. Professor: ''Você acredita que a falta de conhecimento da estrutura da língua portuguesa afeta no aprendizado de língua inglesa? Por quê?'' Emiliane ''Sim, como a língua portuguesa tem muito mais detalhes que a inglesa, para entender como colocar as frases no tempo certo, de como transformar uma frase na língua portuguesa para a inglesa, o conhecimento da estrutura da língua portuguesa certamente [76]

facilita o aprendizado da língua inglesa. '' Georgia faz Psicologia, tem 22 anos, e estudava o inglês 2. A aluna foi categórica em sua resposta. Professor: ''Você acredita que a falta de conhecimento da estrutura da língua portuguesa afeta no aprendizado de língua inglesa? Por quê?'' Georgia ''Sem noção da estrutura da língua portuguesa, acredito que não tem como compreender de forma eficaz a língua inglesa. '' Dudu é um aluno do curso de biomedicina, tem 19 anos e cursava o inglês dois, foi lhe perguntado. Embora sua opinião não seja representativa do grupo, sendo a única opinião nessa direção exposta no questionário aberto, transcrevemos aqui sua resposta, com a finalidade de transparência dos dados. Professor: ''Você acha que o conhecimento sintático mais amplo da língua portuguesa ajuda na compreensão e no aprendizado da língua inglesa? Por quê?'' Dudu ''Nem sim, nem não. Porque nem sempre esse tipo de conhecimento nos ajuda a aprender a língua. Algumas palavras podem até ajudar, mas outras não fazem diferença. '' Para ele, o conhecimento da gramática não influencia tanto no aprendizado de língua estrangeira. Thays é professora do curso de Veterinária, tem 24 anos, cursava o inglês instrumental, e a pergunta que lhe foi feita foi para tentar descobrir, em sua opinião, qual seria o papel do professor em relação ao aluno que chega à sala de aula sem ou com pouco conhecimento em língua materna (gramática) foi: Professor: ''Em sua opinião, o que o professor poderia fazer para ajudar os alunos que têm dificuldades gramaticais?'' Thays ''Repassar a base gramatical da língua portuguesa para introdução da língua inglesa, deixando assim, o aluno mais esclarecido. '' [77]

Com essas informações, e diante de uma assunto tão discutido e muitas vezes, tão polêmico, foi possível perceber que o ensino de gramática para muitos é inútil, para outros é fundamental para o ensino e o aprendizado de língua estrangeira. Como foi descrito acima, a maioria dos alunos se posicionou, no questionário aberto, a favor da importância do ensino de gramática em língua materna para o aprendizado da língua estrangeira, e apenas um aluno foi contrário. Considerações finais Neste estudo, buscamos verificar a opinião dos alunos acerca da relação entre o conhecimento de gramática da língua materna e a aprendizagem de inglês como língua estrangeira. Foi possível verificar que os alunos participantes não apresentaram uma opinião unânime acerca do impacto do domínio da gramática de língua materna (por eles considerado como difícil) ao aprender outra língua: metade considera extremamente importante, outros poucos acham que não tem relação nenhuma, e a maioria não tem opinião formada a respeito. Averiguamos, porém, que os alunos, em maioria suprema, consideram o conhecimento da gramática de língua inglesa como essencial para o domínio dessa língua. Como a maioria, também, dos participantes não acredita numa capacidade inata para o conhecimento de gramática, os alunos julgam ser necessário muito esforço de sua parte para conhecer e saber utilizar as regras gramaticais. Concluímos, nessas considerações nada finais, que nenhum tipo de conhecimento existe em vão. A gramática tem, sim, seu valor, e deve ser reconhecida devidamente, e ensinada quando apropriado, visando a uma comunicação mais eficiente. O estudo realizado pode servir de base para o design do conteúdo a ser ministrado nas nossas aulas de língua estrangeira, assim como pode nos nortear na postura a assumir com relação ao enfoque mais ou menos gramatical, a fim de auxiliar nossos alunos. [78]

Referências BYRD, P. Teaching Grammar. Disponível em: http://www.nclrc.org/essentials/gram mar/grindex.htm acesso em: 27 fev 2011. CHRISTY, J.. To Teach or Not to Teach (Grammar) - No Longer the Question. 2005. Disponível em: http://www.glencoe.com/sec/teachingtoday/subject/to_teach.phtml acesso em: 27 fev 2011 FREEMAN, D. L-. Teaching Grammar. In M. Celce-Murcia (ed.), Teaching English as a Second or Foreign Language. Boston, MA: Newbury House, 1991. p. 279-283. GERALDI, J. W. O texto na sala de aula. SãoPaulo: 2000. MIRANDA, M. G.; RESENDE, A. C. A. Sobre a pesquisa-ação na educação e as armadilhas do praticismo. Revista Brasileira de Educação. v. 11 n. 33, P. 511-518, 2006. RIBEIRO, O. M. Ensinar ou não gramática na escola eis a questão. Linguagem & Ensino, v. 4, n.1, 2001, p. 141-157. Disponível em: http://rle.ucpel.tche.br/php/edicoes/v4n1/h_ormezinda.pdf. Acesso em: 27 fev 2011 POSSENTI, S. Porque (não) ensinar gramática. Campinas, Mercado de Letras, 1996. [79]