Keywords: vocational training, life history, curriculum evaluation.



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O MEMORIAL COMO INSTRUMENTO PARA CONQUISTA DA AUTONOMIA PROFISSIONAL E AVALIAÇÃO DO CURRÍCULO. GT 1 Espaços educativos, currículo e formação docente Miguel André Berger Universidade Tiradentes bergerandremiguel@hotmail.com RESUMO O professor é um profissional que no exercício da prática docente mobiliza um conjunto de saberes (pessoais, pedagógicos, curriculares) adquirido, através de diferentes fontes, na concepção de Maurice Tardif. O processo de formação do educador não pode desprezar os saberes e a história de vida desse sujeito. Nessa perspectiva, vimos estimulando o futuro profissional à produção de memorial, no transcorrer do Curso de Pedagogia da Universidade Federal de Sergipe a fim de contrapor suas vivências à teoria. Debates são promovidos sobre a relação entre escola e sociedade, a seletividade do ensino, o fracasso escolar e sua relação com a prática avaliativa, ancorando-se nas colocações de Bourdieu, Foucault, Luckesi e Hoffmann. O memorial vem proporcionando oportunidades para ressignificação de suas práticas, concepções e posturas sobre a prática avaliativa bem como uma valiosa fonte de informações para análise do currículo do Curso de Pedagogia. Palavras-chave: formação profissional, história de vida, avaliação curricular. ABSTRACT The teacher is a professional in the conduct of teaching practice mobilizes a set of knowledge (personal, pedagogical, curricular) acquired through different sources, in designing Maurice Tardif. The process of teacher education can not neglect the knowledge and life history of this subject. From this perspective, we saw the future by stimulating the production of professional memorial, in the course of the Education Course, Federal University of Sergipe in order to counteract their experiences to theory. Debates are promoted on the relationship between school and society, the selectivity of education, school failure and its relation to assessment practice, embedded in placement of Bourdieu, Foucault, Luckesi and Hoffmann. The memorial has been providing opportunities for new meaning to their practices, conceptions and attitudes about evaluation practice and a valuable source of information for analysis of the curriculum of the Education Course. Keywords: vocational training, life history, curriculum evaluation. Introdução O ser humano durante sua vida sofre inúmeras influências sociais, adquirindo saberes de diferentes fontes, os quais vão integrando sua identidade e projetando sua existência; é o percurso histórico que detêm consigo os mais profundos detalhes da vida, ou seja, o sujeito é reflexo de sua história.

O professor é um ator social, têm emoções, poderes, uma personalidade, cultura (s), e seus pensamentos e ações carregam as marcas dos contextos nos quais se insere (Tardif, 2002), detendo um corpo de saberes. Os saberes docentes são integrados pelos saberes pessoais, adquiridos no contexto familiar e no ambiente de vida; os saberes provenientes da formação escolar anterior (trajetória escolar); os saberes provenientes da formação profissional para o magistério veiculados nos cursos de formação de professores e estágios, e os saberes provenientes dos programas e livros didáticos usados no trabalho. Além desses saberes, há os saberes experienciais originados na prática cotidiana dos professores em confronto com as condições da profissão,... nas relações com os pares (2002, p. 52). Essas colocações teóricas implicam em afirmar que as discussões em torno da formação do educador não podem desprezar as histórias de vida dos sujeitos dessa profissão. É nesta perspectiva que vimos estimulando o aluno do Curso de Pedagogia no transcorrer das disciplinas Metodologia das Disciplinas Pedagógicas do Ensino de 2º Grau e Avaliação Educacional à produção de memoriais. Esse procedimento foi adotado desde o primeiro semestre de 2002 até o ano de 2009, proporcionando um acervo que permite conhecer o perfil, os anseios e expectativas do aluno bem como os conflitos e análises que tece sobre o currículo do Curso de Pedagogia. O trabalho pedagógico e a produção do memorial A disciplina Metodologia das Disciplinas Pedagógicas do Ensino de 2º Grau é de natureza obrigatória, sendo ofertada aos alunos do 6º período do Curso de Pedagogia. Voltase para uma análise da formação do professor para atuar nas quatro séries iniciais do ensino fundamental, partindo de uma reconstrução histórica do Curso Normal, um dos campos de atuação do pedagogo, discutindo as tendências pedagógicas que marcaram a educação brasileira (Libâneo, 1985), o campo de atuação e os desafios enfrentados pelo profissional do magistério no cotidiano escolar (Tardif, 2002; Perrenoud, 1995); a questão da educação continuada (Candau, 1997) e a organização do trabalho pedagógico. Na disciplina Avaliação Educacional, também de natureza obrigatória, ofertada no período posterior, nossa preocupação consiste em desmistificar a avaliação como uma atividade neutra e coercitiva, e proporcionar ao profissional da Educação uma visão crítica e 2

reflexiva (Berger, 2002, p. 104), além de favorecer um conhecimento dos diferentes procedimentos para concretização da prática avaliativa. Os momentos iniciais de cada disciplina, com os alunos dispostos em círculo, são destinados à apresentação de cada participante, a fim de favorecer o conhecimento do outro e sua integração ao grupo. No caso da disciplina Avaliação Educacional, os debates e a elaboração de um texto são procedimentos utilizados para detectar as concepções de avaliação presentes e que tiveram influência marcante em suas vidas, as experiências que possuem no campo do magistério, as formas de concretizar a prática da avaliação e os problemas que enfrentam no cotidiano escolar. Leituras e debates são promovidos sobre a relação entre escola e sociedade, a seletividade do ensino, o fracasso escolar e sua relação com a prática avaliativa, ancorando-se nas colocações de Bourdieu e Passeron (1975), Michael Foucault (1987), Cipriano Carlos Luckesi (1995), Jussara Hoffmann (1993) e Celso Vasconcelos (1995). Bourdieu e Foucault vêem a avaliação realizada nas situações de exame como um instrumento para conservação e reprodução da sociedade. Os outros pesquisadores contribuem para a compreensão da avaliação, analisando-a como um ato pedagógico que ocorre no interior da instituição escolar, assumindo funções que podem favorecer o desempenho do aluno e a atuação do professor. Em um segundo momento, o aluno é estimulado a enriquecer seu memorial, refletindo sobre a avaliação na sua trajetória de vida, evidenciando as dificuldades, conquistas/avanços e suas implicações na profissionalização. Em muitos relatos pode-se depreender o uso autoritário dessa prática, cujas marcas ainda estão guardadas na memória. A minha alfabetização foi fundamentada numa prática tradicional, estática, com trabalho centrado na figura do professor, no qual o aluno é passivo, só deve ouvir e obedecer... Diante dessa alfabetização passei para a 1ª. Série sem dominar a leitura e a escrita... Foi um dos piores anos que passei na escola, pois me lembro que em uma prova de português eu fiquei desesperada por não conseguir escrever a palavra árvore. Acabei rasgando a prova de tanto apagar e de chorar, já que as lágrimas molharam a prova. Perante essa dificuldade acabei repetindo a 1ª. série e até hoje me lembro dessa terrível sensação, de não ser aprovada, de estar atrasada, de não estar estudando com meus colegas... Daí em diante eu estudava e memorizava para as provas, para tirar uma nota alta para não correr o risco de reprovar novamente. (R. G. S., 2006) 3

Nessa experiência de reflexão e análise, esses acadêmicos passam a ressignificar suas práticas, concepções e posturas acerca do trabalho pedagógico e da prática avaliativa, a partir do momento que se percebem como sujeitos de suas próprias histórias, consequentemente pela sua formação profissional. A prática de produção do memorial, que se inicia em uma disciplina e tem continuidade na outra, em termos de aprimoramento, objetiva provocar reflexões sobre as histórias de vida dos pedagogos em formação e suas implicações na escolha e desenvolvimento profissional, compreendendo nessa formação como processo que articula a história de vida com a formação profissional. Essa articulação dos saberes adquiridos no decorrer da vida é muito ressaltada por vários depoentes, corroborando as colocações de TARDIF. A minha experiência atual de estágio com alfabetização de jovens e adultos já me fez constatar que recorremos a vários saberes para ensinar. Saberes provenientes do curso, do meu ambiente familiar, de minhas conversas com colegas da profissão. Tem sido ótima a experiência, apesar de desafiadora (K.G.E, 2006). Nóvoa coloca que a história de vida reflete na escolha e desenvolvimento da profissão e na identidade profissional. A forma como cada um de nós constrói a sua identidade profissional define modos distintos de ser professor, marcados pela definição de ideais educativos próprios, pela adoção de métodos e práticas que colam melhor com nossa maneira de ser, pela escolha de estilos pessoais (...) ao qual cada um de nós se apropria do sentido de sua história pessoal e profissional (1998, p. 28). Esse trabalho de análise e reflexão sobre sua vida, seus saberes e de repensar sua atuação como profissional concorre para ressignificação de sua prática. Segundo Pimenta (2002), o papel da teoria é oferecer perspectivas de compreensão e análises para que o professor compreenda os diversos contextos e a si próprio, na perspectiva de transformação. Uma das alunas já no exercício do magistério como estagiária sintetizou bem a importância dessa reflexão. Pensar na minha atuação como docente, implica em compreender as relações que estabeleci na minha trajetória de vida para enriquecer minha prática (A. M. S. L. V., 2003). 4

Toda minha trajetória escolar foi englobada por alguns professores autoritários que me ensinaram de certa forma a não seguir seu mau exemplo, afinal acredito que a humildade vale mais do que qualquer diploma, que devemos respeitar a todos. A lição principal que tirei durante essas reflexões é que não quero praticar a arrogância que foi praticada por alguns professores... Quero levar comigo apenas as boas lembranças e exemplos de professores que mostraram um tratamento de igual para igual, onde nos ajudamos na (re)construção do conhecimento (R. B. S., 2007). O processo de construção do memorial envolve idas e vindas, estimulando o aluno na análise de sua trajetória. É um processo rico de diálogos, mas que se depara com resistências do aluno para (re)escrever sobre si mesmo. Mesmo assim, o aluno acaba reconhecendo o valor e a importância dessa atividade. Elaborar este memorial da minha trajetória escolar, tendo como foco a avaliação, apesar de exigir muito de mim, foi de fundamental importância, pois ele me proporciona lembrar momentos tristes, de mudanças, de felicidade, de emoção e aprendizagem. Além disso, pude ter uma visão global sobre minha atuação escolar, muito pautada nas colocações de Foucault, que defende a escola com a função de produzir corpos dóceis, controlar e moldar o indivíduo e, principalmente, da avaliação que se dá nas situações de exame, com a função de qualificar e classificar o aluno. Também conhecemos as contribuições de Luckesi e Hoffmann que me subsidiaram a encarar a avaliação na função diagnóstica, favorecendo a orientação do aluno e a melhoria de minha prática. (M. C. dos S. S., 2007). Fiquei muito apreensiva no início pelo desafio de fazer este memorial, mas foi uma experiência muito gratificante... Fica a certeza de que em breve voltarei a (re)escrever o meu memorial, pois estarei dando início a minha caminhada profissional e espero trazer lembranças agradáveis e curiosas, como trouxe nesse princípio de memorial (R.G.S., 2006) Analisando o currículo do Curso de Pedagogia A proposta curricular do Curso de Pedagogia da UFS implantada em 1993, foi resultante de um longo processo de discussões envolvendo o Colegiado do Curso, o corpo docente e discente. O currículo enfatiza a formação do pedagogo para atuação na pré-escola e nas séries iniciais do ensino fundamental, pontos conflitantes do sistema educacional brasileiro. As habilidades foram suprimidas já que a proposta curricular priorizou a formação de um educador que assumisse também a função de coordenação do trabalho pedagógico. 5

A aprovação das Diretrizes Nacionais para o Curso de Pedagogia pelo CNE, em dezembro de 2005, alvo de críticas por parte dos educadores (Libâneo, 2006) vem exigindo um repensar do Curso. Para empreender uma avaliação mais abrangente da proposta curricular a participação do aluno que vivencia esse processo é de grande relevância, daí porque empreendemos uma análise dos memoriais para captar a voz do aluno. A partir de uma leitura analítica e individual dos memoriais, iniciou-se um processo de desconstrução, construindo outro intertexto onde destacam-se o posicionamento do aluno diante da proposta em concretização do Curso de Pedagogia, a percepção e a organização do trabalho pedagógico que é reflexo e reflete do/no processo formativo, as dificuldades e os desafios enfrentados na trajetória acadêmica. Em relação ao perfil dos estudantes, de 98 memoriais analisados, cinco foram de estudantes do sexo masculino e a maioria do sexo feminino; a maior parte com idade entre 19 e 26 aos e solteira, sendo dez de origem rural. A grande parte (45%) concluiu o ensino fundamental na rede particular, passando a continuar os estudos na rede pública, principalmente a mantida pelo poder estadual ou municipal que deixa muito a desejar quanto à qualidade do ensino, devido à questão econômica.. Em relação ao ensino médio, vinte tinham de se deslocar diariamente para outro município para sua realização diante da falta desse nível de ensino no município que residiam, despendendo recursos e tempo de locomoção. O pai da maioria dos alunos é pequenos agricultores ou se encontram aposentados, recebendo baixa remuneração, o que lhes impossibilita de custear o estudo dos filhos. As mães ocupam-se da agricultura familiar ou do lar, sendo que poucas exercem atividades no campo do magistério ou em repartições públicas. A maioria dos pais freqüentou apenas os primeiros anos do ensino fundamental. Os universitários apresentam condições desfavoráveis de capital econômico e cultural familiar. A baixa qualidade da educação básica e o alto grau de concorrência no vestibular são fatores que influenciaram na decisão do jovem quanto à escolha do curso e a carreira a seguir. Muitos jovens tinham como pretensão ingressar em cursos de alto prestígio social (medicina, odontologia, psicologia), mas depois do fracasso na primeira tentativa, passam a 6

optar pelos cursos de licenciatura diante da pouca concorrência e de dispor de um campo de trabalho amplo. Dentre os universitários pesquisados, somente vinte foram aprovados no primeiro vestibular, os outros tiveram de empreender duas ou até quatro tentativas, mudando nesse percurso suas opções iniciais de curso. Para obter sucesso nessas tentativas, muitos jovens empreenderam estudo individual ou em grupo, demandando grande esforço pessoal e investimento, enquanto poucos participaram em cursinhos pré-vestibulares, face à inexistência desses em suas localidades e de recursos para pagamento da mensalidade. Em relação ao Curso de Pedagogia, muitos estudantes criticam a questão da departamentalização da universidade, o que reflete em seu desempenho e na relação com o meio universitário. Criticam a falta de relação entre as disciplinas componentes dos dois períodos iniciais do curso bem como o relacionamento e a postura de certos professores que em nada favorecem o interesse do aluno pela opção realizada. No primeiro período eu sofri um grande impacto. Tudo era diferente do que eu estava acostumada nos anos escolares anteriores: o local, os professores, as disciplinas, a metodologia, tudo era estranho e novo. O impacto maior foi quando me deparei com um professor de Introdução a Metodologia Científica (ou Filosofia)... ele deixou marcas negativas em toda a minha turma.ele nos chamava de incompetentes e burros. Imagine isso para quem saiu do ensino médio! Foi bem difícil levar essa disciplina até o fim, alguns colegas trancaram, outros abandonaram. Mas graças a esse professor hoje eu sei que tipo de professor eu não queria ser, pois ele me mostrou o que um professor não deve fazer com seus alunos. (D. C. dos S., 2007). Em relação ao curso, posso dizer que não fazia idéia da discriminação que muitos fazem em relação a ele. Lembro no primeiro período de um professor... que ria de nós, futuros pedagogos. Essa foi a maior decepção para mim... (G. S. B., 2007). Há unanimidade entre os alunos sobre a necessidade de se estabelecer uma maior articulação entre os professores do Departamento de Educação com os de outros departamentos para favorecer uma aprendizagem mais significativa ao aluno. A desarticulação entre os próprios professores do Departamento de Educação também reflete na objetividade de conteúdo das programações e acaba interferindo no não cumprimento das ementas estabelecidas. Esse aspecto foi mais ressaltado entre as disciplinas de Alfabetização. 7

memoriais. A falta de coerência entre o discurso e a prática do professor também aflorou nos Há professores que pregam uma coisa e fazem outra.. se auto denominam críticos, construtivistas, mas tem uma atuação autoritária, não aceitando a idéia do outro. (D. C. de S., 2007) Muitos professores defendem a necessidade de inovar o ensino, mas ainda continuam presos na aula expositiva, no uso de testes. Também tem aqueles que passam Seminário cabendo, portanto, aos discentes darem a aula. Concordo com Lelis quando afirma que o trabalho em equipe e o seminário constituem uma farsa pedagógica, na medida em que liberam o professor de sua função de organizar e transmitir os conteúdos. Em nome de um método ativo, o que se observa é a acomodação, a passividade, tanto do aluno como do professor. (G. S. B., 2007). Tal aspecto foi muito enfatizado pelos alunos, exigindo discussões com o coletivo dos professores, através dos órgãos colegiados, a fim de favorecer a troca de idéias, ampliando os saberes experienciais e o redimensionamento da prática docente (TARDIF, 2002). Outro ponto destacado é que o currículo vigente pouco contempla áreas de atuação do profissional da educação do profissional da educação, que vem se ampliando mais depois da aprovação da aprovação Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei 9394/96). Dentre essas áreas têm-se a Educação Inclusiva, a Educação de Jovens e Adultos, Educação Ambiental, Informática Educativa. Tais áreas deveriam deixar de constituir disciplinas optativas e serem contempladas como obrigatórias, com atividades práticas (estágio) a fim de melhorar a formação do profissional e abrir o leque de oportunidades de atuação. Críticas em relação ao estágio sob a forma de prática de ensino também afloraram nos memoriais. Os alunos criticaram a carga horária reduzida dessa atividade o que restringe o tempo de convívio na escola e a aquisição de experiências profissionais significativas. Sugerem a criação de uma escola no campus universitário, ou a realização de um desejo acalentado pela comunidade durante muito tempo de implantação das séries iniciais do ensino fundamental no Colégio de Aplicação da UFS. 8

A crítica que faço ao curso de pedagogia é em relação aos estágios... Achoos superficiais e em um tempo reduzido... (M.C. dos S.A., 2007). - O curso deveria dar uma atenção especial às práticas que são obrigatórias durante este. Acredito que as práticas são rápidas e quase sem nenhuma orientação ou supervisão dos professores. Acredito que as práticas deviam ter melhores orientações e mais tempo, talvez um período inteiro de vivência na escola. Do jeito que está (temos de 10 a 15 dias em sala)... acabamos fazendo relatório para agradar os professores, quando na realidade não se aproveitou muito essa prática (D.C. de S., 2007). O curso de pedagogia é muito rico em teorias, em conteúdos e possui qualidade, apesar da parte prática ser pouco contemplada. Percebemos ao longo desses quatro anos, que o curso mantem uma expressiva distância entre teoria e prática. Essa distância ocasiona muitas dúvidas no momento que estamos na prática da educação infantil e nas séries iniciais, pois não sabemos colocar em prática aquelas teorias... Acredito que, deveríamos ter um laboratório (uma escola) dentro do próprio campus para que quando os professores fossem explicar as teorias pudéssemos aplica-las e não esperar um outro período para assim proceder... (R.G.S., 2006). Estas críticas e sugestões devem ser objeto de reflexão e análise, por parte do colegiado, pois a legislação prevê um aumento da carga horária e a adoção de diferentes momentos para efetivação da prática durante o curso, de modo a favorecer a articulação teoria e prática. Considerações Finais A produção de memoriais vem sendo uma prática que encontra resistência por parte de muitos alunos que alegam a dificuldade de falar de nós, uma vez que enxergamos mais as pessoas e suas atitudes... (O. de O.H., 2003), mas que no transcorrer do curso, foi sendo muito valorizada ao desafiar uma análise de nossa história o que muito reflete em nossa atuação. Relembrar o passado é bastante interessante, pois me fez refletir sobre o presente e a minha prática atual. Lembrar dos meus antigos professores e da minha trajetória escolar é estabelecer critérios para que eu não cometa alguns erros do passado e para que eu possa colocar novos modos de conceber o ensino dentro da sala de aula (M.da S.S., 2006) Através dos relatos, o aluno apresenta maior desprendimento e mais abertura para se manifestar sobre sua formação e o curso de pedagogia, trazendo informações valiosas para o processo de reformulação curricular. 9

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