Anais do 2º Congresso Brasileiro de Extensão Universitária Belo Horizonte 12 a 15 de setembro de 2004



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Transcrição:

Anais do 2º Congresso Brasileiro de Extensão Universitária Belo Horizonte 12 a 15 de setembro de 2004 Uma Resposta ao Uso de Drogas: Prevenção Área Temática de Educação Resumo A droga em si não é nem boa nem má: ela é um meio colocado à disposição do homem pela natureza, e uso que este faz dela, é que é determinante: um uso socialmente limitado e integrador, ou um uso desregrado, abusivo, que desintegra, marginaliza e provoca decadência. As drogas vêm sendo usadas há milênios; os abusos e fenômenos de dependência são práticas recentes, resultado da evolução e características da sociedade moderna, com conseqüência de aculturação, abandono dos valores tradicionais, sem encontrar valores novos que tenham potencial de integração social. Este trabalho é fruto de uma integração efetiva entre docentes de escolas, integrando e trocando informações; e do nosso público-alvo - alunos, que expressaram sua compreensão ao assunto - prevenção, como saída para o uso indevido de drogas, através de construções, em resposta aos debates estabelecidos com eles, sempre de maneira crítica e despreconceituosa; com participação e troca de conhecimentos. Estimular e sensibilizar os alunos em relação ao tema, conscientizar sobre a prevenção ao uso indevido de drogas, possibilitando aos alunos a compreender e apreender novos conceitos, foi um efetivo retorno; conscientizando-os de que, a melhoria da qualidade de vida, depende de uma interface que depende de integridade física, emocional e social, para formação de um cidadão. Autores Nadyeshka Sales Araújo Edgar Vieira do Nascimento Elaine de Barros Carvalho Maria Teresa Jansen de A. Catanho Instituição Universidade Federal de Pernambuco UFPE Palavras-chave: drogas; educação; prevenção Introdução e objetivo Em todas as sociedades sempre existiram "drogas". Entendem-se assim produtos químicos ("psicotrópicos" ou "psicoativos"), de origem natural ou de laboratório, que produzem efeitos, sentidos como prazerosos, sobre o sistema nervoso central. Estes efeitos resultam em alterações na mente, no corpo e na conduta. Na verdade, os homens sempre tentaram modificar o humor, as percepções e sensações por meio de substâncias psicoativas, com finalidades religiosas ou culturais, curativas, relaxantes ou simplesmente prazerosas. Estudos têm demonstrado diferentes motivações para o uso de drogas: alívio da dor, busca de prazer e busca da transcendência são razões encontradas nos diversos grupos sociais ao longo da história. Antigamente, tais usos fizeram parte de hábitos sociais e ajudaram a integrar as pessoas na comunidade, através de cerimônias, rituais e festividades. Hoje, tais costumes são esvaziados em conseqüência das grandes mudanças sócio-econômicas. Características da modernidade, como a alta concentração urbana ou o poder dos meios de comunicação,

modificaram profundamente as interações sociais. No decorrer desse processo o uso de drogas vem se intensificando. Produtos antigos ou recentes, legais ou ilegais, conheceram novas formas de fabricação e comercialização, indo ao encontro de novas motivações e novas formas de procura. Hoje, diante da diversidade de produtos, é fundamental o conhecimento do padrão de consumo e efeitos das substâncias psicoativas, já que o uso e abuso de drogas representam uma questão social complexa. Quanto aos fatores de risco relacionados ao abuso de drogas, eles são maiores para certas pessoas, em função das suas condições de vida. Assim, são mais inclinadas ao uso às pessoas: sem informações adequadas sobre drogas e seus efeitos; com uma saúde deficiente; insatisfeitas com sua qualidade de vida; com problemas psicológicos que possam torná-las vulnerável ao abuso de drogas; com fácil acesso a drogas. Problemas relacionados ao uso de drogas surgem, de fato, de um encontro entre três fatores básicos. Operando juntos, eles provocam as rupturas que podem levar à dependência. O consumo de drogas não se deixa dissociar da procura de prazer: pode tornar-se problemático precisamente por ser prazeroso. Este prazer pode resultar de sensações de bemestar, ou euforia ("barato"), de força, poder, leveza ou serenidade, ou ainda, da ausência de dor ou de memória. A procura de bem-estar e prazer é natural, fazendo parte da vida de todos; o problema consiste em querer buscá-los usando drogas. O uso do tabaco surgiu aproximadamente em 1000 a.c., nas sociedades indígenas da América Central, em rituais mágico-religiosos. A planta, chamada Nicotiana tabacum, chegou ao Brasil provavelmente por migração de tribos Tupis-Guaranis. Seu uso espalhou-se de forma epidêmica por todo o mundo, ajudado pela publicidade e marketing, mas a partir da década de 60, surgiram os primeiros relatórios médicos relacionando o cigarro à doença no fumante e, a seguir, no não fumante. Fumar, a partir de então, passou a ser encarado como vício que precisa ser combatido. Já o álcool é reconhecido a mais antiga das drogas. Obtido pela fermentação de diversos vegetais, presente nas grandes culturas do Oriente Médio, sendo seu registro mais antigo, o da civilização egípcia, que descreve o uso do vinho e da cerveja. O álcool tornou-se uma droga mundialmente conhecida e usada, pela facilidade do processo e da obtenção da matéria-prima, Nas décadas de 40 e 50, a indústria do álcool e os AA (Alcoólicos anônimos) fizeram uma espécie de acordo: estabeleceram que haveria dois tipos distintos de bebedores de álcool: os bebedores sociais, pessoas que tomam bebidas por prazer (os sem problemas com o álcool), e os alcoólatras (ou alcoolistas), em número muito menor, que teriam uma doença, supostamente de origem genética, que os impediria de fazer uso sensato de bebidas alcoólicas (bebedores problemáticos, que perdem o controle em relação à bebida). Fatores econômicos muito importantes, faz com que qualquer tentativa em reduzir ou proibir o consumo de bebidas alcoólicas, esbarre com obstáculos e dificuldades praticamente intransponíveis. A cocaína é obtida de um arbusto de folhas persistentes, que cresce em grande parte da América do Sul, em particular nas regiões andinas. Suas folhas são mastigadas há séculos, nas montanhas e altiplanos, pela população indígena. Segundo certos pesquisadores esse hábito existe há quatro mil anos, como mostram determinados achados arqueológicos. Porém, este hábito - mastigar a folha da coca - representa lugar de destaque apenas na esfera comunitária e ritual dessas populações. De fato, o hábito de coquear faz parte de uma adaptação biológica e sócio-cultural, em um contexto geográfico e climático altamente desfavorável. Devem existir intervenções repressivas no tráfico da cocaína, mas essas não deveriam atingir a população andina, pois o uso, faz parte de seus valores culturais milenares. Os

proprietários das grandes plantações e os traficantes que comercializam a droga nos países industrializados é que devem sofrer intervenções. A maconha é a planta do cânhamo ou Cannabis sativa cresce de forma silvestre praticamente em todas as regiões tropicais e temperadas do mundo, de fácil cultivo, vem sendo plantada desde as épocas mais remotas para a obtenção da fibra resistente de seu caule, da semente para uso em misturas alimentícias e do óleo para servir de ingrediente de tintas, bem como para a extração de suas substâncias biologicamente ativas, altamente concentradas nas folhas e nas partes superiores dos ramos florescentes. Os produtos derivados da planta são usados devido a suas propriedades medicinais. Em 1839, entrou para os anais da medicina ocidental com a publicação de um artigo sobre seu potencial terapêutico, inclusive suas possíveis aplicações como analgésico e agente anticonvulsivo. Seu uso terapêutico hoje em dia é restrito a algumas partes da Ásia, para o tratamento de determinadas enfermidades e seu emprego é de tradição secular em alguns países, principalmente naqueles onde o consumo de álcool é proibido. No Brasil, parece que foi introduzida pelos escravos que a consumiam e conheciam as suas propriedades já na África, sendo largamente difundido nos estados do Nordeste, em particular, na Bahia e no Maranhão, onde até hoje existe um consumo recreativo a nível popular. Considerada como "droga da moda" nos anos 60, no auge da contestação hippie (junto com o LSD), a maconha continua a ser muito fumada até hoje em dia, em particular nas faixas jovens, mas perdeu o seu destaque em favor dos inalantes nas classes desfavorecidas e da cocaína nas classes média e alta. O que é possível admitir é que a droga em si, não é nem boa nem má: ela é um meio colocado à disposição do homem pela natureza (ou hoje, muitas vezes pela indústria). Tudo dependerá do uso que dela se faz: um uso socialmente limitado e integrador, ou um uso desregrado, isto é, um abuso, que desintegra, marginaliza e provoca decadência. Se as drogas já são usadas há milênios; os abusos, e com eles os fenômenos de dependência, constituem práticas relativamente recentes, que resultam de evoluções características das sociedades modernas, desde o início da industrialização, provocando choques culturais e descaracterizações étnicas. Como consequência, presenciamos os fenômenos de aculturação pelos quais se abandonam os valores tradicionais sem se encontrar valores novos que tenham potencial de integração social. Como consequência, assiste-se à formação de subculturas e de grupos marginais, onde o consumo de drogas prolifera, apresentando-se como uma solução, como um consolo ou um meio de tolerar os estados de frustração, miséria ou desânimo. O condenar e combater o uso e abuso de drogas, deve, portanto, levar em consideração a evolução histórica de uma determinada região ou sociedade, bem como os fenômenos sociais, políticos e culturais do contexto no qual se inserem, senão este combate será cego, fanático e ineficiente, porque não ataca o problema em si, mas apenas certas conseqüências, certos sintomas de disfuncionamento social amplo, fazendo parte a exploração econômica e política das drogas, onde se lança de qualquer meio e argumento para tirar vantagens ou lucro. O consumo de drogas, pois, faz parte da nossa realidade social. Ele é um fato, não mais vinculado a um uso medicinal ou a ritos religiosos, mas a uma procura de prazer e poder que corre o risco de se tornar desenfreada e que desvia da realidade. O seu consumo e abuso faz parte dos processos de marginalização que ocorrem em nosso meio; cabe entender os determinantes históricos e culturais, as suas incidências antropológicas, políticas, religiosas e psicológicas, para compreender o fenômeno. Somente se levados em conta os múltiplos fatores que envolvem o problema, é possível chegar-se a uma compreensão adequada, onde seja possível uma intervenção, mesmo de eficácia limitada, pois não se elimina o consumo de drogas nem seus abusos; elas estão aí, se oferecem a quem quiser, e recorrer a elas é uma

possibilidade humana pela qual cada um pode optar, mas pela qual tem que aprender a se responsabilizar. Atualmente, a droga não tem mais caráter revolucionário; o seu uso banalizado faz parte agora das chamadas regras tóxicas de convivência. O uso de drogas não se restringe mais a uma certa classe social ou a determinada faixa etária, tomando, pelo contrário, um caráter generalizado, apesar de responder a motivações diferentes nas diversas classes sociais. No entanto, vemos jovens e adultos que fazem uso de drogas porque a realidade social não está atendendo às necessidades humanas. O adulto, em geral, o faz para se manter integrado a uma sociedade que não está mais podendo ocultar suas contradições, e o jovem, porque não aceita ou não consegue sintonia com uma sociedade incoerente. Cabe aqui, mais uma vez, enfatizar toda a contradição que a sociedade mantém com relação à questão das drogas: ao mesmo tempo em que vai contra o uso de algumas, permite e incentiva o uso de outras. Atualmente, considera-se cada vez mais o uso de drogas na adolescência como algo inserido nas ocorrências normais dessa fase do desenvolvimento humano. A necessidade de experimentar emoções novas e diferentes, correr riscos, ser do contra etc. leva muitos adolescentes a querer conhecer as drogas. Estudos realizados com adolescentes mostram que a maioria dos jovens apenas experimenta ou usa ocasionalmente e moderadamente drogas, como, por exemplo, a maconha. Esses estudos ainda sugerem que o consumo de múltiplas drogas por jovens é uma decorrência, e não a causa de dificuldades psicológicas e sociais. Com base nesses dados, é eficaz pensar em um trabalho preventivo junto aos jovens que ainda não são dependentes. Para que se possa trabalhar preventivamente com essa população, é fundamental que conheçamos o que se passa na adolescência. A droga pode funcionar para os adolescentes como uma forma de transgredir, de dizer não, de contestar o mundo dos adultos, indo de encontro às normas e valores destes. Quando o jovem recorre ao uso de drogas, ele pode estar negando a sociedade e se recusando a ter uma existência socialmente limitada. O adolescente está constantemente em busca de algo, de um referencial que facilite a sua entrada na sociedade dos adultos, passagem difícil e que, às vezes, é sentida com uma profunda impotência pelo adolescente. Na adolescência a droga aparece como uma oportunidade que se apresenta, de ser contra as normas, de contestar, testar as possibilidades do corpo, transgredir, de buscar sua identidade através da absorção dos costumes de seu grupo etc. Nesse sentido, a droga surge no contexto da adolescência normal, porém a presença continuada da droga pode extrapolar esse uso normal e passar a ser um sintoma individual denunciando que algo não vai bem. O adolescente precisa, e pede um porto seguro, em que ele possa confiar e, principalmente, com quem possa conversar. Existem caminhos possíveis para mudar esse estado de coisas, onde o jovem seja incentivado em sua criatividade, onde os seus questionamentos sejam ouvidos, para que juntos possamos lutar por um mundo melhor, onde a droga, se não for possível extinguí-la, seja apenas uma entre numerosas possibilidades de se conseguir obter prazer, o que pode traduzir na fala de um adolescente: Eu experimentei, gostei, mas tinha coisas mais gostosas prá fazer na vida. É possível prevenir o uso de drogas? Em primeiro lugar, o uso de drogas é ocorrência de todos os tempos e de todos os povos; em segundo lugar, essa idéia se depara com o fato de que em qualquer país algumas drogas são permitidas e têm seu uso incentivado, constituindose em importante fonte de rendimentos. Na verdade, por ser o uso de drogas um assunto altamente controvertido, resulta igualmente controvertida sua prevenção, sendo este palco para posições muito divergentes. Uma coisa é certa: para que o atual consumo de drogas diminua, são necessárias mudanças estruturais e qualitativas, onde toda ação preventiva seja bem vinda e esteja voltada para a busca de uma sociedade saudável, que estimule as pessoas, tirando-as do anonimato, que as conscientize sobre os efeitos nocivos das drogas, que dê alternativas de satisfação, prazer, realização pessoal e transcendência. As condições de vida e

ambiente são prejudiciais à saúde do homem e a droga é um sintoma que denuncia que algo não está funcionando bem; por isso assusta, inquieta, ameaça. O trabalho de prevenção ao uso indevido de drogas pela escola responde à demanda das crianças e de adolescentes, famílias e da sociedade. A escola tem um papel a desempenhar - esclarecendo, abrindo o debate e provocando a reflexão sobre essa e outras questões sociais de grande relevância. Para poder construir um projeto pedagógico consistente nas escolas, é indispensável investir em movimentos como os de prevenção ao uso indevido de drogas, fazendo os alunos entenderem o que é droga, seus usos e abusos, e não só esclarecendo seus aspectos físico-químicos, mas as conseqüências e risco da dependência, com abordagens dentro do contexto sócio-cultural da escola, pois a realidade de cada comunidade envolve questões bastante diferenciadas. Deixar na mão da escola, o papel esclarecedor sobre a prevenção às drogas, suas possibilidades e seus limites, não é fácil; como também não é fácil pregar o ideal "de uma sociedade sem drogas" ou mesmo imaginar um mundo sem elas. Mas apesar das dificuldades em lidar com um tema tão complexo, temos que conviver com essa realidade e agir, agir de maneira conclusiva no processo educativo, com trabalhos sérios e precisos diante da questão. Pesquisa realizada entre 1994 e 1995, com 5.227 estudantes do 1º ao 6º ano de graduação na UNESP, identificou que: 50% dos alunos consomem álcool; 7-13% tabaco; 7-12% solventes; 6-16% maconha; 2-9% benzodiazepínicos (BDZ); 0,2-4% cocaína; 1% anfetaminas. Embora tenha se encontrado um uso crescente de todas as drogas, e em especial os BDZ, os estudantes não aprovam este uso. Embora essa pesquisa tenha focalizado apenas o uso, os resultados mostram a necessidade das universidades estabelecerem uma política clara de orientação sobre o uso de drogas entre os estudantes, incluindo programas de prevenção. É fundamental uma vigilância constante, assim como o repasse de informação, orientação e prevenção quanto aos prejuízos causados pelas drogas, já que seu uso e abuso, representam uma questão social complexa. É preocupante para as Instituições de Ensino, principalmente a escola de ensino médio e fundamental, públicas e/ou privadas, o uso de drogas por seus alunos. Diante destes fatos e outros descritos na literatura, existe uma necessidade cada dia maior de trabalhos como o aqui desenvolvido, objetivando desenvolver junto ao corpo docente e discente de escolas um programa, o qual envolveu um trabalho informativo, esclarecedor sobre as conseqüências do consumo de drogas e a prevenção ao uso indevido de drogas. Metodologia A metodologia proposta foi participativa, baseada em debates, exercícios e vivências, buscando produzir uma reflexão sobre o tema das drogas. Para facilitar a compreensão e reter a atenção dos alunos, antes das palestras é realizada a leitura de textos (literários, científicos e/ou publicados na mídia escrita); os debates são estimulados para que os alunos coloquem suas opiniões e se expressem o mais abertamente possível; são estimulados a criar cartazes, folhetos, quadrinhos enfocando o tema; órgãos de cadáveres desconhecidos, apresentando afecções causadas por drogas, servem como demonstração prática e real das conseqüências causadas pelo uso indevido de drogas. Resultados e discussão Os conhecidos fatores de risco relacionados ao abuso de drogas, podem ser maiores para certas pessoas, em função das suas condições de vida; àquelas pessoas sem informações adequadas sobre drogas e seus efeitos; as que apresentam saúde deficiente; as insatisfeitas com sua qualidade de vida pessoal, profissional e/ou familiar; as com problemas psicológicos,

vulneráveis ao abuso de drogas e àquelas com fácil acesso a drogas. O consumo de drogas não se deixa dissociar da procura de prazer, tornando-se problema, devido principalmente por ser prazeroso, causando euforia ("barato"), proporcionando força, poder, leveza ou serenidade, ou ainda, ausência de dor, de fome ou de memória. E na procura deste suposto bem-estar e prazer, são naturais o aparecimento dos problemas, para àqueles que busca o uso das drogas. Conclusões O trabalho resultou em participação efetiva dos docentes, com interação e troca de informações, e com os maiores interessados, nosso público-alvo - os alunos, que expressaram sua compreensão através de desenhos, redações, cartazes, e respostas às perguntas durante os debates, de maneira clara e crítica. Houve uma efetiva participação na troca de conhecimentos, que melhorou em muito a compreensão sobre o uso indevido de drogas, os males que podem causar e a prevenção ao uso abusivo. Os resultados mais efetivos do trabalho, além de estimular e para a formação de um cidadão. conscientizar sobre a prevenção, foi possibilitar aos alunos compreender e apreender novos conceitos, conscientizando-os de que, a melhoria da qualidade de vida, depende de uma interface que diz respeito a integridade física, emocional e social, que contribui para formação de um cidadão. Referências bibliográficas ABERASTURY, A. & KNOEBEL, M. A adolescência normal. 5ª ed. Porto Alegre. Editora Artes Médicas, 1986. ANDRADE, A. G. & ET AL. Drogas: atualização em prevenção e tratamento Curso de treinamento em drogas para países africanos de língua portuguesa. São Paulo, Ed. Lemos, 1993. BEERDER, A. B. & ET AL. Parients with psychopatology. IN: LOWINSON, J.H. & et all. Substance abuse: a comprehensive textbook 3rd ed., 551-562, Baltimore, Williams & Wilkins, 1997. BUCHER, R. As drogas e a vida uma abordagem biopsicossocial. São Paulo, Ed. Pedagógica e Universitária, 1988. BURSZTEIN, P.A. & STEMPLIUK, V. de A. Terapia familiar sistêmica e grupos terapêuticos de famílias. In: LEITE, C. et all. Cocaína e crack: dos fundamentos ao tratamento. Porto Alegre: Artes Médicas, 1999. GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO/SECRETARIA DE SAÚDE. Atualidades em DST/Aids redução de danos. São Paulo, 1998. GRIFFITH, E. Fornecendo informações sobre o álcool: efeitos no consumo e na atmosfera social. IN:GRIFFITH, E. A política do álcool e o bem comum. Porto Alegre, ed. Artes Médicas, 1998. LEITE, M.C. & ET AL. Cocaína e crack: dos fundamentos ao tratamento. Porto Alegre, Ed. Artes Médicas Sul, 1999. MESQUITA, F. & BASTOS, F.I. Drogas e Aids estratégias de redução de danos. São Paulo, Ed. Hucitec, 1998. MINISTÉRIO DA SAÚDE PROGRAMA NACIONAL DE DOENÇAS SEXUAL- MENTE TRANSMISÍVEIS/Aids. Drogas, Aids e Sociedade. Brasília, 1998. MINISTÉRIO DA SAÚDE PROGRAMA NACIONAL DE DOENÇAS SEXUALMENTE TRANSMISÍVEIS/Aids. Drogas, Aids e Sociedade. Brasília, 1995. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Manual de normas e procedimentos na abordagem do uso de drogas. Sec. De assistência à Saúde / Depto. de Assistência à Saúde / Coord. de Saúde Mental, Brasília, 1991.

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