1. O papel da Educação no SUS



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Transcrição:

Departamento de Gestão da Educação na Saúde SGTES Formação de facilitadores de educação permanente em saúde uma oferta para os pólos e para o Ministério da Saúde 1. O papel da Educação no SUS O SUS, mesmo sendo o sistema de saúde vigente, amparado constitucionalmente em seus princípios, trabalha com diretrizes, conceitos e práticas que são contra-hegemônicos na sociedade. Ou seja, o SUS é um sistema de saúde democrático que vem sendo construído a partir dos serviços e práticas de saúde previamente existentes, que operam em outra lógica, alimentada por interesses econômicos e corporativos, e que continuam vigentes. Essa é parte da explicação para o descompasso entre a orientação da formação dos profissionais de saúde e os princípios, as diretrizes e as necessidades do SUS. Essa também é parte da explicação para a distância entre determinados enunciados já consagrados da reforma sanitária (integralidade da atenção, conceito ampliado de saúde, intersetorialidade) e as práticas de saúde vigentes. Espera-se, portanto, que a Educação seja um instrumento, uma ferramenta para ajudar a superar essas diferenças. Ou seja, espera-se que a educação seja trabalhada como uma das estratégias para a transformação das práticas no SUS práticas de gestão, de atenção em todos os níveis e de controle social. Apesar de ser um sistema descentralizado, as práticas de elaboração e implementação das políticas de saúde, historicamente, têm sido orientadas pelos princípios da centralização. Ou seja, a descentralização vem sendo construída por meio de árduas batalhas, com movimentos contraditórios de descentralização e recentralização. Os mecanismos de financiamento do sistema são bastante ilustrativos, tanto da batalha como da oscilação e têm sido o principal locus de disputa política em torno do modus de operar o sistema.

Tradicionalmente, o Ministério e as Secretarias de Saúde trabalham com as políticas de saúde de modo fragmentado: gestão separada da atenção, atenção separada da vigilância e cada uma delas dividida em tantas áreas técnicas quantos sejam os campos de saber especializado. Tradicionalmente cada área técnica parte do máximo de conhecimentos acumulados em seu campo e dos princípios políticos considerados mais avançados para examinar os problemas de saúde do país. A partir dessas referências, são propostos os programas de ação. E para a implementação de cada programa de ação, propõe-se uma linha de capacitações. Ou seja, as capacitações (e os mecanismos de financiamento) têm sido os principais meios utilizados para a implementação das políticas. Consideramos não ser esse o único modo de fazer política e, sobretudo, consideramos não ser esse um modo de fazer política coerente com os princípios da descentralização e que conduza/ induza à integralidade da atenção. 2. As áreas técnicas e a educação no SUS O papel das áreas técnicas e dos níveis centrais é definir princípios e diretrizes das políticas em cada um dos campos específicos. A partir daí devem apoiar as outras esferas de gestão na definição das melhores estratégias para enfrentar os problemas de saúde, de acordo com esses princípios e diretrizes, de acordo com as especificidades e as políticas de cada local. As áreas técnicas dos níveis centrais de governo (federal, estadual e até municipal, no caso das metrópoles) trabalham com dados gerais, que possibilitam identificar a existência dos problemas, mas não permitem compreender sua explicação. Esse olhar, o que permite compreender a especificidade da gênese de cada problema, é necessariamente local. Portanto, necessariamente tem de haver o diálogo entre a área técnica e a gestão local para a elaboração de estratégias adequadas para o enfrentamento mais efetivo dos problemas. Assim, ao analisar

um problema nacional de maneira contextualizada, descobrimos a complexidade de sua explicação e a necessidade de intervenções articuladas. Tomando como exemplo a hanseníase: numa oficina estadual, com a presença de gestores estaduais e municipais, de representantes da área técnica, de instituições formadoras e do controle social, percebeu-se que havia problemas de várias naturezas envolvidos na explicação da situação da hanseníase. Problemas de gestão do sistema, de organização da atenção, de falta de conhecimentos técnicos suficientes, de falta de diálogo com os movimentos sociais. Alguns eram problemas gerais (baixa resolubilidade da atenção básica, falta de retaguarda especializada acessível para acompanhamento das equipes da atenção básica, população migrante ao longo do ano sendo atendida por serviços que funcionam como se atendessem a uma população estável, etc.), outros eram problemas específicos (capacitações realizadas de maneira central não atingiam os médicos que não se deslocam para a capital por terem mais de um vínculo de trabalho; insegurança das equipes de saúde para as abordagens terapêuticas) etc. Cada um desses problemas exige estratégias específicas: de pactuação entre gestores, de mudança da lógica de organização de determinadas atividades etc. Somente alguns desses problemas serão abordados mediante atividades de formação e mesmo essas não poderão ser padronizadas: o curso inicial de 40 horas (classicamente realizado) possibilita preparar as equipes para fazer diagnóstico; para assegurar capacidade de acompanhamento e tratamento, outras estratégias são desejáveis (discussão de casos, acompanhamento periódico das equipes, estabelecimento de relações mais fluidas de apoio técnico etc.). Isso implica reconfiguração da maneira de operar da área técnica estadual, novas estratégias de articulação etc. Ao caminhar ainda mais em direção ao local, outras naturezas de problema serão identificadas e novas estratégias serão necessárias. A Educação Permanente permite revelar a complexidade e a articulação das explicações dos diferentes problemas e torna evidente a necessidade de estratégias múltiplas, que para serem propostas e implementadas necessitam

articulação com a gestão do sistema. Ou seja, para operar de maneira eficaz, a educação permanente necessita ser tomada como uma estratégia de gestão para que os necessários recursos de poder sejam mobilizados para enfrentar problemas de natureza diversa. 3. Pressupostos da Educação Permanente Os mecanismos de financiamento têm-se mostrado efetivos para mobilizar a adoção de certas políticas, pelo menos do ponto de vista formal. Já as capacitações têm-se mostrado pouco eficazes para possibilitar a incorporação de novos conceitos e princípios às práticas estabelecidas tanto de gestão, como de atenção e de controle social. Isso porque as estratégias educativas têm sido trabalhadas de maneira descontextualizada e têm sido baseadas principalmente na transmissão de conhecimentos. A condição indispensável para uma pessoa ou uma organização decidir mudar ou incorporar novos elementos à sua prática e aos seus conceitos é o desconforto, a percepção de que a maneira vigente de fazer ou de pensar é insuficiente ou insatisfatória para dar conta dos desafios do trabalho. Esse desconforto ou percepção de insuficiência tem que ser intenso, vivido, percebido. Não se produz mediante aproximações discursivas externas. A vivência e/ ou a reflexão sobre as práticas vividas é que podem produzir o desconforto e depois a disposição para produzir alternativas de práticas e de conceitos, para enfrentar o desafio de produzir transformações. Esse também é o móvel para aprendizagem dos adultos: um problema concreto que não é possível de ser enfrentado ou equacionado com os recursos disponíveis ou vigentes. Essa é a chave para que os adultos se disponham a explorar o universo em busca de alternativas para problemas que lhes parecem importantes, relevantes. Uma informação ou experiência pedagógica só faz sentido quando dialoga com toda a bagagem anterior que as pessoas trazem consigo.

Partir do acumulado e fazer sentido, essas são as chaves para a aprendizagem significativa. Todos e cada um dos profissionais de saúde trabalhando no SUS, na atenção e na gestão do sistema, têm idéias, conceitos, concepções acerca da saúde, de sua produção, do sistema de saúde, de sua operação e do papel que cada profissional e cada unidade deve cumprir na prestação de serviços de saúde. É a partir dessas concepções que cada profissional se integra às equipes ou agrupamentos de profissionais em cada ponto do sistema. É a partir dessas concepções, mediadas pela organização dos serviços e do sistema, que cada profissional opera. Para produzir mudanças de práticas de gestão e de atenção, é fundamental que sejamos capazes de dialogar com as práticas e concepções vigentes, que sejamos capazes de problematizá-las não em abstrato, mas no concreto do trabalho de cada equipe e de construir novos pactos de convivência e práticas, que aproximem o SUS da atenção integral e de qualidade. Para isso serve a Educação Permanente: para produzir novos pactos e novos acordos coletivos de trabalho no SUS. Seu foco são os processos de trabalho (atenção, gestão, controle social), seu alvo são as equipes (atenção, gestão, controle social), seu lócus de operação são os coletivos, pois o olhar do outro é fundamental para a possibilidade de problematização e produção de incômodos. A Educação Permanente, portanto, é uma estratégia que tem potência para democratizar a gestão do sistema e para a transformação das práticas de gestão, de atenção e de controle social. Mas para tanto, não pode ser operada desde os RHs, de maneira distante do coração da gestão e sem poder para operar transformações. A Educação Permanente pode ser uma estratégia poderosa para produzirmos políticas descentralizadoras, coerentes com os princípios do SUS.