TRATAMENTO CONVENCIONAL ASSOCIADO À SUPLEMENTAÇÃO FITOTERÁPICA NA DERMATOFITOSE CANINA RELATO DE CASO CONRADO, N.S. 1 1 - Graduanda em Medicina Veterinária pelo Centro Universitário de Rio Preto UNIRP nayconrado@hotmail.com INTRODUÇÃO A dermatofitose é uma doença fúngica cujos agentes etiológicos são: Microsporum, Trichophyton e Epidermophyton que nutrem-se de tecidos queratinizados como unhas, pêlos e camada córnea da pele¹. O Yorkshire é a raça de cães mais acometida e não há relação com a sazonalidade. Relata-se que filhotes de até 12 meses são mais susceptíveis quando comparados a adultos². Os principais sinais clínicos desenvolvidos pelos cães acometidos são alopecia e descamação. A configuração da lesão tende a ser circular com cicatriz central, mas em poucos casos pode apresentar padrão irregular. Também são encontrados outros achados clínicos como: pêlos quebradiços, pústulas, pápulas, exsudação, crostas e hiperpigmentação¹. O prurido varia de moderado a ausente³, podendo haver casos com prurido intenso². O diagnóstico é feito através da anamnese, exame físico e exames complementares, tais como, fluorescência através da lâmpada de Wood, exame direto microscópico dos pêlos, cultura fúngica, biópsia e histopatologia 4. O tratamento pode ser feito de forma tópica e/ou sistêmica, e consiste na administração de antifúngicos por tempo prolongado 1. É possível associar suplementos fitoterápicos específicos para doenças dermatológicas, visto que, além de favorecer a melhora das condições da pele, ainda auxilia no equilíbrio corporal o que permite que o tratamento ocorra de forma mais efetiva e com menores efeitos colaterais 5. OBJETIVO O trabalho descrito tem o objetivo de relatar um caso de dermatofitose canina, cujo tratamento convencional foi associado a suplementação fitoterápica, com o intuito de observar a progressão do tratamento e a ocorrência de efeitos colaterais. RELATO DE CASO Foi atendido no Hospital Veterinário Dr. Halim Atique do Centro Universitário de Rio Preto UNIRP, um cão, poodle, macho, 10 anos, branco e 3,6kg com queixa de prurido grau 5 (0-10) principalmente em dorso e abdome há aproximadamente dois meses, esse animal também possuía focos de alopecia e descamação em dorso (figura 2), pescoço e membro posterior direito (figura 3) além da presença de placas, pápulas, pústulas, eritema e crostas em abdome (figura 1). As lesões tinham apresentação superficial, assimétricas e encontravam-se disseminadas. Havia sido tratado recentemente para erlichiose canina com doxiciclina na dose de 6,9mg/kg por 28 dias, em um dos retornos médicos para avaliação do quadro de erlichiose foram observadas lesões na pele e colhido material para cultura fúngica, cujo resultado ainda não havia sido liberado pelo laboratório.
Figura 1 Presença de eritema, pápulas, descamação e alopecia em abdome e membro posterior direito Figura 2 Lesão em dorso, de conformação circular, descamativa e alopecica Figura 3 Lesão extensa em membro posterior direito com presença de alopecia e descamação Ao exame físico e anamnese o animal apresentava-se em bom estado geral com os parâmetros dentro da normalidade, exceto o sistema dermatológico cujas lesões foram citadas acima e presença de secreção de coloração acastanhada em conduto auditivo. Foram solicitados exames complementares como raspado cutâneo e exame direto de fungos (ambos apresentaram resultado negativo) e aguardava-se a cultura fúngica. Posteriomente foi prescrito Itraconazol na dose de 6,9mg/kg; solução auditiva a base de Diazinon, Pimaricina, Neomicina e acetato de dexametasona em ambos os ouvidos 2 vezes ao dia; banhos com shampoo terapêutico a base de Aveia coloidal, glicerina, cocamidopropil e agua desmineralizada a cada 7 dias; suplemento fitoterápico a base de cenoura, alcachofra, clorela, alho e acerola na dose de 2,5 gr. 1 vez ao dia.
Após 7 dias o animal retornou ao Hospital Veterinário para acompanhamento do tratamento e observou-se diminuição do prurido e leve melhora no quadro geral da pele mas ainda o cão apresentava regiões de alopecia e descamação, mas mostravase visivelmente mais viçosa e hidratada. Negou presença de efeitos colaterais como vômito e diarréia e perante anamnese observou-se que o animal não apresentava alterações nos demais sistemas corpóreos. Proprietário estava realizando o tratamento como prescrito. Foi realizado novo raspado cutâneo e no qual observou-se presença de ectotrix e a cultura fúngica foi positiva para Microsporum canis. O tratamento foi mantido como prescrito na consulta anterior. Após 22 dias o animal retornou para consulta e este apresentava bom estado geral. O prurido diminuiu atingindo grau 1 (0-10), a pele encontrava-se visivelmente mais hidratada, não havendo mais focos descamativos, sem presença de placas, pústulas ou pápulas em abdome. Proprietário continuava realizando o tratamento como prescrito e o animal não apresentou qualquer sintoma que possa ser considerado como efeito colateral. Após 2 semanas este retornou para avaliação do tratamento e a pele encontrava-se em com estado geral, com ausência de alopecia (figura 4) pústulas, descamação e placas (figura 5). Foi colhido material para cultura fúngica e o tratamento foi mantido por mais 15 dias, sendo este cessado após resultado negativo do exame. Figura 4 Melhora no quadro de alopecia e descamação (Fonte: Arquivo pessoal) Figura 5 Diminuição das pústulas, descamação e prurido em abdome (Fonte: Arquivo pessoal)
DISCUSSÃO O M. canis é um dermatófito zoofílico, sendo observado em cães, gatos e humanos, portanto enquadra-se na categoria de antropozoonose, ou seja, uma doença de animais que de forma acidental pode acometer humanos¹. Segundo alguns autores², a dermatofitose é mais comum em animais jovens, porém no caso aqui descrito tratava-se de um cão senil de 10 anos de idade. Chegou-se ao diagnóstico definitivo através da cultura fúngica, pois apesar das lesões serem bem características não devem ser feito o diagnóstico através da conformação das lesões, devido a uma gama extensa de diagnósticos diferenciais¹. O itraconazol é um antifúngico derivado triazólico e costuma apresentar efeitos colaterais como náusea, anorexia e hepatotoxidade 6, entretanto apesar da idade avançada do animal este não apresentou nenhum sintoma que possa ser considerado efeito colateral da medicação; Fato que pode ser relacionado com a presença de componentes hepatoprotetores, como a alcachofra, na formulação fitoterápica 7. CONCLUSÃO O tratamento visa a eliminação do agente e deve ser iniciado rapidamente, pois, além do alívio dos sintomas para os animais, a doença trata-se de uma zoonose, visando dessa forma diminuir as chances de transmissão para os proprietários dos animais. Este consiste na utilização de diversos fármacos antifúngicos, a longo prazo, porém, nenhuma dessas medicações é livre de efeitos colaterais. É possível associar o tratamento fitoterápico ao alopático no caso da dermatofitose, pois alguns princípios ativos fitoterápicos ao promoverem um melhor estado geral do individuo e do órgão aonde o fármaco alopático irá agir faz com que o tratamento seja mais efetivo e este animal seja capaz de combater a doença tendo menos efeitos colaterais e um tratamento mais curto devido a uma melhor absorção do fármaco alopático. REFERÊNCIAS 1- BEALE, K. M.; Dermatofitose. In: BICHARDS, J. J.; SHEDING, R. G.; Manual Saunders de clínica médica de pequenos animais 3º Ed. São Paulo: ROCA, 2008. Cap. 42, p. 458 a 466. 2- BALDA, A. C.; LARSSON, C. E.; OTSUKA, M.; Estudo retrospectivo de casuística das dermatofitoses em cães e gatos atendidos no Serviço de Dermatologia da
Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo Acta Scientiae Veterinariae São Paulo v.32, p. 133-140, 2004. 3- WILLEMSE, T.; Dermatologia clínica de cães e gatos. 2. ed. São Paulo, Manole, 1998. 4- MEDLEAU, L.; HNILICA, K. A.; Dermatologia de pequenos animais Atlas Colorido e Guia Terapêutico 1. ed. São Paulo, Roca, 2003. 5- DIAS, A. M. P. S. P.; Nutrição e a Pele (Monografia Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação) Universidade do Porto, Porto, 2008. 6- BORBA, L. A.; Coloração de esporos em pêlos na dermatofitose e comparação de técnicas de diagnóstico (Dissertação apresentada ao Curso de Pós- Graduação em Ciências Veterinárias) Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2010. 7- NOLDIN, V. F.; FILHO, V. C.; MONACHE, F. D.; BENASSI, J. C.; CHRISTIMANN, I. L.; PEDROSA, R. C.; YUNES, R. A.; Composição química e atividades biológicas das folhas de Cynara scolymus L. (Alcachofra) cultivadas no Brasil Revista Quimica Nova, Vol. 26, No. 3, 331-334, 2003.