O Programa Ler e Escrever e sua inserção na rede Municipal de ensino de Campinas: os NAEDs Sudoeste e Leste



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Transcrição:

O Programa Ler e Escrever e sua inserção na rede Municipal de ensino de Campinas: os NAEDs Sudoeste e Leste Ana Carolina Galdino da Luz Faculdade de Educação Centro de Ciências Humanas e Sociais aplicadas anagaldino.luz@gmail.com Resumo: O resumo presente traz resultado de uma pesquisa realizada a partir do estudo do Programa Ler e Escrever (PLE), de responsabilidade da Secretaria de Educação do Estado de São Paulo, que tem como objetivo a melhoria do ensino dos anos inicias do Ensino Fundamental, de forma específica no que se refere ao ensino da matemática e da língua. Tal programa é utilizado pelo município de Campinas, a partir de convênio com a secretaria de educação do estado. Por objetivo pretendíamos verificar se e como essa política da educação se insere nas escolas dos NAED Sudoeste e Leste e de que maneira os docentes a utilizam. As análises dos dados obtidos nos permitem indicar que a adesão (ou não) da comunidade escolar ao uso de recurso pedagógico tem relação estreita com a apropriação do mesmo pelos envolvidos e a necessidade da reflexão e planejamento conjunto, professores e gestores, discutindo possibilidades, dificuldades e avanços relacionados ao trabalho pedagógico. Palavras-chave: Políticas Públicas; Formação de Professores; Coordenador Pedagógico; Ensino Fundamental. Área do Conhecimento: Ciências Humanas Educação PIBIC/ CNPq. 1. Introdução Esta pesquisa teve por objetivo a realização de um levantamento das Escolas de Ensino Fundamental Municipais de Campinas, em um recorte regional, que adotaram o Programa Ler e Escrever como parte de sua proposta pedagógica de ensino. Destacou-se que a rede municipal de educação da cidade de Campinas encontra-se dividida em cinco Núcleos de Ação Educativa Descentralizada (NAED), a saber: NAED Leste, Noroeste, Norte, Sudoeste e Sul. Esta investigação analisou a implementação do Programa Ler e Escrever (PLE) a partir das concepções dos coordenadores pedagógicos de Escolas de Ensino Dra Maria Auxiliadora Bueno Andrade Megid Programa de Pós -graduação em Educação Mestrado em Educação Centro de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas dmegid@puc-campinas.edu.br Fundamental Municipais de Campinas, pertencentes aos Núcleos de Ação Educativa Descentralizada (NAEDs) Sudoeste e Leste. Esta investigação foi articulada com outras duas que recolherão as mesmas informações nos demais NAED. Assim, tornou-se possível construir um mapa da implementação do Programa Ler e Escrever na cidade. Considerou-se importante um mapeamento mais amplo da inserção do Programa Ler e Escrever na rede municipal de Campinas, uma vez que, no estado de São Paulo, grande parte da escolarização das crianças da primeira etapa do Ensino Fundamental está sob responsabilidade dos municípios. A coleta de dados contou com buscas na internet a fim de obter informações específicas sobre os NAEDs Sudoeste e Leste e suas escolas; questionário para ser respondido pelos coordenadores pedagógicos e entrevista com parte deles com o objetivo de aprofundar algumas informações. A questão problema assim se estabeleceu: Como tem se configurado a inserção do Programa Ler e Escrever, segundo as concepções dos OPs nas escolas municipais de Campinas, e sua repercussão no processo ensino e aprendizagem? Por objetivo, estabelecemos: analisar a inserção do PLE e estabelecer relação com as concepções dos OPs de escolas municipais de Campinas. Ao final desta pesquisa discutiram-se os procedimentos de implementação do PLE, identificando seus limites e potencialidades para a consolidação da escola como um espaço fundamental de formação em serviço de seus professores, destacando a figura do coordenador pedagógico como elemento mediador desse processo formativo e ainda, alguns elementos para a discussão das ações políticas em torno da formação dos professores e das políticas de avaliação de desempenho dos alunos. 1. A metodologia utilizada A pesquisa contou com duas ações essenciais. A primeira delas a busca de trabalhos acadêmicos que

tivessem abordado o PLE em suas investigações, bem como de informações que constavam de documentos da Secretaria de Educação do Estado de São Paulo acerca do mesmo Programa, a fim de constituirmos um estofo teórico que ancorasse nossa Iniciação Científica. Para a produção dos dados referentes à utilização do PLE nas escolas da rede pública municipal de Campinas, lançamos mão de questionários iniciais com representantes gestores das escolas que responderam ao nosso contato (vale destacar que foram necessárias muitas tentativas, e ainda assim nem todos nos atenderam). Àqueles orientadores ou gestores que nos receberam, solicitamos a realização também de uma entrevista. Esse procedimento metodológico foi por nós adotado em função de que a essência da entrevista consiste na intervenção sistemática do pesquisador durante a mesma, fixando-se nas respostas do entrevistado a fim de desvendar o seu sentido. O pesquisador tem um rol de questões previamente elaboradas, mas sabendo o objetivo de cada uma delas e tendo conhecimento teórico do objeto de estudo, ele deverá buscar as representações da realidade reveladas ao longo da entrevista (DELVAL, 2002). Assim, pode sugerir que o entrevistado explique melhor determinado conceito ou ideia. O pesquisador deve estar atento às respostas, postura e forma como os participantes respondem as questões propostas (LÜDKE E ANDRÉ, 1986). Foi possível conseguir entrevistar orientadores de oito dentre as doze escolas, SEIS DA Sudoeste e duas da Leste, como apresentamos no quadro que se segue. Quadro 1: Escolas cujas orientadoras foram entrevistadas e respectivas NAED Nome da Instituição EMEF Prof. André Tosello EMEF Ângela Cury Zákia EMEF Carmelina de Castro Rinco EMEF Corrêa de Mello EMEF Prof.ª Elza Maria Pellegrini de Aguiar EMEF Dr. Lourenço Bellochio EMEF Maria Pavanatti Fávaro EMEF Virgínia Mendes NAED LESTE LESTE 2. O Programa Ler e Escrever O estado de São Paulo, através da sua Secretaria de Educação, em 2007 iniciou a elaboração do Programa Ler e Escrever, promovendo a formação de professores e gestores. Elaborou Guias de Planejamento e Orientações Didáticas para os professores do 1º ao 5º ano do Ensino Fundamental, indicando atividades de leitura e produção de textos; orientações de trabalhos com a matemática: aspectos relacionados aos números, cálculos, resolução de problemas, tratamento da informação, espaço e forma, grandezas e medidas (SÃO PAULO, 2010). O PLE elabora e distribui materiais pedagógicos para o Ciclo I (no PLE este ciclo se refere às turmas de 1º ao 5º ano), buscando promover a melhoria do ensino de matemática e da língua. Conforme consta do site http://lereescrever.fde.sp.gov.br (último acesso em 07/02/2014), o PLE traz como principais objetivos: dar suporte ao Professor Coordenador em seu papel de formador de professores dentro da escola; apoiar os professores a fim de garantir a aprendizagem de leitura e escrita a todos os alunos, até o final da 2ª série do Ciclo I / Ensino Fundamental; comprometer as Universidades com o ensino público; possibilitar a futuros profissionais da Educação, experiências e conhecimentos necessários sobre a função de um professor no processo de alfabetização de alunos do Ciclo I/Ensino Fundamental. Para garantir a eficácia dos resultados e que sejam cumpridas tais metas e objetivos, a proposta sugere como fundamental a organização de reuniões quinzenais na Diretoria de Ensino para a capacitação dos coordenadores pedagógicos de cada escola. No que se refere aos procedimentos com os alunos, indica a necessidade de desenvolver a recuperação do ciclo para os alunos do 4º e 5º anos, além de distribuir materiais complementares como: livros paradidáticos, calculadoras, enciclopédia, globos, letras moveis e etc. O PLE é hoje assim constituído: pela Coletânea de Atividades; pelo Guia de Planejamento e Orientações Didáticas; pelo Livro Texto do aluno e pelo Projeto Intensivo do Ciclo (PIC), destinado apenas para 4º e 5º ano. Distribuem também um manual aos pais ou responsáveis dos alunos de 1º ano. Para estimular atividades diferenciadas, também ficam disponíveis alguns materiais que não são de elaboração do programa, como: Almanaques da Turma da Mônica, Revista Galileu, revista Picolé, Revista Recreio, Ciência Hoje das Crianças, em meio a outros.

3. O percurso da pesquisa A partir da designação de pesquisaríamos as escolas pertinentes aos NAED Sudoeste e Leste, onde estão situadas 12 escolas, nove e três, respectivamente, partimos para a busca de contato com diretores e/ou orientadores pedagógicos de cada uma delas. O agendamento das entrevistas indicou um trabalho exaustivo, sendo necessários vários contatos com a escola. Dentre as oito entrevistas, seis ocorreram presencialmente e para duas orientadoras solicitamos as respostas a partir de um roteiro encaminhado por mensagem eletrônica. Uma última, a quem também encaminhamos o roteiro, não nos respondeu, embora tivesse confirmado que enviaria a resposta. Entre os respondentes, alguns dados entendemos como necessário enfatizar. Entre os oito orientadores pedagógico, seis tinham formação em Pedagogia, um em História e o outro em Filosofia. Quatro deles fizeram cursos de especialização e outros quatro possuem Mestrado. Importante indicar que nem sempre tais estudos foram realizados na área da E- ducação. Quanto ao tempo de atuação, o que tem menor tempo dedicado à educação já está na atividade há cinco anos; dois trabalham com ensino há dez anos e os demais cinco atuam na docência ou orientação pedagógica há mais de vinte anos. A seguir trazemos as considerações relacionadas a sete importantes tópicos, sobre os quais nos detivemos a analisar e que foram estreitamente abordados nas entrevistas: uso do PLE, potencialidades e limites na visão dos orientadores; o desenvolvimento das reuniões de Trabalho Docente Coletivo (TDC); aspectos relacionados à Língua Portuguesa que são trabalhados na escola; aspectos relacionados à Matemática que são trabalhados na escola; hábitos de estudo; e, finalmente, a avaliação. 4. Os orientadores pedagógicos e suas concepções Neste item traremos os dados produzidos a partir das entrevistas realizadas com os orientadores. 4.1 Uso do PLE e formação dos professores na escola Na maioria das escolas da rede municipal de Campinas o Programa Ler e Escrever é utilizado como material de apoio. Pelo fato da utilização do material não ser estipulada como de uso obrigatório os materiais acabam sendo pouco utilizados, pois seu uso fica a critério do professor. Tal evidência pode ser constatada a partir das considerações colhidas nas entrevistas com as orientadoras pedagógicas. 4.1.1 Potencialidades do PLE Os materiais são muito utilizados com as crianças que possuem dificuldade de aprendizagem, articulando-o em alguns casos com os conteúdos que são ministrados em sala de aula. Nas aulas de apoio o material tem gerado resultados significantes. A maioria das instituições descreve que os materiais são bem elaborados e com conteúdos relevantes, mas como foi dito anteriormente esses conteúdos na maioria das vezes é utilizado apenas como complementação teórica. 4.1.2 Limites do PLE Uma das dificuldades apontadas foi à chegada do PLE na escola. Um orientador pedagógico relata que os materiais chegaram de forma muito rápida e sem consulta prévia aos educadores que na escola atuavam, exigindo uma melhor formação e preparação dos professores. O material, por ser bem elaborado, possui uma proposta em que a sequência didática exige uma melhor preparação do docente diante da exploração e exposição do conteúdo. Por esse motivo os professores optam por continuarem a fazer uso do livro didático. Outra instituição declarou ainda que os materiais possuem uma sequência didática determinada, podendo mesmo ser utilizado com os mesmos princípios de uma cartilha. Atualmente os professores trabalham com maior frequência com os projetos, já que alguns conteúdos presentes nos materiais do Programa Ler e Escrever já faz parte do cotidiano da escola, como por exemplo, permitir o contato das crianças com recursos multimídia, com diferentes gêneros de leitura. 4.2 As ações realizadas nos momentos de trabalho docente coletivo (TDC) Em todas as escolas a participação dos professores nos TDC é obrigatória. Esta reunião normalmente acontece no meio do dia, ou seja, ao final do período escolar matutino e antes do vespertino. Dessa forma, mais facilmente congrega a possibilidade de partici-

pação de todos os professores da escola. Os temas que são discutidos nas instituições durante os TDC não diferenciam muito de uma escola para outra. Os assuntos que são abordados com maior frequência são os que se referem ao cotidiano da escola como: as avaliações internas e externas, trabalho pedagógico e interdisciplinar, incluindo também projetos e eventos que a escola realiza. Também são discutidas nessas reuniões as Diretrizes Curriculares. Há ainda tempo reservado para as discussões sobre Planejamento, sobre as reuniões de pais e assuntos relacionados aos alunos como: indisciplina, violência, trabalho coletivo e moralidade. Segundo os entrevistados os professores são bem atuantes em relação à participação nos TDC. Há situações em que a ausência é inevitável, mas a presença dos docentes costuma ser efetiva. Uma das orientadoras pedagógicas declara que há momentos em que alguns professores conduzem os TDC, pois já estudaram algum tema específico e possuem domínio sobre o assunto. Todas as escolas relataram que não há dispensa de professores, sendo que um dos entrevistados declara que, em casos em que o professor trabalha em duas escolas, sendo uma da Prefeitura e outra do Estado os TDC não poderão ser realizados no mesmo horário, fazendo com que o docente solicite a exoneração e escolha dentre ambas uma das instituições. Podemos considerar que estas reuniões são importantes para o andamento das escolas, a partir do que foi verbalizado pelos orientadores pedagógicos. 4.3 O trabalho com a Língua Portuguesa Língua Portuguesa é uma das disciplinas mais discutidas. Os gêneros textuais merece destaque, uma vez que se faz necessário no trabalho de resolução de qualquer atividade. Daí a importância da compreensão de texto, da escrita e da leitura. A maioria das escolas discute com maior frequência assuntos relacionados à Língua Portuguesa, pois compreendem que as discussões acabam abordando conteúdos pertencentes a outras disciplinas. Dessa forma, as ações dedicadas à língua materna ocupam o maior tempo do cotidiano escolar, quer nas reuniões de TDC, nas pedagógicas e também nos momentos de aulas. Também esta área predominantemente é abordada nos projetos interdisciplinares. Costuma-se fazer a abordagem dos gêneros textuais, da leitura, da interpretação de textos e a escrita. Para um dos orientadores, como a leitura e a escrita servem de base para as demais disciplinas, é natural que à língua portuguesa seja destinado maior tempo. Porém, cinco orientadores enfatizaram o trabalho interdisciplinar, afirmando não dedicar tempo específico para nenhum dos componentes curriculares, incluindo aí a língua materna. 4.4 O trabalho com a Matemática Matemática é uma disciplina pouco discutida. Muitas vezes as discussões sobre o tema ocorrem nos Conselhos de Ciclo ou até mesmo dentro dos Projetos Interdisciplinares. Uma das entrevistadas declara que o tempo destinado à área depende da temática, e por vezes exige um maior tempo, sobretudo para discutir situações mais amplas e complexas. Há situações em que as discussões não são distribuídas por área, ou seja, não há um tempo específico para discutir apenas uma disciplina de forma individual, mas sim de maneira integrada. 4.5 Hábitos de Estudos As Lições de Casa não se diferem muito de uma escola para outra, pois na maioria das vezes o envio da mesma fica a critério do professor. Uma das instituições trabalha de forma diferenciada das demais, pois as atividades são enviadas somente de segunda a quinta- feira. Essa decisão ocorreu devido à frequência das lições que eram enviadas e não realizadas, já que a instituição lida com situações em que os pais não são participantes ativos da vida escolar de seus filhos. Uma das escolas possui uma professora que não envia Lição de Casa, optando por realizar atividades em sala de aula e diariamente. Nos anos iniciais a frequência ocorre de forma mais amenizada possuindo um caráter lúdico e na maioria das vezes em forma de pesquisas, sendo que sua introdução se dá progressivamente, exceto em uma das instituições na qual o envio de Lição de Casa não diferencia de uma sala para outra. Um dos orientadores indica que os professores a- companham o desenvolvimento dos alunos e informam aos pais. Assim relata: Muitas vezes é necessário enviar aos pais bilhetes para que acompanhem melhor a criança nas lições de casa. Somente acompanham se o aluno está realizando as ativi-

dades porque ensinar é prática da escola e não dos pais. Os pais não têm que olhar a lição para ensinar o seu filho a aprender e sim acompanhar se há recado no caderno, se tem alguma pesquisa etc. Um outro orientador afirma que conhece as crianças, inclusive pelo nome, em função de que com frequência visita as salas de aula. Pelo exposto pelos entrevistados, a lição de casa é muito considerada no que diz respeito ao incentivo aos hábitos de estudo. 4.6 As avaliações Como boa parte das escolas públicas a avaliação da aprendizagem se dá a partir de uma avaliação diagnóstica, a qual utiliza como princípio os níveis de saberes. Esse é o modelo utilizado em toda a rede pública municipal de Campinas. Em algumas escolas essas avaliações ocorrem no início do ano. Outro aspecto que pode variar diz respeito à estrutura das avaliações e à exigência relacionada à faixa etária dos alunos. A avaliação é realizada por meio de provas as quais acontecem após a finalização dos blocos de conteúdos que foram ministrados e de algumas atividades diárias. Para as crianças do Ciclo I, até o 3º ano do Ensino Fundamental, a avaliação, a partir do verbalizado por um orientador, é feita no cotidiano escolar, a partir de todas as atividades realizadas pelas crianças. Do 4º ano em diante, essas ações costumam ser mais sistematizadas. As avaliações podem ocorrer ao final do semestre ou em períodos mais curtos. Um dos orientadores indica a necessidade de os alunos serem avaliados a partir de diferentes instrumentos, como por exemplo, em arguições orais, provas dissertativas ou objetivas. Na mesma direção outro profissional indica que esta variação deve ocorrer inclusive em função dos recursos avaliativos oferecidos socialmente, como por exemplo os concursos e vestibulares. 5. Conclusão exigirem maior preparação do professor, sendo que os docentes não se encontram dispostos ou até mesmo preparados a se desprenderem do livro didático e iniciarem uma nova proposta de trabalho. Outro aspecto que despertou atenção foi o modo e o tempo como/que distribuem para as discussões referentes às disciplinas. Matemática é uma área à qual é destinado tempo inferior ao da língua materna. Considerando, no entanto, que as outras áreas do conhecimento sequer foram mencionadas (a não ser a partir de trabalhos interdisciplinares), há ainda muito que equilibrar no trabalho e na abordagem pedagógica das escolas. Com isso o percebemos que há uma hierarquia no interior dessas escolas, não diferente de outras tantas já evidenciadas em diferentes pesquisas relacionadas ao trabalho nos anos iniciais do Ensino fundamental. Muitas políticas educacionais são desenvolvidas objetivando a melhoria do ensino, mas infelizmente na maioria das vezes os professores encontram-se despreparados para se desprenderem do que tradicionalmente vem sendo realizado nas salas de aula. Com isso fica difícil se dedicarem a repensar os métodos de ensino ou até mesmo de cogitar diferentes maneiras que visem aprimorar suas práticas pedagógicas. A partir das entrevistas realizadas é possível depreender que a proposta apresentada pelo Programa Ler e Escrever (PLE) é reconhecida como sendo um trabalho que possui um objetivo definido e um excelente meio de estudo para ser trabalhado com as crianças. Porém, apesar de todas as qualidades que foram apontadas pelos orientadores pedagógicos, os materiais do PLE ainda são pouco utilizados e servem apenas como complementação teórica, existindo ainda os profissionais que relatam que a escola não faz uso do material, pois seu formato é semelhante ao da cartilha. As políticas educacionais precisam existir desde que articuladas a elas estejam, muito atrelados, os investimentos na formação dos professores. Agradecimento Ao CNPQ pelo apoio financeiro. A partir das informações obtidas foi possível observar que os profissionais da Educação admiram os materiais do Programa Ler e Escrever tanto pela sua elaboração, quanto pela sua proposta pedagógica. Há certa dificuldade em utilizá-los, pelo fato dos mesmos Referências [1] DELVAL, J. Introdução à Prática do Método Clinico descobrindo o pensamento das crianças. Porto Alegre: Artmed, 2002.

[2] LÜDKE, M.; ANDRÉ, M. Pesquisa em Educação: abordagens qualitativas. São Paulo: E.P.U., 1986. [3] SÃO PAULO (Estado), Secretaria da Educação. Programa Ler e Escrever. São Paulo: Fundação para o Desenvolvimento da Educação - FDE, 2010. Disponível em: <http://lereescrever.fde.sp.gov.br>. Acessado em 07 de Fevereiro de 2014. [4] SÃO PAULO, (Estado) Secretaria da Educação. Ler e escrever: guia de planejamento e orientações didáticas; professor 1ª série/secretaria da Educação, Fundação para o Desenvolvimento da Educação. São Paulo: FDE, 2010.