TÍTULO: OS PRECEDENTES NO NOVO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL E A (IN)CONSTITUCIONALIDADE DO ART.927 CATEGORIA: CONCLUÍDO ÁREA: CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS

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TÍTULO: OS PRECEDENTES NO NOVO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL E A (IN)CONSTITUCIONALIDADE DO ART.927 CATEGORIA: CONCLUÍDO ÁREA: CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS SUBÁREA: Direito INSTITUIÇÃO(ÕES): FACULDADE BARRETOS - FB AUTOR(ES): BEATRIZ GOMES DE SOUSA SANTOS ORIENTADOR(ES): JONATAS RIBEIRO BENEVIDES

1. RESUMO O trabalho apresenta a discussão acerca da (in)constitucionalidade do art. 927 e seus incisos que passaram a ter eficácia vinculante e respeito aos precedentes consolidados pelos Tribunais, com o Novo Código de Processo Civil promulgado no ano de 2015. O precedente possui caráter objetivo e é um julgamento que pode ser utilizado como base, para que se chegue à decisão de outro julgamento que possui situações fáticas semelhantes. Contudo, essa decisão deve ser transcendente ao caso concreto para que seja considerada e utilizada como um precedente. As decisões dos Tribunais que estão no rol do artigo 927 elevam normas infraconstitucionais ao patamar de súmulas vinculantes, tendo inclusive o caráter vinculante delas, sem ter passado por todo o trâmite constitucional de obtenção dessa vinculação de julgados, decisões de tribunais e edição de súmulas. A importância desse trabalho se dá pelo impacto que essas novas súmulas podem trazer aos precedentes já existentes, as súmulas já editadas e toda a jurisprudência criada no momento de se analisar a melhor forma de proferir a decisão por parte do magistrado. Ocorre a revogação de súmulas já consolidadas e muito utilizadas pelos Tribunais, ocasionadas pelas possibilidades que essa norma traz, e o acúmulo de súmulas zumbis, que nada agregam ao direito brasileiro e que não são mais utilizadas pelos Tribunais que as editaram, violando o princípio da jurisprudência íntegra, coerente e estável. O respeito ao Estado Democrático de Direito é fundamental para a garantia do devido processo legal, sem usar as súmulas vinculantes como instrumento da celeridade processual, visto que a edição dessas normais traria maior rapidez e facilitaria as decisões dos legisladores. Todavia, deve-se observar que essas medidas criariam um julgamento préestabelecido, uma espécie de padrão a ser enquadrado à demanda para que a lide seja resolvida conforme os precedentes e súmulas já editadas e existentes no ordenamento jurídico brasileiro.

2. INTRODUÇÃO O Novo Código de Processo Civil, promulgado no ano de 2015 trouxe diversas inovações, dentre elas, a possibilidade do efeito vinculante que os incisos do seu artigo 927 trazem em suas decisões proferidas. Art. 927. Os juízes e os tribunais observarão: I - as decisões do Supremo Tribunal Federal em controle concentrado de constitucionalidade; II - os enunciados de súmula vinculante; III - os acórdãos em incidente de assunção de competência ou de resolução de demandas repetitivas e em julgamento de recursos extraordinário e especial repetitivos; IV - os enunciados das súmulas do Supremo Tribunal Federal em matéria constitucional e do Superior Tribunal de Justiça em matéria infraconstitucional; V - a orientação do plenário ou do órgão especial aos quais estiverem vinculados. 1 Em seu caput, a palavra "observarão" é interpretada de forma obrigatória, dando caráter taxativo ao rol deste artigo e levantando questões sobre a constitucionalidade dessa norma. Vincula-se dessa forma os Juízes e os Tribunais a seguirem os julgados do Supremo Tribunal Federal em sede de controle de constitucionalidade. Os arts. 102, 2 e 103-A, da Constituição Federal, já dispõem acerca de súmulas de eficácia vinculante, e consagram juntamente do art. 927 o uso dos precedentes, e enunciados sumulares, como forma de respeitar os princípios da estabilidade, uniformização e harmonização da jurisprudência. Dessa forma, deve ser analisado se esta medida realmente está de acordo com a Carta Magna brasileira, visto que normas infraconstitucionais terão efeitos vinculantes sem passarem pelo devido processo de votação e controle constitucional. Por meio do Novo Código de Processo Civil, o julgamento pode se tornar um precedente vinculante, sendo interpretado de modo a extrair o entendimento majoritário desse Tribunal, para que seja utilizado de acordo com as resoluções do órgão. 1 BRASIL. Lei n. 13.105, de 16 de março de 2015.

Conforme ensina a melhor doutrina, apenas um precedente já é o suficiente para fundamentar a decisão do processo julgado posteriormente, enquanto a utilização de jurisprudência como razão de decidir exige do julgador a indicação de vários julgados no mesmo sentido. 2 O art. 926, caput, do Novo CPC visa afastar a instabilidade causada pela divergência de entendimento jurisprudencial dos Tribunais, principalmente os Tribunais de instâncias superiores, visto, que se o Tribunal não respeita a sua própria jurisprudência, os demais órgãos do Judiciário também não a respeitarão. Gera-se assim, a insegurança jurídica e fomenta-se cada vez mais a instabilidade dentro de seus próprios Tribunais, de modo que seja causada a supressão da isonomia. Ademais, quando os tribunais não respeitam a sua própria jurisprudência, ou seja, quando desrespeitam os seus entendimentos majoritários, os órgãos hierarquicamente inferiores não sabem qual entendimento aplicar no caso concreto à luz do entendimento do tribunal superior. 3 Dessa forma, a jurisprudência dos Tribunais deve ser uniforme, e mantida de maneira que permaneça estável, coerente e íntegra, para que se tenha um julgamento feito de maneira isonômica, com uma maior previsibilidade e coerência com os fatos narrados nos autos. 3. OBJETIVOS O presente trabalho tem como objetivo analisar a (in)constitucionalidade do efeito vinculante do art. 927, III, IV e V, do Novo Código de Processo Civil, visto que já é previsto constitucionalmente nos arts. 102 e 103-A, da Constituição, a eficácia vinculante dos incisos I e II da mesma norma. 2 MADEIRA, Daniela Pereira. A força da jurisprudência. In: FUX, Luiz. O novo processo civil brasileiro: direito em expectativa: reflexões acerca do projeto do novo Código de Processo Civil. Rio de Janeiro: Forense, 2011. p. 527. 3 ZANETI JR., Hermes. Comentários ao Novo Código de Processo Civil. Coords. Antonio do Passo Cabral e Ronaldo Cramer. Rio de Janeiro: Forense, 2015. p. 1328.

Assim, faz-se necessária a observância dos precedentes já existentes e das súmulas editadas, para que a ratio decidendi existente nesses casos, não se choque com os princípios da estabilidade, uniformização da jurisprudência e o Estado Democrático de Direito. 4. METODOLOGIA A metodologia utilizada constitui-se no método dedutivo a partir de leituras direcionadas de artigos científicos e doutrinas de Direito Processual Civil, que versam sobre precedente e eficácia vinculante de súmulas, em meio ao seu controle de constitucionalidade. Sendo proposta a análise da constitucionalidade de se elevar os julgados derivados do rol do art. 927, ao patamar de súmulas vinculantes, sendo estas normas infraconstitucionais, que não passaram pelo devido processo para se ter efeito vinculante. 5. DESENVOLVIMENTO Tratar os julgados de maneira harmônica, não preserva apenas o princípio da isonomia, mas evita inclusive, a insegurança no posicionamento das cortes judiciais sem que ocorram discussões longas e desnecessárias, que podem afetar o Estado Democrático de Direito. Há um dever jurídico, existindo inúmeras formas de uniformização cabíveis nos tribunais de segundo grau, inclusive de ofício, como ocorre com a instauração pelo próprio tribunal de segundo grau do IRDR e do incidente de assunção de competência. E mesmo quando provocado por outro legitimado existe o dever de julgar tais incidentes processuais, sendo a uniformização da jurisprudência uma consequência natural de tais julgamentos. 4 A uniformização e estabilidade da jurisprudência não impedem a sua modificação, entretanto, ela deve ser fundamentada de modo específico e adequado. Seguindo os 4 Neves, Daniel Amorim Assumpção. Manual de direito processual civil. 8 ed. Salvador: Juspodivm, 2016. p. 1888.

moldes do art. 927, 4º, NCPC, sendo necessária a justificativa da não aplicação no caso concreto e da jurisprudência já consolidada. O Tribunal não pode simplesmente abandonar ou deixar de aplicar determinado entendimento já consolidado, visto que existe a regra de autorreferência, e o julgador deve sempre fundamentar suas decisões de modo a considerar os precedentes e arguições de seu Tribunal. Para que assim se construa uma jurisprudência íntegra, que respeite todo o histórico das decisões já proferidas, e que considere conjuntamente os julgados apresentados decorrentes da mesma matéria evidenciada, independentemente se seus fundamentos foram acolhidos ou não. O Tribunal, reconhecendo já ter formado um entendimento majoritário a respeito de uma determinada questão jurídica tem o dever de formalizar esse entendimento por meio de um enunciado, dando notícia de forma objetiva de qual é a jurisprudência presente naquele Tribunal a respeito da matéria. 5 Cabe aos Tribunais regulamentar a forma e os pressupostos, para que estes sejam fixados no regimento interno do Tribunal, de forma que a súmula corresponda com a jurisprudência dominante desse órgão, e as uniformize através da estabilidade, coerência e integridade, como dispõe o art. 926, 1º, NCPC. O precedente com efeito vinculante é previsto constitucionalmente no art. 102, 2º, da CF, e a própria normatização da súmula vinculante se encontra art. 103-A, da CF: Art. 103-A. O Supremo Tribunal Federal poderá, de ofício ou por provocação, mediante decisão de dois terços dos seus membros, após reiteradas decisões sobre matéria constitucional, aprovar súmula que, a partir de sua publicação na imprensa oficial, terá efeito vinculante em relação aos demais órgãos do Poder Judiciário e à administração pública direta e indireta, nas esferas federal, estadual e municipal, bem como proceder à sua revisão ou cancelamento, na forma estabelecida em lei. 6 Muitos doutrinadores apontam a inconstitucionalidade de normas que tornam precedentes e súmulas comuns em vinculantes, visto que elas devem passar pelo 5 Didier Jr., Sistema, p. 385. 6 BRASIL. Constituição Federal de 1988.

devido processo legislativo e por julgamentos decorrentes do controle concentrado de constitucionalidade. Afirma-se que a vinculação obrigatória às súmulas do Superior Tribunal de Justiça e do Supremo Tribunal Federal, bem como aos precedentes criados no julgamento de casos repetitivos e no incidente de assunção de competência invade a seara legislativa, por outorgar ao Poder Judiciário o estabelecimento de normas, criando uma vinculação inconstitucional a preceitos abstratos e gerais fixados pelo Poder Judiciário, ou seja, com características de lei. 7 Há o entendimento de que o Poder Judiciário, ao legislar acerca do objeto e edição de súmula vinculante, pacifica toda a divergência oriunda do conflito, e contribui para a diminuição do número de processo e recursos que serão julgados e dos que advém da mesma situação repetitiva. A grande discussão que surge é em relação à interpretação feita dos incisos do art. 927, do NCPC, é de qual modo eles serão observados. Os incisos I e II já são considerados de eficácia vinculante, entretanto, a discussão nasce do questionamento da (in)constitucionalidade de uma norma infraconstitucional criar precedentes com efeito vinculante. A inconstitucionalidade de forma incidental de norma legal, pode ser declarada por qualquer órgão jurisdicional no momento do julgamento, não tendo eficácia vinculante, já que o art. 927, I, do NCPC, prevê o efeito vinculante apenas nas decisões do Supremo Tribunal Federal em controle concreto de constitucionalidade. Visto que o inciso V do art. 927 inclui a possibilidade de orientação do plenário e órgãos especiais os quais estão vinculados, dessa forma os precedentes Tribunal Pleno do Supremo Tribunal Federal teriam eficácia vinculante mesmo em seu controle difuso, através do inciso I do mesmo artigo. No caso do inciso III, serão observados os acórdãos em incidente de assunção de competência, e o precedente criado a partir das decisões repetidas acerca dos temas analisados e dos julgamentos de recursos extraordinários e especial. 7 NERY JÚNIOR, Nelson. A forma retida dos recursos especial e extraordinário: apontamentos sobre a Lei 9.756/98. In: NERY JR., Nelson; WAMBIER, Teresa Arruda Alvim (coords.). Aspectos polêmicos e atuais dos recursos cíveis de acordo com a Lei 9.756/98. São Paulo: RT, 1999. p. 1836.

Segundo o inciso IV do art. 927 do Novo CPC, os juízes e tribunais observarão os enunciados das súmulas do Supremo Tribunal Federal em matéria constitucional, e do Superior Tribunal de Justiça, em matéria infraconstitucional. 8 6. RESULTADOS Diante de todo o exposto, da análise da leitura de artigos científicos, doutrinas de Direito Processual Civil que versam sobre precedente, jurisprudência, livros de controle de constitucionalidade e o respeito ao Estado Democrático de Direito na sociedade, tem-se como resultado que as inovações trazidas pelo Novo Código de Processo Civil, em especial as hipóteses elencadas no art. 927, III, IV e V e o seu efeito vinculante são inconstitucionais, por dar a uma norma infraconstitucional a possibilidade de criar precedentes com caráter vinculante, observando-se que a mesma não passou pelo devido processo constitucional para obter esse efeito e não está postulada constitucionalmente. Observa-se que a eficácia vinculante atingirá as súmulas e precedentes já existentes e editados antes da vigência dessa norma. O mais seguro juridicamente é atribuir efeito ex tunc aos incisos do art. 927, ou seja, apenas as súmulas editadas e os precedentes criados no momento da vigência do Novo Código de Processo Civil deveriam ter eficácia vinculante. As decisões que desrespeitem os precedentes obrigatórios são passíveis de anulação através de reclamação constitucional. Contudo, se faz necessária a aplicação da analogia como método de revogação das súmulas, como dispõe o art. 927, em seu 2º, do NCPC. A revogação deve ser precedida de audiências públicas, e ter o parecer de diversos juristas e figuras de notório conhecimento, através do amicus curiae, para que se tenha uma melhor discussão acerca dos textos legais que vão passar pelo crivo do Tribunal, e seja preservado o contraditório e a legitimidade democrática da revogação por meio da ampla defesa. 8 Neves, Daniel Amorim Assumpção. Manual de direito processual civil. 8 ed. Salvador: Juspodivm, 2016. p. 1898.

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS O emprego desse rol de decisões trazidas pelo art. 927 e seus incisos, vincula o magistrado a situações que podem afastá-lo do livre convencimento ao proferir a sua sentença, visto que a existência de um precedente similar a situação analisada vinculará diretamente a decisão dada pelo juiz a uma súmula já existente. De modo que ocorra o acúmulo de súmulas e a saturação do Judiciário com situações repetitivas, que geram pareceres automáticos, pré-estabelecidos e do aumento da ocorrência de súmulas zumbis no ordenamento jurisdicional brasileiro. As súmulas zumbis abarrotarão cada vez mais o sistema judicial brasileiro, e criarão situações muito parecidas em matérias, mas que diferem em seu fato, de modo a desrespeitar o princípio da estabilidade, uniformização e coerência da jurisprudência, sem divergências e discussões desnecessárias em seus Tribunais, que dificulta ainda mais a decisão do julgador. 8. FONTES CONSULTADAS BRASIL. Lei n. 13.105, de 16 de março de 2015. BRASIL. Constituição Federal de 1988. DIDIER, Jr Fredie. Sistema de precedentes judiciais obrigatórios e os deveres institucionais dos tribunais: uniformidade, estabilidade, integridade e coerência da jurisprudência. Precedentes. Coords. Fredie Didier Jr., Leonardo Carneiro da Cunha, Jaldemiro Rodrigues de Ataíde Jr., Lucas Barril de Mâcedo. Salvador: JusPodivm, 2015. MADEIRA, Daniela Pereira. A força da jurisprudência. In: FUX, Luiz. O novo processo civil brasileiro: direito em expectativa: reflexões acerca do projeto do novo Código de Processo Civil. Rio de Janeiro: Forense, 2011. NERY JÚNIOR, Nelson. A forma retida dos recursos especial e extraordinário: apontamentos sobre a Lei 9.756/98. In: NERY JR., Nelson; WAMBIER, Teresa Arruda Alvim (coords.). Aspectos polêmicos e atuais dos recursos cíveis de acordo com a Lei 9.756/98. São Paulo: RT, 1999.

Neves, Daniel Amorim Assumpção. Manual de direito processual civil. 8 ed. Salvador: Juspodivm, 2016. ZANETI JR., Hermes. Comentários ao Novo Código de Processo Civil. Coords. Antonio do Passo Cabral e Ronaldo Cramer. Rio de Janeiro: Forense, 2015.