CURSO DE QUESTÕES DISCURSIVAS 2016

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1 CURSO DE QUESTÕES DISCURSIVAS 2016 Quais os principais impactos do novo CPC à luz do artigo 93, da CFRB, inciso IX? (Todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade.) SUGESTÃO DE RESPOSTA Professor: Luiz Filipe de Araújo Ribeiro Procurador do Estado da Paraíba O novo Código de Processo Civil (Lei nº /2015) é o primeiro código de processo elaborado após o Estado Democrático de Direito inaugurado pela Constituição Federal de De fato, o referido código foi elaborado no contexto do formalismovalorativo, também conhecido como neoprocessualismo, o qual se caracteriza pela aproximação do Direito Processual com o Direito Constitucional, pautado no modelo cooperativo que busca mais o intenso diálogo, prezando pela lealdade, boa-fé e pelo contraditório efetivo. Assim, desde o artigo 1º já dispõe que o processo civil será ordenado, disciplinado e interpretado conforme os valores e as normas fundamentais estabelecidos na Constituição da República Federativa do Brasil, observando-se as disposições deste Código. 1

2 O referido art. 93, IX, da CF/88 traz dois direitos fundamentais processuais que são tão importantes quanto aqueles previstos no art. 5º: a publicidade e o dever de fundamentação das decisões. Em que pese estarem expressamente previstos na Constituição, poderiam ser perfeitamente extraídos a partir da cláusula geral do devido processo legal (art. 5º, LIV, da CF/88), afinal, tanto a publicidade quanto o dever de fundamentação constituem instrumentos destinados a evitar arbitrariedades no processo. É preciso observar, contudo, que tais direitos fundamentais processuais foram ratificados no art. 11 do novo CPC. Atendo-se mais especificamente ao dever de fundamentação, percebe-se que este tem relevância ainda maior em razão do contraditório efetivo consagrado no artigo 7º. Isso ocorre, notadamente, porque no contraditório efetivo (substancial), as partes não se restringem ao mero direito de ciência e participação no processo, garantindo-se também o direito de influência na decisão. Nesse contexto, há a preocupação de se evitar as chamadas decisões surpresa, consoante se verifica no art. 10: o juiz não pode decidir, em grau algum de jurisdição, com base em fundamento a respeito do qual não se tenha dado às partes oportunidade de se manifestar, ainda que se trate de matéria sobre a qual deva decidir de ofício. Além disso, o inciso IV, do 1º do art. 489 não considera fundamentada qualquer decisão judicial que: não enfrentar todos os argumentos deduzidos no processo capazes de, em tese, infirmar a conclusão adotada pelo julgador. Verifica-se, portanto, que o direito fundamental de publicidade e fundamentação das decisões (art. 93, IX, da CF/88) foram ratificados pelo 2

3 artigo 11 do novo CPC, que além disso, trouxe mais requisitos que devem ser observados nas decisões como forma de assegurar o contraditório efetivo. 3

4 RESPOSTAS SELECIONADAS 1) Os princípios se constituem como o alicerce do sistema jurídico. É a partir deles que surgem as diferentes normas do sistema. Por essa razão, servem de critério para a compreensão e manutenção do ordenamento jurídico. Sendo o Brasil um Estado Democrático de Direito (art. 1º, caput, CF), os princípios que emergem desse ideal de Estado devem oferecer ao cidadão a garantia de que a atuação do Poder Público não é feita de forma arbitrária ou discricionária, mas sim baseada no ordenamento jurídico vigente que teve como origem a própria vontade do povo. Tendo em vista que a jurisdição é exercício estatal de poder, ela deve ser balizada por princípios. Dentre eles, destaca-se o princípio da motivação das decisões judiciais, insculpido no art. 93, IX, da CF. Este princípio consubstancia-se na obrigação de o juiz, quando proferir uma sentença, analisar todas as questões de fato e direito postas em contraditório, explicitando as razões de fato e direito que o levaram àquela decisão. O Novo CPC, observando a disposição constitucional, dispôs acerca da exigência de fundamentação dos julgados em seu artigo 11. Todavia, a novel legislação inovou ao estabelecer hipóteses em que não considerará atendida essa exigência. Essas hipóteses, embora se estendam por todo o Código (arts. 984, 2º; 1.029, 2º; 1.038, 3º e 1.043, 5º), estão concentradas no artigo 489, 1º, que parece ter compilado alguns dos expedientes mais utilizados na práxis judiciária a pretexto de desincumbência da obrigação de fundamentação de julgados. Destaca-se a hipótese prevista no inciso IV que obriga o magistrado a enfrentar todos os argumentos deduzidos no processo pelas partes capazes de, em tese, infirmar sua conclusão. Algumas vozes afirmam ser inconstitucional tal previsão, pois haveria uma violação ao princípio da separação dos Poderes, tendo o Legislativo 4

5 violado a garantia da independência jurídica do magistrado e o princípio do livre convencimento motivado. Além disso, também há aqueles que afirmam que tal previsão legal acabará por burocratizar ainda mais a Justiça, acabando por ferir diretamente o princípio da razoável duração do processo e da celeridade processual (art. 5º, LXXVIII, CF). Todavia, tais argumentos não vêm prosperando perante grande parte dos juristas. Em primeiro lugar, não há que se falar em qualquer tipo de violação à separação de Poderes. O Legislativo é o Poder legitimado democraticamente para realizar pela lei os objetivos constitucionais, merecendo especial destaque que a orientação trazida pelo CPC de 2015 não somente não é nova, como encontra chancela do órgão máximo do Judiciário: Se o exame de algum fundamento possível seria idôneo, por si só, a influenciar o resultado do julgamento, não é lícito ao colegiado deixar de ponderá-lo. Esta é exigência direta do postulado da inteireza da motivação, corolário da garantia constitucional da fundamentação necessária das decisões (CF, art. 93, IX), como bem observa Cândido Rangel Dinamarco. Só se cumpre o mandamento constitucional, quando o órgão judicante se não omita sobre questões cujo deslinde possa levá-lo a decidir de maneira diferente. (STF, Pleno, ADPF 79-AgR, Rel. Min. Cezar Peluso, DJ de ) No tocante ao desrespeito ao princípio da razoável duração do processo e da celeridade, essa crítica também não merece prosperar, pois o ônus imposto pelo Novo CPC impõe o enfrentamento apenas e tão somente dos fundamentos "capazes de, em tese, infirmar a conclusão adotada", e não de toda e qualquer alegação. Portanto, uma possível solução seria a prolação de uma decisão que aborde todos os fundamentos postos pelas partes, desde que relevantes. Essa discussão é especialmente importante no ramo do Direito Processual do Trabalho, pois nesta área se julga reclamações trabalhistas que geralmente trazem em seu bojo muitos pedidos, diferentemente do 5

6 processo civil onde os pedidos são mais enxutos, e ao mesmo tempo se prima pela celeridade do julgamento, uma vez que se está lidando com verbas de natureza alimentícia. 2) Na CFRB já constava a previsão de que todos os julgamentos do Poder Judiciário deveriam ser fundamentados, sob pena de nulidade, em seu art. 93, IX. Contudo não é incomum a existência de as decisões sem a motivação que levou ao convencimento do juiz sobre a causa, o que era alvo de grande descontentamento para as partes, pois ficavam sem saber sob quais argumentos sua causa foi decidida. A própria jurisprudência dos tribunais superiores é no sentido de considerar válida decisões sucintas, porém com fundamentação implícita, as quais não deveriam se confundir com aquelas sem fundamentação. Com a entrada em vigor do CPC de 2015, especialmente nos art. 11 e 489, 1º, a própria letra da lei traz os novos contornos de como devem ser realizadas as decisões a partir de então. Aquele é quase uma cópia do exposto na CFRB. Já este é considerado um grande inovação, pois traz expressamente o que não se considera como fundamentação às decisões judiciais. O mencionado disposto é uma reivindicação antiga dos advogados e tem causado grande polêmica, especialmente entre os magistrados que serão obrigados a enfrentar todos os pontos aduzidos pelas partes em suas fundamentações, pois alegam que trará maior morosidade ao sistema judiciário. A decisão que não cumprir o determinado em lei poderá ser considerada nula pelo tribunal, com o vício de error in procedendo, podendo ser, inclusive, objeto de imediato julgamento, se o processo estiver em condições (art , IV), com aplicação da teoria da causa madura. Por fim, é visto pela maioria como um avanço, pois todos poderão conhecer a motivação de determinada decisão, sabendo quais argumentos foram acolhidos ou rejeitados, tornando realidade os princípios constitucionais da publicidade, isonomia, inafastabilidade da jurisdição, contraditório e ampla defesa. Assim, os impactos à justiça, apesar de rejeição inicial, serão, em regra, positivos. 6