Unidade III ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO



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Transcrição:

ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO Unidade III Esta é a última Unidade da disciplina, espera-se que, nesse momento do seu estudo, você tenha conseguido comparar casos vividos em sala de aula, comentários de professores, no contexto abordado, e feito uma relação entre a teoria e a situação real. Você irá aprender um pouco mais sobre a realidade escolar na Unidade III, com o resgate de conceitos aprendidos e os conteúdos do processo de ler e escrever, utilizando o código com função social. A Unidade III irá apresentar a relação do conceito de alfabetização e os conteúdos trabalhados em língua portuguesa do 1º ao 5º ano do Ensino Fundamental I. Agora você aprenderá como alfabetizar usando as situações diárias de escrita como aliadas na arte de ensinar a ler e escrever. Vale a pena ler o Saber em jogo, de Alicia Fernandez. A seguir, um pequeno trecho representativo da obra: Vou aprender a nadar diz Silvina com a alegria dos seus seis anos recém-feitos. Vai nadar? Intervém a irmã, três anos mais jovem. Não, vou aprender a nadar. Eu também vou brincar na piscina. 65

Unidade III Não é o mesmo. Eu vou aprender a nadar diz Silvina. O que é aprender? Aprender é... como o papai me ensinou a andar de bicicleta. Eu queria muito andar de bicicleta. Então... papai me deu uma bici... menor do que a dele. Me ajudou a subir. A bici sozinha cai, tem que segurar andando... Eu fico com medo de andar sem rodinhas. Dá um pouco de medo, mas papai segura a bici. Ele não subiu na sua bicicleta grande e disse: assim se anda de bicicleta... Não, ele ficou correndo ao meu lado. Então, eu disse: Ah! Aprendi! Pronunciou essa expressão com intenso entusiasmo e alegria, transferido para o corpo da mais jovem e surgindo na alegria dos seus olhos a resposta da pergunta: O que é aprender? Ah! Aprender é tão lindo quanto brincar respondeu. Sabe, papai não fez como na escola. Ele não disse Hoje é dia de aprender a andar de bicicleta. 1ª Lição: andar direito. 2ª Lição: andar rápido. 3ª Lição: dobrar. Não tinha nenhum boletim onde anotar: muito bem, excelente, regular... Porque se assim tivesse sido, não sei, algo nos meus pulmões, um friozinho aqui no meu estômago, um aperto aqui no coração... ah! Não me deixariam aprender! 66

ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO Objetivos específicos O objetivo específico desta unidade é que o aluno adquira conhecimento sobre como: elaborar, executar e avaliar planos de ação pedagógica que expressem o processo de planejamento desenvolvido na área do conhecimento; desenvolver metodologias e materiais pedagógicos adequados às diferentes práticas educativas. Resumindo Noções que fundamentam esse processo Ler e escrever significa O significado está no que temos capacidade de escutar Outros sinais além das letras. Relação grafema x fonema. Direção da escrita. Espaçamento entre as palavras. Unidade temática. Unidade estrutural. Escutar o silêncio. Escutar enquanto verbo ativo para a criança competente (no ato de ler e no ato de escrever) e para o educador competente. Atribuindo ao outro o poder e a relevância de observar e interpretar. 3 O QUE SE APRENDE NA ESCOLA: OS CONTEÚDOS DE ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO, NA ÁREA DE LÍNGUA PORTUGUESA 3.1 O mundo está cheio de coisas escritas: vamos vê-las! A sala de aula, tanto no tocante à Educação Infantil quanto ao Ensino Fundamental, é um ambiente social e complexo no diz respeito à comunicação. Muitas crianças têm o primeiro contato com esse ambiente aos quatro ou cinco anos, enfrentando pela 67

Unidade III primeira vez as exigências da cultura escolar e de seus professores ou até mesmo, por que não dizer, de seus novos amigos, pois eles também impõem condições de adaptação à nova rotina. A entrada coloca exigências linguísticas e cognitivas que muitas vezes não são compatíveis com os hábitos até então desenvolvidos. É de conhecimento de todo educador que qualquer informação deve ser compreendida por todos, mas a rotina marca uma ruptura na vida da criança, pois a informação não é compatível com o seu mundo de agora. Quando chega à escola para aprender a ler, sabe que a escrita quer dizer alguma coisa, embora não saiba de que maneira os sinais escritos funcionam para transmitir a mensagem. Para a criança, a alfabetização constitui o primeiro passo de uma longa carreira escolar, que provavelmente terminará na universidade. Ela usará a leitura como forma de prazer e instrumento de comunicação pessoal. O primeiro passo, então, é abrir os olhos para o mundo da palavra escrita, tornar-se atento ao que está escrito na vida cotidiana, perceber os vários usos sociais dessa escrita e que a leitura faz parte do processo de letramento. 3.2 Metodologias de alfabetização Apesar dos estudos sobre como a criança aprende a ler e a escrever, alguns adultos acreditam que a prática pedagógica deve ser fundamentada em exercícios repetitivos a serem aplicados em sala de aula e lições a serem feitas em casa. Muitos pensam que essa repetição contribui para que a criança leia e escreva melhor. 68

ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO Temos crianças que copiam textos, têm a letra desenhada, mas nada do que escrevem tem sentido ou significado. Não fazem uso da leitura e da escrita habitualmente nem as têm como instrumento de expressão de suas ideias e seus sentimentos, ou como uma forma de comunicação com os outros e de leitura de mundo. Alguns professores aplicam muitos conteúdos e acreditam estar executando uma boa atividade. 3.2.1 Como um professor pode promover uma boa atividade na sala de aula? A boa atividade é a que promove a aprendizagem da criança, a construção de seu conhecimento. Com certeza, não é aquela aula show, farta em jogos e brincadeiras, da qual o aluno quer participar, mas a que promove a mudança de atitudes, procedimentos e conceitos dos alunos. 3.2.2 Características de uma boa atividade Naspolini (2006) aponta que a boa atividade, promotora do desenvolvimento do conhecimento do aluno, pode ser significativa, produtiva e desafiadora. Atividade significativa Quando gera conhecimento útil para a vida do aluno; quando lhe oferece condições de, tendo consciência do conhecimento apropriado, vir a utilizá-lo nas diferentes situações de sua vida (Naspolini, 2006, p. 12). As pesquisas a respeito do baixo aproveitamento escolar de nossos alunos apontam para uma de suas dificuldades: a de relacionar o que aprendeu na escola com o seu dia a dia. 69

Unidade III Relacionar os textos escritos e aprendidos na escola com a sua necessidade de ler, escrever, ter conhecimento e interpretar o que lê e escreve. Cabe a reflexão sobre as atividades aplicadas em sala de aula. Paulo Freire criticou as cartilhas e as comparou às roupas de tamanho único, que servem para todo mundo e, ao mesmo tempo, para ninguém; as cartilhas estão longe de abordar a realidade vivida por nossos alunos (Aranha, 1989). O indício que o trabalho com cartilha nos dá é a compreensão da alfabetização como a assimilação de habilidades perceptivas, psicomotoras, de discriminação visual e auditiva e coordenação viso-manual da grafia. Algumas cartilhas podem propor a repetição de exercícios e traçados das vogais e consoantes, a composição de sílabas simples e organizadas em famílias silábicas. Após essas ações, há a construção de palavras e frases isoladas de um contexto que a criança conhece e se identifica. Elas apresentam frases com uma linguagem irreal, longe da criança. Adriane Andaló (1996) explica que, apesar de muitas gerações aprenderem com o método da cartilha, a memorização de letras e o ajuntamento de sílabas e palavras não garantem a aprendizagem da criança, pois leem, fazem cópias, mas não compreendem o que escrevem. A cartilha apresentava palavras e frases escritas com letra cursiva e minúscula. De acordo com as pesquisas psicogenéticas, a criança identifica com facilidade a letra bastão maiúscula por visualizá- 70

ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO la, frequentemente, nas escritas de seu meio ambiente e por conter letras separadas, as crianças percebem as regras de combinação silábica da língua. Muitos adultos que não gostam de ler foram alfabetizados com cartilhas, ou seja, não foram convidados, na escola, a folhear um jornal, a curtir um poema, a procurar informações em um catálogo ou até mesmo se divertir com história em quadrinhos. A escola pode contribuir para tornar os alunos, além de alfabetizados, letrados. Desde a alfabetização, a escola precisa apresentar variedade de textos e favorecer o íntimo contato com a escrita social e as mais diversas possibilidades. É necessário que a criança leia na sala de aula cartazes, identificações de caixas, latas, embalagens e rótulos de produtos variados. O contato com diferentes escritas e textos promove na criança o reconhecimento e a distinção do desenho (sinal) e da escrita (signo), o que contribui para que ela compreenda que se escreve o que se fala. O que facilita a aprendizagem da grafia das letras e a construção de palavras de forma significativa na prática é ler e escrever. Adriane Andaló (1996) sugere como atividade significativa de leitura e escrita as seguintes atividades que objetivam o que denominou de redes de significado : trabalhar com o nome dos alunos, identificando palavras, sílabas e letras do próprio nome da criança e de seus colegas em outras atividades; 71

Unidade III escrever listas de palavras do mesmo campo lexical, como, por exemplo, nome de animais, nome de frutas, nome de brinquedos, compras de supermercado; recortar e colar figuras e associá-las com a escrita de letras móveis de plástico; utilizar, em sala de aula, a letra bastão maiúscula até as crianças estarem alfabéticas; montar e desmontar palavras; montar quebra-cabeças com palavras e gravuras; fornecer palavras e pedir às crianças que as representem por meio de desenhos. Atividade produtiva Quando o aluno aprende, constrói o conhecimento, e, além de desenvolvê-lo, ele o aperfeiçoa nas atividades cotidianas. Frequentemente, os trabalhos escolares são requeridos pelos professores sem que os alunos sintam a necessidade de escrever; simplesmente, os fazem porque o professor mandou. Torna-se uma atividade que não é produtiva, desvinculada do contexto da criança, uma escrita mecânica. Muitos adultos têm dificuldades para escrever ou expressar o que pensam por meio de um texto escrito. Essa dificuldade pode ter relação com a dicotomia entre o que se escreve na escola e o que realmente é preciso escrever para comunicar-se socialmente. Adriane Andaló (1996) sugere ao professor que abandone textos mecânicos e sem significado para o aluno e trabalhe 72

ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO com textos reais, provenientes do meio em que o aluno vive. Ela indica ao professor o trabalho com: pequenos poemas de ritos populares como Marcha soldado, Batatinha quando nasce e Pombinha branca, conhecida pela transmissão oral e escrita; textos da literatura infantil; textos escritos em outdoors, placas, avisos, cartazes, revistas, jornais, televisão; textos de comunicação social: cartas, convites, cartões comemorativos, bilhetes etc. Atividades desafiadoras Atividades que apresentam dificuldades possíveis de serem solucionadas pelo aluno, mas que exigem a sua reflexão, análise de hipóteses, busca de ações possíveis, portanto contribuem para o desenvolvimento de sua capacidade cognitiva. Naspolini (2006) sugere que o professor trabalhe com situações de aprendizagem desafiadoras, provocativas e instigantes, que devem ser construídas sobre aspectos conhecidos do aluno anteriormente. Portanto, as atividades não devem ser tão fáceis que o aluno as desenvolva rapidamente, mas também não tão difíceis, fazendo com que o aluno desanime por sentir-se incapaz de executá-las. Muitos professores entendem que, ao final do período de alfabetização, o aluno deve estar capacitado a ler e a escrever, encerrando-se, assim, o período de aprendizagem da leitura e da escrita, o que é um equívoco. Naspolini (2006) afirma que, nesse momento, a criança apenas adquiriu o código linguístico e necessita executar vários tipos de atividades para que desenvolva sua leitura e sua escrita. 73

Unidade III 3.3 Proposta de alfabetização 3.3.1 Tipos de atividades Atividades de sondagem Estão relacionadas às atividades de avaliação do desempenho do aluno. Visam detectar o conhecimento que a criança construiu e como esse conhecimento foi construído. A partir do que foi coletado pelo professor, planejam-se as atividades de ensino e de aprendizagem novas e específicas ao aluno. Naspolini (2006) destaca alguns pontos das atividades de sondagem: retratam o momento específico da atividade executada pelo aluno: num certo momento, o aluno apresenta um determinado conhecimento e, em outro momento, outro conhecimento; as intervenções do professor favorecem a compreensão de como a criança pensa um determinado conhecimento; possibilitam o registro, em fichas, da produção do aluno e podem fundamentar o planejamento de novas atividades. As atividades de sondagem e o material utilizado devem ser inéditos, para não estimular a memorização de como se aplica determinado conhecimento pela criança. A sondagem é feita periodicamente, e os resultados devem ser comparados com os resultados da sondagem anterior. Ao analisar os resultados da sondagem, o professor pode agrupar crianças que apresentam determinada dificuldade e planejar atividades diversificadas de ensino e de aprendizagem. 74

ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO As atividades diversificadas são compostas por jogos e variam conforme a evolução do conhecimento dos alunos. Atividades de ensino-aprendizagem Segundo Naspolini (2006), são atividades que intervêm nos saberes construídos anteriormente pelo aluno e promovem a aquisição de novos conhecimentos. Como exemplo, cita a atividade de correspondência título-texto, em que o professor lê um texto em sala de aula e apresenta vários títulos. Os alunos devem escolher um título adequado à história narrada pela professora. Atividades de aplicação São exercícios específicos que visam a aplicação de conhecimentos apreendidos pela criança por meio das atividades de ensino-aprendizagem. Naspolini (2006) sugere que devem ser aplicados, preferencialmente, em grupos de alunos. A autora distingue dois períodos ou características das atividades de aplicação: a repetição e a transformação. A repetição devido ao fato de os conhecimentos adquiridos pelos alunos serem utilizados repetidas vezes e em momentos diferentes das atividades. A transformação se refere ao fato de os exercícios serem mudados, e não seus objetivos, que devem ser a aplicação de determinados conhecimentos aprendidos anteriormente. O exemplo dado por Naspolini (2006) é que a mesma atividade de correspondência texto-título pode ser empregada de diferentes formas, como: 75

Unidade III corresponder o texto com a escolha de um título dentre outros; corresponder um título com a escolha de um texto dentre outros; corresponder os textos com a escolha dos respectivos títulos, dentre outros. Note que as atividades apresentam a repetição, emparelhar textos e títulos, e a transformação, com a execução de atividades diferentes entre si. Atividades de avaliação O objetivo dessas atividades de avaliação é diagnosticar o que o aluno é capaz de realizar sozinho, o que o aluno aprendeu e o que precisa melhorar, e podem ter a finalidade qualitativa ou quantitativa, segundo Naspolini (2006). A finalidade qualitativa está ligada ao diagnóstico do conhecimento construído pelo aluno e subsidia o planejamento do professor na medida em que planeja futuras atividades de ensino-aprendizagem (sondagem), e a finalidade quantitativa está ligada ao diagnóstico e à medição do que o aluno construiu de determinado conteúdo. 3.3.2 O trabalho com leitura De acordo com Naspolini (2006), ler é o processo de construir um significado a partir do texto. A leitura será compreendida se houver concordância entre os conhecimentos prévios do leitor e os elementos textuais. O ato de ler significa compreender o que está escrito com as letras e o que se quis dizer com as letras; é muito mais do que decodificar os códigos linguísticos. 76

ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO Para entender o texto lido, o leitor utiliza vários esquemas cognitivos, e, como as pessoas têm esquemas cognitivos diferentes, podem entender o mesmo texto de formas diversas. As diferentes formas de linguagem de cada leitor, o conhecimento que tem do mundo, seus propósitos e esquemas conceituais podem ajudar a entender ou a dificultar a compreensão do texto. 3.3.3 Estratégias de leitura Todo leitor apresenta estratégias, processos cognitivos para facilitar a leitura compreensiva, rápida e eficaz. São estratégias: a seleção, a predição, a inferência, o autocontrole e a autocorreção. Seleção Quando um leitor lê um texto, ele o faz a partir do que é de seu interesse, do que considera importante para o entendimento da leitura. Ao selecionar o que quer ler, o leitor despreza algumas partes do texto e acaba por pular alguns aspectos do texto sem comprometer sua compreensão. Predição O texto fornece algumas pistas que favorecem a criação de algumas hipóteses por parte do leitor. Inferência Quando o leitor conclui aspectos explícitos ou não do texto baseado em seus conhecimentos prévios. Autocontrole Quando o leitor valida ou não sua predição, inferência do texto por meio de sua leitura. 77

Unidade III Autocorreção Quando o leitor corrige o que pensou a respeito da leitura quando o texto não a comprova. Segundo Naspolini (2006), há uma reciprocidade entre a estratégia de leitura para entender um texto e a sua interpretação; um não acontece sem o outro. Naspolini (2006) se refere à pesquisadora francesa Jolibert quando sugere alguns passos para se questionar um texto. Esses passos podem ser utilizados em atividades diversificadas, com o intuito de o aluno ler e interpretar o texto: De onde e como surgiu o texto? Quais são as características físicas do texto? Como está diagramado? Que informação o texto traz por meio de imagens ou palavras do parágrafo, frases? Existem números e símbolos no texto? Quais são os objetivos que o autor demonstra com os números e os símbolos descritos no texto? Quais são os sinais de pontuação apresentados no texto? Há palavras desconhecidas? 3.3.4 O trabalho com textos A leitura e a escrita não devem se restringir ao trabalho com o livro didático. Em uma sociedade letrada como a nossa, o professor precisa trabalhar com os mais variados tipos de textos, com o objetivo de que a criança construa estruturas cognitivas necessárias à leitura e à escrita de textos variados. 78

ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO Isso não significa que o aluno tenha apenas que identificar ou reconhecer as diferentes modalidades de texto, mas escrevêlas, utilizá-las mediante as suas necessidades. Com um fim didático, Naspolini (2006) classificou os textos em práticos, informativos ou científicos, literários e extraverbais, mas ressaltou que um único texto pode pertencer a mais de um grupo dos citados. Textos práticos: são textos comuns em nosso dia a dia, por exemplo: cartas, contas de água, luz e telefone, cheques, embalagens de todos os tipos, manuais de aparelhos eletrônicos, listagens, itinerários, ingressos, passagens, carnês, bulas de remédio, cardápios, receitas culinárias, notas fiscais, bilhetes, telegramas. O professor pode utilizar uma data comemorativa, como o dia dos pais, e desenvolver uma atividade de confecção de uma carta. Ele pode abordar algumas questões como: A quem escrever? Quem é o remetente e/ou destinatário da carta que escreve? Qual é o pronome de tratamento adequado? Para que e por que escrever uma carta? O que se pretende abordar na carta para a outra pessoa? Qual é a estrutura do texto? Para finalizar a atividade de ensino e de aprendizagem, os alunos podem passear em uma excursão ao seu bairro e postar a carta em comemoração ao dia dos pais. Naspolini (2006) sugere os seguintes pontos como elementos essenciais da carta e que podem ser trabalhados com os alunos para que eles aprendam como se faz uma carta: 79

Unidade III Saudação. O que solicitamos. Por quê? A importância disso para nós. Como e quando esperamos receber a resposta. Despedida. Local e data. Assinatura. O destinatário. Após esses elementos serem aplicados na sala, o professor pode incentivar o seu aluno a se autoavaliar, a fim de analisar os itens cumpridos, os que precisam melhorar e as possíveis mudanças. Naspolini (2006) sugere o seguinte quadro para o professor promover a autoavaliação do aluno: Relendo a carta Itens Sim Não Coloquei local e data acima e à direita? Coloquei destinatário (o nome)? Coloquei saudação? Usei tratamento adequado? Escrevi três ou mais parágrafos? Usei palavras de despedida? Coloquei minha assinatura? Usei o mesmo pronome do início ao fim da carta? Motivo da carta Deixei o motivo bem claro? Justifiquei o motivo? Explicação Dei explicações para convencer o destinatário? Disse para quando preciso da resposta? Diagramação Deixei margem à esquerda? Usei letra maiúscula depois de ponto final? Usei vírgula depois do local, na primeira linha, depois do destinatário e depois da despedida? Usei letra maiúscula nos nomes próprios? Apresentação Meu trabalho está limpo e em ordem? Minha letra está legível? Pulei linha quando necessário? 80

ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO Textos informativos ou científicos A função dos textos informativos é trazer conhecimentos novos aos leitores. Eles são encontrados em jornais, revistas, enciclopédias, entrevistas, tabelas, gráficos etc. Exemplo Dicas para combater o mosquito e os focos de larvas Mantenha a caixa d água sempre fechada com tampa adequada. Remova folhas, galhos e tudo que possa impedir a água de correr pelas calhas. Não deixe a água da chuva acumulada sobre a laje. Lavar semanalmente, por dentro, com escovas e sabão, os tanques utilizados para armazenar. Mantenha bem tampados tonéis e barris d água. Encha de areia Se você tiver até a borda os vasos de plantas pratinhos dos vasos aquáticas, troque a de plantas. água e lave o vaso, principalmente por dentro, com escova, água e sabão pelo menos uma vez por semana. Guarde garrafas sempre de cabeça para baixo. Entregue seus pneus velhos ao serviço de limpeza urbana ou guarde-os sem água em local coberto e abrigados da chuva. Coloque o lixo em sacos plásticos e mantenha a lixeira bem fechada. Não jogue lixo em terrenos baldios. Fonte: <http://www.dengue.org.br/dengue_prevenir.html>. 81

Unidade III Textos literários São textos que expressam sentimentos, pensamentos e fantasias do homem na relação com o mundo à sua volta e consigo mesmo. Exemplo Soneto da fidelidade (Vinícius de Moraes) De tudo, ao meu amor serei atento Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto Que mesmo em face do maior encanto Dele se encante mais meu pensamento. Quero vivê-lo em cada vão momento E em seu louvor hei de espalhar meu canto E rir meu riso e derramar meu pranto Ao seu pesar ou seu contentamento. E assim, quando mais tarde me procure Quem sabe a morte, angústia de quem vive Quem sabe a solidão, fim de quem ama Eu possa (me) dizer do amor (que tive): Que não seja imortal, posto que é chama Mas que seja infinito enquanto dure. Fonte: <http://www.secrel.com.br/jpoesia/vm2.html#sonetodafidelidade>. Textos extraverbais Existem textos escritos não com palavras, mas com outros códigos linguísticos, e não linguísticos. 82

ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO Por exemplo, os textos escritos com figuras, ilustrações, arquitetura, história em quadrinhos, quadro de arte, música, gesto etc. Exemplo Obra: A Feira. Tarsila do Amaral. O professor pode trabalhar com vários textos em sala de aula e com três enfoques diferentes. Enfoque conteudístico A partir de um texto, questões são formuladas para que os alunos respondam segundo as palavras e ideias expostas no texto. Naspolini (2006) define como o objetivo desse tipo de atividade decodificar a leitura. Muitos professores costumam utilizar apenas esse tipo de enfoque e acreditam que, ao responder às questões, os alunos entenderam e interpretaram o texto. 83

Unidade III Enfoque estruturalista Todos os textos apresentam determinadas estruturas que os identificam, e são chamadas de superestrutura esquemática a distribuição e a organização da estrutura interna do texto. Exemplos de estruturas esquemáticas do texto, segundo Naspolini (2006): Narrativa Ata Manual de instruções personagens (principal e secundária); ambiente; tempo; época; sequência de ações; clímax; desfecho. data da reunião; local; participantes; descrição ou relato do(s) discutido(s); decisões; assinatura dos participantes. identificação do produto; apresentação; características; sequência de montagem; usos; cuidados; defeitos possíveis; assistência técnica. Fábula Carta Receita culinária personagens (principal e secundária); ambiente; tempo; época; sequência de ações; clímax; desfecho; moral da história. Texto científico ou informativo informação específica; descrição do fato; exemplos ilustrativos; explicações; detalhes. Enfoque discursivo local e data; nome da pessoa que vai receber (e saudação); assunto(s); despedida; nome da pessoa que está escrevendo (remetente). ingredientes; modo de fazer; tempo de preparo; calorias; rendimento. O trabalho com enfoque discursivo tem por objetivo analisar os efeitos que o texto produziu no leitor. Para essa análise, o professor pode utilizar questões que considerem processos cognitivos, como o de antecipação, de 84

ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO transformação, inferência, crítica, extrapolação, situaçãoproblema, efeitos, intenções e emoções. A seguir, exemplos de questões sugeridas por Naspolini (2006) de cada processo cognitivo: Antecipação Transformação Inferência Quais ideias vieram à mente do aluno quando iniciou a leitura do texto? O que o título do texto lhe sugeriu? O aluno tem outro término para o texto, diferente do proposto pelo autor? O aluno compara o que pensa com o que foi pronunciado pelo autor do texto? Crítica Extrapolação Situação-problema O aluno comenta, critica, julga fatos e situações, emite opiniões e argumenta o texto lido? A partir da ideia principal do texto, o aluno a relaciona com outras situações cotidianas ou ideias diferentes, comparando-as? A partir de situaçõesproblema, o aluno aponta possíveis soluções? Efeitos, intenções, emoções O aluno comenta as emoções e os sentimentos produzidos após a leitura do texto? 3.4 A gramática na contramão 3.4.1 Algumas possibilidades para o trabalho com a produção de textos Trabalhar com textos escritos individualmente, em pequenos grupos ou coletivamente. Propor para os alunos a escrita de vários tipos de textos: relatórios, contos, poesias etc. Pedir aos alunos que descrevam fotos e paisagens. Solicitar que criem histórias a partir de recortes de gibis, paisagens etc. Orientar os alunos a entrevistarem conhecidos e descreverem como foi a entrevista. Sugerir que escrevam jornais da sala, reportagem da escola e outros. 85

Unidade III O Indicador Nacional de Alfabetismo Funcional (INAF), anualmente, aplica testes em população representativa de 15 a 64 anos para coletar hábitos e práticas de leitura e escrita em diversos contextos de vivência dos brasileiros. Apontam, além de habilidades matemáticas, habilidades de leitura e de escrita, que compreendem a capacidade de processar informações numéricas presentes no dia a dia, no comércio, no trabalho ou nas páginas dos jornais. Observe o quadro a seguir: Analfabetismo Leitura Não domina as habilidades medidas. Habilidades matemáticas Não domina as habilidades medidas. Alfabetismo nível rudimentar Localiza uma informação simples em enunciados de uma só frase, em um anúncio ou em chamada de capa de revista, por exemplo. Lê e escreve números de uso frequente: preços, horários, números de telefone. Mede um comprimento com fita métrica, consulta um calendário. Alfabetismo nível básico Localiza uma informação em textos curtos ou médios (uma carta ou notícia, por exemplo), mesmo que seja necessário realizar inferências simples. Lê números maiores, compara preços, conta dinheiro e faz troco. Resolve problemas envolvendo uma operação. Alfabetismo nível pleno Localiza mais de um item de informação em textos mais longos, compara informação contida em diferentes textos, estabelece relações entre as informações (causa/ efeito, regra geral/caso, opinião/fato). Reconhece a informação textual mesmo que contradiga o senso comum. Consegue resolver problemas que envolvem sequências de operações, por exemplo, cálculo de proporção ou percentual de desconto. Interpreta informação oferecida em gráficos, tabelas e mapas. Fonte: <http://www.reescrevendoaeducacao.com.br/2006/>. 86

ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO Quando se aprende e ensina o código alfabético (relação entre letras e sons), é necessário começar explorando. Entrar em contato com materiais escritos significa folhear, tocar, olhar ilustrações. Não pode haver cobrança, pois as crianças precisam saber e conhecer o toque, o peso, a cor, o cheiro de um livro, uma revista ou um jornal. O primeiro conhecimento se dá pelos sentidos, depois pela afetividade e pelo intelecto. Lembre-se de que o adulto que lê para uma criança acorda as histórias que dormem nas páginas de um livro. Assim se faz a transição da oralidade para a escrita. Sugestões didáticas As atividades aqui sugeridas servem para: analisar as possibilidades de uso da escrita na vida cotidiana; descobrir que letras e números são sinais diferentes; comparar os diversos tipos de letra que existem (cursiva, imprensa, maiúscula e minúscula etc.); descobrir que, mesmo sem saber ler e escrever, as crianças já têm conhecimento sobre a escrita; provocar o desejo da criança em saber mais. 1. Comece sua história com a turma dando um passeio com os alunos pela escola, solicite que olhem tudo e tentem adivinhar o que está escrito, nos diferentes lugares. O que os escritos querem dizer? Você verá que a criança tem hipóteses e muitas vezes são capazes de dizerem o que pode estar escrito, mesmo sem ler ainda. 87

Unidade III Deixe-os pensar, ouça, compare as respostas, faça clima de suspense e leia para eles: 1. o nome da escola na frente do estabelecimento de ensino; 2. indicações nos corredores; 3. cartazes e informações internas; 4. placas nas portas, secretaria, banheiro; 5. cardápio do refeitório (se tiver) ou algo do gênero; 6. números nas portas e nos portões ou placas de carro. 2. Solicite que observem detalhes, deixe que cada um fale do passeio: O que viu? O que entendeu? Onde estava escrito? Relacione, compare e comente as respostas das crianças. 3. Apresente aos alunos diversos tipos de materiais escritos, peça que identifiquem o que é letra e o que é número. Faça em pequenos grupos, depois em grupos maiores e por fim pergunte individualmente. No início da alfabetização, é importante que a criança tenha tempo para pensar sozinha, em seguida, que possa dividir com um ou dois colegas e, somente depois, com o grande grupo. Esse procedimento deixará a criança mais confiante e mais encorajada a fazer novas tentativas. 88

ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO 4. Trabalhe muito com os nomes deles, pois toda pessoa, adulto ou criança, dá importância ao seu nome e quer aprendê-lo. Aquele que já sabe desenhar e assinar descobrirá novas informações ao observar os nomes dos colegas. Atividades com nomes Atividades NOME: CLASSE: Ficha 1 1. TODO MUNDO TEM UM NOME Sente-se com três colegas para o trabalho que vão fazer. Cada um receberá do seu professor pequenos cartões com as partes (sílabas) de seu nome. Ordenem os cartões de forma que o nome de todos possa ser lido. 2. Será que dá para formar novas palavras com as partes dos nomes? 3. Copiem abaixo as palavras que descobriram. 89

Unidade III Ficha 2 1. Você já sabe o nome do SEU PROFESSOR? Com a ajuda dos colegas do grupo, escreva-o no espaço abaixo. Compare com o que os colegas escreveram. Todos escreveram da mesma forma? Peçam ao professor para escrever o nome na lousa e vejam o que acertaram. Que letras faltaram ou sobraram? Ficha 3 1. Você sabe o que é um autorretrato? SEU PROFESSOR vai explicar e apresentar alguns bem famosos. Faça um autorretrato. Não se esqueça de assinar seu desenho. 4. Coloque o máximo de materiais escritos ao alcance das crianças, deixe-os olhar e comparar as escritas. Faça perguntas: Que tipo de livro é esse? Alguém conhece essa embalagem? O que é um catálogo? 90

ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO O que está escrito aqui? O que diz o jornal sobre essa foto? Leia sempre para as crianças. Em voz alta, anuncie um tempo para isso. Algumas situações o ajudarão a ser um grande profissional: Favoreça sempre o entendimento de textos. Torne tudo interessante aos olhos de quem ainda não é capaz de ler porque não tem o conhecimento do código alfabético. Faça pausas agradáveis na rotina escolar introduzindo a beleza de uma poesia, a surpresa de uma narrativa, a novidade de uma notícia do jornal. Estimule a conversa, troca de opiniões, ampliando o significado de um texto. Mostre as infinitas possibilidades de leitura em termos de informação, cultura e entretenimento. E, finalmente, ao longo do ano letivo, leia texto diferentes: anedotas, propagandas engraçadas, anúncios, receitas, histórias de interesse das crianças (adequadas), notícia sobre o tempo, o futebol, a cidade, o trânsito e assuntos atuais. Hoje, se você estiver diante de uma escolha de livro didático para alfabetizar letrando, precisará do seguinte suporte: conteúdos indispensáveis aos cinco primeiros anos do Ensino Fundamental. Área do conhecimento: língua portuguesa. Os seguintes eixos devem ser abordados: leitura, interpretação e produção textual. 91

Unidade III As atividades propostas precisam facilitar o letramento. As temáticas abordadas em cada ano devem favorecer um trabalho interdisciplinar e estabelecer uma relação com os temas transversais (ou pertinentes à realidade do aluno). Atividades de ortografia e gramática só podem ser trabalhadas a partir de situações reais e didáticas contextualizadas. No 1º ano e no 2º ano, é indispensável apresentar atividades contextualizadas, desafiadoras, significativas e lúdicas (alfabetização em contexto letrado). Verifique se a obra contempla unidade com procedimentos para desenvolver atividades: levantamento de conhecimentos prévios; conversando lendo escrevendo; brincando e aprendendo (estudo da escrita); produção de texto (oral e escrito); oficina de leitura ou roda de histórias; letras e sílabas móveis. Quanto aos 3º, 4º e 5º anos, precisam estar presentes as atividades que instiguem a criança, como, por exemplo: antecipando o texto; lendo o texto; estudando gênero textual; comparando (do tipo: agora é com você); produzindo texto oral e escrito (refletindo sobre a nossa língua: estudando ortografia e estudando a gramática); oficina de leitura e jogos de ortografia. 92

ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO Bom, assim, finaliza-se essa disciplina. É esperamos que você tenha aproveitado e aprendido um pouco de como lidar com a fascinante arte de alfabetizar, ou seja, emprestar seus olhos para uma criança ver o mundo! Boa sorte e bons estudos! Saiba mais A revista Veja da Editora Abril publicou um artigo em maio de 2010 (dia 10 de maio de 2010) chamada Salto no escuro, essa matéria faz críticas ao construtivismo, devido à falta de conhecimento que pais, professores e coordenadores têm dos termos. Eles o aplicam como metodologia causando o fracasso escolar, principalmente no que diz respeito à alfabetização. Leia e compare com o que aprendeu nesse material. Resumindo Roteiro para produzir um texto escrito Leitura de textos para suporte-elemento motivador-memórialevantamento dos conhecimentos prévios (fatos, ideias, reais ou fictícias). Criação de uma realidade (ou um personagem). Contexto das tarefas (seleção dos itens que são relevantes e a identificação dos possíveis leitores). Organização, associação de ideias, anotações livres. Texto provisório. Ideias articuladas no papel. Esboço do que deseja emitir como mensagem. Rascunho do seu texto. Leitor de si mesmo ou de sua obra. Editoração (não esqueça de que escrever é dar um caráter público a suas ideias). Elementos de checagem de sua escrita: bom senso, intuição, sentimentos (realidade, valores pessoais, possibilidades). Planejamento Tradução de ideias em palavras Revisão 93

Unidade III Exercícios 1. Pegue um livro de língua portuguesa, de primeiro ao quinto ano do Ensino Fundamental, selecione uma unidade que traga exercícios a partir de textos. Faça uma análise segundo o enfoque desta unidade. Se for o caso, indique como você acrescentaria proposta para uma aula produtiva. Resposta: Relacione os conteúdos abordados com o que você aprendeu na unidade e volte na Unidade I para comparar o enfoque dado ao ato de aprender. 2. Elabore questões para abranger os tópicos abordados, isso amplia a sua visão de aluno diante do texto. Resposta: Volte ao tópicos lidos e verifique se compreendeu o texto. Referências bibliográficas ANDALÓ, Adriane. Didática de língua portuguesa para o Ensino Fundamental. São Paulo: FTD, 1996. ARANHA, Maria Lúcia A. Filosofia da educação. 1. ed. São Paulo: Moderna, 1989. BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Ensino Fundamental de nove anos: orientações para a inclusão da criança de seis anos de idade mais ano é fundamental. Brasília, 2006. BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: 1ª a 4ª série. Brasília: MEC/SEF, 1997. CAGLIARI, Luiz C. Alfabetização e linguística. São Paulo: Scipione, 2005. 94

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Unidade III MORTATTI, Maria do Rosário Longo. Educação e letramento. São Paulo: UNESP, 2004. NASPOLINI, Ana Tereza. Didática de português: tijolo por tijolo leitura e produção escrita. São Paulo: FTD, 2006. OLIVEIRA, M. K. Vigotsky: aprendizado e desenvolvimento um processo sócio-histórico. São Paulo: Scipione, 1993. PETRY, R. M. Educação física e alfabetização. Porto Alegre: Kuarup, 1993. ROSA, A.; DINISIO, J. Atividades lúdicas: sua importância na alfabetização. Curitiba: Juruá, 1998. ROSA, R. Lúdico e alfabetização. Curitiba: Juruá, 2003. ROSSEAU, J.-J. Emílio ou da educação. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1992. SLOMP, Paulo F. Piaget rediscovered. Cornell University, Ripple, R. e Rockcastle, V. 1964. TEBEROSKY, Ana; TOLCHINSKY, Liliana (org.) Além da alfabetização: a aprendizagem fonológica, ortográfica, textual e matemática. São Paulo: Ática, 2000. VYGOTSKY, L. S. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 1984. WEISZ, Telma; SANCHEZ, Ana. O diálogo entre o ensino e a aprendizagem. São Paulo: Ática, 1999. 96