TRIBUTOS. Teia FISCAL



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Transcrição:

TRIBUTOS Teia FISCAL Sem reforma tributária, o Fisco caminha para a modernização, mas penaliza o setor atacadista distribuidor com sua falta de padrões e de regras claras na legislação tributária dos Estados POR PAULA PEREIRA 150 www.revistadistribuicao.com.br AGO 2010

FOTOS DREAMSTIME Erradicar a sonegação, digitalizar os processos, criar maneiras mais objetivas de se relacionar com os contribuintes. Essas são algumas das várias razões de que o Fisco lança mão para justificar os novos recursos que ele tem desenvolvido para apertar a vigilância e pressionar, sobretudo, as empresas para andar na linha. Por trás desse processo cheio de boas intenções está um emaranhado de leis, resoluções estaduais, convênios, investimentos em tecnologia, exigência de conhecimentos apurados de direito tributário, e regras pouco claras e com prazos curtos para que as empresas possam se adaptar a elas, tudo isso dificultando as operações de setores como o atacadista distribuidor, que, no meio da cadeia de abastecimento, sofre com tantas cobranças e regras diferentes às quais é obrigado a se adaptar quase que da noite para o dia. Só para se ter uma ideia, desde a promulgação da Constituição Federal, há 22 anos, mais de 3,7 milhões de normas tributárias foram editadas e a cada hora duas novas normas são criadas, de acordo com informações fornecidas pelo Sescon-SP Sindicato de Serviços Contábeis. O cenário está cada vez mais complicado para os empresários. A sistemática tributária é complexa JUL 2010 www.revistadistribuicao.com.br 151

TRIBUTOS e difícil de ser entendida e as alterações são diárias, o que também dificulta o seu acompanhamento por parte das empresas que não têm profissionais focados só nessa atividade, diz Sueli Rangel Silva, diretora da Apress Consultoria Contábil. De acordo com André Almeida Blanco, sócio da Dessimoni & Blanco Advogados, o cenário exige que até mesmo as empresas que têm um faturamento não tão expressivo precisam se profissionalizar e buscar ajuda no mercado para não cair acidentalmente na teia da fiscalização. Empresas de médio e pequeno porte já estão contratando serviços de consultoria tributária, jurídica e tecnológica para conseguir atender a todas as regras, aponta Blanco. Segundo ele, apesar de ser positivo para o Brasil atingir um nível de documentação como o que passou a se desenhar a partir da implantação do Sped (fiscal, contábil e nota fiscal eletrônica), e que é importante para que o País se integre em uma economia globalizada, e também para que essa integração digitalizada da Receita acabe beneficiando as empresas formais Atualmente, parece que o único objetivo da ST é a comodidade arrecadatória CLOVIS PANZARINI sócio-diretor da CP Consultores Associados DIVULGAÇÃO que atuam no mercado, todo o processo de adaptação sai muito oneroso para os bolsos do setor da maneira como é realizado atualmente. Se isso for feito sem que também haja uma reforma tributária ampla, as empresas poderão acabar ficando expostas a riscos de autuação fiscal e à imposição de um custo fiscal operacional muito alto, diz Blanco. As empresas tiveram de avaliar a qualidade da informação de que dispunham e de rever os padrões internos para estarem prontas para isso. Hoje, algumas das soluções que nasceram para simplificar a vida do contribuinte parecem, isso sim, complicar na prática o dia a dia das empresas. Uma dessas questões é a da substituição tributária (ST), que não é uma regra nova, mas vem sofrendo alterações e distorções ao longo dos anos. O que começou com mercadorias tabeladas, como cigarros e combustíveis, se estende a um número cada vez maior de itens, e além disso há um descompasso entre as tributações nos vários Estados. DISTORÇÕES O regime de ST foi imaginado em outra época e para se lidar com problemas sujeitos a outras condições, conta Clovis Panzarini, economista e sócio-diretor da CP Consultores Associados. A implementação, em nível nacional, do regime de ST para mercadorias como cigarros, cervejas, combustíveis e automóveis, como foi feita na época, ajudou muito a arrecadação tributária sem provocar as enormes distorções de mercado que ocorrem hoje, quando ela é aplicada de maneira generalizada, sem qualquer preocupação com isonomia e eficiência econômica. Atualmente, parece que o único objetivo da ST é a comodidade arrecadatória. A lista de mercadorias sujeitas ao regime só cresce. Para se ter uma ideia, em 2008, no Paraná, uma série de decretos incluiu no regime de ICMS-ST produtos como água mineral ou água potável, gelo, refrigerante e cerveja, inclusive chope (Decreto 2152-08); suportes elásticos para camas, colchões, inclusive box, travesseiros e pillow (Decreto 2155-08); rações para animais domésticos pets (Decreto 2154-08); cosméticos, artigos de perfumaria, itens de higiene pessoal e de toucador (Decreto 2373-08); e peças, componentes e acessórios para veículos autopropulsados (Decreto 2473-08). Não há limites, pois eles estão a critério dos Estados, mas parece haver preferências. Segundo Nelson Beltrame, diretor da Felisoni Consultores Associados, as categorias mais visadas atualmente para a aplicação de ICMS-ST são as de produtos de higiene pessoal, dermocosméticos, medicamentos, bebidas alcoólicas e refrigerantes, produtos alimentares diversos, material de construção e autopeças. 152 www.revistadistribuicao.com.br AGO 2010

TRIBUTOS DIFICULDADES NO DIA A DIA DO SETOR INFORMAÇÃO IMEDIATA Com a digitalização dos livros fiscais e contábeis, e o uso da nota fiscal eletrônica, não é preciso que um auditor bata mais na porta das empresas para que elas estejam sujeitas a penalidades. As transações são comunicadas ao Fisco antes mesmo de os caminhões partirem, e o preenchimento errado dos formulários de escrituração digital também pode trazer custos altos para o setor. SER OU NÃO SER, EIS A QUESTÃO Ocorre confusão na classificação dos itens que podem ter substituição ou não. Por exemplo, há produtos distintos, mas com a mesma classificação fiscal (NCM Nomenclatura Comum do Mercosul), o que gera dúvidas e incertezas quanto à aplicação ou não do ICMS-ST. FLUXO DE CAIXA Tributado no momento da compra e não da revenda, o ICMS-ST compromete o fluxo de caixa das empresas, especialmente para aqueles que praticam muito a venda a prazo. ESTOQUE O imposto sob circulação, no regime de ST, também arrecada o tributo de mercadoria não circulante, isto é, o que está no estoque já teve seu recolhimento antecipado, criando mais um problema para o capital de giro das empresas. VENDA DUVIDOSA Empresas que têm receio de serem penalizadas pelo Fisco deixam de vender para alguns clientes produtos com ST por não terem certeza se o comprador será o último elo da cadeia ou realizará a revenda (cabendo então a aplicação do ICMS-ST). INFORMALIDADE Apesar de apertar o cerco, o desafio de vencer a informalidade permanece. Há também concorrência desleal por parte de quem tentar burlar o cerco e fizer a venda sem nota eletrônica ou por CPF, uma vez que a pessoa física não é contribuinte de ICMS. DOIS PESOS, DUAS MEDIDAS As diferenças das MVAs entre os Estados penalizam os atacadistas distribuidores interestaduais com altas cargas tributárias, obrigando o setor a criar alternativas, como a abertura de filiais onde atua, para não sofrer com a restrição de entrada de mercadorias imposta pelos Estados às empresas de fora. PRECIFICAÇÃO Definir o preço das mercadorias ficou mais complexo. Com os impostos já embutidos nos casos de ST, e em outros casos não, o custo de um mesmo produto varia conforme o regime em que o comprador está inserido, uma vez que os impostos também incidirão de maneira diferente. Categoria de dermocosméticos tem alíquotas que chegam a variar de 30% a 70% entre os Estados Esses itens são particularmente muito sensíveis a variações de preços, e por isso também são mais fortemente influenciados pela ST, explica Beltrame. Variações. São tantas de um Estado para outro que é difícil dizer hoje que carga tributária incide sobre uma mesma mercadoria produzida no País. O custo do produto já começa oscilando de acordo com o tipo de regime em que o comprador se enquadra. Em mercadorias não sujeitas ao regime ICMS-ST, uma empresa adquirente, sendo optante pelo regime de Lucro Real Apurado, tem direito a crédito de ICMS, PIS (1,65%) e COFINS (7,60%) (exceto para os produtos monofásicos). Caso a empresa adquirente seja optante pelo regime de Lucro Presumido, ela não terá direito aos créditos de PIS e COFINS, mas somente a ICMS, e a empresa Simples não tem direito a créditos tributários, aponta o consultor da Felisoni. Quando o assunto é ST, uma das principais queixas do setor é com relação à Margem de Valor Agregado (MVA), uma margem de lucro hipotética criada pelo governo e tributada sobre a cadeia de abastecimento, e muitas vezes praticada de forma abusiva pelos Estados. Superestima-se um ganho que está muito acima daquele que o mercado de fato pratica. Não depende mais das alíquotas aprovadas pelo poder legislativo, mas sim de cálculos e pesquisas, e sabese lá como eles são feitos. Ainda que as estimativas de margem de valor agregado sejam calculadas de forma 154 www.revistadistribuicao.com.br AGO 2010

TRIBUTOS criteriosa e reflitam exatamente a média setorial, haverá, obviamente, contribuintes pagando mais impostos do que os previstos na lei, e cujo valor agregado situa-se abaixo da média estimada, argumenta Panzarini. As frequentes alterações na MVA, que, em alguns casos, chegam a reduzi-las pela metade por pressão de entidades setoriais estaduais, refletem a falta de critério na sua definição, e constituem um motivo e tanto para alimentar a guerra fiscal entre os Estados. Cria-se um ambiente para a mercadoria ficar passeando pelo Brasil, diz José Costa, presidente da JC Distribuição. Dependendo do caminho que ela fizer até chegar ao consumidor, o custo do produto poderá subir ou baixar. O ICMS-ST é calculado sobre a MVA e a alíquota interna do produto no Estado de origem do contribuinte. Quando a venda acontece para outro Estado, essa MVA deve ser ajustada, levando-se em consideração Buscar ajuda no mercado para não cair acidentalmente na teia da fiscalização ANDRÉ BLANCO sócio da Dessimoni & Blanco Advogados WLADIMIR DE SOUZA a alíquota interestadual (em torno de 18%), a alíquota interna (entre 7% e 12%) e o IVA do produto do Estado do destinatário. Com isso, pode ser mais vantajoso comprar a mercadoria de alguns Estados para os quais esses cálculos relativos ao ICMS-ST serão menores, diz Sueli, diretora da Apress Consultoria Contábil. FALTA DE CLAREZA Sob o pretexto de combater a concorrência desleal, os Estados adotam a tática de incluir cada vez mais produtos no regime de ST, e sempre que isso acontece há uma pressão para cima dos preços relativos das mercadorias. Cria-se, assim, uma barreira para a entrada de mercadorias em seus territórios ou, em outros termos, um entrave à livre circulação de bens e serviços. A guerra fiscal, antes circunscrita ao âmbito de incentivos fiscais concedidos à revelia do Confaz, transferiu-se para o ICMS-ST, diz Maurílio Schmitt, chefe do Departamento Econômico da FIEP Federação das Indústrias do Estado do Paraná. Um exemplo da restrição da entrada de produtos por causa de impostos interestaduais é o que acontece com a categoria de dermocosméticos, que têm alíquotas que chegam a variar de 30% a 70% entre os Estados. Estados como o de São Paulo estão confinando em si mesmos os atacadistas distribuidores por causa da falta de uma regra clara e de fácil aplicação, aponta Emerson Destro, diretor do Destro Macro Atacado. Segundo ele, falta eficiência, por exemplo, no ressarcimento do ICMS que foi recolhido antecipadamente ao Estado, quando a mercadoria foi vendida para outra unidade da Federação. A regra para tal ressarcimento existe, mas é de difícil cumprimento, pois as exigências são tantas que até hoje não vi nenhum Estado devolver dinheiro ao contribuinte. A ganância dos Estados fica evidente. Além da queda da sonegação, que, por si só, já melhora a eficiência da arrecadação, o modelo de recebimento antecipado do imposto também atinge os estoques, um custo que leva mais tempo para ser compensado para o setor. Em média, os contribuintes substituídos têm estoques equivalentes a um mês de operação. No ano de entrada do modelo, o Estado tem treze meses de arrecadação, diz Panzarini. A adoção unilateral da ST também pode colocar os fornecedores interestaduais em posição vantajosa, uma vez que terão a preferência do varejista que pretende se evadir de impostos. Uma das alternativas que os atacadistas distribuidores têm buscado para reduzir os impactos da legislação tributária dos Estados é a de rever sua estratégia de distribuição, o que geralmente culmina com o estabele- 156 www.revistadistribuicao.com.br AGO 2010

TRIBUTOS cimento de filiais nas praças onde atuam uma saída nada barata, nem rápida, pois requer investimentos para promover a instalação de suas estruturas locais. Segundo Beltrame, empresas que centralizavam suas compras em um determinado centro de distribuição e efetivavam suas operações a partir dele estão abrindo novos depósitos nos Estados de destino. As mercadorias são adquiridas e revendidas pelo próprio CD, alterando principalmente o fluxo de caixa de pagamento dos tributos. É o caso da JC Distribuição. Montamos filiais e centros de distribuição, por exemplo, no sul do Pará, pois o cliente de lá passou a exigir nota do Estado. Com o tempo, construiremos lá um CD próprio, afirma Costa. Emerson Destro também percebe essa mudança. Segundo ele, para crescer, as empresas do setor precisam buscar regimes especiais junto aos Estados onde têm CD e venda, ou instalar filiais nos Estados em que opera. Essa segunda colocação é muitas vezes contraproducente, pois, a partir de onde uma empresa está instalada, ela pode atender regiões próximas em outros Estados, e a política do recolhimento antecipado confina os comerciantes à área do Estado em que se encontram, diz o diretor do Destro Atacado. Outra consequência também passou a ser verificada nas vendas públicas e a consumidores finais, uma vez que a pessoa física não é contribuinte do ICMS. Às vésperas de uma nova eleição, que reestruturará os governos estaduais e o nacional, o assunto tributação aparece como principal preocupação do setor atacadista distribuidor em relação à sucessão no Executivo. A esperança é que, finalmente, a tão esperada reforma tributária tome forma e atenda à demanda do contribuinte pela redução de carga e pela simplificação do sistema. PRIMEIRO PASSO Já discutimos isso há pelo menos 20 anos. Tivemos vários projetos, e o último inclusive foi por iniciativa do governo, mas foi um projeto que também não andou, diz Blanco. Segundo ele, embora ainda não sejam mudanças satisfatórias, gradualmente os Estados vêm apresentando evolução no que se refere à tributação. Em 2002 e 2003, o PIS e o COFINS se tornaram não cumulativos, desonerando os impostos da cadeia. De lá para cá, várias outras alterações foram Os efeitos da ST virão no médio prazo para as empresas ue operam regularmente, respeitando a toda a legislação vigente 158 www.revistadistribuicao.com.br AGO 2010

feitas na legislação federal, argumenta. Porém, o primeiro passo para a padronização da Receita Federal ela já deu em seu benefício quando definiu modelos para os formulários do Sped Fiscal, do Contábil e da Nota Fiscal Eletrônica. A padronização da legislação tributária com uma definição de alíquotas e IVAs válidas para todo o País deverá seguir o mesmo caminho para não penalizar ainda mais o contribuinte por meio de regras confusas e tão vulneráveis às decisões arbitrárias dos Estados. Os efeitos da ST virão no médio prazo para as empresas que operam regularmente, respeitando a toda a legislação vigente, pois aqueles distribuidores que alavancaram suas operações baseados em uma carga fiscal minimizada deverão encontrar sérios problemas para se equilibrar no mercado, aponta Beltrame. De acordo com ele, esse fator já está sendo percebido pelas indústrias ao constatarem a alteração de suas rotas de distribuição e as dificuldades de algumas empresas para quitar seus compromissos financeiros. O mercado passa a ser mais justo e mais equilibrado, prevalecendo as melhores práticas e estratégias comerciais em detrimento de guerras de preços lastreados na sonegação de impostos. 20 é o tempo em que já se discute o tema, inclusive com vários projetos, e o mais recente foi por iniciativa do governo anos JUL 2010 www.revistadistribuicao.com.br 159