Língua e Cultura Inglesa Autor Orlando Vian Jr. 1.ª edição
2008 IESDE Brasil S.A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito dos autores e do detentor dos direitos autorais. V614 Vian Jr., Orlando. Língua e Cultura Inglesa./Orlando Vian Jr. Curitiba: IESDE Brasil S.A., 2008. 116 p. ISBN: 978-85-7638-846-3 1. Língua inglesa. 2. Língua inglesa Cultura. I. Título. CDD 420 Todos os direitos reservados IESDE Brasil S.A. Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482 Batel 80730-200 Curitiba PR www.iesde.com.br
Sumário Língua e cultura 7 Língua, cultura e identidade 8 Contexto 10 Crenças e estereótipos 12 Conclusão 13 O inglês antigo e o inglês médio 19 O inglês antigo 20 O inglês médio 23 Conclusão 24 O inglês moderno 29 Primeira fase do inglês moderno 29 O inglês moderno 31 Conclusão 32 O inglês como língua nativa 37 Inglaterra e Estados Unidos 37 O inglês na América, na África e na Oceania 39 Conclusão 42 O inglês como segunda língua 47 Caribe 48 África 48 Ásia 50 Pacífico Sul e sudeste asiático 51 Conclusão 52
O inglês como língua global 57 As influências do inglês 57 Os novos ingleses 59 Conclusão 60 A língua inglesa e a internet 65 Globalização e internet 65 O inglês na internet 68 Conclusão 70 A língua inglesa no Brasil e os meios de comunicação 75 A língua inglesa no Brasil 76 O contato do inglês com o português e os meios de comunicação 78 Conclusão 80 A língua inglesa e o campo profissional e de ensino 85 O inglês nos diversos campos profissionais 85 O ensino de inglês no Brasil e a relação língua versus cultura 87 Conclusão 90 O inglês como língua global e o futuro 95 Uma visão crítica do inglês como língua global 95 O futuro do inglês 97 Conclusão 99
Apresentação O ponto de partida para os aspectos apresentados neste material é a relação entre língua, linguagem e cultura e como os elementos contextuais e situacionais determinam o uso da linguagem e das escolhas lingüís ticas realizadas pelos usuários da língua no dia-a-dia em detrimento do contexto em que está inserido. O foco central da discussão é a língua inglesa: sua história, sua evolução, seu estado atual. Serão abordados aspectos desde a origem do idioma, sua formação, suas transformações e as fases pelas quais passou até configurar-se como o conhecemos hoje, bem como os aspectos sociais, históricos, políticos, geográficos, econômicos, culturais, entre outros, que alçaram o inglês à condição de língua global. Será discutido, ainda, o papel da internet na disseminação do inglês, além dos reflexos e dos impactos no Brasil da utilização do inglês como língua global e seu papel no ensino de línguas estrangeiras. O objetivo primordial deste trabalho é incitar o futuro profissional do campo de Letras a refletir criticamente sobre os aspectos do idioma e seus impactos no ensino do inglês como língua estrangeira no Brasil, levando-se em consideração que ensinar inglês não se restringe apenas aos elementos da gramática, da pronúncia ou do vocabulário da língua, mas que todos esses elementos são influenciados pela cultura, tanto do inglês, como língua-alvo, nos diversos países onde é falado, quanto do português como língua materna e as variáveis culturais e lingüísticas intervenientes no processo de ensino e de aprendizagem do idioma. Que a jornada pela história do inglês e pelos aspectos socioculturais da língua seja proveitosa e que dela possam emergir aspectos que possam contribuir para a sua prática social, como cidadão em um mundo globalizado onde o inglês é a língua internacional para comunicação e, futuramente, para sua prática pedagógica e profissional! Bom trabalho! Orlando Vian Jr.
Língua e cultura Orlando Vian Jr. * A trilha que alçou o inglês à condição de língua global apresenta um percurso de ascensão vertiginosa, que envolve questões geopolíticas, econômicas, culturais, sociais e diversas outras que devem ser consideradas para a compreensão da relação entre uma língua e sua cultura. É significativo considerar o fato de que o inglês não existia há pouco mais de dois mil anos, quando Júlio César chegou à Bretanha. Em quinhentos anos já era falado por um grupo pequeno de pessoas e, ao final do século XVI, já era falado por sete milhões. O que se observou foi uma expansão acentuada a partir de 1600, quando o inglês começou a ser levado por todo o mundo. Para compreender tal desenvolvimento, é necessário fazer um retrospecto. Essa viagem servirá aos seguintes propósitos: :::: compreender a relação entre língua, cultura e identidade e como a linguagem está relacionada ao contexto; :::: estabelecer as relações entre a língua inglesa e sua disseminação pelo mundo e os diferentes elementos que determinam seu uso como língua oficial, segunda língua ou como língua estrangeira em diferentes países; :::: :::: empreender uma viagem panorâmica sobre a história da língua inglesa e como foi alçada à condição de língua global; discutir aspectos relacionados ao inglês como língua global utilizada nos meios de comunicação, na internet, na economia, na política, entre outros; :::: transpor esses elementos sócio-históricos ao contexto da área de Letras para levantarmos subsídios para uma compreensão mais ampla do idioma a fim de que nos posicionemos política e criticamente em relação ao papel da língua inglesa no mundo, no Brasil e, principalmente, nos currículos escolares; :::: compreender os fatores socioculturais na relação língua-cultura que influenciam o ensino e a aprendizagem do inglês como língua estrangeira. * Doutor em Lingüística Aplicada e Estudos da Linguagem e Mestre em Lingüística Aplicada ao Ensino de Línguas. Bacharel em Letras Português- Inglês pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Araçatuba-SP.
8 Língua e Cultura Inglesa Língua, cultura e identidade Aprender uma língua estrangeira não significa simplesmente aprender o vocabulário ou a gramática da língua. Existe um aspecto crucial envolvido no processo comunicativo, relacionando tanto aspectos individuais como aspectos transacionais. Trata-se do aprendizado de uma outra cultura, que emerge a partir do momento em que se engaja na tarefa de aprender o novo idioma, ou seja, aprender uma língua significa também assimilar aspectos do contexto cultural em que essa língua circula e a forma como é utilizada por seus falantes. Aprender inglês significa aprender a cultura dos países onde o inglês é falado. No momento sócio-histórico-cultural atual, entretanto, o inglês passou a ser a língua utilizada pa ra a comunicação internacional e esse fato merece atenção, pois exige uma postura bastante ampla, uma vez que o inglês não é apenas a língua falada na Inglaterra, nos Estados Unidos, na África do Sul, na Austrália ou em outros países, mas também é a língua usada por cidadãos do mundo todo para comunicação nos mais diversos contextos culturais, econômicos, políticos, financeiros, administrativos, de mídia, de publicidade e de relações internacionais. Para uma compreensão mais ampla desse fato, é necessário entender quatro conceitos e a inter-relação entre eles: língua, linguagem, cultura e identidade. Língua e linguagem Os termos língua e linguagem em língua portuguesa muitas vezes são usados intercambiadamente, embora se refiram a elementos diferentes. Algumas línguas neolatinas possuem termos diferenciados para cada uma, como o espanhol (lengua/lenguaje), o italiano (lingua/linguaggio) e o francês (langue/ langage), ao passo que no inglês o vocábulo language refere-se tanto à língua como à linguagem. Utiliza-se o termo língua para se referir ao sistema lingüístico ou a uma língua em específico: a língua francesa, a língua japonesa, a língua russa, a língua portuguesa ou a língua inglesa, ou seja, o sistema lingüístico estruturado e à disposição dos falantes daquela língua para sua comunicação diária. O termo linguagem, por sua vez, é usado para fazer referência à capacidade humana de utilizar o sistema lingüístico, indissociável do pensamento, diferentemente dos animais irracionais, que possuem uma linguagem, mas não uma linguagem verbal, articulada, usada para expressão de seu pensamento. Um elemento determinante da linguagem é o contexto, o ambiente social em que ela é utilizada. Daí a importância de considerarmos outro conceito relacionado à língua e à linguagem: a cultura. Cultura O termo cultura pode ter várias acepções. Pode-se entendê-lo em seu sentido mais amplo: quando se diz que uma pessoa é culta, significa que ela possui cultura. Nesse sentido, cultura é sinônimo de conhecimento adquirido. No entanto, cultura também pode ser entendida como os hábitos e costumes de determinado povo, uma vez que diversos elementos influenciam o aspecto cultural que, embora diversos, conforme preceitua Robinson (1985), podem ser agrupados em três grandes áreas: produtos culturais (literatura, folclore, arte, música, artesanato etc.), idéias (crenças, valores, representações, instituições etc.) e comportamentos (costumes, hábitos, alimentação, vestuário, lazer etc.).
Língua e cultura 9 Todos esses elementos interferem, de forma direta ou indireta, na utilização do idioma estrangeiro que se aprende, pois é necessária a conscientização sobre a adequação do uso da linguagem ao contexto. O texto complementar trará outras informações sobre a origem da palavra cultura. No campo dos estudos interculturais, Bennett (1993) caracteriza dois tipos de cultura: a objetiva e a subjetiva. A cultura objetiva consiste em todas as manifestações que são produzidas pela sociedade: literatura, música, ciência, arte, língua etc., ou seja, é o produto concreto criado pela sociedade, enquanto a cultura subjetiva está nas manifestações abstratas, tais como os valores, as crenças, as normas, o uso da língua, o que sugere, assim, uma competência intercultural que os indivíduos imersos em cada cultura possuem. Linguagem e cultura, portanto, são indissociáveis. Uma cultura pode ser manifestada de várias formas e a linguagem é uma das mais comuns, pois é utilizada diariamente para interação social. A linguagem é, também, a maneira como se expressa a identidade social, a etnia, pois é através dos processos comunicativos que se estabelecem todas as interações verbais cotidianas. Pela cultura subjetiva manifestam-se valores e seguem-se determinadas normas estabelecidas tacitamente para o meio social em que se interage. A cultura subjetiva está presente na utilização da língua estrangeira, pois, como aprendizes daquela língua e de sua cultura, é necessário compreender as diferenças culturais em eventos sociais, comportamento, estilos e forma de ação. Dessa maneira, aprender um novo idioma significa travar contato com uma variada gama de elementos culturais que influenciam as escolhas lingüísticas, pois essas escolhas são feitas com base no contexto sócio-histórico em que se interage. Identidade Quando se aprende uma língua estrangeira, certamente se cria uma nova realidade e, conseqüentemente, constrói-se uma nova identidade: a de usuário daquela língua estrangeira. Revuz (1998) afirma que aprender uma língua estrangeira é fazer a experiência de seu próprio estranhamento no momento em que nos familiarizamos com o estranho da língua e da comunidade que a faz viver. Dessa forma, esse estranhamento vai agregando elementos de forma a construir a identidade de aprendizes de uma língua estrangeira. Pode-se dizer que a construção da identidade lingüística do aprendiz de uma língua estrangeira ocorre nesse processo de identificação e de estranhamento com a língua estrangeira, pois haverá, juntamente com esse aprendizado, o desejo de vivenciar a língua que, necessariamente, é utilizada em uma outra cultura e esse mecanismo contribui para a formação da identidade lingüística do aprendiz. Todo sujeito que aprende uma língua estrangeira constrói representações e possui diferentes crenças sobre a língua estrangeira, assim como sobre sua língua materna, pois, no dizer de Grigoleto (2003, p. 232), são a conseqüência de suas identidades com determinados saberes sobre as línguas. Pode-se depreender, portanto, que cada indivíduo constrói sua identidade na língua e por meio da língua, ou seja, não existe uma identidade fixa e fora da língua (RAJAGOPALAN, 1998, p. 41). O indivíduo aprendendo uma língua estrangeira está, desse modo, construindo sua identidade através dos novos elementos lingüísticos e culturais inerentes àquele idioma.
10 Língua e Cultura Inglesa Contexto A linguagem é manifestada através de textos. Isso significa que em toda interação verbal realizada diariamente são produzidos textos, tanto orais quanto escritos. De acordo com a perspectiva de linguagem preceituada por Halliday (1989), o sucesso da comunicação na produção de textos pode ter sua explicação pela previsão inconsciente que cada usuário da linguagem faz a partir do contexto de uso. A noção de contexto, dessa forma, é essencial para compreender a relação entre linguagem e cultura, uma vez que todas as escolhas lingüísticas que cada falante ou escritor faz ao produzir um texto estão associadas aos contextos sociais em que os textos são produzidos. O contexto seria um texto que perpassa outro texto: um con-texto. Isso equivale dizer que tudo que é dito ou escrito está associado ao contexto. Esse contexto de produção do texto nomeia-se contexto de situação, ou seja, o ambiente em que o texto está sendo produzido e veiculado. No entanto, além dos aspectos mais imediatos associados ao texto, estão presentes, ainda, outros elementos culturais, no âmbito mais amplo da cultura, isto é, um contexto de cultura. As interações, dessa forma, serão determinadas tanto pelo contexto cultural mais amplo quanto pelo contexto situacional mais restrito, e as escolhas lingüísticas que cada usuário fará estarão associadas a esses contextos. Para compreensão dos contextos em que os textos são produzidos, Halliday (1989) define três elementos do contexto que determinam as escolhas lingüísticas: :: :: :: :: :: :: Campo: O que está acontecendo? Para que a linguagem está sendo usada? Relações: Quem são os participantes da interação? Que papéis eles exercem? Quais as relações de poder entre eles? Modo: Como esse texto é veiculado? O estudo desses três elementos auxilia em uma compreensão mais ampla da relação entre linguagem e contexto e tem sido utilizado pelos estudos em lingüística sistêmico-funcional, principalmente a partir do trabalho de Michael Halliday (1978, 1989) e de estudiosos como Martin (1984), Poynton (1984) e Eggins (1994), conforme veremos a seguir. Campo O campo pode ser entendido como o foco da atividade social em que os interactantes estão engajados. Ao considerar, por exemplo, um engenheiro explicando o mecanismo de um equipamento para um grupo de técnicos em uma fábrica ou fazendo uma palestra para seus pares em um congresso, ele utilizará um linguajar especializado típico de sua área. Se esse engenheiro for explicar a um familiar como o mesmo equipamento funciona, supostamente vai utilizar uma linguagem menos especializada e mais cotidiana. O campo do discurso, dessa forma, varia de acordo com o seguinte contínuo: técnico cotidiano
Língua e cultura 11 Esse contínuo indica que a linguagem é adaptada em função da atividade social em que se está engajado: será utilizado um linguajar mais técnico ou uma linguagem mais simples e corriqueira dependendo da situação. Relações As relações entre os participantes da interação também variam de acordo com o poder entre eles, com a freqüência de seus contatos e com o seu envolvimento afetivo: pessoas mais próximas mantêm contatos mais íntimos e mais informais, ao passo que pessoas em posições sociais ou hierárquicas diferentes usam um nível de formalidade maior. Se as relações de poder entre as pessoas são desiguais, a linguagem provavelmente será mais formal, com elementos lingüísticos que marquem esse distanciamento, ao passo que, em uma relação em que há igualdade de poder, a linguagem tenderá a ser menos formal, de acordo com o seguinte contínuo: igual desigual Em relação à freqüência de contato entre os usuários, a linguagem também irá variar, afinal de contas com pessoas com quem mantemos relações cotidianas usamos uma linguagem mais informal e, com pessoas que não conhecemos ou com quem não temos contato freqüente, tendemos a usar uma linguagem que marque esse distanciamento. freqüente ocasional A linguagem utilizada nas interações sociais também é determinada pelo envolvimento afetivo existente entre os usuários da linguagem. Relações familiares são informais, enquanto relações profissionais com pessoas com quem se tem menor contato ou que são desconhecidas são mais formais, ou seja, a linguagem sofre alterações em seu uso em função do envolvimento afetivo, se este for alto ou baixo, de acordo com o seguinte contínuo: alto baixo Todas essas variações irão depender das relações estabelecidas entre os participantes a partir dos contextos em que interagem. Modo O modo do discurso auxilia a determinar, a partir do contexto e da experiência, como a interação ocorrerá. Age-se de modo diferenciado em cada situação comunicativa a partir de determinações sociais, culturais e lingüísticas.
12 Língua e Cultura Inglesa Em uma conversa corriqueira com um amigo, em uma conversa telefônica, ao escrever um e-mail, ao ouvir o rádio ou assistir à televisão ou ao ler um romance fica estabelecida uma distância social de maior ou menor proximidade entre os interactantes em cada situação. A partir desses exemplos, podem ser situados em um contínuo (EGGINS, 1994): bate-papo telefone e-mail rádio TV romance + Informal + Contato visual + Reação Formal Contato visual Retorno Esses elementos revelam por que, em determinadas situações, são utilizadas determinadas formas de tratamento, ou usa-se um tratamento mais direto, mais distante, envia-se uma carta, vaise pessoalmente ao local, ou seja, optam-se pelas escolhas mais adequadas para interação naquela situação a partir da experiência como atores sociais que é recorrente na cultura; isso quer dizer que a experiência social de cada indivíduo indica qual é o tipo de texto a ser utilizado em determinada interação, qual o papel a ser desempenhado e como organizar o texto. Em suma, como falantes de um idioma, cada um tem a habilidade de predizer a linguagem que deve utilizar em determinados contextos e com determinadas pessoas, o que significa que o contexto influencia as escolhas lingüísticas para a produção das interações diárias. Crenças e estereótipos Toda a comunicação intercultural possibilitada pelo inglês como uma língua global traz consigo alguns elementos que podem influenciar o aprendizado da língua estrangeira ou a forma como se vê a língua inglesa, principalmente pelas crenças e estereótipos. Crenças são as imagens que se constroem sobre aquela língua específica ou sobre o que significa aprender aquele idioma. De acordo com a pesquisadora brasileira Barcelos, crença é [...] uma forma de pensamento, como construções de realidade, maneiras de ver e perceber o mundo e seus fenômenos, co-construídas em nossas experiências e resultantes de um processo interativo de interpretação e (re)significação. Como tal, crenças são sociais (mas também individuais), dinâmicas, contextuais e paradoxais. (BARCELOS, 2006, p. 18) Todo aprendiz possui crenças sobre o que seja aprender inglês e que variam de acordo com o ambiente sócio-histórico em que os sujeitos estão inseridos e com diversos outros elementos, determinados pelas relações entre aquele ambiente e a língua estrangeira. Os estereótipos, por seu turno, são as imagens e representações que se constroem em relação a determinado povo ou a determinada cultura.
Língua e cultura 13 Ao pensar em determinado país, vários estereótipos emergem sobre as impressões que se têm sobre aquele povo, sua cultura, seu modo de vida, sua alimentação, vestuário e diversos outros aspectos dos artefatos culturais que cada cultura produz. Quando se inicia o aprendizado de uma língua estrangeira, cada um é influenciado, mesmo que inconscientemente, pelas crenças e pelos estereótipos daquele povo ou daquela cultura. É comum dizer, por exemplo, que um idioma estrangeiro é difícil, que outro é sonoro, agressivo, romântico e assim por diante. São as crenças influenciando o aprendizado da língua ou a imagem que se tem daquela língua ou de determinado povo ou de sua cultura. Conseqüentemente, é comum usar esses elementos como subterfúgios para as dificuldades ou para justificar determinados aspectos em relação ao aprendizado do idioma. Por isso é importante a consciência tanto da influência dos estereótipos quanto das crenças no aprendizado. Aprender um novo idioma exige, portanto, uma atitude de abertura perante a nova cultura da língua que se está prestes a aprender. Conclusão Foram abordados nesta unidade os seguintes itens para a determinação da relação entre língua inglesa e cultura inglesa: Língua Linguagem Cultura Identidade Crenças Estereótipos Contexto de cultura Contexto de situação Variáveis do contexto: campo, relações e modo Posicionando os elementos do quadro acima conjuntamente, tem-se um rico caleidoscópio de elementos que se imiscuem ao tratar do ensino e da aprendizagem de uma língua estrangeira e da relação dessa língua com sua cultura, pois dá a dimensão de que todo sujeito, inserido em um determinado contexto de cultura e, mais especificamente, em um dado contexto situacional e institucional, utiliza a linguagem constantemente para construir sua identidade. Esse mesmo sujeito, ao expressar seus pensamentos, desejos, opiniões, crenças, posições, recorre a elementos da cultura em que está inserido e também em função das relações de poder, afetividade, laços familiares, hierárquicos, dentro dessa cultura. Ao relacionar esses elementos ao aprendizado de um idioma estrangeiro, deve-se considerar que o aluno do idioma estrangeiro traz consigo suas crenças e estereótipos, que também contribuirão para a construção de sua identidade. Ao abordar a inter-relação entre esses elementos, volta-se ao ponto inicial apresentado no início deste capítulo: aprender uma língua estrangeira é também aprender a cultura dessa língua.
14 Língua e Cultura Inglesa Texto complementar Cultura e cidadania na formação do professor de línguas (VIAN JR., 2006) As transformações na sociedade pós-moderna direcionaram a política a uma vinculação a mecanismos econômicos, o que nos levou, por conseguinte, a renomear a forma contemporânea do capitalismo como neoliberalismo. Esse estado de coisas, permeado e perpassado ainda por questões hegemônicas e ideológicas, sugere a assunção de uma postura crítica frente ao mundo em que vivemos e com o qual interagimos. Torna-se necessária, da mesma forma, a adoção de uma postura crítica frente ao que nos impõe a hegemonia política, lingüística, cultural e econômica. Para tanto, é preciso que reflitamos sobre nosso papel no mundo e, ao invés de formar os cidadãos que as empresas e os grupos econômicos esperam, devemos pensar em formar o cidadão que esteja apto a criticá-los. Estou argumentando, portanto, em favor de uma lingüística crítica, através da qual, como bem propõe Rajagopalan (2003, p. 12), seja possível mudar as coisas, ao invés de nos contentar em simplesmente descrevê-las e fazer teorias engenhosas a respeito delas. [...] No ensino de inglês como língua estrangeira, o que temos observado é que a maior parte do que é ensinado em relação à cultura, principalmente pela grande quantidade de materiais didáticos publicados, está relacionado à cultura britânica ou à americana. Em alguns casos, não só pela menor quantidade de material publicado, mas também por questões hegemônicas, algumas referências são feitas a outras culturas de países que têm o inglês como língua oficial, como é o caso das culturas canadense, sul-africana, australiana, neo-zelandesa, entre outras. Embora, como assinalaram Tomalin e Stempleski (1993) na década de 1990, a transcultarilidade fosse uma área em franco crescimento, o estudo sistemático da interação intercultural poderia ser novo para muitos professores. Dessa forma, uma vez que existem argumentos de que cultura e cidadania não se ensinam, mas se vivenciam, o que se pode fazer é incitar a reflexão sobre questões culturais e de cidadania, com vistas a uma formação crítica do futuro professor. Duas são as concepções de cultura, conforme Santos (1983): uma relacionada aos aspectos da realidade social, caracterizando, dessa forma, a existência de um povo ou de uma nação. É nessa acepção que nos referimos, por exemplo, à cultura brasileira, japonesa, espanhola, alemã etc., ou seja, atribuímos a esse grupo referido um conjunto de costumes, vestuário, alimentação, arquitetura, música, dança, arte, entre várias outras manifestações; a segunda acepção refere-se ao conhecimento, relacionando-se, assim, a apenas uma esfera da vida social de determinado grupo. É importante ressaltar, no entanto, que, mesmo nessa segunda acepção, a noção de um todo social maior está implícito.
Língua e cultura 15 Laraia (1986), por sua vez, ao abordar o conceito do ponto de vista antropológico, após discutir o determinismo biológico e geográfico ligado ao conceito de cultura, discute seus antecedentes históricos, ensinando-nos que o termo de origem germânica kultur era usado no final do século XVIII para simbolizar todos os aspectos espirituais de uma comunidade, ao passo que o termo francês civilization referia-se às realizações materiais de um povo. Tanto um termo quanto o outro foram sintetizados na palavra inglesa culture, por Edward Tylor, abrangendo, assim, todo o espectro de aspectos espirituais e materiais de um povo, chegando à acepção que usamos correntemente. Ao tratarmos do ensino de línguas, portanto, é necessário que se reflita sobre o porquê de uma preocupação com a cultura nesse contexto. É óbvio que língua e cultura são termos indissociáveis, numa relação dialética, já que um é a manifestação do outro, sendo que é através da linguagem e de outros sistemas semióticos que manifestamos a nossa cultura e somente num dado meio cultural que utilizamos a linguagem. Nos PCNs, além de ética, saúde, meio ambiente e orientação sexual, complementa os temas transversais o item pluralidade cultural, cujo objetivo, segundo estabelecido na apresentação dos temas transversais, volume 8, página 32, está relacionado ao investimento na superação da discriminação e reconhecimento da riqueza etnocultural do país, além do fato de considerar a escola um espaço para diálogo, onde se vivencia e expressa a cultura. No caso de línguas estrangeiras, o tema transversal de pluralidade cultural deve receber um tratamento significativo, pois é inerente ao estudo da língua o estudo de sua cultura, seu processo de formação e demais fatores culturais e sociopolíticos relacionados à língua em questão. É aqui, portanto, que reside a necessidade de se abordar a relevância de conscientizar o professor de línguas da importância de se discutir a pluralidade cultural na sala de aula, principalmente numa época em que a língua inglesa é utilizada hegemonicamente. [...] Em texto de Moita Lopes de 1996, que já havia sido publicado em 1982 na revista Educação e Sociedade da Unicamp, encontramos o resultado de uma pesquisa em que o autor levanta a atitude dos professores de inglês como língua estrangeira no Brasil em relação à cultura inglesa e também a ênfase que o ensino de cultura vinha recebendo nas aulas de língua naquela época. O que o autor constatou foi uma atitude de colonizado e colonizador, e, com base nos resultados, faz uma proposta de reformulação dos conteúdos programáticos das disciplinas na formação do professor de inglês, dentre as quais sinaliza a necessidade de se ressaltar aspectos de cunho político, histórico e social. Posteriormente (LOPES, 2003), o autor retoma a questão, dessa vez, situando o professor de inglês na nova ordem mundial e estabelecendo relações com os PCNs, enfatizando, agora, a importância do posicionamento do sujeito em seu meio sociopolítico. A inserção da cultura no currículo dos cursos de formação de professores de línguas, como podemos verificar, fornece subsídios para que o futuro professor possa ter consciência do contexto em que atua ou pretende atuar, reconhecendo o seu lugar e seu papel social e político, desempenhado através da linguagem.
16 Língua e Cultura Inglesa Atividades 1. Estabeleça as diferenças e as relações entre língua e linguagem. 2. De que forma cultura e linguagem estão relacionadas? 3. Diferencie cultura subjetiva de cultura objetiva.
Língua e cultura 17 4. Como as crenças podem interferir no aprendizado de uma língua estrangeira? 5. Como são construídos os estereótipos?
Gabarito Língua e cultura 1. A diferença entre língua e linguagem está no fato de que a língua compreende o sistema lingüístico organizado utilizado para comunicação. A linguagem pode ser compreendida como uma capacidade humana. Língua e linguagem se relacionam pelo fato de a linguagem ser a língua posta em funcionamento por um usuário. 2. Cultura e linguagem se relacionam porque a linguagem é utilizada para a manifestação da cultura. Cada cultura tem a sua linguagem específica. 3. A cultura subjetiva está relacionada aos elementos produzidos pela sociedade, tais como literatura, música e arte; já a cultura objetiva está relacionada aos elementos de valores abstratos, como crenças. 4. As crenças podem interferir na forma como concebemos a língua estrangeira, seu povo, sua cultura e a maneira como a língua deve ser aprendida, e isso, muitas vezes, pode criar obstáculos ao nosso aprendizado. 5. Os estereótipos são construídos geralmente a partir das imagens que uma cultura tem da outra, com base na observação de seus costumes, sua alimentação, suas vestimentas e todos os demais elementos que permitem fazer generalizações sobre aquele povo.