Comentários e Recursos da prova de Economia e Finanças Públicas para Secretaria da Fazenda do Estado de São Paulo



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Transcrição:

Comentários e Recursos da prova de Economia e Finanças Públicas para Secretaria da Fazenda do Estado de São Paulo Olá, pessoal! Analisando a prova (prova 1, tipo 003), pude concluir que a banca foi bastante justa na cobrança do conteúdo programático por meio das questões, mesclando Micro, Macro e Economia da Tributação (Finanças Públicas). Vou deixar para um segundo momento os comentários sobre todas as questões da prova, me voltando apenas para aquelas questões que poderão ser objeto de recursos, em minha opinião, ou mesmo aquelas que possam estar sendo objeto de questionamentos por parte de vocês. Começo pela questão 84, que está sendo objeto de questionamento por uma série de candidatos: Em relação ao trade-off entre eficiência e equidade na incidência de tributos, considere: I. Um imposto do tipo lump-sum tax, em que os cidadãos pagam o mesmo montante de imposto independentemente de sua renda, é um imposto que influencia negativamente a eficiência alocativa do setor privado da economia. II. Nas chamadas excise taxes, o Governo se afasta, deliberadamente, do objetivo de alterar o mínimo possível os preços relativos da economia, por se tratar de consumo de bens considerados nocivos à saúde pública ou de consumo supérfluo. III. Um imposto progressivo sobre a renda atende melhor ao princípio da equidade vertical na hipótese de que a utilidade marginal da renda seja decrescente. IV. Um imposto proporcional sobre a renda influencia menos as decisões de trabalho versus lazer das pessoas físicas que um imposto progressivo. Está correto o que se afirma APENAS em (A) II, III e IV. (B) I. (C) II e IV.

(D) III e IV. (E) I, II e III. O gabarito preliminar da questão é letra a, a qual considera como correto os itens II, III e IV. A discussão fica por conta do item II, o qual trata o conceito de excise tax. Este tipo de imposto tem o caráter de taxar os bens considerados prejudiciais à saúde. Por sua característica, é considerado seletivo. O site oficial do governo brasileiro destaca, em inglês, o seguinte conceito em referência à excise tax aplicada no caso do Imposto sobre Produtos Industrializados: The IPI is used by government to encourage or discourage the consumption of certain products. Thus, the rates are inversely proportional to the essentiality of the product in the Brazilian market. Therefore, the rates vary from zero (commodities) to 300% (cigarettes), according to the Table of IPI Levy (aka TIPI) approved in 2011. (negrito nosso). O exemplo da imposição do IPI, conforme pode ser inferido do texto acima, uma excise tax tem por essência desestimular o consumo de bens considerados nocivos à saúde da população, ou mesmo de consumo supérfluos, como no caso de um iate. Logicamente que uma tributação diferenciada, positivamente, acaba por modificar os preços relativos dos bens, se afastando da busca, ao menos teórica, do princípio da neutralidade (modificação dos preços relativos). Por fim, cabe considerar que o item ii não restringe (não trata como exclusivo) o uso das excise taxes sobre bens nocivos à saúde ou de bens supérfluos, mas apenas diz que este tipo de taxação é utilizada sobre tais tipos de bens. Assim sendo, acredito que seja possível que a banca mantenha o gabarito preliminar, não alterando para a letra d. Por fim, ressalto a vocês que sempre vale a pena pleitear o recurso. Quem sabe não dá certo?

A segunda questão que pode gerar controvérsia é a 94, novamente por conta da afirmação II que deve ser julgada. Destaco a questão: 94. Considere as seguintes afirmações sobre externalidades negativas e tentativas de soluções públicas e privadas: I. Ocorre uma externalidade negativa quando o benefício marginal da produção de uma unidade adicional de um produto para os consumidores é inferior ao custo marginal de sua produção. II. O teorema de Coase permite concluir que, quando o direito de propriedade é bem especificado, uma negociação entre as partes beneficiadas e prejudicadas pela poluição, cujo custo seja baixo, pode conduzir a um resultado favorável para ambas, sem necessidade de intervenção governamental. III. O estabelecimento de limites máximos para emissões oferece um menor grau de certeza quanto à redução da poluição do que impostos cobrados sobre a emissão de poluentes, quando não há informações seguras sobre os custos a serem acarretados para as empresas por esses controles. IV. Recursos de propriedade comum, como florestas, devem ser diretamente regulados pela iniciativa privada, uma vez que o custo privado de sua exploração é maior que o custo marginal social. Está correto o que se afirma APENAS em (A) III e IV. (B) I e II. (C) I e III. (D) II e III. (E) II e IV. O Teorema de Coase tem o objetivo de reduzir as externalidades geradas nas negociações entre os diversos agentes econômicos presentes num mercado, a partir da definição dos direitos de propriedade de cada um dos envolvidos.

A definição de um resultado favorável para ambas, sem necessidade de intervenção governamental, pode ser entendido com sendo um equilíbrio competitivo eficiente. É nesta linha, inclusive, que aborda BIDERMAN e ARVATE, Economia do Setor Público no Brasil, pág. 22, Campus. 2005, obra que é comumente utilizada pela FCC nas provas que versam sobre Economia da Tributação ou matérias afins. Vejamos: O equilíbrio competitivo é eficiente, desde que os custos de transação sejam baixos e os direitos de propriedade bem definidos, não importando quem tenha esse direito. Dessa forma, a ineficiência gerada pela externalidade desaparece. Esse resultado, bem geral e, portanto, não restrito ao exemplo apresentado, é conhecido na literatura como Teorema de Coase. (negrito nosso) Em suma, acredito que nesta questão a banca acabe por não anular o item II, mantendo como gabarito a letra b. Por fim, temos a questão 99. Vejamos: O multiplicador bancário da economia é função decrescente (A) das reservas bancárias. (B) da taxa de redesconto. (C) da proporção da moeda manual em relação ao total dos meios de pagamento. (D) da proporção da moeda escritural em relação ao total dos meios de pagamento. (E) do papel-moeda em circulação. Essa questão deve provavelmente ser anulada pela FCC. De fato o multiplicador bancário é função decrescente das reservas bancárias, visto que quanto maior forem as necessidades de recolhimentos compulsório por parte dos bancos comerciais junto ao BACEN, menor serão as disponibilidades de recursos para serem emprestados aos agentes econômicos, o que reduzirá o multiplicador. Isto é corroborado Carvalho, F.; Souza, F; Sicsú, J; De Paula, L. F.; Studart, R.. Economia Monetária e Financeira. Teoria e Política. Pág. 20. Campus, 2007:

Em suma, o Banco Central pode controlar a quantidade de meios de pagamento da economia (...) de duas formas isoladamente ou utilizando-as de maneira complementar (...). Em segundo lugar, pode tentar controlar o multiplicador monetário fazendo-o diretamente através da variação do percentual das reservas compulsórias em relação aos depósitos à vista... Destaca-se, de todo modo, que o multiplicador bancária também é diretamente dependente da quantidade de meios de pagamento M1, o qual é formado pelo Papel Moeda em Poder do Público, conhecido como moeda manual, e dos Depósitos à Vista, conhecido como moeda escritural. M1 = PMPP + DV Quanto maior a quantidade de recursos à disposição dos bancos comerciais na forma de depósitos à vista, maior a capacidade de criação de meios de pagamento, visto que mais dinheiro os bancos terão em sua propriedade. Vejamos o que destaca Carvalho, F.; Souza, F; Sicsú, J; De Paula, L. F.; Studart, R.. Economia Monetária e Financeira. Teoria e Política. Pág. 19. Campus, 2007: Quando a quantidade de depósitos à vistaem relação ao total de meios de pagamento é aumentada, (...), maior será o multiplicador (α) (multiplicador dos meios de pagamento). Isto pode ocorrer quando, por exemplo, os bancos comerciais adotam políticas de crédito mais agressivas. Com base no descrito acima, fica claro que se o multiplicador bancário é uma função crescente da proporção entre moeda escritural e meios de pagamento, será uma função decrescente da proporção entre moeda manual e meios de pagamento. Assim sendo, solicita-se a anulação da referida questão, visto existirem duas assertivas corretas. Espero que estes esclarecimentos ajudem vocês na proposição de recursos para a prova. Boa sorte a todos (todas)! Mariotti