Uso de Substâncias Psicoativas X Direção Veicular ALOISIO ANDRADE Psiquiatra e Homeopata XI Jornada Mineira de Medicina de Tráfego Belo Horizonte - MG 18 e 19/07/2014
I-Dados Estatísticos - O Brasil ocupa o 5 lugar do Ranking mundial de acidentes de trânsito, após Índia, China, EUA e Rússia. É sabido que, entre outras causas, a utilização do álcool e outras drogas é dos principais fatores associados a essas ocorrências, em situações onde foi possível mensurar a concentração sanguínea de substâncias psicoativas dos acidentados.
- As taxas de mortalidade por acidente de transito são mais altas em países de baixa renda (21,5 por 100 mil/hab) e média renda (19,5 por 100 mil/hab); nos países com renda alta esta taxa cai para (10,3 por 100 mil/hab). Mais de 90% das mortes no trânsito ocorrem em países pobres ou em desenvolvimento, que possuem 48% da frota mundial de veículos.
- No Brasil, cerca de 60 mil pessoas morrem e 180 mil permanecem com seqüelas irreversíveis, a cada ano, em conseqüência de acidentes de trânsito. Em 2007, o Brasil atingiu um pico histórico, com 66.837 mortes no trânsito, correspondendo a uma média de 183 mortes por dia.
- Segundo dados do Relatório Mundial da OMS sobre segurança no tráfego, publicado em 2009, mais de um milhão e duzentas mil pessoas morrem todos os anos nas estradas dos mais diversos países, sendo que entre 20 e 50 milhões sofrem traumatismo não fatais.
- Sessenta e dois por cento dessas mortes ocorrem em 10 países, pela ordem: Índia, China, EUA, Rússia, Brasil, Irã, México, Indonésia, África do Sul e Egito, países que juntos englobam 66% da população mundial.
- O mesmo relatório sugere que não é feito tudo que poderia ser realizado para diminuir o número de acidentes de trânsito com vítimas.
- Apenas 29% dos países apresenta legislação exigindo redução de velocidade em zonas urbanas; menos de 10% dos países consideram aplicação dos seus limites de velocidade como eficazes; 44% dos países não tem políticas que incentivam a utilização de transportes públicos; a restrição ao uso de substâncias psicoativas ao volante limita-se a pesquisa da presença do álcool o que é feito em 15% dos países pesquisados.
II- O uso de Álcool e outras Drogas no Trânsito - Dirigir sob a efeito de álcool ou outras drogas é considerado comportamento de risco, visto que essas substâncias alteram o entendimento de situações cotidianas e a percepção do que acontece ao redor do condutor (De Boni, 2007; Thielen, Hartmann,2007).
- As pesquisas mostram (Hingson 2003) que dirigir sob o efeito de álcool pode aumentar em quatro vezes o risco de uma pessoa se envolver em um acidente no trânsito, quando sua alcoolemia varia entre 0,5 e 0,9 g/dl. Vale ressaltar que qualquer quantidade de álcool ou de outras substâncias psicoativas afetam os reflexos interferindo em maior ou menor grau na capacidade de discernimento do condutor.
- Também está demonstrado que tanto o álcool quanto outras substâncias psicoativas afetam a capacidade de conduzir um veiculo não apenas no momento que são usadas, mas também produzindo efeitos residuais no pós uso (Ponce e Leyton; 2008, Rozertraten,1988).
- Mais de 90% dos países tem uma lei nacional sobre beber e dirigir, mas somente 49% estipulam um limite de alcoolemia igual ou inferior a 5dg/L (0,25mg/L no bafômetro).
- De acordo com a OMS, o risco de acidente de trânsito aumenta muito à medida que a alcoolemia aumenta: uma alcoolemia de 0,4dg/L no bafômetro representa um risco 140 vezes maior que uma alcoolemia zero.
-Vejamos os limites legais de concentração de álcool no sangue nos diversos países (dg/l)
-Substâncias psicoativas como maconha, benzodiazepínicos, derivados da coca, opióides e anfetaminas são, além do álcool, as mais frequentemente encontradas nos motoristas que após se acidentarem tiveram suas concentrações sanguíneas de substâncias que atuam no sistema nervoso central medidas.
- A legislação na imensa maioria dos países, fica restrita à pesquisa da presença do álcool. Isso acontece, pelas limitações da tecnologia atual em detectar o uso destas drogas de forma rápida e eficiente e também porque os exames rápidos são positivos ou negativos, ficando difícil estabelecer um ponto de corte como há para o álcool.
III- Consumo de Álcool e outras Drogas entre Motoristas Brasileiros - O Brasil foi o líder mundial em acidentes de transito nas estradas de acordo com dados da Policia Rodoviária Federal em 2008. Na ultima década, apesar dos diversos esforços e das medidas de prevenção tomadas em nível nacional, não houve redução no número de acidentes.
- O índice de óbitos por cada 1000 KM de rodovias é de 3,3 no Canadá 6,5 nos EUA, 10 na Itália e 106 mortos no Brasil. Como, resultado desse numero impactante, o Brasil domina o Ranking Mundial de gastos com acidentes de trânsito nas unidades de emergência em termos individuais e macroeconômicos.
- Desde a implementação do Código de Trânsito Brasileiro em 1997, houveram reduções pouco significativas do comportamento de beber e dirigir em avaliações feita por vários pesquisadores (Leyton, Ponce, Andreuccetti,2009).
-De acordo com Rozestraten (1988), Fleischfresser (2005) e Soares (2007), 80% dos acidentes são causados pelo fator humano, onde dirigir sob o efeito do álcool e outras drogas e o excesso de velocidade são fatores preponderantes.
IV- Custos advindos de gastos hospitalares, danos materiais e perdas de produtividade - Estudos do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), o custo de acidentes fatais do trânsito nos centros urbanos variam de 5% a 7% do Produto Interno Bruto (PIB) pois em sua maioria os mortos são jovens do sexo masculino pertencentes à População Economicamente Ativa.
- Considerando que o PIB de 2014 está estimado em R$ 5,2 trilhões pelo Orçamento da União, a conta dessas mortes no trânsito vai de R$260 bilhões a R$364 bilhões.
- Dados consolidados mostram que em 2012 o número de mortes no trânsito no Brasil foi de 46.000 pessoas. Completados 5 anos da Lei Seca no país, os esforços para diminuição do número de acidentes/mortes foi neutralizado pelo aumento da frota de veículos entre 2003 a 2013 que aumentou 125%, passando de 36 milhões para 81 milhões de veículos, sendo que neste período a população brasileira cresceu 14%.
- Levantamento feito pela Secretaria de Políticas da Previdência Social no ano passado revelou que os acidentes de trânsito representam uma despesa anual de R$ 12 bilhões de reais para pagamento de benefícios por invalidez permanente.
- Cabe lembrar que a cada dia, cerca de 1217 pessoas se tornam vitimas de invalidez permanente causada por acidente de trânsito em todo o país.
V- Consumo de álcool e drogas entre motoristas particulares e profissionais do Brasil - Estudo coordenado pelo Professor Flávio Pechansky da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, realizado em 2010 nos trouxe os primeiros índices estatísticos confiáveis sobre a porcentagem de consumo de álcool e outras drogas entre motoristas em geral.
- Foi realizado um estudo transversal utilizando postos da Policia Federal para a coleta da saliva de motociclistas, caminhoneiros, motoristas de ônibus e motoristas particulares, no perímetro das regiões metropolitanas das 26 capitais dos estados brasileiros e do Distrito Federal.
- Foram pesquisados 3.388 condutores que participaram do estudo mediante Termo escrito de Consentimento Livre, assinado antes da coleta da saliva.
- Do total de motoristas que relataram ter bebido no dia em que a coleta estava sendo realizada as proporções foram: carros - 14,1%, motos -14,6% e motoristas de caminhões e ônibus relataram proporção bem menores 9,6% e 2,4% respectivamente.
- Nos achados de alcoolemia positiva, de acordo com teste de bafômetro a taxa de alcoolemia encontrada acima de 0 foi bem semelhante entre motoristas de carros (4,5%) motos (4,8%) e caminhões (4,9%) e mais baixa ainda nos motoristas de ônibus (1,2%).
- Os dados relativos a positividade para outras drogas que não o álcool, foram pesquisadas na saliva em 1158 condutores e mostrou na analise confirmada da saliva positiva o seguinte resultado.
- Com relação ao tipo de substância usada pelos motoristas, dos diversos veículos a pesquisa mostra diferenças significativas entre a substância mais frequentemente usada e o perfil profissional do motorista, assim como o tipo de veiculo conduzido.