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Orientadora: Profª Drª Telma Ferraz Leal. 1 Programa de Pós-Graduação em Educação da UFPE.

Transcrição:

CULTURAS INFANTIS E SABERES: CAMINHOS RECOMPOSTOS SANTOS, Solange Estanislau dos FCT/UNESP GT: Educação de Crianças de 0 a 6 anos/ n.07 Agência Financiadora: CAPES Este artigo pretende divulgar os resultados preliminares da pesquisa de mestrado que problematiza os conceitos de culturas infantis e identidades infantis articulados aos conceitos de criança e infância veiculados nos trabalhos da ANPED (Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação), mais especificamente, no grupo de trabalho Educação da criança de 0 a 6 anos GT 7 1. Os procedimentos metodológicos de análise desse tipo específico de base documental supõem levantamento do conjunto de textos, sua seleção e classificação. Em uma primeira instância, a partir da distinção, em seu conteúdo, de temas, problemas e abordagens teóricas de análise. Os procedimentos que constroem e configuram cada texto podem ser distinguidos a partir das respostas às seguintes questões: O que se fala? Quem fala? Para quem, como e por quê? A identificação dos produtores dos textos, de seus interlocutores e destinatários é um exercício para se proceder à análise do processo dialógico da produção social desses saberes. Este trabalho permite adentrar ao campo de disputas teóricas, identificando quais são os principais interlocutores de cada autor, com quem se concorda e de quem se discorda, o que se quer afirmar e o que se quer negar. Para isso, privilegia-se a observação dos procedimentos argumentativos, na produção de significados e na afirmação de sua relevância, com o exame das formas explícitas e implícitas de afirmar/negar determinadas explicações. Essa prática de análise se aproxima dos estudos em que os discursos são concebidos como sendo produzidos num processo de diferenciação interna (negação e afirmação, no interior de cada pólo ou elemento destacado) e também a partir de lacunas presentes nas análises. Tais diferenciações, ainda, devem ser vistas como formas de intervenção social e política. A questão inicial que originou este trabalho foi a preocupação em torno de quais conceitos de criança e infância estavam sendo veiculados nas pesquisas educacionais e, conseqüentemente, abordados e discutidos nos cursos de 1 Essa pesquisa toma as mesmas fontes utilizadas por Rocha (1999) em sua pesquisa de doutorado intitulada: A pesquisa em educação infantil no Brasil trajetória recente e perspectivas de consolidação de uma pedagogia.diferencia-se, portanto, quanto a temática abordada; ao recorte cronológico e ao uso de fontes restritas ao GT 7 da ANPED.

2 formação de professores e quais seriam suas implicações na prática pedagógica escolar com crianças 2. A partir daí propomos uma investigação que inicie uma discussão sobre as apropriações e usos dos conceitos de identidade(s) e cultura(s) que estão sendo feitos nos estudos sobre a educação da criança ou da infância. Quais seriam os significados e fundamentos teóricos implícitos nos conceitos de cultura(s) infantil(is) e identidade(s) infantil(is)? O que propõem para a prática pedagógica com crianças de 0 a 6 anos? Recentemente, emergem na literatura científica e acadêmica, publicada e divulgada entre os pesquisadores brasileiros, várias referências a essa questão. São estudos que avançam em discussões sobre o tema da cultura infantil. Entre eles, podemos destacar: Faria et al. (2002); Kramer, Leite (1998); Sarmento (2002, 2003); Cerisara (2002); Rocha (1999); Quinteiro (2001). Cada um desses autores, apesar de possíveis convergências conceituais, privilegia explicações diversas e aponta propostas e críticas específicas, para se pensar o tema em evidência: cultura(s) e identidade(s) infantil(is). Na perspectiva de Sarmento, essas culturas da infância não se reduzem a elementos lingüísticos, antes integram elementos materiais, ritos, artefatos, disposições cerimoniais e também normas e valores (MOLLO-BOUVIER, 1998, apud SARMENTO, 2002). Esse autor traz uma discussão particular para a abordagem do tema, ao afirmar que, para se estudar as culturas da infância, é preciso interpretar a sua autonomia em relação aos adultos, pois considera que [...] seria desajustado compreender as culturas da infância desligadas das interacções com o mundo dos adultos, essas culturas transportam as marcas dos tempos, exprimem a sociedade e suas contradições, nos seus estratos e na sua complexidade [...] realizam-se freqüentemente por oposição e numa atitude de contraponto crítico ao projecto educacional (SARMENTO, 2003). Sarmento enfatiza, porém, que é preciso levar em consideração que existem formas especificamente infantis de simbolizar e interpretar o mundo, as quais, como 2 Inicialmente realizamos uma pesquisa de iniciação científica intitulada O conceito de infância e o trabalho pedagógico escolar. Foram levantados os textos de trabalhos completos apresentados nesse GT7- Educação da criança de 0 a 6 anos, no período 1998-2002, analisando-se os temas e problemas mais recorrentemente abordados.

3 [...] dimensões relacionais, constituem-se nas interações de pares das crianças com os adultos, estruturando-se nessas relações formas e conteúdos representacionais distintos [que ] imprimem a cultura societal em que se inserem [...] ao mesmo tempo que veiculam formas especificamente infantis de inteligibilidade, representação e simbolização do mundo (SARMENTO,2003). Para Quinteiro (2002), pouco se conhece sobre as culturas infantis porque pouco se ouve e pouco se pergunta às crianças e, ainda assim, quando isto acontece, a fala apresenta-se solta no texto, intacta, à margem das interpretações e análises dos pesquisadores (p. 21, grifo da autora). Essas questões instigam a discussão sobre o modo como, no Brasil, tal debate está sendo realizado na área da educação. A incidência do uso dos conceitos culturas infantis e identidades infantis, nos estudos apresentados na ANPED, fazem parte de um debate e movimento teórico mais amplo que perpassa os vários campos do saber, no mundo contemporâneo. Temos conhecimento do livro organizado por Faria, Demartini & Prado (2002), intitulado: Por uma cultura da infância: metodologias de pesquisa com crianças, no qual as autoras também levantam algumas questões que impulsionaram os estudos ali publicados, quais sejam: [...] o que as crianças das diferentes idades, ocupando diferentes espaços na esfera pública têm produzido? saberes? emoções? transgressões? rebeldias? submissão? como são as relações de poder? e as relações de gênero nesta fase da vida? e o conflito de classes? e as diferenças étnicas? como se dá o confronto entre diferentes crianças já que é esta a única forma de convívio das diferenças? será que é verdade que as crianças sempre imitam os adultos? quando imitam? por que e como? o que elas estão formulando de diferente? do que estão sendo impedidas de inovar? de re-criar? de inventar? o que as crianças têm feito ao longo da história, continuamente e até mesmo repetitivamente, que os adultos ainda não conseguem entender? (p.viii). Essas são as principais questões que conseguimos levantar até o presente momento da pesquisa, visando a acompanhar o que autores reconhecidos no estudo sobre a educação de crianças, a chamada educação infantil, estão propondo para direcionar suas pesquisas. Mas por que, só agora, tais compreensões e interpretações sobre a diversidade de crianças e a heterogeneidade do chamado mundo infantil passam a ser mais reconhecidas ou enfatizadas?

4 Tal discussão faz parte das transformações nos paradigmas teóricos mais gerais, que atingem todas as áreas do conhecimento, no mundo contemporâneo, com ênfase no movimento teórico chamado virada cultural. Os estudos culturais, com suas diversas tendências teóricas, fazem parte desse movimento que transcende tanto os espaços disciplinares, como os territórios nacionais e se fortalece e ganha relevância através de práticas organizacionais institucionais tais como, por exemplo, a ANPED. Trabalhando os dados Inicialmente, realizamos um levantamento quantitativo dos dados, com o objetivo de rastear, quantificar e identificar onde, quanto, como e de que forma os temas criança e infância aparecem no âmbito dos trabalhos apresentados nos Congressos da ANPED, como um todo, e, particularmente, no GT7. Após levantarmos a quantidade de trabalhos apresentados em todos os GTs da ANPED, no período estudado, realizamos um levantamento de quantos e quais seriam aqueles em cujos títulos apareciam os termos infância, criança ou substantivos ligados ao adjetivo infantil. Temos, portanto, um conjunto de 72 pesquisas apresentadas nos seus 21 GTs, o que representa cerca de 4,43% do total dos trabalhos expostos nas modalidades, pôster e oral, nos cinco anos referidos. Podemos destacar o GT 16 Educação e Comunicação como aquele que mais abrangeu a temática da infância, trazendo em 2004, aproximadamente 26% de seus trabalhos. Em relação ao GT 7, foram apresentados 102 textos relativos a trabalhos orais, pôsteres, encomendados, completos, excedentes, sessões especiais e mini-cursos. Dessa totalidade, aproximadamente 80% são de pesquisadores oriundos das regiões sul e sudeste do país, sendo cerca de 29% da Universidade Federal de Santa Catarina. Nota-se, portanto, uma concentração geográfica das pesquisas sobre a infância e sua educação num espaço de divulgação acadêmico-científico considerado de âmbito nacional: parece que a educação de crianças só é pensada e discutida neste lado de cá do país? Outro dado importante, é que a maioria das pesquisas é de caráter qualitativa acompanhada de trabalho de campo, são estudos de caso utilizando a observação; pesquisa-ação seguidas de um projeto de intervenção, pesquisas etnográficas etc. O fato é que um número significativo dos trabalhos apresentados no GT7 da ANPED, no período referido, tratam de problemáticas relacionadas ora ao sistema de ensino de seu estado ora a uma ou duas creches de sua cidade. Trata-se,

5 portanto, de estudos dirigidos às crianças de um determinado local, nesse caso, as crianças mais estudadas, ou pelo menos os estudos sobre as crianças que estão sendo amplamente divulgados, são sobre as crianças das regiões sul e sudeste do país. Há, dessa forma, uma parcela da população infantil que não está sendo vista, pensada e estudada, ou então, estas pesquisas não estão sendo notadamente divulgadas. Já é possível notar que o conceito de culturas infantis tem sido uma categoria central nos trabalhos apresentados nestes últimos anos, evidenciando-se as abordagens e perspectivas teóricas da sociologia da infância e dos estudos pósculturais. São caminhos teóricos que se compõem e recompõem a partir de múltiplas formas de distanciamento e de aproximações, de rupturas e recomposições teóricas, as quais indicam para a fertilidade que ocorre, hoje, no campo dos estudos sobre a infância, suas identidades e culturas. Referências Bibliográficas COSTA, M. V.; SILVEIRA, R. H.; SOMMER, L. H. Estudos Culturais, educação e pedagogia. In: Revista Brasileira de Educação, n.23, p. 36-61, maio/jun/jul/ago 2003 (Número especial). DEMARTINI, Z. B. F.; FARIA, A.L.G.; PRADO, P.D. (Org.) Por uma cultura da infância: metodologias de pesquisa com crianças. Campinas, SP: Autores Associados, 2002. QUINTEIRO, J. Infância e educação no Brasil: um campo de estudos em construção. In: DEMARTINI, Z. B. F.; FARIA, A.L.G.; PRADO, P.D. (Org.) Por uma cultura da infância: metodologias de pesquisa com crianças. Campinas, SP: Autores Associados, 2002. ROCHA, E. C. A educação infantil no Brasil: trajetória recente e perspectiva de consolidação de uma Pedagogia da Educação Infantil. Florianópolis: NUP/UFSC,1999. SARMENTO, M. J. Imaginário e culturas da infância, 2002 (mimeo).. As culturas da infância nas encruzilhadas da 2ª modernidade, 2003, (mimeo). ESQUEMA DO POSTER TÍTULO

6 APRESENTAÇÃO AUTOR INSTITUIÇÃO OBJETIVOS METODOLOGIA REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS RESULTADOS E DISCUSSÃO