TRABALHO E SAÚDE DO TRABALHADOR DE ENFERMAGEM. Palavras-chave: saúde; trabalhador de enfermagem; riscos ocupacionais.



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Transcrição:

TRABALHO E SAÚDE DO TRABALHADOR DE ENFERMAGEM Rachel de Sá Barreto Luna Callou Cruz Martha Maria Macedo Bezerra 1 Elisabeth Alves Silva Resumo Saúde do trabalhador refere-se ao campo do conhecimento que objetiva a compreensão das relações entre trabalho e o processo saúde-doença; nesse enfoque, a abordagem à temática e sua propagação entre os profissionais da enfermagem mostram-se frágeis e superficiais, diante da magnitude de riscos biológicos, físicos, químicos, fisiológicos e psíquicos que estão expostos estes profissionais, nos debruçamos sobre essa temática a fim de mostrarmos a relevância e necessidade de difusão desses conhecimentos para os graduandos e profissionais de enfermagem, objetivando promover nesses o desejo de fazerem parte desta mudança, seja exigindo seus direitos, alertando outros profissionais para tal ou realizando novas pesquisas nesta temática. Nessa perspectiva cooperamos com uma pesquisa bibliográfica, com dados coletados no LILACS, MEDLINE, SciELO, Ministério da Saúde e vias impressas, em junho e julho de 2011. Conclui-se que para que haja melhoria da saúde do profissional é preciso um esforço mútuo dos profissionais como da instituição, tendo em vista à produtividade e qualidade da assistência. Palavras-chave: saúde; trabalhador de enfermagem; riscos ocupacionais. INTRODUÇÃO A denominação saúde do trabalhador refere-se a um campo do conhecimento que objetiva a compreensão das relações entre trabalho e o processo saúde-doença. Contudo, ainda não se despertou o olhar necessário para percepção da saúde do trabalhador de enfermagem e sua consequente qualidade de vida, exatamente o profissional incumbido de cuidar (juntamente com a equipe multidisciplinar) da saúde ocupacional dos demais trabalhadores; fato esse explicitado pelas diminutas estratégias assistenciais voltadas a esse público alvo. A necessidade do enfoque especial dada à qualidade de vida e saúde do trabalhador de enfermagem reside no fato desse profissional dentro da equipe de saúde ser o mais exposto a riscos ocupacionais, por seu maior contato com o paciente, maior sobrecarga de trabalho, além do acúmulo de funções domésticas (dupla jornada de trabalho, por ser a enfermagem uma profissão primordialmente feminina). Agravando esses fatos, é sabido que trabalhadores geralmente ingressam no mercado de trabalho sem ter a noção apropriada das rotinas e 1 Universidade Estadual do Ceará UECE Email dblf@ig.com.br

2 cuidados intrinsecamente relacionados a sua profissão como membro da equipe de enfermagem, para evitarem sua exposição a riscos e seus conseqüentes problemas de saúde. Mesmo ciente dessa realidade, a maioria das instituições não oferece ao profissional nenhum treinamento, orientação ou informações preventivas sobre esses riscos. A preocupação com um dos atores principais dos serviços de saúde, o trabalhador de saúde e particularmente da Enfermagem, ainda é recente: No Brasil somente a partir de 1.940 surgiram as primeiras inquietações com os problemas ocupacionais. Nesse ano foi fundada a Associação de Prevenção de Acidentes de Trabalho. E em 1.943 entrava em vigor a Consolidação das Leis Trabalhistas-CLT (CARVALHO, 2001, p.20-21). Em 8 de junho de 1.978, o Ministério do Trabalho aprovou a Portaria 3.214 que criou 28 Normas Regulamentadoras (NRs) que orientam as obrigações das empresas em relação ao trabalho (CARVALHO, 2001, p.20-21). Esse trabalho se justifica devido a quebra do paradigma biomédico, onde saúde não é só ausência de doença, mas o completo bem estar físico, psíquico, econômico, social e espiritual. Para que se atinja uma qualidade de vida em nível aceitável é preciso incluir no conceito biomédico de saúde as esferas das relações interpessoais, estilo de vida pessoal e experiências pessoais prévias. Sendo possível, desse modo, a graduação da qualidade de vida do indivíduo ou grupo social (SOUTO, 2004). Baseado nesse enfoque, a qualidade de vida passou a ser tema de debates e reivindicações nas estratégias de saúde públicas, tendo em vista que A saúde pública é a ciência e a arte de promover, proteger e recuperar a saúde física e mental por meio de medidas de alcance coletivo e de motivação da população (CARVALHO, 2001, p.25), considerando-a um direito de qualquer cidadão, inclusive do trabalhador da equipe de Enfermagem. Entusiasmadas por essa percepção da saúde do trabalhador de Enfermagem como faceta indispensável da saúde pública fomos motivadas pela professora da disciplina de Administração I, do curso de Enfermagem da Universidade Regional do Cariri, a nos debruçarmos sobre essa temática a fim de mostrarmos sua relevância e necessidade de difusão desses conhecimentos para os graduandos e profissionais de enfermagem, objetivando fomentar nesses o desejo de fazerem parte desta mudança, seja exigindo seus direitos, alertando outros profissionais a tal intento ou realizando novas pesquisas nesta temática. OBJETIVOS Objetivo Geral

3 Discutir e promover uma reflexão sobre os fatores relevantes para a qualidade de vida e saúde do trabalhador de Enfermagem. Objetivos específicos - Analisar os fatores e processos relacionados diretamente com a qualidade de vida e saúde do trabalhador de Enfermagem; - Conhecer os riscos ocupacionais da Enfermagem. METODOLOGIA Esta investigação caracterizou-se como pesquisa narrativa, cuja coleta de dados foi realizada nas bases de dados LILACS, MEDLINE, SciELO, Ministério da Saúde e vias nãodigitais, no período de junho e julho de 2010. Para tanto, utilizaram-se os descritores "saúde de trabalhador, saúde de trabalhador de enfermagem, qualidade de vida da equipe de enfermagem" (para a língua portuguesa). Como critérios de inclusão elegeram-se publicações em português na forma de artigos (ensaio, revisão, pesquisa, relato de experiência e estudo de caso), independentemente da formação profissional do autor, publicadas a partir de 2000. A avaliação inicial do material bibliográfico ocorreu mediante a leitura dos resumos, com a finalidade de selecionar aqueles que atendiam aos objetivos do estudo. De posse dos artigos completos, passou-se à etapa seguinte, ou seja, leitura minuciosa, na íntegra, de cada artigo, visando ordenar e sistematizar as informações necessárias para a construção da pesquisa bibliográfica atendendo aos objetivos especificados. RESULTADOS E DISCUSSÃO Com o advento da progressiva e constante industrialização houve um demasiado aumento da exposição de trabalhadores a riscos. Com os trabalhadores da saúde, em particular a equipe de Enfermagem, o processo não se deu diferentemente; esses são cada vez mais expostos a diversidade de riscos: biológico, físico, químico, mecânico, fisiológico e psíquico; com intensidade e gravidade de acordo com atuação profissional. Para que tais riscos não impossibilitassem o desenvolvimento das ciências biológicas de forma sustentável social-economicamente, mas para que pudessem ser antecipados e prevenidos, houve preciosa contribuição da higiene ocupacional objetivando proporcionar ambientes de trabalho salubres, proteger e promover a saúde dos trabalhadores, proteger o

4 meio ambiente e contribuir para um desenvolvimento sócio-econômico sustentável através da antecipação, reconhecimento, avaliação e controle de riscos (CARVALHO, 2001). Entende-se por risco biológico a exposição ou probabilidade dessa à agentes biológicos, formas vivas ou produtos e substâncias orgânicas presentes nos postos de trabalho e que podem provocar efeitos negativos na saúde dos trabalhadores, tais como processos infecciosos, tóxicos ou alérgicos (CARVALHO, 2001). Nessa percepção, a enfermagem é uma das principais profissões expostas à carga biológica (SOUZA et al, 2008), seja por representarem a grande massa de trabalhadores nas instituições de saúde, pelo maior contato com o cliente ou pelo maior número de procedimentos realizados na unidade. Entretanto, é importante salientar a demasiada subnotificação de acidentes de trabalho, evidenciando que possivelmente as vítimas não receberam cuidados imediatos que pudessem reduzir uma possível soroconversão para algumas infecções e não tiveram abonos trabalhistas devido ao acidente, já que não preencheram a CAT (Comunicação de Acidente de Trabalho), mesmo o acidente com exposição a material biológico sendo considerado um agravo de notificação compulsória pelo Ministério da Saúde (BRASIL, 2004 b). Na prática profissional essa exposição à carga biológica dá-se pelo contato com pacientes portadores de doenças infecto-contagiosas ou parasitárias e/ou suas secreções, objetos contaminados e até mesmo com animais (insetos, por exemplo) presentes na instituição (FELLI; TRONCHIN,2005). Os que mais se acidentam com material contaminado biologicamente são os auxiliares de Enfermagem, através do contato com as mãos, sendo o reencape de agulhas o propiciador de acidentes mais gritantes numericamente, além, do não uso dos EPI (Equipamento de Proteção Individual). Contudo, há acidentes frequentes também no descarte de bisturis, punções venosas, coletas de exames e administração de medicamentos (BRASIL, 2004 a). O risco físico é caracterizado por agentes que se apresentam sob forma de energia, possuem materialidade dissociada do corpo humano, passíveis de detecção e mensuração: ruídos (provenientes de ar-condicionado, instrumentos de trabalho, trânsito de pessoas e reformas estruturais na instituição); temperatura (alterações bruscas entre calor e frio, umidade relativa); radiações ionizantes (α, β, γ, nêutrons, raios X) e não ionizantes (radiação laser); vibração; eletricidade e riscos de incêndio (FELLI; TRONCHIN, 2005). É importante observar que parte das instituições não se enquadrada nos limites de tolerância (LT) ou Limites de Exposição Ocupacional (LEO) ditados pelo governo federal. Entenda-se por LT ou LEO [...] concentrações de agentes químicos ou intensidade de

5 agentes físicos presentes no ambiente de trabalho, sob os quais trabalhadores podem ficar expostos durante toda a vida laboral, sem sofrer efeitos adversos à sua saúde (CARVALHO, 2001). Os riscos químicos são encontrados na forma sólida, líquida e gasosa e classificam-se em: poeiras, fumos, névoas, gases, vapores, neblinas e substâncias, compostos e produtos químicos, em geral, dispersos no ar. Já o risco mecânico vitima o profissional quando esse manipula perfurocortantes, sofre quedas no ambiente de trabalho ou tem dedos e mãos presos e lesionados por algum objeto. Tal risco é um dos mais reconhecidos pelos leigos como acidentes de trabalho, pois são evidenciados por lesões físicas no organismo (FELLI; TRONCHIN, 2005). O risco fisiológico decorre das próprias condições de trabalho da enfermagem, que implicam em multiplicidade de funções repetitivas, ritmo intenso e excessivo de trabalho, esforços físicos desgastantes (peso excessivo), longas jornadas de trabalho, monotonia, posições incômodas e antiergonômicas, trabalho em turnos exaustivos, rodízios e separação do trabalho intelectual e manual (BARBOSA; FIGUEREDO; PAES, 2009). Na exposição a cargas fisiológicas é perceptível o sobrepeso ao transportar pacientes e ao manter-se em postura inadequada e incômoda para protegê-lo e pô-lo em posição adequada, e ao trabalhar longamente de pé. A exposição prolongada e constante a essas cargas pode causar doenças osteoarticulares com limitações físicas (RIBEIRO; SHIMIZU, 2007). Presume-se que os técnicos e auxiliares são os profissionais que durante a jornada de trabalho estão mais expostos a riscos devido à caracterização de suas atividades como a promoção da higiene e conforto do paciente, organização do ambiente de trabalho, controle de materiais, desprezo de urina, drenagens e secreções de frascos coletores. O risco psíquico resulta da atenção constante do trabalhador; da supervisão rigorosa; do ritmo acelerado, do trabalho parcelado monótono e repetitivo; da dificuldade na comunicação; do trabalho predominantemente feminino; da desarticulação de defesas coletivas; da agressão psíquica; da fadiga, tensão, estresse; da insatisfação e das situações que conduzem ao consumo de álcool e drogas (FELLI; TRONCHIN, 2005). A exposição às cargas psíquicas é a mais referida pela equipe de enfermagem e está relacionada ao objeto de trabalho - humano, que sofre, sente dor e morre, que os envolve em situações estressantes de sofrimento e tensão e, como também, às formas de organização desse trabalho, supervisão, falta de autonomia, baixos salários e duplicidade de empregos situações essas que aumentam a carga psíquica do profissional.

6 Evidencia-se também que a organização do trabalho da equipe de Enfermagem tem um ritmo muito acelerado e um trabalho desgastante, imposto pela escassez ou má distribuição de trabalhadores, que acaba por não permitir os seguimentos das normas trabalhistas como, por exemplo, a falta do descanso no decorrer da jornada, sobrecarregando ainda mais o profissional que acaba atuando de maneira insatisfatória. Os profissionais de enfermagem são confrontados cotidianamente com situações que exigem vigilância, controle, avaliação, interação em diferentes níveis, gestão de um grande volume de informação e múltiplos eventos (NEUMMAN, 2006, p.15). Os diversos problemas e dificuldades frente às condições laborais da equipe de enfermagem levaram-nos a refletir na relação dialógica entre cuidar e ser cuidado: de um lado, encontrava-se o paciente que necessitava de assistência pela equipe de forma integral, nas suas necessidades bio-psico-sócioespirituais; de outro, encontravam-se os profissionais que também deveriam ser vistos na integralidade de suas necessidades. Segundo nosso entendimento, é necessário que o profissional de enfermagem também se sinta cuidado para melhor cuidar (NEUMMAN, 2006, p.15). Diante da percepção da demasiada exposição a riscos que os profissionais de enfermagem e os demais da área de saúde estão submetidos surgiram órgãos especializados em proteger a saúde desses trabalhadores. Por volta da década de 70, eram alarmantes os índices de acidentes de trabalho, desse modo impulsionado pela pressão estrangeira, inclusive do Banco Mundial (sob ameaças de suspensão de empréstimos), houve a regularização do artigo 164 no dia 27 de julho de 1972 pelo ministro do trabalho Júlio Barata, que também publicou as portarias 3.236 (formação técnica em segurança e medicina do trabalho) e 3.237 (regulamentação do artigo 164 da CLT, dispondo sobre a CIPA e SESMT); fazendo com que o Brasil fosse o primeiro país a ter um serviço obrigatório de segurança e medicina do trabalho (MAPEL JUNIOR, 2008). O SESMT (Serviço Especializado em Engenharia de Segurança e Medicina do Trabalho) objetiva a promoção e proteção à integridade do trabalhador no seu local de trabalho, constituindo-se em instrumento que os trabalhadores e as empresas dispõem para tratar da prevenção de acidentes e das condições do ambiente de trabalho. Esses órgãos protegem a integridade física do trabalhador de todos os aspectos que potencialmente podem afetar sua saúde. É obrigatória sua manutenção em empresas nas quais os empregados mantenham vínculos regidos pela Consolidação das leis trabalhistas (CLT) de acordo com riscos da tarefa e número de empregados, quer sejam públicas ou privadas (CARVALHO, 2001); além da obrigatoriedade de ser registrado na regional do Ministério do Trabalho. É regulamentado pela portaria nº 3.214, de 8 de junho de 1978, norma regulamentadora NR 04.

7 Toda empresa com mais de 20 funcionários está obrigada, por lei, a manter uma comissão de funcionários, responsável pelas discussões e deliberações de assuntos relacionados com a segurança do trabalho, saúde ocupacional e estruturas físicas da empresa, sempre objetivando a preservação da vida e saúde dos funcionários no desempenho de suas funções, ou seja, uma CIPA (Comissão Interna de Prevenção de Acidentes) composta de representantes do empregador e dos empregados, cujo mandato dos membros eleitos tenha a duração de um ano, permitindo-se uma reeleição. O PPRA (Programa de Prevenção de Riscos Ambientais), cuja obrigatoriedade foi estabelecida pela NR 09 da portaria 3214/78, apesar de seu caráter multidisciplinar, é considerado essencialmente um programa de higiene ocupacional que deve ser implementado nas empresas de forma articulada com um programa médico o PCMSO (Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional). Todas as empresas, independente do número de empregados ou do grau de risco de suas atividades, estão obrigadas a elaborar e implementar o PPRA, que tem como objetivo a prevenção e o controle da exposição ocupacional aos riscos ambientais, isto é, a prevenção e o controle dos riscos químicos, físicos e biológicos presentes nos locais de trabalho (PENA, 2000). A elaboração, implementação e avaliação do PPRA podem ser feitas por qualquer pessoa, ou equipe de pessoas que, a critério do empregador, sejam capazes de desenvolver o disposto na norma. Além disso, cabe à própria empresa estabelecer as estratégias e as metodologias que serão utilizadas para o desenvolvimento das ações, bem como a forma de registro, manutenção e divulgação dos dados gerados no desenvolvimento do programa. O PCMSO cuja obrigatoriedade foi estabelecida pela NR 07 da portaria 3214/78, é um programa médico que deve ter caráter de prevenção, rastreamento e diagnóstico precoce dos agravos à saúde relacionados ao trabalho. Todas as empresas, independente do número de empregados ou do grau de risco de sua atividade, estão obrigadas a elaborar e implementar o PCMSO, que deve ser planejado e implantado com base nos riscos à saúde dos trabalhadores, especialmente os riscos identificados nas avaliações previstas no Programa de prevenção de riscos ambientais (PPRA). O PCMSO deve ser coordenado por um médico, com especialização em medicina do trabalho (PENA, 2000). CONSIDERAÇÕES FINAIS Nesse estudo procurou-se delinear os riscos que influem na saúde do trabalhador de enfermagem, condições que interferem na sua qualidade de vida no cotidiano, bem como

8 alguns órgãos responsáveis por zelar pela integridade física e psíquica enquanto profissional de saúde. Através da percepção da saúde como ramo empresarial capitalista, globalizado, praticante da mais-valia e do materialismo histórico foi possível corroborar através das pesquisas bibliográficas nossa hipótese inicial: para que a equipe de Enfermagem tenha uma qualidade de vida satisfatória é necessária harmoniosa relação entre trabalhador, instituição, demais membros da equipe multidisciplinar e pacientes. Para que haja essa melhoria da qualidade de vida e consequentemente da saúde do profissional é preciso um esforço mútuo tanto deste (profissional), na medida em que necessita estar embasado pelo conhecimento dos seus direitos segundo as leis trabalhistas para cobrar o que lhe é cabível; como da instituição de saúde para que cumpra seus deveres perante o operariado, na medida em que também será beneficiada pela melhoria da satisfação profissional do empregado, tendo em vista que esse melhorará sua produtividade e qualidade da assistência. REFERÊNCIAS BARBOSA, FIGUEREDO, PAES. Acidentes de trabalho envolvendo profissionais de enfermagem no ambiente hospitalar: um levantamento em banco de dados: Revista Enfermagem Integrada, Ipatinga: Universidade do leste de Minas Gerais, v.2, n.1, jul./ago. 2009. BRASIL, Ministério da Saúde. Recomendações para o atendimento e acompanhamento de exposição ocupacional a material biológico: HIV e hepatite B e C. Brasília: Ministério da Saúde, 2004 a. BRASIL, Ministério da Saúde. Portaria nº 777 de 28 de abril de 2004. Dispõe sobre os procedimentos técnicos para notificação compulsória de agravos à saúde do trabalhador em redes de serviços sentinela específica, no sistema único de saúde-sus. Brasília: Ministério da Saúde, 2004 b. CARVALHO, Geraldo Mota de. Enfermagem do trabalho. São Paulo: EPU, 2001. FELLI, Vanda Elisa Andrés; TRONCHIN, Daisy Maria Rizatto. Gerenciamento em Enfermagem. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2005. MAPEL JUNIOR, João Luiz. SESMT - Serviço especializado em engenharia de segurança e em medicina do trabalho. Trabalho acadêmico do Curso de Engenharia de Produção Plena- Faculdades Integradas Espírito-santenses,Vitória, 2008. Disponível em: <http://www.monitoriadeengenharia.com.br/arquivos/trabalhosesmt.pdf.> Acesso em 27.junho.2010.

9 NEUMANN, Vera Nilda. Qualidade de vida no trabalho: percepções da equipe de enfermagem na organização hospitalar. Dissertação (Mestrado) - Escola de Enfermagem, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2006. PENA, Paulo Gilvane Lopes. Elementos teóricos e metodológicos para a elaboração do PPRA e do PCMSO. Salvador: Faculdade de medicina/universidade Federal da Bahia, 2000. RIBEIRO; SHIMIZU, Acidentes de trabalho com trabalhadores de enfermagem: Revista Brasileira de Enfermagem, Brasília, v.60, n.5, p. 4-13 set./out. 2007. SOUTO, Ana Cristina. Saúde e política: a vigilância no Brasil-1.976-1.994. São Paulo: Sociedade Brasileira de Vigilância de medicamentos, 2004. SOUZA, Sabrina da Silva de. et al. A epidemiologia como instrumental na produção de conhecimentos em Enfermagem:Revista Enfermagem UERJ, Rio de Janeiro,v.16, n.1, p. 58-63, jan./mar. 2008.