5.1. Estudos preliminares e otimização.

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105 5 Resultados: Determinação de azoxistrobina e dimoxistrobina por voltametria adsortiva de redissolução catódica em eletrodo de gota pendente de mercúrio e varredura no modo de onda quadrada. 5.1. Estudos preliminares e otimização. Objetivando atingir condições analíticas que permitissem um máximo de sensibilidade para a determinação voltamétrica de azoxistrobina e dimoxistrobina utilizando o eletrodo de gota pendente de mercúrio, alguns estudos prévios foram realizados para se ter maior conhecimento do comportamento eletroquímico destes compostos. Os estudos foram realizados para cada estrobilurina separadamente e depois em mistura contendo as duas estrobilurinas, de forma a se avaliar possíveis interferências mútuas e ajustar condições para determinação seletiva. 5.1.1. Estudo do eletrólito suporte O eletrólito suporte é uma solução contendo grande quantidade de íons que podem ser provenientes de um ácido forte, de uma base forte, de um sal ou um sistema tampão. A concentração dos íons no eletrólito suporte costuma ser tipicamente entre 10 a 100 vezes maior que as demais espécies de interesse presentes na célula eletroquímica. Outras características do eletrólito suporte são: (i) deve ser eletroinativo na faixa de potencial na qual se deseja trabalhar (ii) não deve reagir com o analito ou nenhum de seus subprodutos (iii) deve também possuir alta condutividade iônica, garantindo assim baixa resistência elétrica para a cela voltamétrica. A sua função principal é diminuir o transporte de massa causado pela migração. Como o eletrólito suporte está presente em uma concentração muito maior que o do analito, os íons irão formar camadas de carga oposta ao do eletrodo na interface com o mesmo. Isso causa diminuição da

106 influência eletrostática pelos demais íons presentes na solução. No entanto, a presença de camadas de espécies carregadas ao longo da superfície do eletrodo de trabalho forma uma corrente capacitiva. Esta corrente não é proporcional a concentração do analito e contribuirá como ruído na corrente final medida. Equipamentos modernos e técnicas de amostragem de sinal conseguem minimizar grande parte da contribuição da corrente capacitiva. Outra função do eletrólito suporte é manter a força iônica da solução constante, impedindo que a composição da interface entre a solução e o eletrodo mude significativamente com a corrente proveniente da reação. Como a composição desta região influi na corrente elétrica medida, se faz essencial sua manutenção durante todo o tempo de análise. Esta etapa da otimização consistiu em se tentar obter sinal analítico da azoxistrobina e da dimoxistrobina em soluções contendo diferentes eletrólitos. As mesmas concentrações e mesmas condições instrumentais foram usadas de modo que os resultados obtidos para cada estrobilurina pudessem ser comparados. Como critério de escolha do eletrólito suporte, foi escolhido aquele que gerasse maior área de pico, picos bem definidos e bem resolvidos e afastados das barreiras redox do solvente. Foram testados os seguintes eletrólitos: H 2 SO 4 0,1 mol L -1, HCl 0,1 mol L -1, tampão NH 3 /NH 4 ph 9, tampão acetato ph 4,5, KCl 0,1 mol L -1, tampão Britton- Robinson (ph 2, 7 e 9). Apenas foi observado picos para os dois analitos nos ácidos e no tampão Britton-Robinson ph 2, sendo que os melhores resultados (segundo os critérios escolhidos) foram obtidos no HCl 0,1 mol L -1. Nesse eletrólito suporte, os sinais da azoxistrobina e dimoxistrobina (potencial de pico) ficaram em -862 mv e -650 mv respectivamente. 5.1.2. Estudo do potencial de deposição. As técnicas de redissolução possuem especial destaque dentro da voltametria, pois, de forma relativamente simples, proporcionam aumento da sensibilidade da técnica. O processo de pré-concentração de espécies orgânicas é baseada na característica que alguns compostos possuem em adsorverem sobre a superfície do eletrodo. Esse aumento da quantidade de material na superfície do eletrodo gera, quando o potencial do mesmo eletrodo for varrido no sentido de

107 interesse (catódico ou anódico), um aumento na corrente de difusão (faradaica), ou seja, um aumento na sensibilidade da técnica (denominada assim de voltametria adsortiva de redissolução). Para se obter a pré-concentração, basta a aplicação de um potencial adequado e por um determinado período de tempo. As condições experimentais da solução têm influência na capacidade de se obter adsorção do analito no eletrodo de tal modo que estas devem ser ajustadas para permitir tal adsorção. Nos estudos preliminares foi observado que as duas estrobilurinas são passíveis de adsorver no eletrodo de trabalho sendo suscetíveis a serem determinadas por voltametria adsortiva de redissolução catódica, ou seja, consegue-se um aumento da sensibilidade do sinal quando se aplica um potencial anódico, e depois faz-se uma varredura no sentido catódico. Para se realizar este estudo, foi estipulado um tempo de deposição (30 s) em cela contendo HCl 0,1 mol L -1 como eletrólito suporte. Os limites catódicos dos experimentos foram os potenciais onde se iniciava o pico de redissolução de cada composto (o potencial do pico de redissolução para a dimoxistrobina é -630 mv e para a azoxistrobina em 930 mv). Os resultados destes estudos estão representados na Figura 37. Baseado nos resultados foi escolhido como potencial de deposição os valores de - 300 mv para azoxistrobina e 400 mv para dimoxistrobina. A) B) Figura 37 Influência do potencial de deposição para A) azoxistrobina e B) dimoxistrobina.

108 5.1.3. Estudo do tempo de deposição. Para complementar a etapa de acumulação dos analitos na superfície do eletrodo de trabalho, deve-se otimizar o tempo de aplicação do potencial de deposição. Espécies que possuem alta tendência em se depositar no eletrodo (sem saturá-lo) podem ser pré-concentrados por um período em torno de 20 ou 30 minutos. No entanto, esta não é a situação comum e normalmente só se faz necessária a utilização de alguns poucos minutos de aplicação de potencial. Após alguns minutos de deposição, em geral, não se observam mais nenhum ganho de sinal. Em alguns casos, o sinal analítico até começa a diminuir, por causa da atração de outras espécies presentes na solução que irão competir com o analito pela superfície do eletrodo. Vale ressaltar também que o uso de tempos de deposição muito longos, mesmo tendo a vantagem do aumento da sensibilidade, podem provocar a diminuição da extensão da faixa de trabalho, sendo assim, é sempre necessário fazer uma avaliação crítica de qual, dentre estes dois parâmetros de mérito seria o mais importante. Para realizar o estudo de tempo de deposição para cada uma das estrobilurinas, manteve-se constante a concentração de analito, e os potenciais iniciais (-300 mv para azoxistrobina e 400 mv para dimoxistrobina). Os resultados deste estudo estão representados na Figura 38. A) B) Figura 38 Influência do tempo de deposição para A) azoxistrobina e B) dimoxistrobina. Na Figura 38, estão representadas duas situações distintas. Para o caso da azoxistrobina, foi obtido um aumento no sinal analítico até se atingir um pico de

109 máximo de sinal entre 30 e 60 s, a partir do qual, o sinal começou a diminuir. No caso da dimoxistrobina, observou-se um platô de sinal máximo se manteve na janela de tempo estudada. Por causa deste comportamento, o tempo de deposição de 30 s foi o escolhido. 5.1.4. Estudo da amplitude Quando se faz o estudo da influência da amplitude sobre o sinal analítico registrado na voltametria de onda quadrada, deve ser conseguido um compromisso entre a sensibilidade e a seletividade, isto por que normalmente um aumento da amplitude do potencial gera um aumento na sensibilidade da técnica, porém, em detrimento da seletividade [77]. Até este ponto, a realização do estudo da influência da amplitude só levou em conta a sensibilidade do sinal, pois a resposta analítica para cada composto estava sendo estudado independentemente um do outro. Assim o resultado da Figura 39 permitiu a escolha dos valores de amplitude de 250 mv para a azoxistrobina e 150 mv para a dimoxistrobina. A) B) Figura 39 Influencia da amplitude do potencial sobre o sinal analítico da A) azoxistrobina e B) dimoxistrobina.

110 5.1.5. Estudo da velocidade de varredura. Uma das grandes vantagens da técnica voltametria de onda quadrada sobre outras técnicas de pulso (como pulso diferencial) é que a sua forma de amostragem da corrente além de resultar em valores mais sensíveis (por fazer medição da corrente direta e reversa, minimizando a contribuição da corrente capacitiva, privilegiando a corrente faradaica) também permite a aplicação de maiores velocidades de análise. Enquanto que para as técnicas de pulso as velocidades máximas são 100 mv s -1, na voltametria de onda quadrada pode-se aplicar velocidades de até 1 Vs -1. A velocidade de aplicação do pulso é controlada por dois parâmetros, a freqüência (Hz) e o incremento de potencial (mv). O produto destas variáveis é a velocidade (em mv s -1 ). Ao se observar a Figura 8, estes parâmetros podem ser melhores compreendidos, em especial na etapa 2, A freqüência pode ser entendida como o inverso do dobro do parâmetro, ou seja, base da rampa de potencial, enquanto que o incremento de potencial é a altura desta mesma rampa ( E s ). Estes valores costumam ser otimizados independentemente um do outro. A) B) Figura 40 Influencia do incremento de potencial sobre o sinal analítico para A) azoxistrobina e B) dimoxistrobina Tanto pelo critério da maior sensibilidade, quanto pelo critério da menor largura do pico (maior definição) os melhores valores de incremento de potencial foram 2 mv para azoxistrobina e 4 mv para dimoxistrobina, como pode ser

Área do pico (uc) Área do pico (uc) 111 observado pela Figura 40. Já o comportamento do sinal analítico (área do pico) em função da freqüência de aplicação do pulso de potencial indicou uma faixa praticamente constante entre 60 a 200 Hz para azoxistrobina, enquanto que para a dimoxistrobina um máximo de sinal foi observado em 100 Hz (Figura 41). 16 8 12 8 4 4 0 0-40 0 40 80 120 160 200 240 280 320 360 Frequencia (Hz) 0 80 160 240 320 Frequencia (Hz) A) B) Figura 41 Influência da freqüência de aplicação do potencial sobre o sinal analítico para A) azoxistrobina e B) dimoxistrobina 5.2. Voltametria cíclica e mecanismo redox. Os voltamogramas cíclicos para soluções de dimoxistrobina (Figura 42) e azoxistrobina (Figura 43) apresentaram apenas a presença de um pico no sentido catódico. A ausência de um pico de oxidação indicou um comportamento irreversível ou quase-reversível para o sistema.

112 Figura 42 Voltamograma cíclico de uma solução 1,0 x 10-4 mol L -1 de dimoxistrobina, velocidade de varredura de 100 mv s -1. Figura 43 Voltamograma cíclico de uma solução 1,0 x 10-4 mol L -1 de azoxistrobina, velocidade de varredura de 100 mv s -1. No sentido de elucidar o mecanismo e verificar se o sistema era irreversível ou quase-reversível, foram registrados voltamogramas cíclicos em diferentes velocidades de varredura (entre 100 e 1000 mvs -1 ). Para sistemas irreversíveis, existe uma relação linear entre a corrente de pico e a raiz quadrada da velocidade de varredura, semelhante à relação encontrada para a dimoxistrobina (Figura 44).

Corrente do pico (ma) Corrente do pico (ma) 113 1,2 r 2 = 0,9952 0,9 0,6 0,3 0,0 10 15 20 25 30 35 v 1/2 Figura 44 - Relação entre a corrente de pico e a raiz quadrada da velocidade de varredura cíclica para a dimoxistrobina. Nos sistemas quase-reversíveis, a relação entre o aumento da corrente de pico com a raiz quadrada da velocidade não é linear. Comportamento este identificado para a azoxistrobina (Figura 45). O estudo da freqüência de aplicação dos pulsos de potenciais também apresenta informação sobre o mecanismo redox [57]. Um sistema totalmente irreversível apresenta uma relação linear entre a freqüência de aplicação de pulsos potenciais e a corrente do pico, como a que pode ser observada na Figura 46 para a dimoxistrobina. 0,123 0,122 0,121 0,120 0,119 0,118 0,117 0,116 0,115 10 15 20 25 30 35 v 1/2 Figura 45 - Relação entre a corrente de pico e a raiz quadrada da velocidade de varredura cíclica para a azoxistrobina

Corrente do pico ( A) Corrente do pico ( A) 114 8 r 2 = 0,9930 6 4 2 0 50 100 150 200 Frequencia (Hz) Figura 46 Relação entre a corrente de pico e a freqüência de aplicação de potencial para a dimoxistrobina. Já para um composto que apresenta um comportamento quase-reversível, não existe uma relação linear entre a corrente de pico e a freqüência de aplicação do potencial. Esse foi o comportamento apresentado pela azoxistrobina (Figura 47). 18 16 14 12 10 8 6 4 2 0 0 50 100 150 200 Frequencia (Hz) Figura 47 Relação entre a corrente de pico e a frequência de aplicação de potencial para a azoxistrobina. Em sistemas irreversíveis, a largura de pico a meia altura ( E p/2 ) é descrita pela seguinte equação:

115 (Equação 15) Sendo n o número de elétrons envolvidos no processo redox e o coeficiente de transferência eletrônico. De modo que para sistemas no qual o valor de é igual a 0,5 o valor de E p/2 é igual a 127/n. Além disso, um valor de E p/2 maior que 20 mv sugere adsorção de reagente e E p/2 maior que 40 mv sugere adsorção de reagente e produto. A Figura 48 apresenta um voltamograma de onda quadrada para uma solução de dimoxistrobina. Por este voltamograma pode se calcular o valor de 162 mv para a largura a meia altura do pico, indicando ocorrência de adsorção do reagente e do produto. Além disso, esse E p/2 sugere uma reação envolvendo 1 elétron, considerando o valor de igual a 0,5. Ainda no caso de sistemas irreversíveis, outra forma de se encontrar o produto n é através da relação: (Equação 16) Esta relação está representada no gráfico entre Log (f) versus potencial ( E), Figura 49. Aqui, novamente, chega-se a uma relação entre e n onde, n = 0,55. O que sugere valor de igual a 1. Figura 48 Voltamograma de onda quadrada para uma solução 1,0 x 10-6 mol L -1 de dimoxistrobina.

Potencial (V) 116 y = -0,10112x - 0,6152 r 2 = 0,9952-0,76-0,80-0,84 1,2 1,6 2,0 2,4 Log (f) Figura 49 Relação entre o potencial do pico e a freqüência. Outra informação relevante para o mecanismo redox destas estrobilurinas vem do fato de que só se observa a presença de pico voltamétrico em meio ácido. Assim sendo, se faz crer que alguma reação de protonação é indispensável ao processo de redução. De posse dessas informações, foi sugerido que o mecanismo para redução destes compostos consiste na redução da carbonila pela adição de 1 elétron seguido de protonação. Um mecanismo geral para para este tipo de redução esta [78] está representado a seguir: O R R + e - O R R (1) O R R OH + H + R R (2) OH R R + OH R R R R OH R OH R (3) O radical formado na etapa (2) pode reagir com outro radical idêntico formando um glicol (3), ou mesmo se ligando a alguma insaturação da molécula.

117 Seja como for, esta última etapa que seria responsável pela ausência de um pico de oxidação nos voltamogramas cíclicos. 5.3. Parâmetros analíticos de mérito Estabelecidas as melhores condições instrumentais para a determinação de cada uma das estrobilurinas separadamente, a próxima etapa foi encontrar uma condição para a determinação simultânea dos dois compostos. Buscou-se condição de compromisso que permitisse boa sensibilidade na determinação de ambas estrobilurinas. Tal condição pode ser conseguida pela avaliação dos resultados dos estudos univariados. Na escolha, levou-se também em consideração a seletividade, ou seja, uma condição em que o alargamento dos picos fosse minimizado, diminuindo a possibilidade de sobreposição parcial dos picos das estrobilurinas, ou mesmo diminuindo a probabilidade da influência de picos de alguma substância concomitante nas matrizes a serem estudadas. Levando em consideração estes requisitos, foi obtida a condição de trabalho que é descrito na Tabela 14, onde é possível encontrar também as condições ótimas para determinação para cada um dos compostos, no caso de se querer quantificar apenas um deles. Tabela 14 Condições instrumentais e experimentais de compromisso para azoxistrobina e dimoxistrobina. Parâmetro Azoxistrobina Dimoxistrobina Compromisso Eletrólito suporte HCl 0,1 mol L -1 HCl 0,1 mol L -1 HCl 0,1 mol L -1 Potencial inicial (mv) -300-400 -300 Tempo de deposição (s) 30 30 30 Incremento de 2 4 2 potencial (mv) Freqüência (Hz) 200 150 150 Amplitude (mv) 250 150 150 Nestas condições, a dimoxistrobina apresenta pico de redissolução catódico em -630 mv e a azoxistrobina em 1020 mv como mostrado na Figura 51. Com

Área do pico (uc) Área do pico (uc) 118 base nesta condição de compromisso, foi montada uma curva analítica para azoxistrobina e para a dimoxistrobina, sendo os parâmetros analíticos de mérito obtidos desta curva. A relação entre área do pico e concentração para cada um destes compostos esta representada na Figura 50 e os voltamogramas utilizados para fazer estas curvas estão apresentados na Figura 51. 3,5 3,0 A 3,0 2,5 B 2,5 2,0 2,0 1,5 1,5 1,0 1,0 0,5 0,5 0,0 0 50 100 150 200 250 [azoxistrobina] g L -1 0,0 100 150 200 250 300 [dimoxistrobina] g L -1 Figura dimoxistrobina. 50 Curva analítica para (A) azoxistrobina e (B) Azoxistrobina Dimoxistrobina Figura 51 Voltamogramas para concentrações sucessivas de dimoxistrobina e azoxistrobina ( 5,0 x 10-8, 3,0 x 10-7, 5,0 x 10-7, 7,0 x 10-7, 9,0 x 10-7 e 1,1 x 10-6 mol L -1 ) Foi encontrada uma relação matemática que relaciona a concentração de azoxistrobina (em µg L -1 ) e a área do pico de redissolução igual a: y = (0,013659 +0,001732)x -0,0642+0,2708 enquanto que para a dimoxistrobina esta relação

119 foi: y = (0,013322+0,001963)x 1,1319+0,44572, ambos para um limite de confiança de 95%. Esta relação linear se manteve até o valor de 250 µg L -1 para azoxistrobina 320 µg L -1 para dimoxistrobina. A linearidade da resposta analítica foi verificada pelos conceitos de r, r 2, teste F e teste t. O resumo dos resultados de regressão linear e análise de variância estão expostos na Tabela 15. Tabela 15 Resumo dos resultados da regressão linear e análise de variância para azoxistrobina e dimoxistrobina. Azoxistrobina Dimoxistrobina r 0,995855 0,9968 r 2 0,991727 0,993609 erro padrão 0,104529 0,076238 observações 6 5 Coef angular 0,013659 + 0,001732 0,013322+0,001963 Coef linear -0,0642+0,2708-1,1319+0,44572 F 479,4797 466,44 F critico 2,57x 10-05 0,000217 t 21,89 21,59 t critico 2,5706 2,4469 Os valores dos limites de detecção (LD) e dos limites de quantificação (LQ) foram determinados segundo o critério 3s b /a e 10 s b /a sendo s b o desvio padrão de sete medições de sinal no branco e a o valor do coeficiente angular da curva analítica. Quando já compensados pelo fator de diluição (100 vezes na cela), estes valores foram respectivamente iguais a 140 µg L -1 e 480 µg L -1 para azoxistrobina e 230 µg L -1 e 0,783 µg ml -1 para dimoxistrobina. A precisão foi avaliada através do estudo da repetitividade e da precisão intermediária (analistas diferentes e dias diferentes) através de sete medições de solução de estrobilurinas na concentração 130 µg L -1. O estudo da precisão intermediária inclui a preparação de solução feita por cada um dos analistas. Os resultados encontrados foram 0,9% e 2,5% para a azoxistrobina e 1,2% e 2,3% para dimoxistrobina. A seletividade foi avaliada tanto pelos testes de recuperação (que avaliam a interferência de concomitantes na matriz) como pela adição às soluções padrões de soluções de outras estrobilurinas (piraxistrobina e picoxistrobina). resultados dos testes de recuperação podem ser vistos na tabela 16. Já os testes com as outras duas estrobilurinas indicaram um sinal voltamétrico pouco intenso para a picoxistrobina em -1050 mv e nenhum sinal voltamétrico para Os

120 piraxistrobina. Nenhum dos dois compostos causou qualquer tipo de interferência sobre o sinal da azoxistrobina e da dimoxistrobina. 5.4. Aplicação da metodologia para a determinação de azoxistrobina e de dimoxistrobina em alimentos. Para testar a aplicabilidade da metodologia, amostras de alimentos (batata e uva) foram lavadas, e em seguidas trituradas. Alíquotas de cada amostra foram pesadas e a elas foram adicionadas 100 µl de solução de dimoxistrobina e de azoxistrobina 1,00 x 10-3 mol L -1 de modo a se fortificar e realizar ensaio de recuperação. No caso das amostras que foram diretamente adicionadas à cela de trabalho, observou-se fortes interferências de matriz, o que impediu a determinação direta destes compostos. Foi necessário então desenvolver um procedimento para minimizar estas interferências de matriz como descrito no item 3.4.2. A determinação das estrobilurinas foi possível após a combinação de um procedimento de extração sólido-líquido com extração em coluna C-18, como descrito no item 3.5.2. Vale ressaltar que o resultado deste procedimento foi a minimização da interferência de matriz para o volume adicionado na cela igual a 100 µl. Maiores volumes de amostra causaram supressão do sinal analítico por causa da matéria orgânica presente. O procedimento foi aplicado para amostras de uva e batata e os resultados das determinações estão expostos na Tabela 16. Para a aplicação da metodologia para amostras de água de rio e de suco de fruta industrial, nenhuma etapa de tratamento da amostra foi necessária. As amostras foram enriquecidas com diferentes quantidades de estrobilurinas e determinadas após introdução direta (10 µl) na cela de trabalho. As determinações foram feitas por interpolação da curva analítica. O resultado destas determinações esta exposto na Tabela 16.

121 matrizes. Tabela 16 Resultado para os testes de recuperação em diferentes amostra dia azoxistrobina dimoxistrobina 1 98 103 106 88 104 98 batata 2 83 96 78 63 76 78 3 93 102 89 91 92 105 1 74 93 78 91 99 95 uva 2 102 76 106 103 91 92 3 103 64 95 87 95 105 1 105 96 90 99 98 93 água de 2 85 90 102 91 105 95 rio 3 102 91 85 100 92 91 1 82 107 93 89 105 94 suco 2 105 98 95 92 91 98 3 93 101 88 89 102 91 Resultados expressos em % recuperado. Concentrações iniciais de 4,0 µg ml -1 para azoxistrobina e 3,3 µg ml -1 para dimoxistrobina.