TRANSPARÊNCIA DA GESTÃO PÚBLICA NO ACESSO AO FINANCIAMENTO DO PRONAF PELA AGRICULTURA FAMILIAR BRASILEIRA

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Transcrição:

TRANSPARÊNCIA DA GESTÃO PÚBLICA NO ACESSO AO FINANCIAMENTO DO PRONAF PELA AGRICULTURA FAMILIAR BRASILEIRA Renato Alves de Oliveira (Universidade Estadual de Ponta Grossa) natoliveiralves@hotmail.com Luciano Ribeiro Bueno (Universidade Estadual de Ponta Grossa) cocovith@hotmail.com Rubens Ibraim Ribeiro (Universidade Estadual de Ponta Grossa) ibraimrr23@gmail.com Resumo: O Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) é uma política pública para a atividade rural de modo a ampliar a produção e a renda no seguimento da agricultura familiar. Este trabalho tem por objetivo analisar o acesso ao crédito do Pronaf pelos agricultores familiares e descrever o financiamento ao nível de custeio e investimento no Brasil. A metodologia adotada foi de caráter descritivo através de informações em tabelas e gráficos a apartir dos dados de financiamento do crédito rural do Banco Central e do perfil do agricultor familiar do Censo Agropecuário do IBGE. Na análise dos resultados a região Sul apresentou maior liberação para custeio e investimento do Pronaf no Brasil. A receita obtida pela agricultura familiar, na sua maior parte, é por meio de produtos vegetais. Palavras chave: Pronaf, Agricultura Familiar, crédito, financiamento, Brasil. TRANSPARENCY OF PUBLIC MANAGEMENT IN ACCESS TO PRONAF FINANCING BY THE FAMILY FARM BRAZILIAN Abstract: The National Program for Strengthening of Family Farming (Pronaf) is a public policy for rural activities in order to increase production and income following the family farm. This paper aims to analyze the access to credit Pronaf by family farmers and describe the financing level of costing and investment in Brazil. The methodology was descriptive through information in tables and graphs according to data financing rural credit of the Central Bank and the family farmer profile Agricultural Census of the IBGE. In analyzing the results the South had higher release for costing and investment Pronaf in Brazil. Income earned by family farms, for the most part, is using vegetable products. Key-words: Pronaf, Family Farming, credit, financing, Brazil. 1 Introdução De um modo geral, no início dos anos 1990, ainda não existia nenhum tipo de política pública nacional voltada para o segmento dos agricultores familiares, a qual se caracterizava de modo meramente instrumental e bastante impreciso no âmbito da burocracia estatal (MATTEI; SCHNEIDER; CAZELLA, 2006). Nesse sentido, no início dos anos 1990, a pressão exercida por meio das organizações e lutas pelos segmentos rurais menos favorecidos foi de extrema importância para a criação do

Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), em 1996. Esses segmentos menos favorecidos nunca tiveram acesso aos recursos do Sistema Financeiro Nacional. O programa nasceu com a finalidade de prover crédito agrícola e apoio institucional aos pequenos produtores rurais que vinham sendo excluídos das políticas públicas existentes e encontravam dificuldades para se manter no campo (MATTEI; SCHNEIDER; CAZELLA, 2006). Ao longo de sua trajetória, o Pronaf sofreu diversas formas de avaliação por vários segmentos de pesquisadores e analistas. O Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar é uma política pública para o meio rural e tem como objetivo ampliar a produção e a renda no seguimento da agricultura familiar. Assim objetivou-se analisar o acesso ao crédito do Pronaf pelos agricultores familiares e descrever o financiamento ao nível de custeio e investimento. 2 Revisão da Literatura Segundo Delgado (2001), a intervenção do Estado na agricultura tem uma longa tradição, tanto nos países desenvolvidos como nos subdesenvolvidos. O objetivo da intervenção do Estado foi regular os mercados, garantir preços e rendas para os agricultores e estimular a produção doméstica com intuito de evitar escassez de produtos e a elevação dos preços internos. Conforme Kageyama (1990) et al., é comum que três noções diferenciadas sejam utilizadas como sinônimas no processo de modernização da agricultura. Esses conceitos são: modernização da agricultura, industrialização da agricultura e formação dos complexos agroindustriais. Nesse contexto, três transformações básicas diferenciaram a modernização da agricultura da industrialização. A primeira não consistiu apenas em utilizar insumos modernos, mas também em mudar as relações do trabalho. Na agricultura industrializada, a relação de trabalho é coletiva, pois não existe mais trabalhador individual, existe um conjunto de trabalhadores assalariados que trabalham coletivamente em determinada atividade. O trabalhador se especializa, ou seja, são grupos de trabalhadores que colhem, que plantam. Agora existe uma divisão do trabalho como em uma empresa, o trabalhador braçal, o trabalhador técnico, em diferentes níveis de qualificação. De acordo com Martine (1991) os complexos agroindustriais consistem na formação de vários complexos que se constituem conjuntamente em atividades agrícolas especializadas continuamente. Após 1975, começaram a existir vários complexos agroindustriais que tinham como elemento aglutinador as políticas do Estado. É importante lembrar que o Sistema Nacional de Crédito Rural foi instituído em 1965 pela Lei 4.829, de 05/11/65, e regulamentado pelo Decreto 58.380, de 10/05/66. Este era constituído pelo Banco Central, Banco do Brasil, Bancos Regionais de Desenvolvimento, Bancos Estaduais, Bancos Privados, Caixas Econômicas, Sociedades de Crédito, Financiamento e Investimento, Cooperativas e Órgãos de Assistência Técnica e Extensão Rural (LEITE, 2001). Para Delgado (1985), o processo de administração da política de crédito rural sob o regime do orçamento monetário por meio do Banco Central e Banco do Brasil tinham dois mecanismos: expansão passiva do crédito que se fundamentava nas exigibilidades, fundos fiscais e parafiscais e outros recursos; expansão ativa do crédito, que contava com o Banco do Brasil que tinha como função atender a demanda setorial.

Por parte do governo, as fontes de financiamento públicas a partir de 1996 começaram a destinar recursos ao seguimento da agricultura familiar por meio do crédito rural. Assim surgiu o Programa Nacional de Agricultura Familiar (Pronaf) (BELIK, 2001). Segundo Belik (2001), os anos 1990 tiveram como pano de fundo a abertura da economia por meio da diminuição das barreiras à importação. Essas medidas, por sua vez, colocaram a agricultura brasileira diante de uma situação diferente do período de modernização. Rezende (2001) aponta que, a partir de 1994, a desindexação diminuiu o impacto inflacionário dos preços agrícolas. Neste novo cenário, o governo preocupava-se menos com a formação de estoques. O câmbio valorizado juntamente com a abertura comercial proporcionou a diminuição dos preços dos produtos importados resultando na diminuição do papel estratégico da produção doméstica. Nesse novo cenário, a partir do começo dos anos 1990, começaram a emergir os novos instrumentos de captação de recursos para a agricultura, ou seja, parte das fontes de financiamento públicas foi sendo substituída pelas fontes privadas. As fontes de financiamento privadas eram pautadas pelas interações financeiras dos agentes privados (empresas de processamento, empresas de máquinas e insumos agropecuários, agricultores integrados, traders, securitários). Esses novos mecanismos, os recursos privados, eram canalizados com o intuito de garantir a agilidade na comercialização física e no financiamento das culturas (BELIK, 2001). Segundo Belik (2001), surgiu um cenário alternativo de financiamento agropecuário: o sistema de soja verde, títulos privados, certificados de mercadorias negociados em bolsas de mercadorias e o da troca de produtos por insumos utilizados pela indústria. Essas operações apresentavam mecanismos de venda contra o equivalente em produtos agrícolas para entrega futura. Esses surgiram em um período de emergência por crédito privado para a agricultura brasileira nos anos 1990 e eram puxados por mecanismos informais, operações de escambo e os contratos a termo. No entanto, esses mecanismos se caracterizavam pelo elevado custo da operação, assim como pela insegurança no que toca o cumprimento dos contratos, devido à falta de legislação e instituições fortes na regulação dos mecanismos. Mesmo diante dos problemas mencionados, o setor privado participava do financiamento da agropecuária do país. Nesse novo sistema de financiamento, o objetivo era atender a agricultura moderna, ou seja, culturas que tinham integração com encadeamento agroindustrial ou que estavam inseridas nos corredores de exportação para Paranaguá, Rio Grande, Santos, Vitória e Itaqui (BELIK, 2001). Para o autor, nos anos 1990 surgiu um novo tipo de política pública que tinha como foco o apoio por meio do crédito subsidiado voltado para os produtores familiares assentados da reforma agrária ou atividades não empresariais. Esse novo foco não significava separar a agricultura familiar da comercial. O governo tinha o intuito de desenvolver o negócio familiar rural, bem como o fortalecimento de alianças mercadológicas e de cadeias produtivas. Outro ponto que deve ser destacado é a separação por parte do governo em termos administrativos e orçamentários entre agricultura familiar e patronal. Segundo Mattei (2006), mesmo com os avanços da Constituição de 1988 no que tange à descentralização das ações estatais e criação de conselhos gestores que tinham como objetivo democratizar o acesso aos recursos públicos, no início dos anos 1990, ainda existia uma carência de políticas públicas voltadas às necessidades dos agricultores familiares. Alguns fatores foram decisivos para modificar o rumo das políticas de desenvolvimento rural nos anos 1990.

A modalidade financiamento da produção que engloba os recursos para custeio e investimento tem como objetivo o apoio financeiro aos agricultores familiares, segundo seis categorias. Essa diferenciação por categorias decorreu de um estudo realizado pelo convênio FAO/Incra no ano de 1999. O estudo recomendou a segmentação dos agricultores familiares beneficiários do Programa em grupos diferentes, utilizando o critério de renda bruta familiar anual. Esse procedimento permitiu que as regras de financiamento se adequassem à realidade de cada segmento social. Os encargos financeiros e os rebates (descontos) têm como objetivo auxiliar as parcelas com faixas menores de renda e com maiores dificuldades para produzir (CAZELLA; MATTEI E SCHNEIDER, 2006). Segundo Mattei et al (2007) foi observado dois momentos distintos sobre o montante de recursos do crédito rural destinado aos agricultores familiares. De um lado, verificou-se que o volume de recursos disponibilizados nas safras agrícolas de 1999 a 2002 ficou praticamente estável, situando-se na faixa de 2 bilhões de reais. De outro, nota-se que a partir de 2003 houve um aumento progressivo, sendo que na safra de 2005 o montante de recursos disponível aos agricultores familiares foi mais que o triplo em relação à safra de 1999. Isso sugere que este segmento de produtores rurais efetivamente está sendo priorizado pela política agrícola e de desenvolvimento rural. O plano da safra de 2006 reforça essa argumentação, uma vez que neste ano estavam orçados cerca de 8 bilhões de reais para a agricultura familiar. Cerqueira e Rocha (2002), afirmam que o crédito é um elemento essencial capaz de possibilitar um nível mais elevado de renda e o aumento do patrimônio familiar, garantindo não apenas a sobrevivência, mas a melhoria da qualidade de vida para as famílias rurais. No caso do PRONAF, ressaltaram que uma das muitas críticas é a distribuição desigual do crédito. Figueiredo, Silva e Santos (2006) apontaram a necessidade de redistribuição dos recursos do PRONAF, a fim de beneficiar os agricultores de renda mais baixa. De forma geral, foi constatado que os estados com maior representatividade de agricultores familiares, ou maior número de estabelecimentos, como é o caso dos estados da região Sul, captam maior volume de recursos. Isso ocorre apesar de os produtores familiares destes estados possuírem, em média, maiores receitas. Assim, verifica-se uma concentração dos recursos do PRONAF em estados com produtores mais capitalizados. O apoio à agricultura familiar tem que ser pensado no âmbito do desenvolvimento local no qual os aspectos econômicos, sociais, ecológicos e culturais devam ser igualmente levados em conta na busca de soluções não excludentes (CARNEIRO, 1997). 3 Material e método Os dados de custeio e investimento do Pronaf foram obtidos através do Banco Central no período de 2007 a 2012 para as regiões do Brasil. Sobre o perfil do agricultor familiar os dados foram provenientes do Censo Agropecuário do IBGE relativo ao ano de 2006 no Brasil. Para a análise dados foi realizado uma descrição sobre as variáveis de custeio agrícola e pecuário, investimento agrícola e pecuário, números de contratos e o perfil do agricultor familiar por meio de tabelas e figuras. 4 Resultados A figura 1 apresenta os recursos liberados e número de contratos do Pronaf sobre o custeio agrícola e pecuário. Observa-se que houve um comportamento contrário entre contratos e montante adquirido, isto sugere que o valor médio do contrato aumentou drasticamente ao longo do tempo sendo de R$ 487,05 mil em 2007 chegando a R$ 1,22 milhões em 2012. A

variação de números de contratos e do montante financiado durante o período foi de -23,32% e 76,72%, respectivamente. Figura 1- Recursos liberados e números de contratos do Pronaf à nível de custeio no Brasil entre 2007 e 2012 A figura 2 mostra os recursos liberados e número de contratos do Pronaf sobre o investimento agrícola e pecuário. Observa-se que houve uma relação direta entre contratos e montante adquirido. No entanto valor médio do contrato teve um aumento mais expressivo ao longo do tempo do que do custeio sendo de R$ 336,28 mil em 2007 chegando a R$ 770,24 mil em 2012. A variação de números de contratos e do montante financiado durante o período foi de - 9,72% e 132,63%, respectivamente. Figura 2- Recursos liberados e números de contratos do Pronaf à nível de investimento no Brasil entre 2007 e 2012 A Liberação para Custeio do Pronaf nas regiões do Brasil encontra-se na tabela 1. Verifica-se que a região Sul obteve maior participação dos recursos liberados com 64,81% em 2012. A região Centro-Oeste foi quem teve menor participação com 2,71% em 2012. Ainda é possível observar que houve crescimento na liberação dos recursos em todas as regiões, sendo a maior variação na região Sul (38,82%) e a menor variação na região Suldeste (7,53%) entre 2010 e 2012. Regiões Liberação para Custeio do Pronaf (bilhões R$) 2010 Participação 2011 Participação 2012 Participação Sul 344,59 59,74% 398,47 63,61% 478,37 64,81% Suldeste 142,80 24,75% 137,88 22,01% 153,54 20,80%

Nordeste 35,13 6,09% 39,74 6,34% 46,96 6,36% Norte 36,07 6,25% 32,90 5,25% 39,23 5,31% Centro oeste 18,28 3,17% 17,43 2,78% 20,01 2,71% Tabela 1- Liberação para Custeio do Pronaf nas regiões do Brasil entre 2010 e 2012 A Liberação para Investimento do Pronaf nas regiões do Brasil encontra-se na tabela 2. Verifica-se que a região Sul obteve maior participação dos recursos liberados com 37,77% em 2012. A região Centro-Oeste foi quem teve menor participação com 6,42% em 2012. Ainda é possível observar que houve crescimento na liberação dos recursos em todas as regiões, sendo a maior variação na região Nordeste (69,57%) e a menor variação na região Centro-Oeste (16,91%) entre 2010 e 2012. Regiões Liberação para Investimento do Pronaf (bilhões R$) 2010 Participação 2011 Participação 2012 Participação Sul 249,60 39,54% 283,87 40,25% 339,08 37,77% Suldeste 149,90 23,75% 168,64 23,91% 202,85 22,59% Nordeste 117,66 18,64% 135,55 19,22% 199,51 22,22% Norte 64,61 10,24% 63,69 9,03% 98,68 10,99% Centro oeste 49,49 7,84% 53,55 7,59% 57,66 6,42% Tabela 2- Liberação para Investimento do Pronaf nas regiões do Brasil entre 2010 e 2012 A figura 3 mostra a soma de números de contratos de custeio e investimento nas regiões do país. Nota-se que a região Nordeste deteve maior parte dos contratos ao longo de seis anos, no entanto houve um pequena queda comparando o ano 2007 (960.288 contratos) com o ano 2012 (816.616 contratos), o que também é observado nas outras regiões. Conforme nas tabelas anteriores, apesar do Nordeste deter maior parcela de contratos é a região Sul que apresentou maior montante de custeio e investimento, até porque no caso da agricultura familiar, tal segmento representa mais de 80% dos estabelecimentos. Segundo Felema (2013) a região Sul detém uma participação elevada no valor agregado do setor, e uma das mais intensas produtividades do país.

Figura 3- Total de números de contratos do Pronaf nas regiões do Brasil entre 2007 e 2012 A tabela 3 trata-se do número de estabelecimentos agropecuários que obtiveram financimanento em 2006 pela agricultura familiar. Os dados revelam que a região Sul apresentou 269.502 estabelecimentos com finalidade de financiamento para custeio, enquanto para a região Nordeste 192.602 estabelecimentos obtiveram finalidade de financiamento para investimento. Para financiamento em manutenção da propriedade a maior região detentora foi a Nordeste com 41.817 estabelecimentos, enquanto a região Sudeste foi a segunda maior com 8.426 estabelecimentos. Sobre a finalidade de fianciamento para comercialização a região que obteve maior número de estabelecimentos foi a Nordeste com 5.673, enquanto a região que obteve menor número foi a Centro-Oeste com 197 estabelecimentos. No Brasil a finalidade do financiamento pela agricultura familiar se concentra em custeio e investimento, justificandose assim a análise anterior. Finalidade do Financiamento Norte Nordeste Centro- Oeste Sudeste Sul Brasil Custeio 12.188 65.515 14.624 43.897 269.502 405.726 Investimento 19.651 192.602 12.837 49.464 69.313 343.867 Manutenção do estabelecimento 6.181 41.817 3.033 14.348 8.426 73.805 Comercialização 435 5.673 197 965 1.014 8.284 Fonte: Elaborado pelo autor a partir do Censo Agropecuário/IBGE (2006) Tabela 3- Números de estabelecimentos da agricultura familiar que obtiveram financimanento em 2006 A tabela 4 informa o número estabelecimentos que não obtiveram financiamento por algum motivo específico. A grande maioria dos agricultores familiares do Brasil afirmou que não precisaram obter financianciamento totalizando 1.795.807 estabelecimentos, sendo esse motivo concentrado em sua maior parte no Nordeste (764.981 estabelecimentos). Na realidade essa região apresenta o maior número de estabelecimentos que não obtiveram financiamento por algum motivo em relação às outras regiões. Um ponto importante a ser destacado é que uma maior parte dos agricultores familiares poderia ter adquirido financiamento, e não o fizeram devido por não saber como obtê-lo, verifica-se na tabela que 56.199 estabelecimentos encontravam-se nessa situação. Isso sugere que os agricultores familiares deveriam ser melhor orientantos e informados pelos técnicos agrícolas e/ou extencionistas. Motivo de não obtenção de finaciamento Norte Nordeste Centro- Oeste Sudeste Sul Brasil Não precisou 169.642 764.981 100.733 380.393 380.058 1.795.807 Medo de contrair dívidas 64.064 507.742 28.549 115.392 67.849 783.596 Outro motivo 51.498 310.723 23.702 41.950 34.733 462.606 Burocracia 53.376 155.264 23.347 37.594 31.458 301.039 Falta de pagamento do empréstimo anterior 11.806 81.215 5.866 10.904 7.023 116.814 Falta de garantia pessoal 11.067 41.194 4.244 5.268 7.148 68.921 Não sabe como conseguir 14.901 30.729 2.066 5.449 3.054 56.199 Fonte: Elaborado pelo autor a partir do Censo Agropecuário/IBGE (2006) Tabela 4- Números de estabelecimentos da agricultura familiar que não obtiveram financimanento em 2006

A tabela 5 mostra o número de estabelecimentos e o tipo de receita obtida pela agricultura familiar no Brasil. Observa-se que a maior parte da receita do produtor familiar é obtida por meio de produtos vegetais em torno de R$ 27,6 bilhões, justifica-se, pois a maior parte do destino de financiamento tanto para custeio quanto para investimento pelo crédito do Pronaf é para a agricultura. Em segundo lugar fica para animais e seus produtos o tipo de receita obtida com aproximadamente R$ 10,3 bilhões. Um ponto a se destacar é que R$13,514 milhões é um montante recebido pelos agricultores familiares por atividades relacionadas ao turismo rural, isso é bastante interessante para o agricultor agregar uma renda extra. Tipo de receita Nº de estabelecimentos Receita (mil R$) Produtos vegetais 1.971.010 27.617.699 Animais e seus produtos 1.743.172 10.309.342 Prestação de serviço para empresas integradoras 38.809 2.899.014 Produtos da agroindústria 279.531 1.475.094 Prestação de serviço de beneficiamento e/ou transformação de produtos agropecuários para terceiros 37.112 130.624 Animais criados em cativeiros (jacaré, escargô, capivara e outros) 9.803 121.293 Outras atividades não-agrícolas realizadas no estabelecimento (artesanato, tecelagem, etc.) 28.804 67.675 Esterco 25.123 34.246 Exploração mineral 4.412 28.651 Atividades de turismo rural no estabelecimento 2.181 13.514 Húmus 879 6.717 Fonte: Elaborado pelo autor a partir do Censo Agropecuário/IBGE (2006) Tabela 5- Números de estabelecimentos e Receita obtida da agricultira familiar em 2006 5 Conclusão Este trabalho teve como propósito analisar o acesso ao crédito do Pronaf pelos agricultores familiares e descrever o financiamento ao nível de custeio e investimento no Brasil. O valor médio do contrato aumentou acentuadamente ao longo do tempo tanto ao nível de custeio quanto investimento. Na liberação para custeio e investimento do Pronaf nas regiões do Brasil destacou-se a região Sul, pois obteve maior participação dos recursos liberados, enquanto a região Centro-Oeste foi a que teve menor participação referente ao ano 2012. Foi possível observar que houve crescimento na liberação dos recursos em todas as regiões entre 2010 e 2012, sendo a maior variação na região Sul e a menor variação na região Suldeste para custeio e maior variação na região Nordeste e a menor variação na região Centro-Oeste para investimento. Na soma de números de contratos de custeio e investimento nas regiões do país verificou-se que a região Nordeste deteve maior parte dos contratos ao longo do perídodo analisado, no entanto houve um pequena queda na aquisição de contratos o que também foi observado nas outras regiões.

Apesar do Nordeste deter maior parcela de contratos é a região Sul que apresentou maior montante de custeio e investimento, isso é explicado devido à região Sul apresentar mais de 80% dos estabelecimentos em atividade agrícola familiar. Com base nos dados do Censo Agropecuário a região Sul apresentou maior número de estabelecimentos com finalidade de financiamento para custeio, enquanto a região Nordeste apresentou maior número de estabelecimentos que obtiveram finalidade de financiamento para investimento. Uma informação que chama a atenção é que a maior parte dos agricultores familiares poderia ter adquirido financiamento, e não o fizeram, devido por não saber como obtê-lo. A receita obtida pela agricultura familiar no Brasil, na sua maior parte, é por meio de produtos vegetais, pois a maior parte do destino de financiamento tanto para custeio quanto para investimento pelo crédito do Pronaf é para a agricultura. Portanto, o Pronaf é uma importante fonte de crédito, onde os agricultores familiares, a partir desse programa, buscam melhores condições de produzir seus produtos. 6 Referências BELIK,W. PRONAF: avaliação da operacionalização do programa. Campinas. Universidade estadual de Campinas. NEA, 2001. CARNEIRO, Maria José. Política pública e agricultura familiar: uma leitura do Pronaf. Estudos Sociedade e Agricultura. 1997 CAZELLA, Ademir Antônio; MATTEI, Lauro; SCHNEIDER, Sergio. Histórico, caracterização e dinâmica recente do Pronaf: Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar, In: Congresso da Sociedade Brasileira de Economia e Sociologia Rural, Cuiabá, jul. 2004 CERQUEIRA, P.S. e ROCHA, A.G. A agricultura familiar e o PRONAF: elementos para uma discussão. Bahia Análise & Dados, Salvador, v. 12, n. 3, p. 105-117, 2002. DELGADO, Nelson Giordano. Política econômica, ajuste externo e agricultura. In: LEITE, Sérgio. (org.). Políticas Públicas e Agricultura no Brasil. Porto Alegre. Editora da Universidade, UFRGS, 2001 FELEMA, J.;RAIHER,A.P. e FERREIRA, C.R. Agropecuária Brasileira: desempenho regional e determinantes de produtividade. RESR, Piracicaba-SP, Vol. 51, Nº 3, p. 555-574, Jul/Set 2013 FIGUEIREDO, A. M., SILVA, M. A. P. e SANTOS, M.L. Distribuição Estadual dos Recursos do PRONAF e sua Comparação com a Renda dos Produtores Familiares. Anais do XLIV Congresso SOBER, Julho de 2006. Fortaleza/Ce. KAGEYAMA, Angela. et al. O novo padrão agrícola brasileiro: do complexo rural aos complexos agroindustriais. In: Guilherme da Costa Deldago et al., Agricultura e Política Públicas. Brasília, IPEA, 1990, partes II 1, II 4 e II 6 LEITE, Sergio. (org.). Políticas Públicas e Agricultura no Brasil. Porto Alegre. Editora da Universidade, UFRGS, 2001 MARTINE, George. A trajetória da modernização agrícola: A quem beneficia? Revista Lua Nova. CEDEC n 23, Março de 1991. São Paulo MATTEI, Lauro. PRONAF 10 anos: mapa da produção acadêmica. Brasília: MDA, 2006. Uma análise dos impactos do PRONAF sobre as economias locais nas regiões Nordeste, Sudeste e Norte do Brasil. XLV CONGRESSO DA SOBER. Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural. Londrina, 2007