IV COLÓQUIO AGRICULTURA FAMILIAR E DESENVOLVIMENTO RURAL O FUTURO DA AGRICULTURA FAMILIAR:

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1 UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL - UFRGS Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Rural PGDR Programa de Pós-Graduação em Sociologia - PPGS IV COLÓQUIO AGRICULTURA FAMILIAR E DESENVOLVIMENTO RURAL O FUTURO DA AGRICULTURA FAMILIAR: teoria e política para um novo desenvolvimento rural Painel 6: Desenvolvimento Rural e Agricultura Familiar Análise crítica acerca de teses recentes sobre o mundo rural brasileiro LAURO MATTEI UFSC l.mattei@ufsc.br

2 CONTEÚDO DA APRESENTAÇÃO 1 NOTAS INTRODUTÓRIAS 2 - AS 7 TESES RECENTES SOBRE O MUNDO RURAL BRASILEIRO 3 ANÁLISE CRÍTICA DAS 7 TESES 4 COMENTÁRIOS FINAIS

3 1 NOTAS INTRODUTÓRIAS As análises dos processos sociais rurais: espacialidade, diversidade e temporalidade Sociedade agrária inicial e contemporânea: forma de exploração dos recursos naturais Processo produtivo: historicamente dominado por algumas variáveis centrais Mundo rural: interpretado como dicotômico Teses Tradicionais: rural é sinônimo de agrícola

4 As 7 Teses: a) Procuram oferecer uma nova abordagem sobre o rural brasileiro, b) Apontar tendências do desenvolvimento da agropecuária e das regiões rurais do país c) Proposições apresentadas têm um inquestionável lastro empírico para sustentá-las d) Espera-se que o conjunto de teses possa contribuir para uma fértil e plural discussão, e) Apontar rumos mais robustos para a história agrária brasileira Esta apresentação irá questionar a fundamentação das principais teses expostas

5 2 - AS 7 TESES RECENTES SOBRE O MUNDO RURAL BRASILEIRO Premissas analíticas das 7 teses: análise de três processos sociais: Temporalidade: trajetória dos últimos 50 anos para mostrar o avanço da modernização agrícola Atores sociais: citar afirmação p.108 Fatos que desencadearam a intensificação tecnológica e produtiva: autores afirmam que eles são pouco conhecidos na literatura

6 Tese 1: Há uma mudança radical no padrão de acumulação da agricultura Tese 2: Trata das inovações tecnológicas na agricultura, destacando-se os impactos positivos da revolução verde Tese 3: Trata do processo de concentração da produção que aprofunda a diferenciação social dos produtores rurais Tese 4: A terra não é mais um fator explicativo sobre o crescimento da produção Tese 5: O Estado não é mais o ator promotor da modernização da agricultura e do desenvolvimento

7 Tese 6: Leitura sobre os resultados da dinâmica agrícola atual, destacando os problemas dos estabelecimentos rurais de menor porte econômico Tese 7: procura mostrar que os rumos do desenvolvimento rural brasileiro deverão seguir a Via Argentina Todo o debate poderá ser resumido em 3 pontos: a) Questão agrária: não é mais relevante no contexto atual, tornando a bandeira da reforma agrária uma luta do passado b) Produção agropecuária: dominada por um pequeno número de grandes produtores que são eficientes economicamente c) Estado: não é mais necessário porque este é incapaz de atender aos desafios da nova ordem rural

8 Na verdade, as 7 teses procuram sustentar um argumento central: provar a supremacia da agricultura moderna em relação às demais formas de agricultura do país. Esta supremacia conformou um novo padrão de acumulação da riqueza agropecuária AA partir de então ficou estabelecido um divisor de águas em nossa história rural Todos os demais argumentos apenas vêm agregar elementos a esses pontos fundamentais do artigo.

9 3 ANÁLISE CRÍTICA DAS 7 TESES Crítica 1: Análise da modernização (1960s): a) Não menciona o papel decisivo exercido pela propriedade da terra que passou a ser um ativo econômico de enormes proporções b) Os preços da terra assumiram uma escala ascendente desde aquela época até dias atuais c) Período apresenta os maiores percentuais de expansão da concentração da propriedade da terra d) Nenhuma menção aos impactos demográficos, sociais e ambientais negativos causados

10 Crítica 2: Atores envolvidos no processo de mudanças Autores negligenciam teses clássicas da literatura que mostraram o papel do latifúndio tradicional brasileiro durante a modernização agrícola Explicam apenas por meio do movimento demográfico de agricultores sulistas em direção às novas fronteiras agrícolas. Desconsidera-se o importante papel desempenhado pela burguesia agrária brasileira

11 Crítica 3: Fatos novos e novo padrão de financiamento da agricultura a partir de 1990: a) Participação maior dos recursos privados: não é mostrada nenhuma evidência empírica b) Os resultados produtivos atuais decorrem apenas das mudanças institucionais da década de 1990 c) Importações chinesas de soja promovem inovações tecnológicas Síntese: essas 3 críticas questionam as premissas analíticas das 7 teses, tornando-as vulneráveis e com baixo poder explicativo, conforme mostraremos na sequência.

12 Crítica 4: Sobre o novo padrão de acumulação da agricultura Para os autores, a fonte de riqueza social antes era a terra e agora passou a ser o capital O arrendamento capitalista é uma das sintomáticas expressões desse novo padrão. Expansão da produção total dada pela produtividade, rebaixando o peso do fator terra Considerações críticas: a) Rigorosamente não há um novo padrão de acumulação b) Dados dos CA de 1975 a 2006 não comprovam esse argumento c) Dados da soja contestam esse último argumento

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17 Crítica 5: A negação da questão agrária brasileira Para autores o último meio século desmentiu diversas antevisões: da exacerbação da questão agrária...às supostas tendências da concentração da propriedade fundiária e, mais ainda, as teses sobre o campesinato brasileiro A incorporação de novas terras explica pouco o crescimento da produção (hoje é a intensificação tecnológica) Considerações Críticas: a)sobre Campesinato: respondidas por Costa (2013)

18 b)concentração fundiária: Índice de Gini passou de 0,839, em 1960, para 0,856 no ano de 2006 c)demanda por terra: Graziano da Silva & Del Grossi (2000) mostraram a existência de três milhões de famílias classificadas como sendo de Trabalhadores Sem Terra d)censo Agropecuário: entre e 2006 as áreas de lavouras tiveram um crescimento de mais de 83%, o que significou a incorporação ao processo produtivo agrícola de aproximadamente 42 milhões de hectares de terras no período intercensitário. e)demanda imediata: 100 mil famílias de trabalhadores sem terra acampados pelo país.

19 Crítica 6: Papel do Estado Para autores, a partir de 1990s ocorreu uma saída à francesa da intervenção do Estado na economia rural Agora são os agentes privados os principais atores responsáveis pelo desenvolvimento agrícola do país Considerações críticas: Mudanças institucionais dos últimos 20 anos Lei Kandir Fundos Constitucionais operando a partir de 1990 Repactuação da dívida agrícola desde 1995 Volumes elevados do PAP e Plano Safra da AF

20 4 COMENTÁRIOS FINAIS O documento 7 teses contém um conjunto de equívocos sobre a realidade rural do país Muitas teses não contém qualquer sustentação empírica OO documento cumpre uma função dicotômica, ao isolar dois elementos fundamentais: questão agrária e a agricultura familiar e camponesa Há um conjunto de outros argumentos que ainda precisam ser contestados