PROCESSO: RP 1351-29.2014.6.21.0000 PROCEDÊNCIA: PORTO ALEGRE REPRESENTANTE: MINISTÉRIO PÚBLICO ELEITORAL REPRESENTADO: FACEBOOK SERVIÇOS ON LINE DO BRASIL LTDA JUIZ AUXILIAR: DES. FEDERAL OTÁVIO ROBERTO PAMPLONA RELATÓRIO Trata-se de representação com pleito liminar e pedido de decretação de segredo de Justiça ajuizada pelo MINISTÉRIO PÚBLICO ELEITORAL (PRE) em face de FACEBOOK SERVIÇOS ON LINE DO BRASIL LTDA (fls. 02/05). Narrou a Procuradoria Eleitoral que recebeu denúncia em seu site, na qual uma pessoa (fl. 08) relatou que ao acessar sua página no FACEBOOK verificou que havia uma "curtida" na página do candidato Nelson Marchesan Júnior. Esta mesma pessoa revelou que nunca curtira a página do referido candidato. Acrescentou, ainda, que o fato repetiu-se com alguns amigos seus, e que acredita que tenham ocorrido "curtidas falsas". Diante disso, o Ministério Público emitiu notificação ao FACEBOOK para que esclarecesse o ocorrido (fl. 11). Em resposta (fls. 12/36), o FACEBOOK relatou: a) que não existe na plataforma serviço pago para a realização de "curtidas" não autorizadas no site; b) que não poderia informar a média de "curtições" diárias da página de Nelson Marchesan Júnior, pois não realiza tal acompanhamento; c) que as demais informações somente poderiam ser dadas em face de determinação judicial. Esclareceu que o fundamento de seu pedido é o art. 796 do Código de Processo Civil e que necessita de tais informações para a devida apuração dos fatos. Entende que as "curtições falsas" podem criar artificialmente estados mentais inexistentes na opinião pública. 1
Requereu, ao final, a decretação do segredo de justiça bem como os seguintes esclarecimentos: a) o provimento de medida liminar que determine que a representada informe, no prazo de 48h: a1) se houve, no caso concreto, "curtidas" não autorizadas pelos perfis cujas URLs constam na peça inicial; a2) em caso afirmativo, de que forma foram obtidas essas "curtidas" não a3) qual o usuário que promoveu essas "curtidas" não autorizadas, fornecendo nome, dados cadastrais e IP dos computadores que promoveram essas "curtidas" não a4) se é possível identificar alguma forma de pagamento por esse serviço de "curtidas" não a5) outras informações relevantes para o esclarecimento dos fatos. b) que ao final seja confirmada a liminar por sentença com a condenação da representada ao fornecimento das informações solicitadas. Indeferi a liminar pleiteada (fl. 62/63) e determinei a notificação do representado para que apresentasse defesa. A FACEBOOK SERVIÇOS ON LINE DO BRASIL LTDA apresentou defesa (fls. 70/95). Suscitou preliminar de ilegitimidade passiva, sob argumento de que as responsáveis pela rede social são a empresa americana Facebook Inc. e a empresa irlandesa Facebook Ireland Limited. No mérito, apresentou esclarecimentos aos questionamentos feitos na representação. É o relatório. 2
DECISÃO 1. Preliminar de ilegitimidade passiva O representado sustenta sua ilegitimidade passiva dizendo que a FACEBOOK DO BRASIL não tem qualquer ingerência no site de relacionamentos facebook e aponta como responsáveis as sociedades estrangeiras FACEBOOK INC. e FACEBOOK IRELAND LIMITED. Referida preliminar não comporta acolhida. Conforme contrato social juntado aos autos pela própria demandada (fls. 41-55), a empresa FACEBOOK SERVIÇOS ONLINE DO BRASIL LTDA foi constituída a fim de viabilizar a operação do sistema empresarial e corporativo em território nacional. Integra, como se extrai do referido contrato social, o grupo econômico dos controladores da rede social em nível mundial, sendo seu representante no Brasil. É pacífica a jurisprudência no sentido da legitimidade da empresa representada para figurar no polo passivo de ações como a presente, pois a empresa Facebook Serviços Online do Brasil Ltda. foi constituída pela Facebook Inc. e Facebook Ireland Ltda. para atuar neste país como sua representante, possuindo controle para retirada de conteúdos indevidos do sítio de relacionamentos. Neste sentido, colaciono precedente do TRE-SP: REPREENTAÇÃO ELEITORAL - PROPAGANDA ELEITORAL ANTECIPADA - INTERNET - ART. 36, "CAPUT" E PARÁGRAFO 3º, DA LEI Nº 9.504/97 - PRELIMINAR DE ILEGITIMIDADE PASSIVA AFASTADA - PERFIL CRIADO EM REDE SOCIAL - FACEBOOK - AUTORIA DESCONHECIDA - NÃO APLICAÇÃO DE MULTA. A EMPRESA FACEBOOK SERVIÇOS ONLINE DO BRASIL LTDA FOI CONSTITUÍDA PELA FACEBOOK INC. E FACEBOOK IRELAND LTDA PARA ATUAR NESTE PAÍS COMO SUA REPRESENTANTE, POSSUINDO CONTROLE PARA RETIRADA DE CONTEÚDOS INDEVIDOS DO 3
SÍTIO DE RELACIONAMENTOS. AFASTADA A ALEGADA ILEGITIMIDADE PASSIVA DA EMPRESA REPRESENTADA. MATERIALIDADE DA CONDUTA DEFINIDA, CONTUDO, SEM IDENTIFICAÇÃO DA AUTORIA. O REPRESENTANTE DEIXOU DE PROVIDENCIAR A QUEBRA DO SIGILO DA AUTORIA DO PERFIL CRIADO NO FACEBOOK. INDEVIDA A MULTA PREVISTA NO ART. 36, DA LEI N. 9.504/97. DETERMINAÇÃO, DE OFÍCIO, PARA A REMOÇÃO DO CONTEÚDO ORA ATACADO DA REDE MUNDIAL DE COMPUTADORES. REPRESENTAÇÃO JULGADA IMPROCEDENTE, COM DETERMINAÇÃO DE RETIRADA IMEDIATA DO CONTEÚDO IMPUGNADO À EMPRESA REPRESENTADA, OFICIANDO-SE LOGO APÓS A PUBLICAÇÃO DO V. ACÓRDÃO. (TRE-SP - REP: 18725 SP, Relator: DIVA PRESTES MARCONDES MALERBI, Data de Julgamento: 01/08/2013, Data de Publicação: DJESP - Diário da Justiça Eletrônico do TRE-SP, Data 08/08/2013) Segundo o STJ, "Se empresa brasileira aufere diversos benefícios quando se apresenta ao mercado de forma tão semelhante à sua controladora americana, deve também, responder pelos riscos de tal conduta" (STJ-REsp.: 1021987/RN, Rel. Min. Fernando Gonçalves, DJe: 09/02/2009). Aliás, tal alegação não se coaduna com a apresentação da defesa, a qual contém diversos esclarecimentos acerca do ocorrido, demonstrando o pleno domínio da empresa FACEBOOK SERVIÇOS ONLINE DO BRASIL LTDA acerca dos fatos. Desta forma, afasto a alegação de ilegitimidade passiva ad causam. 2. Mérito No despacho datado de 02 de setembro determinei a representada que prestasse as seguintes informações: a1) se houve, no caso concreto, "curtidas" não autorizadas pelos perfis dos sete usuários cujas URLs constam na peça inicial; 4
a2) em caso afirmativo, de que forma foram obtidas essas "curtidas" não a3) qual o usuário que promoveu essas "curtidas" não autorizadas, fornecendo nome, dados cadastrais e IP dos computadores que promoveram essas "curtidas" não a4) se é possível identificar alguma forma de pagamento por esse serviço de "curtidas" não a5) outras informações relevantes para o esclarecimento dos fatos. Em sua defesa, a empresa FACEBOOK argumentou que não é possível ocorrerem "curtidas falsas", ou não autorizadas, conforme alegado pelo representante. Explicita que a opção "curtir" uma página é, por natureza e via de regra, uma ação de livre escolha por parte do usuário e que os operadores do site FACEBOOK verificaram que não ocorreu nenhuma atividade fraudulenta em relação as "curtidas" na página www.facebook.com/nelsonmarchesan. Assim esclareceram: "com exceção do usuário Cláudio Borges (em relação ao qual, de acordo com as informações disponíveis no sistema dos operadores do site FACEBOOK, não consta até o presente momento "curtida" na página do político em questão), as "curtidas" atribuídas aos demais perfis especificados na Reperesentação Eleitoral foram, de fato, regularmente vinculados à página do político em questão, seja porque eram amigos/seguidores de perfil ou grupo que posteriormente foi convertido para a página do político, informada na URL [...], seja por conta de ato do próprio usuário ao clicar no botão de "curtir" a página, recebido por intermédio de conteúdo sugerido em sua linha do tempo (newsfeed)". Quanto a possibilidade de se identificar alguma forma de pagamento pelo serviço de "curtidas" não autorizadas, os operadores do FACEBOOK informaram a inexistência de tal serviço na plataforma. Prestados estes esclarecimentos, a representação deve ser julgada 5
improcedente. Entendo que as informações prestadas pela empresa representada foram satisfatórias, tendo contemplado todas as indagações feitas. Tomadas em conta as informações trazidas aos autos, conclui-se que não existem elementos de prova suficientes a corroborar o alegado na representação. Diante do exposto, julgo improcedente a representação. Intime-se. Em 06 de setembro de 2014. Des. Federal Otávio Roberto Pamplona, Juiz Auxiliar. 6