SELO COMBUSTÍVEL SOCIAL: UMA ESTRATÉGIA DE RESPONSABILIDADE SOCIAL?



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Transcrição:

SELO COMBUSTÍVEL SOCIAL: UMA ESTRATÉGIA DE RESPONSABILIDADE SOCIAL? Thalita Caroline Azevedo Goncalves (UFLA) thalita_caroline@yahoo.com.br Guilherme de Freitas Borges (UFLA) guilhermebcvo@hotmail.com Flavia Luciana Naves Mafra (UFLA) flanaves@dae.ufla.br A produção de biocombustíveis ganhou espaço crescente não apenas na pauta da política nacional, mas também no cenário econômico internacional. Nesse contexto o Brasil deu um salto, quando criou a norma que dispõe sobre a introdução do biodiiesel na matriz energética brasileira, normalizando o Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel (PNPB). Com o objetivo de promover a inclusão social de agricultores familiares na cadeia produtiva de biodiesel, o PNPB deu origem ao Selo Combustível Social (SCS). Com esse selo, a agricultura familiar encontra espaço numa nova e promissora cadeia produtiva e ainda a empresa produtora de biodiesel consegue acessar benefícios tributários como a redução da sua contribuição para o PIS/PASEP e COFINS. O selo combustível social, além de aspectos econômicos, traz uma vertente social. O PNPB foi elaborado de forma a incentivar o setor privado a alinhar requisitos de produtividade a alguns requisitos sociais. Diante disso o selo combustível social apresenta uma vertente na estratégia de responsabilidade social, que é formada pela gestão estratégica da empresa e busca ampliar a competitividade através de mudanças no contexto social para explorar novas oportunidades de negócios e aumentar a eficiência produtiva. Portanto o presente ensaio objetiva examinar como o Selo Combustível Social pode ser encarado com uma estratégia de responsabilidade social. Palavras-chaves: Selo combustível social, responsabilidade social, biodiesel

1 Introdução A produção de biocombustíveis ganhou espaço crescente não apenas na pauta da política nacional, mas também no cenário econômico internacional. Nesse contexto o Brasil deu um salto, quando criou a norma que dispõe sobre a introdução do biodiesel na matriz energética brasileira, normalizando o Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel (PNPB) cuja intenção explícita é integrar agricultores familiares à oferta de biocombustíveis e com isso contribuir para o fortalecimento de sua capacidade de geração de renda. Com o PNPB, o Ministério de Desenvolvimento Agrário (MDA) criou o Selo Combustível Social (SCS), que de acordo com instrução normativa no-1, de 19 de fevereiro de 2009 componente de identificação concedido pelo MDA a cada unidade industrial do produtor de biodiesel que cumpre os critérios descritos na IN e que confere ao seu possuidor o caráter de promotor de inclusão social dos agricultores familiares enquadrados no Pronaf (BRASIL, 2009). O SCS visa estimular a inclusão social e o desenvolvimento regional por meio de geração de emprego e renda para os agricultores familiares através de um conjunto de medidas específicas que as empresas produtoras de biodiesel são obrigadas a cumprir, para possuírem este selo. Em contrapartida as empresas produtoras de biodiesel têm direito a benefícios tributários como a redução da sua contribuição para o PIS/PASEP e COFINS. Além disso, tais empresas estão aptas a participar dos leilões de compra de biodiesel para o mercado interno brasileiro, e usufruir de melhores condições de financiamento junto às instituições financeiras (BRASIL, 2009). Somado a isso, as empresas brasileiras produtoras de biodiesel entram no mercado externo com uma marca social que poderá lhes proporcionar maiores oportunidades de acesso e menores riscos de contestação (ABRAMOVAY & MAGALHÃES, 2007). O selo combustível social, além de aspectos econômicos, traz uma vertente social entre suas diretrizes, não sendo apenas uma política energética e agrícola, sendo também uma política social, algo inédito no cenário da agroenergia (PEDROTI, 2011). O PNPB foi elaborado de forma a incentivar o setor privado a alinhar requisitos de produtividade a alguns requisitos sociais. Diante disso o selo combustível social apresenta uma vertente na responsabilidade social, que é formada pela gestão estratégica da empresa e busca ampliar a competitividade através de mudanças no contexto social para explorar novas oportunidades de negócios e aumentar a eficiência produtiva. E ainda está preocupada com a integração de considerações ambientais, econômicas e sociais nas estratégias e práticas empresariais (JONES et al, 2007). No caso das empresas produtoras de biodiesel, a importância da estabilização das fontes de abastecimento de matéria prima e o menor custo de produção da agricultura familiar são os principais motivos que levam a tão forte adesão empresarial a um programa que tem um objetivo ao mesmo tempo econômico e social (ABRAMOVAY & MAGALHÃES, 2007). Objetivo do presente ensaio teórico é examinar como o Selo Combustível Social pode ser encarado com uma estratégia de responsabilidade social. 2 Biodiesel, O PNPB e o Selo Combustível Social 2.1 Biodiesel A temática a respeito dos biocombustíveis necessita ser abordada sob diferentes enfoques, incluindo aspectos associados à problemática energética, ambiental e social. Os biocombustíveis são apresentados como alternativa viável de fonte de energia, uma vez que polui menos que os combustíveis derivados do petróleo, e, apresenta-se também, como uma forma de gerar empregos e fortalecer o setor industrial. Os biocombustíveis estão na pauta dos 2

governos, empresários, organizações representativas, centros de pesquisa e meios de comunicação. No Brasil o governo federal tem defendido abertamente os biocombustíveis, especialmente o biodiesel, colocando este produto como um trunfo não apenas da economia, mas também das políticas sociais. A Lei nº 11.097, de 13/01/2005, define biodiesel como o biocombustível derivado de biomassa renovável para uso de motores em combustão interna com ignição por compreensão ou (...) que possa substituir parcial ou totalmente combustíveis de origem fóssil. Ou seja, o biodiesel é um combustível renovável, biodegradável e ambientalmente correto, sucedâneo ao óleo diesel mineral. De acordo com o Ministério de Minas e Energia MME (2012), o Brasil apresenta reais condições para se tornar um dos maiores produtores de biodiesel do mundo por dispor de solo e clima adequados ao cultivo de oleaginosas. E ainda o país possui mais de 90 milhões de hectares para expansão agrícola, clima favorável à produção de oleaginosas e além de um histórico de produção e consumo de biocombustível. O país apresenta ainda um grande potencial tanto para produzir como para consumir o biodiesel, ou seja, o Brasil possui tradição na produção de biocombustíveis, conhecimento tecnológico e mercado interno receptivo para o consumo deste tipo de combustível (PEDROTI, 2011). Assim, além de assegurar o suprimento interno, o biodiesel produzido no Brasil tem grande potencial de exportação. E o Biodiesel em contrapartida, de acordo com ACCARINI (2006), pode contribuir favoravelmente para o equacionamento das seguintes questões fundamentais para o País: geração de emprego e renda; redução das emissões de poluentes e custos na área de saúde; atenuação de disparidades regionais e redução da dependência de importações de petróleo. De acordo com os dados da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis - ANP (2011), no Brasil existem hoje 65 empresas produtoras de biodiesel com autorização para operarem, das quais 61 estão autorizadas a comercializarem o produto e 38 possuem o selo combustível social. O país apresenta uma capacidade estimada de produção de biodiesel de 6,5 milhões de m³ ao ano. A cadeia brasileira de fornecimento de biodiesel é composta por três processos básicos e integrada, que são: (1) fornecimento, (2) produção; e (3) distribuição. Embora esses processos sejam comuns a qualquer cadeia de fornecimento, a cadeia produtiva do biodiesel no Brasil apresenta particularidades. É em grande parte impulsionada por iniciativas governamentais e controles destinados a atingir os objetivos sociais, tais como a inserção da agricultura de base familiar na cadeia de abastecimento e a criação de emprego em regiões pobres do país. Várias instituições governamentais reguladoras intervir diretamente na maneira como os agentes econômicos conduzir os negócios na cadeia de abastecimento (PADULA et al, 2012). 2.2 PNPB A introdução do biodiesel assumiu importância estratégica para o desenvolvimento nacional com base nos seguintes pilares: a redução das importações de energia, desenvolvimento e a criação de emprego nas áreas rurais e redução do impacto ambiental devido ao uso de um combustível renovável (PADULA et al, 2012). E o Brasil apresentava um ambiente propício para a estruturação de ideias e iniciativas em torno da produção do biodiesel (PEDROTI, 2011). Tais ideias parecem ter se consolidado em 2004 quando o governo brasileiro criou o Programa Nacional de Produção e Uso de Biodiesel (PNPB), que estabelece o quadro regulamentar através da qual o biodiesel tem sido incorporado na matriz energética brasileira 3

e que está atualmente dirigindo a estruturação do setor. Seus principais objetivos são (MME, 2012): Implementar um programa sustentável, promovendo inclusão social (Fortalecer a agricultura familiar na produção de biodiesel); Garantir preços competitivos, qualidade e suprimento; Produzir biodiesel a partir de matérias-primas diferentes e em diferentes regiões do país. De acordo com Abramovay e Magalhães (2007), o PNPB objetiva integrar agricultores familiares à oferta de biocombustíveis e, por aí, contribuir ao fortalecimento de sua capacidade de geração de renda, utilizando, para isso, modalidades produtivas que evitem a monocultura e permitam o uso de áreas até então pouco atrativas. O PNPB também rapidamente gerou um conjunto de políticas destinadas a fomentar o biodiesel, que foram desenvolvidas e implementadas por diversos ministérios (como os das Finanças, dos Transportes, da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, de Minas e Energia, da Ciência e Tecnologia, do Meio Ambiente e de Desenvolvimento Rural) para apoiar as linhas estratégicas definidas para este programa. Pode-se dizer que o PNPB envolve um grande número de atores com papéis e interesses diferenciados em torno do biodiesel. O dialogo entre esses atores é o ponto central para o desempenho do programa que pode ser identificado como política pública mas também como estratégia de responsabilidade social pela ótica das empresas, sobretudo aquelas que estão certificadas com o selo combustível social. 2.3 Selo Combustível Social Com o objetivo de promover a inclusão social de agricultores familiares na cadeia produtiva de biodiesel, o PNPB criou o Selo Combustível Social (SCS), que especifica, através das Instruções Normativas do Ministério de Desenvolvimento Agrário, os percentuais mínimos de matéria-prima que os produtores de biodiesel industriais devem obter de agricultores familiares, a fim de serem certificados (GARCEZ, C. A. G.; VIANNA, J. N, 2009). A obtenção do SCS, por sua vez, permitiria ao produtor de biodiesel acessar benefícios tributários como a redução da sua contribuição para o PIS/PASEP e COFINS. Além disso, nesse decreto se atribuiu ao Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) a responsabilidade por estabelecer procedimentos, conceder o SCS e fiscalizar os produtores que o tenham obtido (BRASIL, 2004). Para fins de concessão, manutenção e uso do Selo Combustível Social, as empresas produtoras de biodiesel devem comprar matéria-prima da agricultura familiar. Os percentuais mínimos de aquisições de matéria-prima do agricultor familiar, feitas pelo produtor de biodiesel, são de: 30% região Nordeste, Sudeste e Semiárido, 20% regiões Norte e Centro- Oeste e 40% região Sul. Sendo essa porcentagem o custo anual, em reais, de aquisição de matérias-primas da agricultura familiar, em relação ao custo anual, em reais, das aquisições totais de matérias primas utilizadas no período para a produção de biodiesel (MDA, 2011). Além disso, as empresas devem fazer contratos negociados com os agricultores familiares, com uma série de medidas específicas, entre elas a prestação do serviço de assistência técnica, que é fundamental quando se trata de implantar produtos novos. A legislação obriga o produtor de biodiesel a entregar um plano de assistência técnica ao solicitar a concessão do SCS. Em vários casos além da assistência técnica, a empresa produtora de biodiesel fornece sementes e insumos aos agricultores. A legislação estabelece que sejam adotadas técnicas participativas e vivenciais nas ações de capacitação, capazes de estimular a organização associativa e cooperativa. A IN N 01/2009 4

prescreve também que as equipes de assistência auxiliem os agricultores a acessarem políticas públicas com mais facilidade. E ainda, a legislação recomenda novos fatores na implementação da assistência e capacitação técnica: segurança e soberania alimentar; produção diversificada e consorciada; respeito à cultura e aos conhecimentos dos agricultores familiares; manejo adequado da água e do solo; rotação de culturas, dentre outros. Segundo a IN N 01/2009, a adoção desses fatores facilitaria a integração de práticas convencionais e agroecológicas, como adubação química e orgânica e o uso de agentes biológicos e naturais. Esses princípios devem respeitar as especificidades locais (GARCEZ, C. A. G.; VIANNA, J. N, 2009). Com o SCS, a agricultura familiar encontra espaço numa nova e promissora cadeia produtiva, ainda que sua participação não seja a esperada em quantidade e qualidade. O Ministério do Desenvolvimento Agrário vem adotando medidas para promover a inserção da agricultura familiar na cadeia produtiva do biodiesel, destacando a criação do PRONAF BIODIESEL (Programa de Fortalecimento da Agricultura Familiar), que disponibilizou uma linha de crédito específica para a produção de biodiesel, na qual agricultores beneficiários podem requisitar crédito adicional para o custeio da produção de oleaginosas, aquisição de máquinas, dentre outros (SCHAFFEL & ROVERE, 2010). Há uma grande quantidade de fatores envolvidos na implantação nessa experiência. Aspectos relacionados ao mercado, a tecnologia, acesso a recursos, eficiência produtiva, investimentos, parcerias que muitas vezes impedem que tais projetos consigam promover uma inclusão de agricultores familiares, processo que seria uma das razões principais para a implantação de novos projetos de produção de biodiesel. É importante ressaltar que a participação da agricultura familiar na cadeia produtiva do biodiesel deve ser um fator de geração de renda complementar para a família, o biodiesel deve ser um meio para a agricultura familiar, não um fim. A agricultura familiar possui uma lógica diferente da empresarial e uma forma organizacional específica, não se trata de apenas mais um fornecedor de matéria prima para o abastecimento de determinada produção industrial. É importante reconhecer as diferenças de interesses, valores e poder que existem de ambos os lados: empresa e agricultura familiar, a começar pela forma como cada parte vê os recursos naturais. Para uma empresa produtora de biodiesel as oleaginosas são fonte de matéria prima, com peso significativo no custo de produção do biodiesel. Enquanto para a agricultura familiar plantar e produzir estão relacionados ao seu modo de vida, cultura e identidade (SCHAFFEL & ROVERE, 2010). Todos estes fatores e fatos reforçam a necessidade do desenvolvimento de estudos empíricos sobre o Selo Combustível Social, verificando na prática se o objetivo proposto pelo Selo, inclusão da agricultura familiar na cadeia produtiva do biodiesel com geração de renda e utilização da diversidade de oleaginosas regionais, está sendo atingido. 3 Responsabilidade Social A expressão responsabilidade social, contempla muitas variações e aplicações, dependendo do contexto. Nas últimas décadas, um conjunto de fatores tem mudado as expectativas da sociedade sobre qual seria este papel das empresas. Algumas décadas atrás cuidar de problemas sociais e ambientais deveria ser papel exclusivo do Estado, questões que o setor privado não tinha vocação para se envolver. (SCHAFFEL; ROVERE, 2010). Hoje as empresas vêm se surpreendendo ao serem cobradas sobre questões que não julgavam fazer parte de suas responsabilidades. De acordo com Schaffel & Rovere (2010), as novas expectativas da sociedade sobre o papel das empresas tem determinando a mudança de comportamento por parte das empresas. Agora 5

as empresas tendem a atuar além do que seriam suas obrigações legais, assumindo novos compromissos. Procurando enfatizar seu compromisso com meio ambiente, objetivos sociais e econômicos que se estendem além suas atividades comerciais (JONES et al, 2007). De acordo com Weyand et al (2012) os elementos-chave da responsabilidade social empresarial são: um relacionamento ético e transparente com o público, a promoção da redução da desigualdade social, e o compromisso com o desenvolvimento sustentável. Ashley (2006) afirma que a corporação tem sido historicamente vista como centro de referência para a reflexão sobre ética e responsabilidade social nos negócios. Nesse eixo, a responsabilidade social corporativa tende a ser considerada uma atividade destacada da lógica econômico-financeira da empresa, encaixando-se na categoria de pós-lucro. Sob esta perspectiva as organizações empresariais têm uma predominante necessidade de produzir lucros para sobreviver e a responsabilidade social corporativa torna-se, assim, uma ação instrumental. De acordo com Schroeder e Schroeder (2004) as empresas passaram a exercer um papel diferenciado do tradicional - provedoras de bens e serviços. Ou seja, a sociedade passou a reconhecer que as empresas como grandes portadoras e geradoras de riquezas materiais, também deveriam e poderiam assumir uma maior responsabilidade para com a sociedade, assumindo e participando de causas sociais. Ashley (2006) defende que transposição da discussão da responsabilidade social para além da corporação compreende adotar uma perspectiva orientada para a sustentabilidade do próprio conceito, uma vez que expõe a necessidade de uma efetiva rede de negócios que incorpore o conceito da responsabilidade social em todas as transações dos stakeholders associados às redes de negócios nas quais as organizações estão inseridas. Weyandt et al (2012) afirma que a responsabilidade social refere-se a ética como princípio fundamental das ações e relações com todos stakeholders que interagem com a empresa: suporte, estoque, funcionários, consumidores, fornecedores, meio ambiente, governo, comunidade local e ao mercado em geral. Assim, apesar das limitações na operacionalização de estratégias, a responsabilidade social na atualidade não pode ser reduzida nem a uma perspectiva instrumental, nem apenas a uma dimensão social da empresa. A responsabilidade social abrange desde a obtenção do retorno financeiro pelos acionistas até a inserção de práticas sociais no planejamento estratégico das corporações (TENÓRIO, 2006). A responsabilidade social tornou-se uma importante questão estratégia para muitas empresas, a sustentabilidade passa a ser uma importante fonte de legitimidade institucional e ainda as empresas têm responsabilidades sociais incorporadas, bem como as responsabilidades legais (MOURA-LEITE; PADGETT, 2011). O tema responsabilidade social se encontra apoiada no tripé da sustentabilidade demonstrando a sua importância e que as questões econômicas, sociais e ambientais devem ter o mesmo peso em relação à sustentabilidade (WEYANDT et al, 2012). Interpretada no contexto das mudanças globais e brasileiras nas últimas décadas, no âmbito das diferentes expectativas de seus defensores e na análise das limitações das diversas formas de operacionalização do conceito, o debate sobre responsabilidade social demanda uma visão integrada das dimensões econômicas, ambientais, sociais e políticas que definem seus limites e possibilidades. Machado Filho (2006) ressalta que dentre as mudanças que estimularam o destaque da responsabilidade social nas últimas décadas está o processo de integração dos mercados que pressiona as empresas a modificarem seus comportamentos e cuidarem dos seus padrões éticos. 6

Reis e Medeiros (2007) afirmam que no Brasil a responsabilidade social tem tido um destaque exponencial em seu uso e acompanha os movimentos de modernização e liberalização do mercado produtivo brasileiro, bem como as reformas do papel do Estado enquanto agente regulador dos desequilíbrios econômicos e sociais, sendo uma área permeada por múltiplas possibilidades de interpretação. Pressupõe-se, diante de tantas expectativas, que seria necessária certa articulação entre atores de diferentes instâncias para se concretizar mudanças mais concretas a partir de ações de responsabilidade social. Fischer (2006) defende que a atualidade do interesse pela responsabilidade social estaria calcada, entre outros fatores, na necessidade de um relacionamento equilibrado com múltiplos stakeholders e na crescente visibilidade pública das ações empresariais. Neste sentido, Machado Filho (2006) lembra as considerações de Douglass North para quem tal processo reflete também a própria evolução institucional das sociedades: Por que a separação das empresas e da sociedade? Questiona ele. Na verdade, as empresas, como outros tipos de organização, são integrantes da chamada sociedade civil. São formuladas por pessoas e, portanto, a conduta das pessoas nas atividades de negócios não é descasada da sua prática no dia-a-dia como cidadãos. Tal concepção reforça a necessidade de avançar no debate sobre responsabilidade social para além dos limites estruturais da organização (cada vez mais amplos se levarmos em consideração as diversas influências das mesmas em diferentes esferas de nossas sociedades) e incorporar essa temática às discussões sobre desenvolvimento. Eis aí um desafio, considerando-se que como lembra Ashley (2006) as iniciativas na área de responsabilidade social ainda não produziram resultados gerais palpáveis nem consenso sobre arranjos institucionais capazes de envolver os atores mais adequados no combate consistente à crise social e ambiental no Brasil. Reis (2008) afirma que o desenvolvimento, na atualidade, ampliou seu foco e passou a conter outros objetivos (sociais, político-institucionais, culturais, ambientais), tendo como espaço privilegiado a esfera local. Com isso, o Estado deixou de ser o principal agente promotor do desenvolvimento, em favor, sobretudo da sociedade civil e de grandes empresas, e houve uma mudança na forma de serem planejadas e implementadas ações desenvolvimentistas. As ações e estratégias empresariais não ocorrem num vazio social e político. A noção e as práticas de responsabilidade social surgem não apenas como demandas ou mudanças de concepção sobre a atuação empresarial, nem exclusivamente como resultado do surgimento e fortalecimento das organizações do terceiro setor, mas relacionam-se também a mudanças abrangentes nos processos e estruturas políticas e econômicas em contextos de globalização fortemente influenciados por discursos neoliberais. O que se tem assistido nas últimas décadas é a tentativa de construção do que se poderia chamar de um engajamento social parcial do empresariado por meio de práticas de responsabilidade social que não provoquem mudanças na perspectiva político-econômica dominante. Isso seria o que Paoli (2009, p. 387) define como (...) simultaneidade entre a redução de políticas públicas voltadas para a promoção das garantias dos direitos sociais, de um lado, e da abertura do espaço às ações sociais privadas, de outro, (...). Tal discussão traz à tona a importância de uma participação mais efetiva de diferentes grupos sociais na elaboração e controle das políticas e processos públicos ou de interesse público, o que aparece mais no discurso do que na prática. 7

4 Considerações finais Os debates aqui colocados apontam que para o selo combustível social ser considerado uma estratégia de responsabilidade social, é necessária repensar a responsabilidade social como algo que não é inerente apenas às organizações empresariais, mas que pode contribuir para um necessário engajamento social de outras organizações públicas ou da sociedade civil. O Selo Combustível Social com base em um novo modelo de negócios procura modificar objetivos econômicos, sociais e ambientais das empresas produtoras de biodiesel. E ainda, com a dimensão da responsabilidade social, é o resultado da coalizão de interesses de diversos atores, que antes possuíam apenas inter-relações de conflito e agora passaram a ser responsáveis conjuntamente pela formação de um novo arranjo produtivo. O presente trabalho traz considerações teóricas a respeito do selo combustível social e da responsabilidade social. Propõe-se que sejam realizados estudos empíricos sobre o selo combustível social, buscando consolidar uma perspectiva comum para as discussões sobre responsabilidade social e desenvolvimento. Referências ABRAMOVAY, R.; MAGALHÃES, R. O acesso dos agricultores familiares aos mercados de biodiesel: parcerias entre grandes empresas e movimentos sociais. In.: Conferência da Associação Internacional de Economia Alimentar e Agroindustrial. 2007, Londrina, Anais... Londrina: AIEA2, 2007. ANP. Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis. Disponível em: <http://www.anp.gov.br>. Acesso em: 23 de março de 2012. ASHLEY, P. A. Ética e responsabilidade social nos negócio. 2ª edição. 2ª. ed. São Paulo: Saraiva, v. 1. 368 p, 2006. BRASIL. Decreto 5.297, de 6 de dezembro de 2004. Diário Oficial da União, Poder Executivo, Brasília, DF, Seção 1, p. 2, 7 dez. 2004. BRASIL. INSTRUÇÃO NORMATIVA No-1, DE 19 DE FEVEREIRO DE 2009. Dispõe sobre os critérios e procedimentos relativos à concessão, manutenção e uso do selo combustível social. Diário Oficial da União, Nº 37, quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009. FISCHER, R. M. Novas dimensões da responsabilidade social: a responsabilidade pelo desenvolvimento. In MACHADO FILHO, C. P. Responsabilidade social e governança: o debate e as implicações. São Paulo: Pioneira Thomson Learning p. 151-166, 2006. GARCEZ, C. A. G.; VIANNA, J. N. de S. Brazilian Biodiesel Policy: Social and environmental considerations of sustainability. Energy, v. 34, p. 645 654, 2009. JONES, P.; COMFORT, D.; HILLIER, D. Corporate social responsibility: a case study of the top ten global retailers. EuroMed Journal of Business, v. 2, p. 23-35, 2007. MACHADO FILHO, C. P. Responsabilidade social e governança: o debate e as implicações. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2006. MDA. Ministério de Desenvolvimento Agrário. Disponível em: <www.mda.gov.br>. Acesso em 23 de março de 2012. MME. Ministério de Minas e Energia. Disponível em: <http://www.mme.gov.br/mme>. Acessado em: 03 de março de 2012. MOURA-LEITE, R. C.; PADGETT, R. C. Historical background of corporate social responsibility. Social Responsibility Journal, v. 7, p. 528-539, 2011. PADULA, A. D.; SANTOS M. S.; FERREIRA, L.; BORENSTEIN, D. The emergence of the biodiesel industry in Brazil: Current figures and future prospects. Energy Policy, v. 44 p. 395 405, 2012. 8

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