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Transcrição:

Tribunal de Justiça de Pernambuco PJe - Processo Judicial Eletrônico 13/02/2019 Número: 0001107-32.2016.8.17.8227 Classe: PROCEDIMENTO DO JUIZADO ESPECIAL CÍVEL Órgão julgador: 3º Juizado Especial Cível e das Relações de Consumo de Jaboatão dos Guararapes - Turno Manhã - 07:00h às 13:00h Última distribuição : 03/03/2016 Valor da causa: R$ 3.199,86 Assuntos: Financiamento de Produto Segredo de justiça? NÃO Justiça gratuita? SIM Pedido de liminar ou antecipação de tutela? NÃO Partes Procurador/Terceiro vinculado GLEYBSON JOSE SILVA (DEMANDANTE) BV FINANCEIRA (DEMANDADO) Id. Data da Assinatura Documento Documentos ANDRE FRUTUOSO DE PAULA (ADVOGADO) WILSON SALES BELCHIOR (ADVOGADO) 39641 660 03/01/2019 15:59 Sentença Sentença Tipo

Tribunal de Justiça de Pernambuco Poder Judiciário 3º Juizado Especial Cível e das Relações de Consumo de Jaboatão dos Guararapes - Turno Manhã - 07:00h às 13:00h RODOVIA BR-101 SUL, KM 80, 5º pavimento, PRAZERES, JABOATÃO DOS GUARARAPES - PE - CEP: 54345-160 - F:(81) 31826800 Processo nº 0001107-32.2016.8.17.8227 DEMANDANTE: GLEYBSON JOSE SILVA DEMANDADO: BV FINANCEIRA SENTENÇA Vistos etc. Trata-se de queixa ajuizada por Gleybson José Silva em face da BV Financeira, ambos devidamente qualificados nos autos, em que pretende a restituição em dobro de encargos contratuais indevidamente cobrados e pagos. Alega a parte autora que comprou o veículo indicado na exordial, mediante financiamento solicitado ao financiador réu. Aduz não ter concordado com a cobrança de tarifas de cadastro, seguro, avaliação do bem, registro do contrato, mas não logrou êxito na sua exclusão, tendo que efetuar os respectivos pagamentos. Requer a devolução em dobro do montante indevidamente pago e indenização por danos morais. Atribui à causa o valor de R$ 2.698,40 (dois mil, seiscentos e noventa e oito reais e quarenta centavos). Requer a assistência judiciária gratuita. Regularmente citado, o demandado compareceu à audiência una. Infrutíferas as tentativas de acordo, apresentou contestação e documentos. Na peça de bloqueio, defende a legalidade da referida cobrança e pugna pela improcedência do pleito autoral. Vieram-me conclusos os autos. Decido. Nos moldes da Súmula n. 297 do Superior Tribunal de Justiça (STJ), a regulamentação das atividades financeiras realizada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) não obsta a sujeição das instituições financeiras às normas contidas no Código de Defesa do Consumidor (CDC). Dessa forma, a Segunda Seção do STJ, por unanimidade, conheceu do REsp n. 1.251.331 e deu-lhe parcial provimento para que sejam observados os seguintes parâmetros: Num. 39641660 - Pág. 1

1ª tese: Nos contratos bancários celebrados até 30.4.2008 (fim da vigência da Resolução CMN n. 2.303/96), era válida a pactuação das tarifas de abertura de crédito (TAC) e de emissão de carnê (TEC), ou outra denominação para o mesmo fato gerador, ressalvado o exame de abusividade em cada caso concreto. 2ª tese: Com a vigência da Resolução CMN n. 3.518/2007, em 30.4.2008, a cobrança por serviços bancários prioritários para pessoas físicas ficou limitada às hipóteses taxativamente previstas em norma padronizadora expedida pela autoridade monetária. Desde então, não mais tem respaldo legal a contratação da TEC e da TAC, ou outra denominação para o mesmo fato gerador. Permanece válida a tarifa de cadastro expressamente tipificada em ato normativo padronizador da autoridade monetária, a qual somente pode ser cobrada no início do relacionamento entre o consumidor e a instituição financeira. 3ª tese: Podem as partes convencionar o pagamento do Imposto sobre Operações Financeiras e de Crédito (IOF) por meio de financiamento acessório ao mútuo principal, sujeitando-o aos mesmos encargos contratuais. De preâmbulo, esclareço que apenas restaram afetadas ao julgamento do REsp n. 1.251.331/RS, segundo o rito do art. 1.036 do Código de Processo Civil (CPC), as questões relativas à TAC, TEC e financiamento do IOF. Seguidamente, foi analisada a REsp 1578553/SP, firmando a Segunda Turma o entendimento contido na ementa abaixo transcrita: RECURSO ESPECIAL REPETITIVO. TEMA 958/STJ. DIREITO BANCÁRIO. COBRANÇA POR SERVIÇOS DE TERCEIROS, REGISTRO DO CONTRATO E AVALIAÇÃO DO BEM. PREVALÊNCIA DAS NORMAS DO DIREITO DO CONSUMIDOR SOBRE A REGULAÇÃO BANCÁRIA. EXISTÊNCIA DE NORMA REGULAMENTAR VEDANDO A COBRANÇA A TÍTULO DE COMISSÃO DO CORRESPONDENTE BANCÁRIO. DISTINÇÃO ENTRE O CORRESPONDENTE E O TERCEIRO. DESCABIMENTO DA COBRANÇA POR SERVIÇOS NÃO EFETIVAMENTE PRESTADOS. POSSIBILIDADE DE CONTROLE DA ABUSIVIDADE DE TARIFAS E DESPESAS EM CADA CASO CONCRETO. 1. DELIMITAÇÃO DA CONTROVÉRSIA: Contratos bancários celebrados a partir de 30/04/2008, com instituições financeiras ou equiparadas, seja diretamente, seja por intermédio de correspondente bancário, no âmbito das relações de consumo. 2. TESES FIXADAS PARA OS FINS DO ART. 1.040 DO CPC/2015: 2.1. Abusividade da cláusula que prevê a cobrança de ressarcimento de serviços prestados por terceiros, sem a especificação do serviço a ser efetivamente prestado; 2.2. Abusividade da cláusula que prevê o ressarcimento pelo consumidor da comissão do correspondente bancário, em contratos celebrados a partir de 25/02/2011, data de entrada em vigor da Res.-CMN 3.954/2011, sendo válida a cláusula no período anterior a essa resolução, ressalvado o controle da onerosidade excessiva; 2.3. Validade da tarifa de avaliação do bem dado em garantia, bem como da cláusula que prevê o ressarcimento de despesa com o registro do contrato, ressalvadas a: 2.3.1. abusividade da cobrança por serviço não efetivamente prestado; e a 2.3.2. possibilidade de controle da onerosidade excessiva, em cada caso concreto. 3. CASO CONCRETO. 3.1. Aplicação da tese 2.2, declarando-se abusiva, por onerosidade excessiva, a cláusula relativa aos serviços de terceiros ("serviços prestados pela revenda"). 3.2. Aplicação da tese 2.3, mantendo-se hígidas a despesa de registro do contrato e a tarifa de avaliação do bem dado em garantia. 4. RECURSO ESPECIAL PARCIALMENTE PROVIDO. REsp 1578553/SP, Rel. Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 28/11/2018, DJe 06/12/2018. 1. Da inconstitucionalidade da Lei Estadual n. 16.689/2012 Num. 39641660 - Pág. 2

No âmbito do Estado de Pernambuco, a Lei n. 12.702/2004 foi revogada pela de n. 14.689/2012, a qual assim dispõe quanto à cobrança de tarifas de abertura de crédito ou similares: Art. 1º Fica vedada a cobrança de taxas de abertura de crédito, taxas de abertura ou confecção de cadastros ou quaisquer outras tarifas, implícitas ou explícitas, de qualquer nomenclatura, que caracterizem despesas acessórias ao consumidor na compra de bens móveis, imóveis e semoventes no âmbito do Estado de Pernambuco. Parágrafo único. Em caso de cobrança na forma mencionada no caput deste artigo, o consumidor terá direito à repetição do indébito, por valor igual ao dobro do que pagou em excesso, acrescido de correção monetária e juros legais. Ocorre que tal dispositivo não pode ser aplicado ao Sistema Financeiro Nacional, dos quais fazem parte as instituições financeiras e instituições de crédito, visto que, ao que se extrai do art. 22, incisos I, VI e VII, da Constituição Federal (CF), compete privativamente à União legislar sobre o direito financeiro, sistema monetário e a política de crédito do país. O art. 192 da CF exige, ainda, que dito sistema seja regulado por lei complementar e não ordinária. Ainda que se adote o entendimento de que, em realidade, o disposto no art. 1 da indigitada Lei n. 14.689/2012 cuida de tarifas contidas em contratos de compra e venda, tem-se que a lei é inconstitucional. A regulamentação do teor específico de contratos é matéria de direito civil e só pode ser objeto de lei federal, nos termos do art. 22, inciso I, da Carta Magna. E mais, o contrato discutido nos autos não é de compra e venda, mas de mútuo garantido com um bem específico. Nessa toada, é inconstitucional o transcrito artigo da lei estadual, não podendo ser aplicado ao caso em comento. 2. Tarifa de cadastro A tarifa de cadastro encontra-se atualmente disciplinada pelo art. 3º, inciso I, da Resolução CMN n. 3.919/2010, tendo seu fato gerador definido na tabela I do aludido ato normativo, de modo a remunerar a realização de pesquisa em serviços de proteção ao crédito, base de dados e informações cadastrais, e tratamento de dados e informações necessárias ao início de relacionamento decorrente da abertura de conta de depósitos à vista ou de poupança ou contratação de operação de crédito ou de arrendamento mercantil, não podendo ser cobrada cumulativamente. A 2ª Seção do STJ consagrou a orientação segundo a qual o serviço de confecção de cadastro é passível de cobrança no início do relacionamento, desde que contratado expressamente. Nessa ordem de ideias, o consumidor não é obrigado a contratar o serviço de cadastro junto à instituição financeira, desde que se disponha a providenciar pessoalmente os documentos necessários à comprovação de sua idoneidade financeira ou contratar terceiro despachante para fazê-lo. Outrossim, a tarifa de cadastro não pode ser cobrada sobre qualquer operação de crédito, mas tão somente no início do relacionamento entre o cliente e a instituição financeira. Registre-se que a chamada tarifa de renovação de cadastro foi abolida pela Circular do Banco Central (Bacen) n. 3.466/2009. Desse modo, se o consumidor já for cliente do estabelecimento bancário não se justifica a cobrança da TAC, pois não haverá necessidade de ressarcimento de custos com realização de pesquisas em cadastros, bancos de dados e sistemas. No caso em tela, à época da celebração do contrato, havia respaldo normativo para a cobrança da tarifa de cadastro. Por seu turno, a parte autora não se desincumbiu de provar, conforme lhe impõe o art. 373, inciso I, do CPC, que: (a) já possuía relacionamento com a instituição financeira; (b) pessoalmente comprovou a sua idoneidade financeira; (c) o valor da tarifa exigida é abusivo, por se encontrar acima da média de mercado, de modo a justificar a exclusão da mencionada cobrança. Num. 39641660 - Pág. 3

Por esses fundamentos, não merece acolhida o pleito inicial de declaração de nulidade da tarifa de cadastro. 3. Registro de contrato/inclusão de gravame A tarifa sob exame se refere a valores pagos em decorrência da realização do registro do contrato em cartório. Essa inclusão equivale à prenotação da garantia e assegura o sucesso da operação de crédito, pois evita a ocorrência de fraudes no período entre a venda do veículo e o efetivo registro no Departamento Estadual de Trânsito. A anotação sempre é realizada pela instituição bancária, sendo tal fato público e notório e, portanto, dispensa comprovação. Não se tratando em realidade de tarifa bancária, mas antes, de repasse ao consumidor de custos tidos com a operação de crédito pretendida ante o órgão administrativo de trânsito, não há obstáculo legal ao seu repasse por meio de instrumento contratual. Portanto, tenho a tarifa de registro de contrato como devida, não havendo que se falar em devolução 4. Tarifa de avaliação da garantia A tarifa de avaliação dos bens dados em garantia foi originalmente instituída pelo art. 5º, inciso V, da Resolução Bacen n. 3.518/2007, e está atualmente disciplinada pelo art. 5, inciso V, da Resolução CMN n. 3.919/2010. Assim, é possível a cobrança de tarifa de avaliação quando algum bem é dado em garantia no contrato de financiamento bancário. A 2ª Seção do STJ consagrou a orientação segundo a qual os serviços tarifados previstos na indigitada resolução são passíveis de cobrança em tese, desde que contratados expressamente. Todavia, a legitimidade da tarifa não significa que possa ser cobrada indistintamente. Faz-se necessário que, de fato, o agente financiador tenha efetuado a avaliação remunerada pela respectiva tarifa. Cabe à parte que alega o fato comprová-lo. Logo, compete à instituição financeira que defende a cobrança da tarifa demonstrar o seu fato gerador, colacionando aos autos prova de que tenha prestado o serviço, não bastando para esse fim a mera alegação de avaliação ou consulta ao preço do veículo em tabela de mercado. A ré não se desincumbiu do referido ônus de provar, uma vez que não comprovou a realização da avaliação do bem dado em garantia. Dessarte, deve ser excluída da composição do custo efetivo total (CET) a quantia relativa à tarifa de avaliação de garantia. 5. Seguro O seguro de proteção financeira foi desenvolvido para garantir o pagamento das prestações por tempo determinado, descrito no contrato, na hipótese de ocorrer alguma eventualidade (caso fortuito/força maior) com o cliente ao longo do financiamento. Impor ao consumidor a adesão a contrato de seguro que não guarda estreita correlação com os fins abrangidos pelo contrato em que figura como proponente a instituição financeira, apresenta-se, a um só tempo, como método comercial coercitivo e vinculação sem justa causa de fornecimento de um produto a outro em relação ao qual não há intrínseca dependência. Tal prática é expressamente vedada pelos arts. 6, inciso IV, e 39, inciso I, ambos do CDC. No caso em comento, não há evidência de que o seguro foi contratado em apartado, por vontade do consumidor. A prova dos autos aparenta indicar que foi imposta a sua contratação. Por tais motivos, há de ser deferido o pedido de declaração de nulidade da referida taxa. Num. 39641660 - Pág. 4

6. Da quantia a ser devolvida Para que seja excluído do CET a quantia indevidamente cobrada a título das tarifas acima expostas, faz-se necessária a devolução não apenas do seu valor nominal, mas também dos juros remuneratórios incidentes, a fim de evitar o enriquecimento ilícito da instituição. Ao autor não demonstra a quitação, mas a ré confirma o pagamento de 15 mensalidades. É indevida a tarifa de avaliação (R$ 306,00) e o seguro (R$ 700,00), perfazendo o valor total de R$ 1.006,00. Todavia, apenas 15 das 48 parcelas foram pagas, o que representa o pagamento efetivo de R$ 314,38 (trezentos e quatorze reais e trinta e oito centavos). Sobre dita quantia, incidiram juros remuneratórios de 1,98% ao mês, por 15 meses, representando R$ 178,21 (cento e setenta e oito reais e vinte e um centavos) da remuneração obtida pela parte ré até o momento da realização da audiência. Resta claro que, não estando inteiramente quitado o contrato, apenas as parcelas efetivamente pagas devem ser devolvidas. Também deverão ser devolvidas as parcelas pagas após o ajuizamento da ação e anteriores ao cumprimento da sentença, com a retirada das parcelas indevidas dos boletos de pagamento, a teor do disposto no art. 323 do CPC. Arrematando, deve ser restituída à parte autora a quantia total de R$ 492,58 (quatrocentos e noventa e dois reais e cinquenta e oito centavos). 7. Devolução em dobro A restituição em dobro, tratada no art. 42, parágrafo único, do CDC, pressupõe o pagamento de cobrança indevida e a ciência, por parte de quem exige, de que não existe respaldo fático/legal para fazê-lo. Dito de outra forma, a repetição de indébito em dobro tem lugar nas situações em que o pagamento já se mostrava indevido à época em que foi levado a efeito. Na hipótese dos autos, considero que a cobrança realizada pela instituição financeira teve o condão de configurar os elementos acima expostos, uma vez que a exigência dos valores impugnados não encontra lastro legal ou base em resolução do CMN ou do Bacen. Logo, a cobrança indevida deve ser ressarcida em quantia correspondente a R$ 985,16 (novecentos e oitenta e cinco reais e dezesseis centavos). 8. Danos morais Quanto aos danos morais, entendo que estes não restaram configurados. A simples cobrança de valores contratualmente previstos, desacompanhada de desdobramentos concretos que atinjam os direitos da personalidade, não é apta a configurar o dano extrapatrimonial. Devidas as cobranças de tarifa de abertura de crédito e registro de contrato, não há ato ilícito imputável à demandada que justifique a devolução de quantias ou indenização atrelada à cobrança. Ante o exposto e por tudo mais que dos autos consta: a) JULGO PROCEDENTE EM PARTE o pleito de restituição formulado na exordial para condenar a instituição demandada a devolver ao demandante, em dobro, o valor das tarifas indevidamente pagas, acrescidas dos juros remuneratórios incidentes, o que corresponde à quantia de R$ 985,16 (novecentos e oitenta e cinco reais e dezesseis centavos). O montante deverá ser atualizado monetariamente pela tabela do Encoge, a partir da data do ajuizamento da ação, e acrescido de juros moratórios de 1% ao mês, contados da citação, até o efetivo cumprimento desta decisão; b) condeno a parte ré à devolução, também, das parcelas pagas ao longo do processo, nos termos da alínea anterior, com fulcro no art. 290 do CPC, no prazo de 15 (quinze) dias, após o trânsito em julgado da presente sentença; Num. 39641660 - Pág. 5

Powered by TCPDF (www.tcpdf.org) c) JULGO IMPROCEDENTES os pedidos de restituição da tarifa de cadastro e registro de contrato e indenização por danos morais. Resta extinto o processo, com resolução de mérito, consoante o art. 269, inciso I, do CPC. Fica a parte demandada, desde já, instada a cumprir esta sentença, relativamente ao pagamento de quantia certa, no prazo de 15 (quinze) dias, a contar do trânsito em julgado, sob pena de multa de 10% sobre o valor total da condenação, conforme o art. 523, 1 do CPC, independentemente de nova intimação. Para fins de preparo de eventual recurso, fixo o valor de R$ 2.000,00 (dois mil reais) relativamente à obrigação de fazer determinada na alínea b deste decisum. Sem custas nem honorários advocatícios, à luz do disposto no art. 55 da Lei n. 9.099/1995. Publique-se. Registre-se. Intimem-se. Havendo pagamento voluntário, expeça-se alvará. Cumpra-se. Jaboatão, 03 de janeiro de 2019. José Carvalho de Aragão Neto Juiz de Direito Num. 39641660 - Pág. 6