INSTALAÇÃO DE COMPORTAMENTOS ADEQUADOS E REDUÇÃO DE INADEQUADOS EM CRIANÇAS COM DEFICIÊNCIA MÚLTIPLA RESUMO



Documentos relacionados
AS CONTRIBUIÇÕES DAS VÍDEO AULAS NA FORMAÇÃO DO EDUCANDO.

Base Nacional Comum Curricular Lemann Center at Stanford University

ABA: uma intervenção comportamental eficaz em casos de autismo

Brasil avança em duas áreas da Matemática

Mercado de Trabalho. O idoso brasileiro no. NOTA TÉCNICA Ana Amélia Camarano* 1- Introdução

Desigualdade Entre Escolas Públicas no Brasil: Um Olhar Inicial

ipea políticas sociais acompanhamento e análise 7 ago GASTOS SOCIAIS: FOCALIZAR VERSUS UNIVERSALIZAR José Márcio Camargo*

INTERPRETANDO A GEOMETRIA DE RODAS DE UM CARRO: UMA EXPERIÊNCIA COM MODELAGEM MATEMÁTICA

3 a 6 de novembro de Londrina Pr - ISSN X

INCLUSÃO ESCOLAR: UTOPIA OU REALIDADE? UMA CONTRIBUIÇÃO PARA A APRENDIZAGEM

CAPACITAÇÃO DE PROFESSORES NA REDUÇÃO DE COMPORTAMENTOS INADEQUADOS EM ALUNOS DO ENSINO REGULAR ATRAVÉS DE TREINAMENTO EM ANÁLISE DO COMPORTAMENTO.

Modelagem Matemática Aplicada ao Ensino de Cálculo 1

PEDAGOGIA EM AÇÃO: O USO DE PRÁTICAS PEDAGÓGICAS COMO ELEMENTO INDISPENSÁVEL PARA A TRANSFORMAÇÃO DA CONSCIÊNCIA AMBIENTAL

ITECH Instituto de Terapia e Ensino do Comportamento Humano. Abuso e dependência de álcool e substâncias psicoativas. Cristina Belotto da Silva

Conheça as 20 metas aprovadas para o Plano Nacional da Educação _PNE. Decênio 2011 a Aprovado 29/05/2014

JOGOS ELETRÔNICOS CONTRIBUINDO NO ENSINO APRENDIZAGEM DE CONCEITOS MATEMÁTICOS NAS SÉRIES INICIAIS

PRÁTICAS PEDAGÓGICAS DOS PROFESSORES DE MATEMÁTICA DO ENSINO MÉDIO DA ESCOLA ORLANDO VENÂNCIO DOS SANTOS DO MUNICÍPIO DE CUITÉ-PB

1. Introdução. Avaliação de Usabilidade Página 1

Data 23/01/2008. Guia do Professor. Introdução

Eventos independentes

Dois eventos são disjuntos ou mutuamente exclusivos quando não tem elementos em comum. Isto é, A B = Φ

HÁBITO DE ESTUDO: ORGANIZAÇÃO E PERSISTÊNCIA

ÁGORA, Porto Alegre, Ano 4, Dez ISSN EDUCAR-SE PARA O TRÂNSITO: UMA QUESTÃO DE RESPEITO À VIDA

AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO

AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM E ÉTICA. Cipriano Carlos Luckesi 1

Investigando números consecutivos no 3º ano do Ensino Fundamental

NOVAS PERSPECTIVAS E NOVO OLHAR SOBRE A PRÁTICA DA ADOÇÃO:

POR QUE FAZER ENGENHARIA FÍSICA NO BRASIL? QUEM ESTÁ CURSANDO ENGENHARIA FÍSICA NA UFSCAR?

Cadernos do CNLF, Vol. XVI, Nº 04, t. 3, pág. 2451

EDUCAÇÃO AMBIENTAL COMEÇA NA ESCOLA: COMO O LIXO VIRA BRINQUEDO NA REDE PÚBLICA EM JUAZEIRO DO NORTE, NO SEMIÁRIDO CEARENSE

PERGUNTAS FREQUENTES. Sobre Horários. Pessoal docente, escolas públicas. 1 Há novas regras para elaboração dos horários dos professores?

Necessidade e construção de uma Base Nacional Comum

SÍNDROME DE DOWN E A INCLUSÃO SOCIAL NA ESCOLA

A APRENDIZAGEM DO ALUNO NO PROCESSO DE INCLUSÃO DIGITAL: UM ESTUDO DE CASO

MODELAGEM MATEMÁTICA: PRINCIPAIS DIFICULDADES DOS PROFESSORES DO ENSINO MÉDIO 1

BIOESTATÍSTICA: ARMADILHAS E COMO EVITÁ-LAS

Indicamos inicialmente os números de cada item do questionário e, em seguida, apresentamos os dados com os comentários dos alunos.

O céu. Aquela semana tinha sido uma trabalheira!

Unidade I. Estrutura e Organização. Infantil. Profa. Ana Lúcia M. Gasbarro

Apoio. Patrocínio Institucional

Norma Interpretativa 2 Uso de Técnicas de Valor Presente para mensurar o Valor de Uso

INVENÇÃO EM UMA EXPERIMENTOTECA DE MATEMÁTICA: PROBLEMATIZAÇÕES E PRODUÇÃO MATEMÁTICA

III SEMINÁRIO EM PROL DA EDUCAÇÃO INCLUSIVA Desafios Educacionais

SIGNIFICADOS ATRIBUÍDOS ÀS AÇÕES DE FORMAÇÃO CONTINUADA DA REDE MUNICIPAL DE ENSINO DO RECIFE/PE

Questionário de Avaliação de Maturidade Setorial: Modelo PRADO-MMGP

Ao final do estudo deste módulo, você será capaz de: Caracterizar o ambiente escolar; Enumerar pontos sensíveis no ambiente escolar;

Introdução à Terapia ABA. Psic. Me. Robson Brino Faggiani Especialista em Terapia Comportamental e Cognitiva

4 Metodologia de Pesquisa com Usuários

RELATÓRIO DE ATIVIDADES

LUDICIDADE: INTRODUÇÃO, CONCEITO E HISTÓRIA

PSICOLOGIA, QUEIXA E EXCLUSÃO ESCOLAR

A ENERGIA DO BRINCAR: UMA ABORDAGEM BIOENERGÉTICA

CÂMARA MUNICIPAL DO RIO DE JANEIRO N.º Despacho

DICA PEDAGÓGICA EDUCAÇÃO INFANTIL

O professor que ensina matemática no 5º ano do Ensino Fundamental e a organização do ensino

1223o TUTORIAL PRÉ-VENDA. Realização: DEPARTAMENTO DE IMPLANTAÇÃO EQUIPE DE DOCUMENTAÇÃO

VII E P A E M Encontro Paraense de Educação Matemática Cultura e Educação Matemática na Amazônia

A PRÁTICA DA CRIAÇÃO E A APRECIAÇÃO MUSICAL COM ADULTOS: RELATO DE UMA EXPERIÊNCIA. Bernadete Zagonel

AS MANIFESTAÇÕES DE VIOLÊNCIA E A CONSTRUÇÃO DE VALORES HUMANOS NO PROJETO ESPORTE NA COMUNIDADE, NA LOCALIDADE DE MONDUBIM.

TRAÇOS DA EDUCAÇÃO BÁSICA EM SÃO LUÍS- MA: UM DIAGNÓSTICO DO PERFIL SOCIOCULTURAL E EDUCACIONAL DE ALUNOS DAS ESCOLAS PARCEIRAS DO PIBID.

BSC Balance Score Card

O PROCESSO DE INCLUSÃO DE ALUNOS COM DEFICIÊNCIAS NO MUNICÍPIO DE TRÊS LAGOAS, ESTADO DE MATO GROSSO DO SUL: ANÁLISES E PERSPECTIVAS

Élida Tamara Prata de Oliveira Praça JOGOS MATEMÁTICOS COM CONTEÚDOS DE 7 ANO APLICADOS A UM ALUNO AUTISTA

PERTENCIMENTO ÉTNICO E CONSTRUÇÃO DE IDENTIDADES NEGRAS: POR UMA DISCUSSÃO SOBRE A POLÍTICA DE COTAS NO CAMPUS VI DA UEPB

Laboratório de Física I - EAD- UESC 2011

ISSN ÁREA TEMÁTICA: (marque uma das opções)

Educação Sexual: Quem ama cuida. Cuide-se!*

4 Experimentos Computacionais

PROJETOS DE ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA: DO PLANEJAMENTO À AÇÃO.

DESENVOLVIMENTO INFANTIL EM DIFERENTES CONTEXTOS SOCIAIS

A IMPORTÂNCIA DA PARTICIPAÇÃO DOS PAIS NA EDUCAÇÃO DOS FILHOS NO CONTEXTO ESCOLAR

Medição tridimensional

OLIMPIADAS DE MATEMÁTICA E O DESPERTAR PELO PRAZER DE ESTUDAR MATEMÁTICA

PUBLICO ESCOLAR QUE VISITA OS ESPAÇOS NÃO FORMAIS DE MANAUS DURANTE A SEMANA DO MEIO AMBIENTE

Jéssica Victória Viana Alves, Rospyerre Ailton Lima Oliveira, Berenilde Valéria de Oliveira Sousa, Maria de Fatima de Matos Maia

O AMBIENTE MOTIVADOR E A UTILIZAÇÃO DE JOGOS COMO RECURSO PEDAGÓGICO PARA O ENSINO DE MATEMÁTICA

ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL COMO FERRAMENTA PARA DO PLANEJAMENTO DE CARREIRA

IDENTIFICANDO AS DISCIPLINAS DE BAIXO RENDIMENTO NOS CURSOS TÉCNICOS INTEGRADOS AO ENSINO MÉDIO DO IF GOIANO - CÂMPUS URUTAÍ

A Coordenação de Estágios informa:

DIÁRIO DE CLASSE ELETRÔNICO APRESENTAÇÃO... 2

Ensino Técnico Integrado ao Médio - ETIM FORMAÇÃO PROFISSIONAL. Plano de Trabalho Docente 2012

Q-Acadêmico. Módulo CIEE - Estágio. Revisão 01

Futuro Profissional um incentivo à inserção de jovens no mercado de trabalho

A DANÇA E O DEFICIENTE INTELECTUAL (D.I): UMA PRÁTICA PEDAGÓGICA À INCLUSÃO

Escola Bilíngüe. O texto que se segue pretende descrever a escola bilíngüe com base nas

Hipertensão Arterial no idoso

OFICINA DE JOGOS APOSTILA DO PROFESSOR

Selma Regina Garcia Neves Terezinha Valim Oliver Gonçalves Núcleo Pedagógico de Apoio ao Desenvolvimento Científico UFPa Belém Pa

Diagnóstico da escolarização de crianças e adolescentes no Brasil

ANÁLISE DO EMPREGO E DESEMPREGO A PARTIR DO CADASTRO DA CAT Andréia Arpon* Adriana Fontes *

EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR E A PROMOÇÃO DE HÁBITOS SAÚDAVEIS: Um relato de experiência

Sistemas de Informação Gerencial

JOGOS NAS AULAS DE HISTÓRIA ATRAVÉS DO PIBID: UMA POSSIBILIDADE DE CONSTRUÇÃO DE CONHECIMENTO E DE INTERAÇÃO

ANÁLISE DA DEGRADAÇÃO DO BIOMA CAATINGA NAS IMEDIAÇÕES DA CIDADE DE SANTA CECÍLIA PB

Quando o entardecer chega... o envelhecimento ainda surpreende muitos. Programa de Preparação para a Aposentadoria

Palavra chaves: Piff Geometrico. Sólidos Geométricos. Geometria Espacial..

7. As Entrevistas. A seguir pode ser verificado o resumo das respostas dessas entrevistas:

As crianças adotadas e os atos anti-sociais: uma possibilidade de voltar a confiar na vida em família 1

ESTUDO DE VIABILIDADE. Santander, Victor - Unioeste Aula de Luiz Eduardo Guarino de Vasconcelos

escrita como condicionante do sucesso escolar num enfoque psicanalítico

Transcrição:

1 INSTALAÇÃO DE COMPORTAMENTOS ADEQUADOS E REDUÇÃO DE INADEQUADOS EM CRIANÇAS COM DEFICIÊNCIA MÚLTIPLA Silvia Aparecida Fornazari Majorie Valério Dias Universidade Paulista Campus Assis/SP RESUMO Fornazari (2000), desenvolveu um procedimento para a redução de comportamentos inadequados em adultos com deficiência mental severa e profunda, utilizando o procedimento de DRA em conjunto com esquemas de FR e VI, instalando comportamentos adequados de trabalho. Adultos com deficiência mental severa ou profunda que apresentam comportamentos inadequados, geralmente os mantém em alta freqüência e de maneira bastante cristalizada, uma vez que todos os seus contatos sociais foram permeados por tais comportamentos. O presente estudo visou estender o procedimento citado a crianças com deficiência mental severa ou profunda, pois existe uma maior probabilidade que os comportamentos inadequados não estejam cristalizados e possa haver uma mudança comportamental mais efetiva para o seu desenvolvimento e qualidade de vida. O trabalho foi desenvolvido na APAE-Palmital/SP-Brasil. Participaram dois meninos, com idades entre cinco e treze anos. O delineamento experimental teve o participante como próprio controle, e utilizou o DRA em conjunto com FR e VI intercalados com fases de extinção. Os dados foram filmados e registrados através do software EthoLog 2.2. Realizou-se 75 sessões para o participante A e 91 para o B. O procedimento de DRA foi eficiente na redução dos comportamentos inadequados e instalação de adequados. As taxas de respostas de trabalho foram semelhantes em relação aos esquemas de reforçamento em FR e VI. Nas fases de extinção, os comportamentos inadequados aumentaram, demonstrando a efetividade do procedimento. A continuidade deste trabalho deverá consistir na aplicação do procedimento para adultos e crianças concomitantemente, trazendo resultados mais claros quanto ao objetivo ora proposto. Palavras-chave: deficiências múltiplas; comportamentos adequados; comportamentos inadequados. INTRODUÇÃO Um dos principais fatores de estigmatização, quando se fala de portadores de deficiência mental severa ou profunda são os comportamentos inadequados. Segundo Rusch e Mithaug (1980), enquanto abordagem prática no que se refere a problemas sociais descobertos nos mais diversos ambientes, a análise comportamental continua demonstrando sua efetividade na identificação de métodos para aumentar o desenvolvimento individual. Segundo Saunders (1996), outro fator relevante na questão de comportamentos inadequados em portadores de deficiência mental severa ou profunda, é o repertório limitado apresentado por esta população. Assim, além da redução de comportamentos inadequados, é de

2 fundamental importância a instalação de novas habilidades adequadas para seu desenvolvimento cognitivo, físico e mental, aumentando assim seu repertório comportamental. Seguindo esta linha de trabalho, Fornazari (2000), em sua dissertação de mestrado, desenvolveu um procedimento para a redução de comportamentos inadequados em adultos com deficiência mental severa e profunda, utilizando o procedimento de reforçamento diferencial de comportamentos alternativos (DRA) em conjunto com esquemas de razão fixa (FR) e intervalo variável (VI). Este procedimento visava ainda, aumentar os comportamentos adequados da população pesquisada. Partindo do pressuposto de que em crianças deficientes mentais, os comportamentos inadequados ainda não se encontram cristalizados e, portanto a mudança comportamental pode trazer resultados mais efetivos para o seu desenvolvimento e sua qualidade de vida, o presente projeto tem o objetivo de estender o procedimento desenvolvido por Fornazari (2000) a pessoas com deficiência mental severa e profunda, porém mais jovens; pois reduzindo tais comportamentos, acredita-se que também se reduza a estigmatização e o preconceito, o que possibilita uma vida com melhor socialização e independência. Entende-se por comportamentos inadequados ou aberrantes aqueles que são tidos por comportamentos-problema, são indesejados e contribuem para a estigmatização social dos portadores de deficiência mental (Fornazari, 2000). Todos os indivíduos, deficientes ou não, estão inseridos num contexto social desde o nascimento, que abrange família, escola, comunidade e instituição. Considerando a clientela de portadores de deficiência mental severa e profunda, a tendência é que os comportamentos inadequados apresentados façam parte de seu repertório desde a infância (Fornazari, op. cit.). Saunders e Saunders (1995), os comportamentos inadequados apresentados por deficientes mentais são da ordem das estereotipias, comportamentos autolesivos e agressões (comportamentos mal adaptados). A literatura no informa que procedimentos que tragam benefícios para os participantes como ensino de habilidades e instalação de comportamentos adequados em seu repertório comportamental, devem ser preferencialmente utilizados (Whitman, et.al., 1983). Partindo desta visão, foi utilizado neste projeto, esquemas de reforçamento em razão fixa e intervalo variável. Segundo Catania (1999), entende-se por esquema de razão fixa (FR) o procedimento onde uma resposta é reforçada somente após um número determinado de respostas não reforçadas terem sido emitidas; e em esquema de razão variável (VI) uma resposta será reforçada somente depois que um intervalo de tempo estiver terminado. Respostas durante o intervalo não produzem qualquer conseqüência. Também foi utilizado o reforçamento diferencial DRA, onde o reforço é liberado depois de uma ou mais ocorrências de um comportamento particular que pode ser ensinado ou treinado e que não necessariamente seja incompatível com o comportamento indesejado (Fornazari, 2000). Além da redução de comportamentos inadequados, este procedimento possibilita também a instalação de comportamentos adequados. Procedimentos propostos de esquemas de reforçamento (FR e VI) e também o procedimento de DRA, serão de grande utilidade na instalação de comportamentos adequados, bem como a redução de comportamentos inadequados em crianças portadoras de deficiência mental severa e profunda, que foi o objetivo central deste projeto. MÉTODO Foram participantes, três crianças, todas do sexo masculino, de idades entre cinco e treze anos, com deficiência mental severa e profunda. Estas crianças foram selecionadas, a partir de observações de comportamentos inadequados, feitas em sala de aula de uma instituição (APAE-Palmital/SP), onde havia sete crianças portadoras de deficiência mental severa e

3 profunda matriculadas. As crianças que apresentaram maiores índices de comportamentos inadequados foram selecionadas. A tarefa foi constituída por emparelhamento com o modelo, com o objetivo de discriminação de cores ( emparelhamento por cor ). Caso o participante não conseguisse realizar esta tarefa, era empregado o emparelhamento por identidade, onde o participante colocava individualmente três carpetes no material instrucional, independente da cor (estímulo amostra). Foram oferecidos aos participantes uma placa de madeira com carpetes coloridos, onde o participante colocava o carpete em cima de um outro da mesma cor. No mínimo um carpete deveria ser colocado no carpete de cor correspondente. No caso do participante apresentar a habilidade de colocar mais de um carpete, esta alternativa lhe foi oferecida, visando o seu máximo desenvolvimento. As tarefas criadas para este estudo foram de fundamental importância para o aumento do repertório comportamental de cada criança participante. Estas, tiveram de aprendê-las para poder participar do estudo. Os dados foram coletados com auxílio de uma filmadora instalada na sala onde foi realizado o experimento, onde se encontrava somente a experimentadora e a criança. Depois de cada experimento, a fita com a gravação de cada sessão foi analisada em vídeo pela experimentadora, e esta, em seguida, passou os dados para folhas de registro, onde depois foram comparados para a obtenção dos resultados. Esses dados se constituíram da freqüência de ocorrência de comportamentos adequados e inadequados, e número de reforçadores e instruções do experimentador. Foi também utilizado o software EthoLog 2.2 (Ottoni, 2000) para o registro dos dados. Sendo assim, a fita foi assistida ao lado de um computador onde através do software, os dados foram registrados. Entrevistas foram realizadas com os pais dos participantes e profissionais da instituição, para identificar os itens reforçadores primários para os participantes, e foi aplicada uma adaptação da Avaliação por Escolha Forçada (Northup, Jones, Broussard e George, 1995, citados por Fornazari, 2000). Em todas as fases do procedimento foram utilizados itens comestíveis como reforço para respostas corretas, além de reforçadores sociais, de acordo com o esquema em vigor. A tarefa foi realizada cinco vezes/semana, tendo cada sessão 15 minutos de duração com cada participante. O delineamento do presente projeto segue na Tabela 1 abaixo: Tabela 1 Descrição do delineamento experimental utilizado. Fase experimental Descrição do procedimento Linha de base Modelagem da tarefa em CRF Fase 1 DRA + Reforçamento da tarefa em FR Fase 2 Extinção Fase 3 DRA + Reforçamento da tarefa em VI Fase 4 Extinção A linha de base foi estabelecida usando-se o reforçamento contínuo (CRF), onde um reforço é contingente a uma resposta. Sendo assim, no reforçamento contínuo, fortalecemos um operante, no sentido de tornar a resposta mais provável, ou de fato, mais freqüente. Em suma, seu objetivo é simples: dispõe-se de uma contingência de reforço e expõe-se a ela o organismo por um dado período. Dando continuidade ao CRF, foi usada a Modelagem onde há o uso de aproximações sucessivas para a aprendizagem da tarefa. Cada sessão era iniciada com a seguinte instrução: Vamos brincar, nome do participante!, acompanhada da dica verbal correspondente à tarefa que estava sendo treinada. Foram utilizadas instruções de acordo com o seguinte critério:

4 - Dica Verbal: se o participante ficasse 30 segundos sem emitir nenhuma resposta relacionada á tarefa do trabalho, era emitida a seguinte dica verbal: Coloque no quadradinho (para a tarefa de emparelhamento por identidade) e, Coloque no quadradinho da mesma cor (para a tarefa de emparelhamento por cores). - Dica Gestual: se o participante, após 30 segundos da dica verbal ter sido emitida, não emitisse resposta, a experimentadora apontava com o dedo indicador para um carpete que estava no meio de outros e em seguida apontava para onde este deveria ser colocado. - Guia física: se após 30 segundos da dica gestual, o participante não emitisse resposta, a experimentadora pegava a mão do participante e a guiava até o carpete, levando-o a pegá-lo e depois guiava sua mão para onde deveria ser colocado o carpete. Após cada passo ser completo, era emitido o reforço social: Muito bem, nome do participante! e eram liberados os reforçadores comestíveis. As sessões tiveram, no máximo, 15 minutos de duração. O número de dicas foi diminuindo ao longo do tempo. O número de sessões conduzidas dependeu da rapidez com que as dicas diminuíam. O critério para uma tarefa ser treinada era completar dez respostas consecutivas sem nenhuma dica. Primeiramente foram introduzidas as condições de Linha de Base para os três participantes. O participante C não pôde passar desta fase, pois não freqüentava com regularidade a instituição, o que dificultou sua participação neste estudo, sendo assim, o procedimento foi realizado apenas com os participantes A e B. RESULTADOS Como resultados do procedimento de instalação de comportamentos adequados e redução de inadequados, as sessões de linha de base contabilizaram 19 para o Participante A (PA) e 23 para o Participante B (PB), totalizando no final do estudo 75 sessões para PA e 91 sessões para o PB. A Linha de Base foi realizada em CRF para os dois participantes. Entretanto, as tarefas de Linha de Base diferenciaram-se entre os participantes, e todos aprenderam emparelhamento por amostra. As tarefas de emparelhamento por cores, foram as mais difíceis e nenhum dos dois participantes conseguiu realizá-las. Desta forma, todas as fases do delineamento experimental foram realizadas utilizando o emparelhamento por amostra (1:1), independente da cor. Através dos gráficos da Figura 1, nota-se que para o PA, na Fase de Linha de Base, as instruções do experimentador acompanharam as respostas de trabalho no início, mas tiveram uma queda após o participante aumentar sua taxa de respostas de trabalho, o que pode demonstrar que este aprendeu a tarefa. Percebe-se também que as taxas de instrução do experimentador caiam quando o participante alcançava o critério de mudança de fase (realizar a tarefa dez vezes sem dicas). Para PB, pode-se notar que na Fase de Linha de Base, a taxa de instruções do experimentador, no início teve uma pequena queda, mas após um dado período, esta teve uma pequena elevação até cair no final da fase, após o participante alcançar o critério para mudança de fase. Esta elevação na taxa de instruções pode possivelmente ter sido atingida, por causas externas ao trabalho, pois nesta época PB estava utilizando medicações que o deixavam sonolento. As taxas de respostas de trabalho tiveram um aumento de 6,0 a 13,0 no final da fase LB, quando as instruções do experimentador sofreram uma pequena queda. Comparando os gráficos de PA e PB, nota-se que a produtividade de taxas de respostas de trabalho foi maior em PA, e que as instruções do experimentador tiveram taxa mais elevada em PB.

5 Na Fase 1 do experimento, dita DRA + reforçamento da tarefa em FR, PA atingiu o nível de FR5, notando-se que a taxa de instrução do experimentador acompanhou grande parte das sessões a taxa de respostas de trabalho, tendo uma queda de instruções na sessão 42 de 12,0 para 4,0, o que possibilitou posteriormente que o critério para mudança de fase fosse alcançado. Já PB teve altos picos de taxas de respostas de trabalho, trabalhando sob o esquema de FR3.aumentando sua taxa de respostas de 10,0 a 15,0 no final da fase 1. A fase seguinte (Extinção do FR) Fase 2, como nota-se na Figura 1, tanto para PA quanto para PB, as instruções e reforços foram retirados e as taxas de resposta de trabalho caíram significativamente, o que era desejável. Após a extinção de FR3 para o participante B e FR5 para o participante A, foi iniciada a Fase 3 do experimento (DRA+ reforçamento em VI), onde pode-se perceber que para PA, inicialmente a taxa de instrução do experimentador estava alta, já que havia acabado de sair da fase de extinção, onde nenhuma instrução lhes era dada; mas no decorrer das sessões esta taxa caiu de 25,0 para 13,0 e acompanhou as taxas de respostas de trabalho até o final do experimento, diminuindo no final desta fase, onde o participante A atingiu o critério para mudança de fase. O PB apresentou picos de taxas de resposta atingindo 16,0 (Figura 1) e as taxas de instrução do experimentador, a partir da sessão 73 e elevando sua taxa de resposta até atingir o critério de mudança de fase. PARTICIPANTE A 30 25 20 15 10 5 0 LB FR Ext.FR VI Ext.VI 1 6 11 16 21 26 31 36 41 46 51 56 61 66 71 Instrução do Experimentador Resposta de trabalho PARTICIPANTE B 20 15 10 5 0 LB FR Ext.FR VI Ext.VI LB 1 7 13 19 25 31 37 43 49 55 61 67 73 79 85 91 Instrução do Experimentador Respostas de Trabalho

6 Figura 1 Taxa por minuto de instruções do experimentador e de respostas de trabalho do participante, em todas as fases do experimento. A última fase do experimento (Fase 4), onde foi aplicada a extinção do VI, o PA levou menos tempo para atingir o critério de final de fase. Sendo assim, PB fez mais sessões de extinção que PA. A taxa de respostas de trabalho caíram significativamente, já que as instruções do experimentador e os reforços foram retirados. A partir da Figura 2, percebe-se que para PA, na fase Linha de Base, as taxas de tempo engajado em comportamentos inadequados tiveram quedas de até 6,0, e as taxas de comportamentos adequados tiveram altas de 6,0 a 13,0. Para PB, nesta mesma fase, iniciou-se com taxas de comportamentos inadequados maiores que adequados, sendo estas invertidas no final da Fase de Linha de Base, atingindo de 13,0 a 15,0 a taxa de comportamentos adequados. Na Fase 1 do experimento, para PA, as taxas de comportamentos inadequados caíram para 9,0 e as taxas de comportamentos adequados subiram para 13,0. Para PB, nota-se que esta fase finalizou-se com taxas de comportamentos inadequados de 9,0 e altas taxas de comportamentos adequados, como na sessão 50, onde o participante atingiu o pico de 15,0 engajado em comportamentos adequados. Na Fase 3 do experimento, PA teve significativo aumento nas taxas de comportamentos adequados, como na sessão 63, onde atingiu 17,0; terminando esta fase do experimento com baixos índices de comportamentos inadequados (sessão 73). Na Fase 2 (Extinção FR) e Fase 4 (Extinção VI), as taxas de comportamentos inadequados aumentaram para os dois participantes, pois foram retirados os reforços comestíveis e sociais, mas as taxas de comportamentos adequados mantiveram-se em bom nível, o que pode demonstrara que os participantes terminaram os experimentos com comportamentos adequados instalados em seus repertório. PARTICIPANTE A 20 LB FR 5 Ext FR VI Ext VI, 15 10 5 Comportamentos Adequados Comportamentos Inadequados 0 1 6 11 16 21 26 31 36 41 46 51 56 61 66 71

7 PARTICIPANTE B 20 LB FR Ext.FR VI 3,3 Ext.VI 15 10 5 Comportamentos Adequados Inadequados Comportamentos Inadequados Adequados 0 1 6 11 16 21 26 31 36 41 46 51 56 61 66 71 76 81 86 91 Figura 2 Taxa de tempo em que os participantes mantiveram-se emitindo comportamentos adequados e inadequados em todas as fases do experimento. DISCUSSÃO E CONCLUSÃO A Fase experimental chamada DRA, juntamente com FR e VI, foi introduzida com a intenção de auxiliar na instalação de comportamentos adequados e redução dos inadequados nos participantes do estudo. As fases experimentais de extinção tiveram o objetivo de compreender o quanto esses sujeitos trabalhavam em função dos reforços sociais e comestíveis. No presente estudo, notou-se que os reforços sociais foram de fundamental importância para PA, enquanto os reforços comestíveis tiveram maior valor para PB. Um fato que nos chama a atenção foi que a fase de reforçamento em FR e VI tiveram resultados semelhantes quanto à redução de comportamentos inadequados e instalação de adequados. Também foi possível notar que as taxas de respostas de trabalho também foram parecidas nas duas fases, ou seja, não tiveram notável diferença para os participantes, de uma fase para outra. Nas chamadas fases de extinção, notou-se que os comportamentos inadequados dos participantes aumentaram, o que era esperado. De acordo com Bigelow (1974), se a freqüência ou intensidade de comportamentos indesejados aumentar quando se introduz a extinção, não deve-se levar isso como um fracasso; muito pelo contrário, pois isso sugere que o procedimento está funcionando. Essa reação de frustração indica que o sujeito está percebendo alterações nas conseqüências de seu comportamento. Uma vertente deste trabalho poderia ser aplicar o mesmo procedimento para adultos e crianças, observando-se as diferenças entre os comportamentos apresentados por tais populações e trazendo resultados mais claros quanto aos objetivos ora propostos. Finalizando, podemos concluir que os procedimentos utilizados neste estudo foram eficientes na redução de comportamentos inadequados e no aumento de comportamentos adequados no repertório comportamental dos participantes, embora não seja possível afirmar com total clareza qual dos esquemas de reforçamento foi o mais eficaz. Futuros estudos poderão vir a esclarecer esta questão. O presente estudo traz esclarecimentos e contribuições para questões relacionadas à instalação de comportamentos adequados e redução de inadequados, abrindo novos caminhos a serem percorridos em pesquisas futuras.

8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BIGELOW, G. The behavior approach to retardation, in Thomson, T. e Grabowski, J. (eds) Behavior modification of the mentally retarded, Nova York: Oxford University Press, 1974. CATANIA, A. C. Aprendizagem: comportamento, linguagem e cognição. 4. ed. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 1999. FORNAZARI, S. A. Redução de comportamentos inadequados em portadores de deficiência mental, no treino para o trabalho. Dissertação de mestrado não publicada, UFSCAR, São Carlos, SP, 2000. OTTONI, E. B. Etholog 2.2: A tool for the transcription and timing of behavior observation sessions. Behavior Research Methods, Instruments, & Computers. v. 3 n. 32, p. 446-449, 2000. RUSCH, F. R. & MITHAUG, D. E. Vocational training for mentally retarded adults. Champaign, Illinois: Research Press, 1980. SAUNDERS, M. D.; SAUNDERS, R. R. An analysis of the effects of reinforcement on aberrant and nonaberrant behavior in children with retardation. Manuscrito não publicado, Parsons Research Center, 1995. SAUNDERS, R. R. The Possible Role of Supported in the Stimulus Control of Aberrant Behavior: A Competence Model of Treatment. In C. GOYOS; M.A. ALMEIDA; D.G. SOUZA. Temas em Educação Especial. São Carlos, SP: EDUFSCar, 1996. WHITMAN, T. L.; SCIBAK, J. W.; REID, D. H. Behavior modification with the severely and profoundly retarded research and application. New York: Academic Press, 1983.