PROF. JOSEVAL MARTINS VIANA. Aula n. 79. Pós-Graduação em Direito Médico e da Saúde Tema: SANGUE CONTAMINADO - RESPONSABILIDADE CIVIL

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Transcrição:

Aula n. 79 Pós-Graduação em Direito Médico e da Saúde Tema: SANGUE CONTAMINADO - RESPONSABILIDADE CIVIL 1

Controle da qualidade do sangue Hospitais, clínicas e médicos hematologistas respondem civilmente se não fizerem testes no sangue coletado para identificação dos vírus da hepatite B, AIDS, doença de chagas etc., devendo reparar o dano causado na hipótese de transfusão de sangue contaminado aos pacientes. 2

Se alguém receber transfusão e o sangue estiver contaminado, haverá responsabilidade civil estatal e indenização da vítima, porque houve omissão da vigilância sanitária de centros hemoterápicos da rede pública e em bancos de sangue. 3

A responsabilidade civil pela segurança da qualidade do sangue e de seus derivados a ser utilizados em transfusões atinge todos os implicados, até mesmo o Estado, que deverá pagar indenização à vítima e aos que dela dependerem. 4

O Estado é obrigado a assegurar o direito à transfusão de sangue para todos que dela precisarem para salvar sua vida ou para tratamento. 5

Trata-se de responsabilidade civil objetiva, decorrente da má prestação de serviço público, respondendo a clínica vinculada ao SUS não só pela faute du service, mas pelo fato do serviço, responsabilidade da qual só se desincumbiria se provasse, por seu ônus, a inexistência do nexo de causalidade ou a culpa exclusiva da vítima. 6

A obrigação de indenizar do Estado tanto pode decorrer da responsabilidade objetiva (art. 37, 6º, da CF/88), como da responsabilidade subjetiva, a significar que a omissão do Estado, seja específica de preposto, ou decorrente de falta ou falha anônima do serviço, empenha a identificação de culpa, informada pela teoria subjetiva. SP; Apelação Cível 0125778-74.2007.8.26.0053; Relator (a): J. M. Ribeiro de Paula; Órgão Julgador: 12ª Câmara de Direito Público; Foro Central - Fazenda Pública/Acidentes - 1ª Vara de Fazenda Pública; Data do Julgamento: 13/03/2019; Data de Registro: 15/03/2019) 7

O dano moral indenizável exige a conjugação de três fatores: dano, ilicitude e nexo causal. O sistema geral do Código Civil é o da responsabilidade civil subjetiva, que se funda na teoria da culpa, ou seja, para que haja o dever de indenizar é necessária a existência do dano, do nexo de causalidade entre o fato e o dano e a existência de imprudência, negligência ou imperícia. E o laudo constatou esses elementos. 8

Portaria 488/98 da Secretaria da Vigilância Sanitária do Ministério da Saúde Indica como se deve realizar o teste para HIV, exigindo, em caso positivo, novo teste laboratorial. 9

PORTARIA Nº 158, DE 4 DE FEVEREIRO DE 2016 Redefine o regulamento técnico de procedimentos hemoterápicos. 10

Responsabilidade civil do Estado Artigo 23, inciso II, da CF Artigo 197 da CF Artigo 37, 6º, da CF 11

Responsabilidade civil do Estado Artigo 23, inciso II, da CF É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios: II - cuidar da saúde e assistência pública, da proteção e garantia das pessoas portadoras de deficiência; 12

Art. 197 da Constituição Federal São de relevância pública as ações e serviços de saúde, cabendo ao Poder Público dispor, nos termos da lei, sobre sua regulamentação, fiscalização e controle, devendo sua execução ser feita diretamente ou através de terceiros e, também, por pessoa física ou jurídica de direito privado. 13

Artigo 43 do Código Civil As pessoas jurídicas de direito público interno são civilmente responsáveis por atos dos seus agentes que nessa qualidade causem danos a terceiros, ressalvado direito regressivo contra os causadores do dano, se houver, por parte destes, culpa ou dolo. 14

Art. 927 do Código Civil Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo. 15

Art. 949 do Código Civil No caso de lesão ou outra ofensa à saúde, o ofensor indenizará o ofendido das despesas do tratamento e dos lucros cessantes até ao fim da convalescença, além de algum outro prejuízo que o ofendido prove haver sofrido. 16

Art. 950 do Código Civil Se da ofensa resultar defeito pelo qual o ofendido não possa exercer o seu ofício ou profissão, ou se lhe diminua a capacidade de trabalho, a indenização, além das despesas do tratamento e lucros cessantes até ao fim da convalescença, incluirá pensão correspondente à importância do trabalho para que se inabilitou, ou da depreciação que ele sofreu. Parágrafo único. O prejudicado, se preferir, poderá exigir que a indenização seja arbitrada e paga de uma só vez. 17

Art. 402 do Código Civil Salvo as exceções expressamente previstas em lei, as perdas e danos devidas ao credor abrangem, além do que ele efetivamente perdeu, o que razoavelmente deixou de lucrar. 18

Ação indenizatória. Antecipação de tutela buscando indenização por lucros cessantes e pensionamento mensal. Ausência dos requisitos. Menor que embora infectado não apresentou sintomas da doença. Medicamentos fornecidos pelo hospital. Não comprovação dos gastos, nem da vinculação da demissão da genitora como tratamento do filho. Recurso improvido.(tj/spai 2057445-88.2013.8.26.0000, Relator(a): Eduardo Sá Pinto Sandeville; Órgão julgador: 6ª Câmara de Direito Privado; Data do julgamento: 27/05/2014) 19

Dano Moral Artigo 1º, inciso III, da CF Artigo 186 do CC 20

A janela imunológica corresponde ao período entre o contato com o agente infeccioso e o tempo que o organismo leva para produzir quantidade suficiente de anticorpos contra a infecção capazes de serem identificadas nos exames laboratoriais. Em relação ao HIV, é considerado que a sua janela imunológica é de 30 dias, ou seja, são necessários pelo menos 30 dias para que o vírus torne-se detectável através de exames laboratoriais. 21

ATENÇÃO No caso de hospital particular e centro de transfusão de sangue particular, aplica-se o Código de Defesa do Consumidor 22

Sérgio Cavalieri elucida o seguinte: "não terá o médico que responder por eventuais falhas do hospital, como no caso de infecção hospitalar, erro ou omissão da enfermagem, transfusão de sangue contaminado etc. A responsabilidade do hospital, embora não vá ao ponto de garantir a vida ou assegurar a cura do paciente, inclui um dever de incolumidade que um bom serviço poderia evitar.(...) Como prestadores de serviços, a responsabilidade das instituições hospitalares é objetiva, pois enquadra-se também no art. 14 do Código do Consumidor." (Programa de Responsabilidade Civil. São Paulo: Melhoramentos, 1996,pp. 256-7) 23