Nódulos centrolobulares em paciente com obstrução ao fluxo aéreo reversível



Documentos relacionados
XIII Reunião Clínico - Radiológica Dr. RosalinoDalazen.

L u iz F elip e N o b re. luizfelipenobresc@gmail.com

DOENÇA PULMONAR OBSTRUTIVA CRÔNICA

CONSULTA EM PNEUMOLOGIA CÓDIGO SIA/SUS: Motivos para encaminhamento:

FIBROSE PULMONAR. O que é a fibrose pulmonar?

O pulmão na Artrite Reumatoide

DOENÇAS RESPIRATÓRIAS. Professora: Sabrina Cunha da Fonseca

Diagnóstico Diferencial de Nódulos Pulmonares

PNEUMONITE ASPIRATIVA ASPIRAÇÃO PNEUMONITE ASPIRATIVA 09/07/2014. Pneumonite química (S. Mendelson) Pneumonia aspirativa (contaminação bacteriana)

SÍNDROME DE LADY WINDERMERE. Identificação: 45 anos, feminina, branca, natural e procedente de São Paulo, representante comercial.

Maria Raquel Soares Pneumologista do Serviço de Doenças Respiratórias do HSPE-SP - Especialista em Pneumologia pela SBPT/AMB

CAPACIDADE PULMONAR E FORÇA MUSCULAR RESPIRATÓRIA EM OBESOS

Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica

TOSSE CRÔNICA DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL NA CRIANÇA. Dra. Adriana Vidal Schmidt Serviço de Alergia e Imunologia Hospital Universitário Cajurú PUC-Pr

DOENÇA PULMONAR OBSTRUTIVA CRÔNICA DPOC.

Sistema Respiratório I - INTRODUÇÃO. O que é respiração? Respiração celular. Respiração pulmonar III - ESTRUTURA II - FUNÇÃO. Ventilação Pulmonar

Diagnóstico diferencial de nódulos pulmonares suspeitos: quando e como investigar

PNEUMONIAS COMUNITÁRIAS

Disfagia: Diagnóstico Diferencial

Comorbidades e Fibrose Pulmonar Idiopática

Ateroembolismo renal

PROVA ESPECÍFICA Cargo 48. Na reação de hipersensibilidade imediata do tipo I, qual dos seguintes mediadores é neoformado nos tecidos?

Aplicações das Técnicas de Radiodiagnóstico em Patologias do Tórax Tr. André Luiz S. de Jesus

ASMA. Dr. Ivan Paredes

PNEUMONIA. Internações por Pneumonia segundo regiões no Brasil, 2003

Manejo do Nódulo Pulmonar

Caso Clínico 2. AP Teve dermatite atópica até os 4 anos de idade. CONDIÇÕES AMBIENTAIS Mora em apartamento, tem cachorro.

CASO CLÍNICO. Sarah Pontes de Barros Leal

Autópsia-Carcinoma de Reto

Compreender a Doença Pulmonar

MUCOSA RINOSSINUSAL. José Ângelo Rizzo IMPACTO DO MANEJO DA RINITE NA OBTENÇÃO DO CONTROLE DA ASMA

IX Curso Nacional de Doenças Pulmonares Intersticiais. Tuberculose. Sumário. Patogenia da TB

Abordagem do paciente HIV/AIDS A visão do pneumologista

Nódulo pulmonar de novo?

Apnéia do Sono e Ronco Guia Rápido

Pneumonias Intersticiais. Elias J. Gonçalves, Maio 2015

TEP - Evolução. Após episódio de TEP agudo, em 85 a 90% dos casos ocorre. trombólise espontânea ou farmacológica e recanalização do vaso

Protocolo Clínico. 2. CLASSIFICAÇÃO CID 10 Classificação segundo a CID10 da situação clínica 3. DIAGNÓSTICO

03/07/2012. Mônica Corso Pereira. Ação: organizando um ambulatório para acompanhamento de pacientes portadores de bronquectasias

Circulação sanguínea Intrapulmonar. V. Pulmonar leva sangue oxigenado do pulmão para o coração.

Manifestações pulmonares decorrentes do uso de crack

Seminário Metástases Pulmonares

TEMA: RESPIMAT ESPIMAT. Data: 22/04/2013 NOTA TÉCNICA 57 /2013. Medicamento x Material Procedimento Cobertura

Doenças degenerativas lisossômicas

Rinite. Asma. montelucaste. Margarete Arrais MD, Pneumologista

Medidas Laboratoriais do Controle: onde estamos, para onde vamos?

DPOC e Oxigenoterapia Guia Rápido

Função pulmonar na diabetes mellitus

Provas de Função Pulmonar

09/07/2014. Quando avaliar e como manejar Osteopenia e Osteoporose na DPOC. Fernando Lundgren. Osteopenia e Osteoporose na DPOC doença concomitante?

PNEUNOMIA EOSINOFÍLICA CRÔNICA IDIOPÁTICA: RELATO DE CASO. Idiopathic Chronic Eosinophilic Pneumonia: Case Report

Fibrose Pulmonar Idiopática (FPI)

27/04/2016. Diferenças na exacerbação infecciosa na DPOC vs. DPOC com pneumonia. Mara Figueiredo

Universidade Federal do Rio de Janeiro Núcleo de Estudos de Saúde Coletiva -NESC/UFRJ. Carmen Ildes R. Froes Asmus

Consenso Brasileiro sobre a Terminologia dos Descritores de Tomografia Computadorizada do Tórax

AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DE VIDA EM CRIANÇAS ASMÁTICAS NA FAIXA ETÁRIA DE 7 A 10 ANOS ATRAVÉS DO QUESTIONÁRIO SF-36

Aspectos tomográficos e anatomopatológicos da sarcoidose pulmonar *

HOSPITAIS DA UNIVERSIDADE DE COIMBRA CLÍNICA UNIVERSITÁRIA DE IMAGIOLOGIA Professor Doutor Filipe Caseiro Alves

Keywords: Idiopathic pulmonary fibrosis/diagnosis; Idiopathic pulmonary fibrosis/physiopathology; Idiopathic pulmonary fibrosis/therapy.

INSTRUÇÃO DE USO THRESHOLD PEP

SÍNDROME DE MOUNIER-KUHN (TRAQUEOBRONCOMEGALIA): RELATO DE CASO

Cancro do Pulmão. Serviço de Pneumologia Director: Dr. Fernando Rodrigues Orientador: Dr. José Pedro Boléo-Tomé

de eficácia em 1 click. c 1

Imagem da Semana: Radiografia de tórax

Cintilografia Pulmonar

04/06/2012 INTRODUÇÃO À RAGIOLOGIA SIMPLES DO TÓRAX. Dante L. Escuissato RADIOGRAFIAS DO TÓRAX INCIDÊNCIAS: FRONTAL (PA) PERFIL TÓRAX

SEMINÁRIO QUALIDADE DO AR E EFEITOS NA SAÚDE. A Saúde Respiratória da Criança

ANÁLISE DO PROGNÓSTICO DE PACIENTES INFECTADOS COM HIV DE LONDRINA E REGIÃO DE ACORDO COM PERFIL NUTRICIONAL

Diretrizes Assistenciais. Medicina Psicossomática e Psiquiatria

Sessão De Pediatria. Discussão De Artigos

4. COMO É FEITO O DIAGNÓSTICO MIELOIDE CRÔNICA (LMC)? E MONITORAMENTO DE LMC? É uma doença relativamente rara, que ocorre

Caso Clínico 16/04/2015. Declaração de conflito de interesse. Fernando Lundgren

Folheto informativo: Informação para o Utilizador

1. O que é Bisolvon Linctus Criança e para que é utilizado

03/07/2012 PNEUMONIA POR INFLUENZA: PREVENÇÃO, DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO, ONDE ESTAMOS? Encontro Nacional de Infecções Respiratórias e Tuberculose

Prova de revalidação de diplomas de graduação em Medicina obtidos no exterior 2013 Resposta aos recursos da prova teórica de Pediatria

Conheça alguns mitos e verdades sobre a tosse

Doenças Respiratórias Crônicas. Caderno de Atenção Básica 25

PNEUMOLOGIA R3. Residência Médica 2014 UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO. (Endoscopia Respiratória)

Vidro fosco difuso em artrite reumatóide

Capítulo 8 (Ex-CAPÍTULO 9) DOENÇAS DO APARELHO RESPIRATÓRIO 9.1. CAPÍTULO 8 DA LISTA TABULAR DO VOLUME 1

IX Curso Nacional de Atualização em Pneumologia - SBPT. Discinesia de corda vocal. Diagnóstico diferencial da Asma DISCINESIA DE CORDA VOCAL

TRATAMENTO DE ALERGIA RESPIRATÓRIA 3/3

ASPECTO RADIOGRÁFICO DAS ALTERAÇÕES DO PERIODONTO

Faculdades Adamantinenses Integradas (FAI)

A pneumonia é uma doença inflamatória do pulmão que afecta os alvéolos pulmonares (sacos de ar) que são preenchidos por líquido resultante da

1 Introdução maligno metástase

NORMA TÉCNICA 02/2013

Tosse TOSSE TOSSE. Elie Fiss Pneumologia Faculdade de Medicina do ABC

CURSO ONLINE PROFESSORA: MARA CAMISASSA AERODISPERSÓIDES

ABORDAGEM E DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL DE PROBLEMAS NA COLUNA VERTEBRAL E MEDULA ESPINHAL

Abordagem do doente com DPOC Agudizada

Diversas funções no organismo: revestimento, absorção, secreção. Tecido epitelial e tecido conjuntivo. Prof. Mauro. Quanto ao formato da célula:

ATIVIDADE DE EDUCAÇÃO FÍSICA 3º E.M.

Residência Saúde 2013 PROVA OBJETIVA PROVA DISCURSIVA FISIOTERAPIA ORGANIZADOR

Adjuvante mucolítico do tratamento antibacteriano das infeções respiratórias, em presença de hipersecreção brônquica.

As disfunções respiratórias são situações que necessitam de intervenções rápidas e eficazes, pois a manutenção da função

Transcrição:

Nódulos centrolobulares em paciente com obstrução ao fluxo aéreo reversível Autores: Regina Tibana*, Karin Mueller Storrer**, Lilian Tiemi Kuranish**, Rimarcs Gomes Ferreira***, Carlos Alberto de Castro Pereira****. * Residente da Disciplina de Pneumologia UNIFESP ** Pós-graduandas programa de Doenças Intersticiais, Disciplina de Pneumologia UNIFESP *** Docente Anatomia Patológica UNIFESP **** Orientador de pós-graduação, programa de Doenças Intersticiais, Disciplina de Pneumologia UNIFESP Paciente do sexo feminino, 27 anos, referia dispnéia aos moderados esforços há dois meses associada a tosse seca e crises diárias de sibilância com três despertares noturnos por semana. Referia piora do quadro com mudança climática, esforço físico e exposição à poeira. Além disso, apresentava coriza hialina associada a espirros em salva e prurido nasal neste mesmo período, desencadeados por poeira, perfume, mudança climática. Realizava idas semanais a pronto-socorro para realização de inalação e uso de corticosteróide injetável. Referia perda ponderal de 8Kg em dois meses. Negava tabagismo, comorbidades e uso contínuo de medicamentos. Realizou tratamento para rinossinusite nos últimos dois anos por três vezes (último curso de antibiótico há quatro meses). Negava crises de broncoespasmo na infância. Mãe com diagnóstico de asma. Trabalhou como ajudante geral em fábrica de tapetes por 1 ano e meio. Ao exame, encontrava-se emagrecida (IMC 17 kg/m 2 ), sem adenomegalias. Ausculta pulmonar com sibilos difusos, SpO 2 95% em ar ambiente. Espirometria com capacidade vital forçada (CVF) 3,24 L (102%), volume expiratório forçado no primeiro segundo (VEF1) 1,63 L (58%), VEF1/CVF 0,5; valores pós-broncodilatador: CVF 3,96 L (125%), VEF1 2,2 L (79%), caracterizando distúrbio ventilatório obstrutivo moderado com resposta ao broncodilatador. Foi feito diagnóstico de asma. Iniciado tratamento com associação inalatória de corticoide e beta-agonista de longa duração, corticóide nasal e realizadas as orientações para controle ambiental. Em retorno realizado após 2 meses de tratamento a paciente referiu persistência dos sintomas, com idas a PS em 5 ocasiões. Realizou três cursos de prednisona no

período. Relatava boa adesão ao tratamento e controle ambiental adequado. Frente ao quadro clínico, foi aumentada a dose de corticóide inalatório e iniciada investigação complementar para diagnostico diferencial de asma. Exames complementares: eosinofilia no sangue periférico (1053 u/l), aumento de imunoglobulinas, fator antinuclear (FAN) com padrão nuclear homogêneo 1:1280, sorologia para HIV não reagente. Tomografia de tórax com múltiplos nódulos centrolobulares bem definidos alguns com aspecto de "árvore em brotamento", associados a espessamento das paredes brônquicas com distribuição predominando nos lobos inferiores.

A paciente foi submetida a biópsia transbrônquica que foi inconclusiva. Questão 1 Assinale a alternativa INCORRETA em relação às doenças pulmonares obstrutivas: a) As pequenas vias aéreas podem representar o principal sítio de limitação ao fluxo aéreo em pacientes com doenças obstrutivas; b) As pequenas vias aéreas representam menos de 25% da resistência total das vias aéreas em pacientes sem doença pulmonar; c) Doenças de pequenas vias aéreas podem ser detectadas precocemente por provas de função pulmonar; d) As bronquiolites podem apresentar padrão de obstrução em provas de função respiratória. Estudos recentes vêm retomando a importância das vias aéreas com <2-3 mm de diâmetro as ditas pequenas vias aéreas (PVA) em doenças pulmonares obstrutivas (1). Pequenas vias aéreas são representadas por brônquios terminais com cartilagem, bronquíolos membranosos, bronquíolos respiratórios, ductos respiratórios e alvéolos e, algumas vezes, doenças de PVA são utilizadas como sinônimo de bronquiolites, porém os bronquíolos, por definição, não apresentam cartilagem ou glândulas mucosas em suas paredes. Apesar de as PVA contribuírem pouco para a resistência das vias aéreas em pessoas saudáveis (zona silenciosa) estas podem ser o maior sítio de limitação ao fluxo aéreo em pacientes com asma e DPOC (1,2). O processo inflamatório, assim como obstrução e remodelamento, ocorre em todos os níveis das vias aéreas, inclusive no parênquima alveolar, independente da gravidade da asma (3). Estudos com biópsias post mortem mostraram que regiões peribronquiolares são o sítio maior de inflamação (4), além disso, o processo nas PVA ocorreria além da musculatura lisa, ao contrário das vias aéreas > 3mm, em que as células inflamatórias seriam mais numerosas no interior da parede brônquica (3). As alterações bronquiolares são relativamente comuns e podem ocorrer em um grande número de condições clínicas. Não há uma classificação única das bronquiolites universalmente aceita, mas há algumas categorizações propostas, tais como diferenciar entre bronquiolites primárias em que o processo patológico está centrado nos bronquíolos e bronquiolites secundárias ao comprometimento do parênquima pulmonar (doenças intersticiais) ou vias aéreas maiores (5). Outras classificação é aquela baseada nos achados histopatológicos (6,7): bronquiolite celular (bronquiolite infecciosa, bronquiolite respiratória, bronquiolite folicular, panbronquiolite difusa, bronquiolite associada a aspiração crônica, bronquiolite associada a pneumonia por hipersensibilidade), bronquiolite constrictiva (bronquiolite pós-infecciosa, bronquiolite obliterante pós inalação de gases ou fumos, síndrome da bronquiolite obliterante pós- transplante, hiperplasia de células neuroendócrinas e secundária a colagenoses AR, Sjogren). Para os clínicos a melhor classificação se baseia em causas e associações e é mostrada abaixo (8):

Bronquiolites de causa determinada Outras de causa determinada Bronquiolite obliterante de causa indeterminada em um contexto clínico característico Infecciosa e pós-infecciosa Por inalação de gases tóxicos Doenças bronquiolares associadas ao tabagismo Bronquiolite respiratória Bronquiolite respiratória com doença pulmonar intersticial Bronquiolite no curso da DPOC Bronquiolite aspirativa Decorrente de inalação: antígenos orgânicos (PH), poeiras e minerais Bronquiolites por causas profissionais diversas (nylon, pipoca) Doenças do tecido conjuntivo- Artrite reumatóide,síndrome de Sjögren Bronquiolite constritiva criptogênica (idiopática) Outras Bronquiolite obliterante após transplante pulmonar Bronquiolite obliterante após transplante de medula Bronquiolite folicular Bronquiolites diversas Panbronquiolite difusa Raras (neuroendócrina e outras) TABELA 1 Cordier JF. EMC-Pneumologie 2 (2005) 204 218. A avaliação das PVA (2) pode ser feita funcionalmente através de espirometria e medidas de volumes pulmonares por pletismografia, já que as PVA com obstrução apresentam fechamento precoce e aprisionamento aéreo, resultando em aumento do volume residual (VR). As bronquiolites podem apresentar na espirometria padrão obstrutivo ou aparentemente restritivo ou misto pelo aprisionamento de ar acentuado na expiração. A espirometria pode ser normal nos estádios mais iniciais pela pobre contribuição das pequenas vias aéreas para a resistência total das vias aéreas. A tomografia de alta resolução (TCAR) apresenta-se como exame mais sensível para detectar doença das PVA, principalmente se forem realizados cortes em expiração. Na TCAR, podem ser observados achados diretos de doença de PVA como nódulos centrolobulares. As PVA normalmente não são visíveis à TCAR (a maioria destas estruturas têm < 1 mm), porém quando há aumento da densidade do tecido conjuntivo dentro ou envolta do bronquíolo ou espessamento da parede bronquiolar, estas podem tornar-se visíveis ( 7). As bronquiolectasias também são consideradas como um sinal direto de lesão bronquiolar, pois representam bronquíolos dilatados geralmente associados a processo crônico de fibrose. Sinais indiretos de lesão bronquiolar são as áreas de atenuação em mosaico e aprisionamento aéreo (7). O primeiro pode ser identificado em TCAR em inspiração, denotando áreas de menor perfusão, pois há vasoconstrição hipóxica nas áreas pouco ventiladas, entremeadas com áreas de maior perfusão, em áreas sem comprometimento bronquiolar. O aprisionamento aéreo é melhor visualizado em TCAR em expiração, nas áreas de parênquima que possuem maior atenuação. RESPOSTA: C Questão 2 No diagnóstico diferencial de nódulos centrolobulares devem ser incluídos principalmente:

a) Pneumonite por hipersensibilidade, bronquiolite respiratória, bronquiolite folicular; b) Sarcoidose, metástases, silicose; c) Tuberculose, metástases, pneumonite hipersensibilidade; d) Infecção fúngica, sarcoidose, metástases. Alguns algoritmos foram propostos para avaliar presença de nódulos à TCAR (9,10) e, para tanto, definir as estruturas do lobo pulmonar secundário (LPS) torna-se essencial. O LPS constitui a unidade anatômica do pulmão e é representada centralmente pelas artérias e arteríolas pulmonares, acompanhando brônquios e bronquíolos, formando a região centrolobular. Estas estruturas não se estendem às superfícies pleural e interlobular e portanto poupam região subpleural e interlobular. As estruturas localizadas na periferia do LPS são as veias pulmonares e os linfáticos do septo interlobular. FIGURA 1 Modificado de Raoof S et al. Chest. 2006;129(3):805-15. Ao se definir que nenhum ou poucos nódulos são perifissurais ou subpleurais, definem-se nódulos centrolobulares (NCL). Estes nódulos denotam comprometimento de bronquíolos ou de suas respectivas arteríolas e podem ser subdivididos em aspecto árvore em brotamento (AB) (tree-in-bud )ou em vidro-fosco (VF). Nódulos em AB representam geralmente secreção impactada em bronquíolos, que ficam espessados e preenchidos por conteúdo com maior atenuação. Representam, na maioria das vezes, infecção bronquiolar principalmente por tuberculose, micobacteriose atípica e infecção fúngica. Algumas vezes, panbronquiolite difusa e bronquiolite folicular também podem apresentar padrão de AB. Nódulos em VF denotam lesão na porção peribronquiolar ou perivascular na região centrolobular e são característicos da pneumonia por hipersensibilidade, principalmente em fase subaguda. Também bronquiolite respiratória (BR), pneumonia intersticial linfocítica (PIL) e histiocitose de células de Langerhans (HCL) podem apresentar-se como nódulos em VF. A BR é um achado quase universal em fumantes e representa infiltrado de macrófagos pigmentados na parede e lúmen peribronquiolar, assim como nos espaços alveolares adjacentes. Se estas alterações estiverem associadas com fibrose

do septo alveolar adjacente, denomina-se bronquiolite respiratória associada a doença pulmonar intersticial (BR-DPI). Dentre as doenças relacionadas ao tabaco também se destaca a HCL, que apresenta lesões estreladas nodulares ao redor das vias aéreas. Estas lesões podem evoluir com fibrose, infiltração e obstrução dos bronquíolos resultando em formações císticas (11). RESPOSTA: A Evolução Evoluiu sem controle do quadro de broncoespasmo e foi indicada a biópsia pulmonar cirúrgica com achado de bronquiolite folicular. A B C D A: Bronquíolo respiratório com dilatação luminal e impactação mucóide. B: Bronquíolo terminal com inflamação crônica parietal e formação de folículos linfóides. Notase também discreta dilatação luminal e impactação de muco. C: Aprisionamento aéreo ao redor de pequena via aérea com redução luminal moderada por tecido conjuntivo na parede. D: Outra via aérea (bronquíolo terminal) com formação de folículo linfóide na parede e impactação de muco no lúmen. Questão 3 Com relação à bronquiolite folicular: a) Apresenta nódulos de distribuição randômica à TCAR;

b) Dependendo da doença de base, costuma apresentar boa resposta a terapia com corticosteróides sistêmicos; c) Geralmente apresenta padrão monoclonal à imunohistoquímica; d) A biópsia cirúrgica está sempre indicada em casos suspeitos. A bronquiolite folicular é definida pela presença de folículos linfóides hiperplásicos com centros germinativos reativos distribuídos ao longo da parede das vias aéreas. Macroscopicamente, o pulmão mostra nódulos de 1 a 2 mm de diâmetro (12). Esta forma de hiperplasia linfóide pulmonar é um achado comum secundário em pacientes com bronquiectasias proximais afetando grandes vias aéreas. Fora deste contexto, a bronquiolite folicular é uma afecção incomum, caracterizada pela manifestação de hiperplasia linfóide pulmonar primária (13), de caráter policlonal, como resposta do sistema imunológico pulmonar a uma variedade de fatores (14). O achado histológico pode ser predominante ou um achado secundário a outras doenças intersticiais (15). Yousem (16) propôs três subgrupos associados a esta característica histológica: 1) pacientes com doença do tecido conjuntivo, principalmente artrite reumatóide e a síndrome de Sjögren; 2) com síndromes de imunodeficiência primária ou adquirida e; 3) sem etiologia definida, nos quais observou como característica comum a eosinofilia periférica, sugerindo um mecanismo de hipersensibilidade, como descrito na exposição a flocos de nylon/poliestireno (17). Os pacientes geralmente são de meia idade e do sexo feminino. O quadro clínico caracteriza-se por dispnéia, tosse, febre e infecções recorrentes do trato respiratório superior (14). Na presença de uma condição subjacente como imunodeficiência comum variável, ou síndrome de Sjögren, a presença de NCL é suficiente para caracterizar a presença de BF, não sendo necessária a biópsia cirúrgica. Os distúrbios da função pulmonar são variados, com padrões obstrutivo, restritivo e mistos e, portanto, o padrão de função pulmonar nem sempre distingue se o processo patológico pulmonar predomina em via aéreas ou no parênquima(13). Além disso, redução da capacidade de difusão do monóxido de carbono pode ser encontrada (15, 18). Na tomografia computadorizada (TC) de tórax a anormalidade mais comum são os nódulos centrolobulares (15, 19) difusos, com tamanho entre 1 a 3 mm e áreas de vidro fosco. Achados menos comuns são espessamento de parede brônquica, bronquiectasias, espessamento septal, nódulos linfáticos, distorção arquitetural e consolidação peribroncovascular (19). Estes achados refletem hiperplasia linfóide em outros compartimentos pulmonares, podendo simular sarcoidose. Cistos são também freqüentes, refletindo a obstrução bronquiolar. Temos observado padrão de árvore em brotamento em muitos casos, pela dilatação bronquiolar e impactação mucóide, como no presente caso. A biópsia tranbrônquica tem um papel limitado no diagnóstico de bronquiolite folicular, sendo muitas vezes o diagnóstico realizado apenas após biópsia pulmonar cirúrgica (15), porém a implicação prognóstica de bronquiolite folicular ainda não é clara (13).

Em um relato de caso, Shimuzu (20) descreveu um paciente do sexo feminino com diagnóstico de asma com eosinofilia em sangue periférico e aumento de IgE, que apresentava TCAR com múltiplos nódulos centrolulares. Estes nódulos foram inicialmente atribuídos à infiltração bronquiolar por eosinófilos, porém a biópsia cirúrgica revelou infiltração eosinofílica, hiperplasia de células caliciformes e espessamento de membrana basal nos brônquios maiores (achado consistente com asma). Em bronquíolos foram observados folículos linfóides com centros germinativos, que não apresentavam padrão monoclonal à imunohistoquímica e nos quais não foram observados áreas importantes de infiltração eosinofílica, ficando o diagnóstico final de bronquiolite folicular em associação a elevação de IgE e eosinofilia periférica. No presente caso, embora diversos dados apontassem para asma, não havia espessamento da membrana basal, não havendo, portanto, substrato patológico para o diagnóstico de asma. O tratamento da BF é geralmente dirigido à doença subjacente, quando tal associação é reconhecida. Pacientes sem causa subjacente têm sido geralmente tratados com broncodilatadores e corticosteróides (13). Parece haver boa resposta clínica, funcional e radiológica ao tratamento com corticosteróide oral. Nos casos em que há hipersecreção ou bronquioloectasias associadas os macrolídeos podem resultar em acentuada melhora e regressão parcial ou total das lesões (15). RESPOSTA: B A paciente foi tratada com prednisona 40mg ao dia e evoluiu com melhora clínica importante, além de melhora tomográfica. REFERÊNCIAS

1: Kang EY, Woo OH, Shin BK, Yong HS, Oh YW, Kim HK. Bronchiolitis: classification, computed tomographic and histopathologic features, and radiologic approach. J Comput Assist Tomogr. 2009;33(1):32-41. 2: Burgel PR. The role of small airways in obstructive airway diseases. Eur Respir Rev. 2011;20(119):23-33. 3: Ramos-Barbón D, Parra-Arrondo A. Inflammation and remodeling of the distal airways: studies in humans and experimental models. Arch Bronconeumol. 2011; 47 Suppl 2:2-9. 4: Dolhnikoff M, da Silva LF, de Araujo BB, Gomes HA, Fernezlian S, Mulder A, Lindeman JH, Mauad T. The outer wall of small airways is a major site of remodeling in fatal asthma. J Allergy Clin Immunol. 2009;123(5):1090-97. 5: Ryu JH. Classification and approach to bronchiolar diseases. Curr Opin Pulm Med. 2006;12(2):145-51. 6: Beigelman-Aubry C, Touitou D, Mahjoub R, Stivalet A, Fernandez Perea G, Grenier P, Capron F. CT imaging features of bronchiolitis. J Radiol. 2009; 90(11 Pt 2):1830-40. 7: Abbott GF, Rosado-de-Christenson ML, Rossi SE, Suster S. Imaging of small airways disease. J Thorac Imaging. 2009;24(4):285-98. 8: Cordier JF. Bronchiolitis. EMC-Pneumologie 2 (2005) 204 218. 9: Raoof S, Amchentsev A, Vlahos I, Goud A, Naidich DP. Pictorial essay: multinodular disease: a high-resolution CT scan diagnostic algorithm. Chest. 2006; 129(3):805-15. 10: Boitsios G, Bankier AA, Eisenberg RL. Diffuse pulmonary nodules. AJR Am J Roentgenol. 2010;194(5):W354-66. 11: Pappas K. Bronchiolitis and bronchial disorders in interstitial lung disease. Curr Opin Pulm Med. 2011;17(5):316-24. 12: Koss MN. Pulmonary lymphoid disorders. Semin Diagn Pathol. 1995; 12(2):158-71. 13: Ryu JH, Myers JL, Swensen SJ. Bronchiolar disorders. Am J Respir Crit Care Med. 2003;168(11):1277-92. 14: Nicholson AG. Lymphocytic Interstitial Pneumonia and Other Limphoproliferative Disorders in the Lung. Sem Respir and Crit Care Med. 2001; 22,4:409-422.

15: Aerni MR et al. Follicular Bronchiolitis in Surgical Lung Biopsies: Clinical Implications in 12 Patients. Respiratory Medicine. 2008. 102:307 312. 16: Yousem SA. Follicular Bronchitis/ Bronchiolitis. Hum Pathol. 1985;16:700 6. 17: Barroso E. Polyethylene Flock-associated Interstitial Lung Disease in a Spanish Female. Eur Respir J. 2002; 20: 1610 1612. 18: Romero et al. Follicular Bronchiolitis: Clinical and Pathologic Findings in Six Patients. Lung. 2003;181(6):309-19. 19: Howlling SJ et al. Follicular bronchiolitis: Thin-section CT and Histologic Findings. Radiology. 1999;212: 637-642. 20: Shimizu K et al. A case of follicular bronchiolitis associated with asthma, eosinophilia, and increased immunoglobulin E. J Asthma. 2010;47(10):1161-4.