A alienação parental e os efeitos da Lei nº 12.318, de 26 de agosto de 2010 no direito de família. Válter Kenji Ishida



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Transcrição:

A alienação parental e os efeitos da Lei nº 12.318, de 26 de agosto de 2010 no direito de família Válter Kenji Ishida Promotor de Justiça das Execuções Criminais e Professor Universitário Autor das seguintes obras na área da infância e da juventude: Estatuto da Criança e do Adolescente (12ª edição) e Infração Administrativa no Estatuto da Criança e do Adolescente (1ª edição), ambas publicadas pela Editora Atlas I - Introdução. Visando coibir a chamada alienação parental foi editada a Lei nº 12.318, de 26 de agosto de 2.010. Síndrome de Alienação Parental (SAP) foi termo proposto por Richard Gardner (Parental Alienation Syndrome vs. Parental Alienation: Which Diagnosis Should Evaluators Use in Child- Custody Disputes? American Journal of Family Therapy. March 2002;30(2):93-115), no ano de 1985, para a situação em que a mãe ou o pai de uma criança a treinava para romper os laços afetivos com o outro cônjuge, criando fortes sentimentos de ansiedade e temor em relação ao outro genitor. Tratava-se de uma referência às ações de guarda nos tribunais americanos onde claramente se percebia a alienação parental, consubstanciando-se em um verdadeiro abuso emocional. Assim duas pessoas são atingidas: o filho que passa a ter um distúrbio emocional e o genitor alienado que fica prejudicado no seu contato com o filho (tecnicamente o chamado direito de visitas). A situação já é conhecida para quem atuou em vara de família. Com o rompimento do casal, e havendo por exemplo algum outro motivo como o conhecimento de novo parceiro amoroso, o outro cônjuge se mostra ressentido com a dissolução do vínculo (união estável, casamento) e passa a utilizar o filho como instrumento contra o pai ou a mãe. Comumente a situação é da mãe contra o pai, criando a situação do chamado órfão de pai vivo, com a mãe apagando do imaginário da criança ou adolescente. Houve até uma interpretação autêntica, sendo que o próprio legislador procurou conceituar o termo alienação parental no art. 2º da lei: considera-se ato de alienação parental a inteferência na formação psicológica da criança ou adolescente sob a sua autoridade, guarda ou vigilância para que repudie genitor ou que cause prejuízo ao estabelecimento ou à manutenção 1

de vínculos com este. O termo vem do inglês alienation que significa criar antipatia ou inimizade e de parental que significa paterno. Assim, uma antipatia criada pelo genitor ou genitora. O sujeito ativo nesse caso é amplo, abrangendo quem possua a autoridade (exercício do poder familiar), a guarda (direito fornecido pelo juiz para se ter a companhia) ou a vigilância (pessoa encarregada de cuidar momentaneamente da criança ou adolescente). É claro que na prática forense, irá recair precipuamente sobre os genitores que normalmente se digladiam em torno da disputa dos filhos. II Contexto da alienação parental A proteção integral da criança ou adolescente e a recente Lei nº 12.010/09 fortaleceram o direito fundamental à convivência familiar. Essa pode ser conceituado atualmente como o direito fundamental da criança e adolescente a viver junto à sua família natural ou subsidiariamente à sua família extensa. O título I do ECA abarca os chamados direitos fundamentais da criança e do adolescente. O Capítulo III do ECA por sua vez, prevê o direito à convivência familiar e comunitária. A garantia da convivência familiar se perfaz através de dois princípios basilares: o da proteção integral e o da prioridade absoluta. A entidade familiar dispõe de proteção constitucional, já que o art. 226 da Carta Magna prevê proteção especial pelo Estado da família. Esta possui um conceito dilatado, abrangendo a união estável (art. 226, 3º) e a comunidade formada por qualquer dos pais e seus descendentes (art. 226, 4º). A própria Declaração Universal dos Direitos do Homem já dispunha em seu art. XVI, 3 que a família é o núcleo natural e fundamental da sociedade. Finalmente, a Lei nº 12.010/09 elegeu a família natural como prioridade (art. 1º, 2º), entidade a qual a criança e o adolescente devem permanecer, ressalvada a absoluta impossibilidade, devendo existir decisão judicial fundamentada. No estudo da lei específica que ora tratamos, o direito à convivência familiar se refere ao direito da criança ou adolescente ao convívio com ambos os pais, condenando-se a conduta de alienação parental. Portanto, o próprio direito à convivência familiar inclui o direito de permanecer com vínculos tanto com o pai como com a mãe. Trata-se não só de garantia formal do exercício do poder familiar, mas também o exercício efetivo, prático p. ex. do direito de visita. O próprio art. 2º, parágrafo único da Lei nº 12.318/2010 se incumbe de fornecer um rol exemplificativo nos seus incisos (I a VII). A situação é extraída do próprio cotidiano e se expressa na conduta de tentar retirar o outro genitor da vida do filho; interferir no direito de visitas; atacar a relação entre pai e filho e denegrir a imagem do genitor perante o filho. São 2

consequências na criança ou adolescente alienada, um sentimento de raiva e ódio contra o genitor, contendo por vezes impressões ou idéias exageradas do mesmo. As consequências psíquicas incluem a facilidade na aquisição de doenças como a depressão, ansiedade, a dificuldade na obtenção de relações estáveis etc. Há estudos que anotam que 80% dos filhos de pais separados já tiveram algum tipo de alienação parental (conforme sítio www.alienacaoparental.com.br). III Direito material e ação fundada em direito de convivência familiar A prática da conduta típica de ato de alienação parental além de claramente ferir direito da criança e do adolescente afetando o saudável convívio familiar constitui conduta de abuso moral e descumprimento dos deveres inerentes à autoridade parental ou decorrente da tutela ou guarda (art. 3º da lei). Questão interessante é a lei preferir mencionar autoridade parental e não o poder familiar. Se se entender a autoridade parental como o exercício conjunto do poder familiar pelo pai e pela mãe, é lógico que a lei deveria ser mais técnica e clara e mencionar o descumprimento do poder familiar. De qualquer forma, seria mais um dos motivos que exaustivamente analisamos no comentário ao art. 24 do ECA de perda ou suspensão do poder familiar (Estatuto da criança e do adolescente, 12ª edição, 2010, p. 38). Pode-se por exemplo argumentar que a alienação poderia ser provocada pela avó materna, com a existência da guarda pela mãe. Mas nesse caso, não caberia logicamente a suspensão da autoridade parental, mas outra medida como a advertência. O poder familiar nesse caso estaria inegavelmente com a genitora e aí é claro que o legislador quis se referir a autoridade parental como a autoridade do pai ou da mãe o que tecnicamente implica em se falar em poder familiar. Na alienação parental distinguem-se duas pessoas. Há a figura do alienador, ou seja, aquele que determina condutas de afastamento do outro genitor, de regra a mãe e de outro lado, o alienado, que é atingido pela alienação (geralmente o pai). Há previsão de medida cautelar consoante o próprio art. 4º da nova lei como assim faz o art. 130 do ECA ou decisão incidental em outro tipo de ação. Assim, cabivel decisão desse naipe em procedimento de destituição ou suspensão do poder familiar ou de tutela ou ainda de alteração de guarda. Mais técnico que tal modificação viesse diretamente no ECA. Uma sugestão é que esses novos dispositivos se localizassem após o procedimento de destituição e suspensão do poder familiar e de destituição de tutela, como um possível art. 164-A do ECA, já que é pacífico que os procedimentos da lei menorista aplicam-se tanto para a vara da infância e da juventude como da família. Rito: 1) petição inicial, utilizando-se subsidiariamente a norma do art. 156 e seguintes do ECA; 2) oitiva do MP e decisão sobre concessão de liminar visando a preservação da integridade psicológica da criança ou adolescente (art. 4º, caput da Lei nº 12.318/2010) e análise da garantia do direito de visita (art. 4º, parágrafo único da referida Lei); 3) citação do requerido para resposta em 10 (dez) dias, utilizando-se subsidiariamente o art. 158 do ECA; 4)decisão do juiz decidindo sobre a realização 3

de perícia psicológica ou biopsicossocial (art. 5º da Lei nº 12.318/2010); 5) laudo em 90 (noventa) dias (art. 5º, 3º da Lei); 6) Audiência de instrução, debates e julgamento com manifestação do requerente, do requerido e do MP; 7) Sentença, podendo conter: a declaração de alienação parental e aplicação de advertência (inciso I do art. 6º); a ampliação da convivência familiar em favor do genitor alienado (inciso II); a estipulação de multa ao alienador (inciso III); a determinação de acompanhamento psicológico e/ou biopsicossocial (inciso IV). Essa recomendação ocorreu na Apelação 994.092.836.029 do TJSP, julgado de 28.04.2010 em que houve confirmação da improcedência da destituição já que o caso abarcava hipótese de genitor que reatara com antiga namorada e que provocara com isso, a revolta da genitora; a alteração da guarda ou a estipulação da guarda compartilhada (inciso V); a determinação cautelar do domicílio da criança ou adolescente (inciso VI); a suspensão da autoridade parental (na verdade, suspensão do poder familiar)(inciso VII). Também poderá o juiz inverter a obrigação de levar ou retirar a criança ou adolescente da residência do genitor (art. 6º, parágrafo único). Em sendo inviável a guarda compartilhada, a guarda será conferida àquele que viabilizar a efetiva convivência da criança. Competência. É na maioria dos casos do juiz da família diante da falta de constatação efetiva da situação do art. 98 do ECA. O art. 8º da referida lei estipula que a alteração do domicílio da criança ou adolescente será irrelevante para determinação de competência em ação fundada em direito de convivência familiar, salvo se houver consenso entre os genitores ou de decisão judicial. Existia já uma polêmica sobre a fixação da competência e discutia-se a aplicação do art. 147, I e II do ECA. Parece-nos que atualmente em disputa de guarda, a jurisprudência vem reiteradamente utilizando-se da regra do art. 147, I e II da lei menorista (STJ, CONFLITO DE COMPETÊNCIA Nº 94.723 RJ). Mas é importante ressaltar e a nova lei o fez de que havendo urgência, a regra do art. 147 do ECA pode não ser levada em conta, prevalecendo a regra do melhor interesse da criança ou adolescente. É ainda de se ressaltar que embora a nova lei faça referência ao crime do art. 236 do ECA, não há modificação sobre o mesmo. O conteúdo é eminentemente de direito de família. IV Conclusões Na verdade, quis o legislador auxiliar o trabalho do magistrado principalmente da vara da família no escopo de conciliação das partes (genitores). É notória a reclamação de um genitor contra o outro, argumentando a falta de cumprimento do que foi acordado em audiência. A alienação parental era e é claramente vista seja pelo pai, seja mãe, seja pela avó. No caso da genitora, normalmente ela cuidando diretamente do filho, acaba na separação do casal, em muitos casos, colocando o descendente contra o próprio pai. Cabe agora ao operador do direito utilizá-la sabiamente.e com cuidado, pois não se pode com a nova lei, endemoninhar a figura materna, porque em muitos casos seus relatos podem até ser verdadeiros, como a utilização de entorpecente pelo pai, a agressão física, a vida desregrada 4

etc. Deve o aplicador do direito ter muito cuidado ao aplicar essa importante ferramenta para o direito de família. 5